Você gosta do capitalismo?

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Você gosta do capitalismo

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André
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Mensagem por André »

Acauan escreveu:Mesmo querendo ser sutil, o que geralmente não quero, é difícil sê-lo quando se vê o quanto alguns enunciados teóricos tomados como realidade impedem tantos de enxergar o que saltita a frente de seus narizes.

Esqueçam as citações de nomes famosos e seus gloriosos postulados por alguns momentos e acompanhem estes dois raciocínios simples:

1. Se o capitalismo faz com que uma pequena minoria de ricos fique cada vez mais rica e a grande maioria de pobres cada vez mais pobre e em sendo a causa do aumento da riqueza dos ricos a expansão dos mercados capitalistas de onde tiram seus rendimentos, como conciliar as duas coisas?

Um doce virtual para quem conseguir inventar uma resposta aritmeticamente correta, sem precisar recorrer a nenhuma teoria econômica.

2. Se o capitalismo faz com que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e o Brasil, segundo alguns, é uma das sociedades capitalistas mais injustas e desiguais do planeta, de onde se conclui que aqui os pobres devem empobrecer mais e mais depressa ainda, como explicar que as favelas de São Paulo nos 1960 eram amontoados de barracos de madeira e teto de lata, minúsculos e imundos, onde os pobres da época juntavam alguns móveis improvisados, poucas roupas e utensílios básicos, enquanto hoje estas mesmas favelas, habitadas pelos mesmos pobres, são constituídas em sua grande maioria de casas de alvenaria, muitas das quais com metragem quadrada maior que a de um apartamento de classe média típico, nas quais praticamente todas possuem televisão, geladeira, outros eletrodomésticos e utensílios de conforto diversos, além da expressiva percentagem que é proprietária de automóveis (mesmo que usados ou velhos)?

Se os pobres ficam cada vez mais pobres, aqueles que não tinham um gato para puxar pelo rabo e moravam em barracos de madeira cercados de esgoto a céu aberto há quarenta anos não deveriam estar hoje em condições muito piores?

Estas questões traduzem fatos óbvios, visíveis a qualquer um que queira julgar conceitos a partir do que realmente existe, mas a miopia ideológica contaminou a sociedade a tal ponto, que poucos ainda se esforçam para julgar a realidade a partir daquilo que vêem e não a partir do que algum guru disse.


1)O aumento de produção não beneficia apenas os ricos, beneficia principalmente esses. O aumento da riqueza beneficia também trabalhadores, e todos os membros de uma sociedade prospera.

Porém a concentração de riqueza significa tb diferencial de poder. Além do que se a sociedade não é tão rica, nem tem uma balança tão favorável, o contingente de pobres é maior. Medidas que diminuam essa distancia, e diminuam os efeitos do diferencial de poder são necessários em uma sociedade que deseja ser justa.

Logo qualquer solução inclui o fomento a produção, de preferência auto-sustentável, e tb medidas que busquem fornecer a todos as necessidades básicas. Para, além disso, cada um com sua individualidade, tem liberdade para buscar.

2)Como disse, o aumento da produção não beneficia apenas os mais ricos, nem a ampliação de mercados. Logo a cidade de São Paulo ficou mais rica, houve mais chances e oportunidades para um contingente maior de pessoas. Mas não houve oportunidade para todos, e para ser universal nesse quesito (em relação a essa sociedade), as necessidades básicas de todos devem ser atendidas (por programas democraticamente instituídos), inclusive para que tenham condições de competir, não pela sobrevivência, essa deve ser garantida, mas por uma vida melhor, essa que somente pode ser conquistada.
Visite a pagina do meu primeiro livro "A Nova Máquina do Tempo." http://www.andreteixeirajacobina.com.br/

Ou na Saraiva. Disponivel para todo Brasil.

http://www.livrariasaraiva.com.br/produ ... 0C1C301196


O herói é um cientista cético, um pensador político. O livro debate filosofia, política, questões ambientais, sociais, bioética, cosmologia, e muito mais, no contexto de uma aventura de ficção científica.

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Fernando Silva
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Re: Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por Fernando Silva »

André escreveu:Um para mim Locke está errado, e Rousseau certo. Propriedade não é natural, mas uma construção humana social, logo questionável.

Por que não? Animais demarcam territórios e acumulam objetos, por exemplo.
Isto é uma forma primitiva de propriedade.

E se fosse apenas uma construção humana? Tudo o que é humano é questionável?

E será que tudo o que é natural é legítimo? Se nos comportarmos como os animais, sem conter nossos instintos, estaremos sendo naturais? Acima de questionamentos?

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Aranha
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Mensagem por Aranha »

André escreveu:Porém a concentração de riqueza significa tb diferencial de poder. Além do que se a sociedade não é tão rica, nem tem uma balança tão favorável, o contingente de pobres é maior. Medidas que diminuam essa distancia, e diminuam os efeitos do diferencial de poder são necessários em uma sociedade que deseja ser justa.



- Não que eu discorde do restante, mas essa afirmação acima também me parece fora da realidade, como dizer que os ricos tem mais poder num mundo onde Evo e Lula são presidentes?

Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker

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André
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Mensagem por André »

Fernando Silva escreveu:
Acauan escreveu:1. Se o capitalismo faz com que uma pequena minoria de ricos fique cada vez mais rica e a grande maioria de pobres cada vez mais pobre e em sendo a causa do aumento da riqueza dos ricos a expansão dos mercados capitalistas de onde tiram seus rendimentos, como conciliar as duas coisas?

Exatamente.
A velha falácia da soma zero, segundo a qual a soma total das riquezas é constante e só possível ter mais tirando de alguém.

Essa gente não percebe (ou quer os burros manipulados pensem) que riqueza é algo que se cria e se acumula.
O rico produz riqueza nova e fica com uma parte dela. O resto vai para os pobres (ainda que se possa questionar o quanto vai, mas isto é outra conversa).

Os pobres não geram riqueza; quando muito, sobrevivem.
Sem os ricos, morreriam de fome ou viveriam quase sem nada.

Os ricos são ricos porque souberam gerar riquezas. Quem ficou rico sem gerar riqueza é herdeiro ou ladrão. Os políticos que enriquecem estão neste último caso. Estranhamente, ninguém cobra deles, só dos que trabalham e produzem.


Concordo em grande medida. Agora acho que a parcela que dos ricos é redistribuída pode ser maior. Sem chegar a ser punitiva claro. Detalhe distribuída em programas que atendam as necessidades básicas, e que ofereçam melhores chances para que o pobre deixe de ser pobre pelo seu trabalho, estudo, esforço. Como acredito que a maioria da sociedade não é avessa ao trabalho, e a chances, tais programas teriam grandes chances de serem bem sucedidos.

Detalhe os trabalhadores geram riqueza, em conjunto, alias sem eles os ricos não gerariam quase nada. Quem não gera, ou quase não gera, são os pobres miseráveis, os da classe media baixa, e pobres que trabalham, geram sim, alias sem eles a sociedade não funcionaria. O que se deve fazer é oferecer melhores condições e chances para todos.
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André
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Mensagem por André »

Abmael escreveu:
André escreveu:Porém a concentração de riqueza significa tb diferencial de poder. Além do que se a sociedade não é tão rica, nem tem uma balança tão favorável, o contingente de pobres é maior. Medidas que diminuam essa distancia, e diminuam os efeitos do diferencial de poder são necessários em uma sociedade que deseja ser justa.



- Não que eu discorde do restante, mas essa afirmação acima também me parece fora da realidade, como dizer que os ricos tem mais poder num mundo onde Evo e Lula são presidentes?

Abraços,


Lula tem origens da classe operaria, mas virou político profissional a muito tempo. Além disso, dinheiro é poder em qualquer sociedade. O é menos em sociedades mais justas, que fazem valer igualdade jurídica.

Nem todos os ricos, e poderosos nascem, assim, isso se constrói também. Eles não são ruins ou bons por causa disso, não é juízo de valor, é uma constatação sobre a realidade.

Achar que ter mais dinheiro não é diferencial de poder na sociedade, é que me parece completamente fora da realidade. Pois o predomínio da realidade, confirma justamente é que um diferencial de poder.

Alias o PT em parte seu problema foi que com a mudança de classe social de muitos, vários se mostraram fracos de caráter, pois passaram a defender uma posição agora da nova classe em que estavam. Mostrando que as convicçoes de muitos passam longe de ser convicções. Detalhe que tal mudança não é mecanica, e o individuo pode se tornar rico e continuar a defender os ideais que acreditava quando não era, isso apenas não se demonstrou em vários do PT.
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Edson Jr
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Mensagem por Edson Jr »

Acauan escreveu:Mesmo querendo ser sutil, o que geralmente não quero, é difícil sê-lo quando se vê o quanto alguns enunciados teóricos tomados como realidade impedem tantos de enxergar o que saltita a frente de seus narizes.

Esqueçam as citações de nomes famosos e seus gloriosos postulados por alguns momentos e acompanhem estes dois raciocínios simples:

1. Se o capitalismo faz com que uma pequena minoria de ricos fique cada vez mais rica e a grande maioria de pobres cada vez mais pobre e em sendo a causa do aumento da riqueza dos ricos a expansão dos mercados capitalistas de onde tiram seus rendimentos, como conciliar as duas coisas?

Um doce virtual para quem conseguir inventar uma resposta aritmeticamente correta, sem precisar recorrer a nenhuma teoria econômica.

2. Se o capitalismo faz com que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e o Brasil, segundo alguns, é uma das sociedades capitalistas mais injustas e desiguais do planeta, de onde se conclui que aqui os pobres devem empobrecer mais e mais depressa ainda, como explicar que as favelas de São Paulo nos 1960 eram amontoados de barracos de madeira e teto de lata, minúsculos e imundos, onde os pobres da época juntavam alguns móveis improvisados, poucas roupas e utensílios básicos, enquanto hoje estas mesmas favelas, habitadas pelos mesmos pobres, são constituídas em sua grande maioria de casas de alvenaria, muitas das quais com metragem quadrada maior que a de um apartamento de classe média típico, nas quais praticamente todas possuem televisão, geladeira, outros eletrodomésticos e utensílios de conforto diversos, além da expressiva percentagem que é proprietária de automóveis (mesmo que usados ou velhos)?

Se os pobres ficam cada vez mais pobres, aqueles que não tinham um gato para puxar pelo rabo e moravam em barracos de madeira cercados de esgoto a céu aberto há quarenta anos não deveriam estar hoje em condições muito piores?

Estas questões traduzem fatos óbvios, visíveis a qualquer um que queira julgar conceitos a partir do que realmente existe, mas a miopia ideológica contaminou a sociedade a tal ponto, que poucos ainda se esforçam para julgar a realidade a partir daquilo que vêem e não a partir do que algum guru disse.


Observando essas colocações devo confessar que me parecem irrefutáveis.

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Edson Jr
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Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por Edson Jr »

Mas Acauan, e como ficaria, num sistema capitalista, a questão dos abusos de poder e o aparente descaso do governo com o lado social, como saúde e educação de qualidade para o povão.

Não seria melhor (ou mais justo) conciliar geração de riqueza com responsabilidade social? Porque isso não costuma ser feito de forma mais eficiente?
"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)

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André
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Re: Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por André »

Fernando Silva escreveu:
André escreveu:Um para mim Locke está errado, e Rousseau certo. Propriedade não é natural, mas uma construção humana social, logo questionável.

Por que não? Animais demarcam territórios e acumulam objetos, por exemplo.
Isto é uma forma primitiva de propriedade.

E se fosse apenas uma construção humana? Tudo o que é humano é questionável?

E será que tudo o que é natural é legítimo? Se nos comportarmos como os animais, sem conter nossos instintos, estaremos sendo naturais? Acima de questionamentos?


Falo mais especificamente da propriedade da terra e dos meios de produção. Esse conceito é uma construção. Pode ser questionado.

O que é natural faz parte de nos, precisamos comer, respirar. Os tais instintos não nos dominam sempre pois somos tb como diria Aristóteles, animais sociais e políticos. Natural não é bom, nem ruim, o mesmo para o que é social.

O relevante é que a questão é colocada como inquestionável, por defensores do capitalismo, como se fosse uma conseqüência humana inescapável, isso é de um autoritarismo extremo, e falta de respeito a liberdade sem nome.

Tudo que é humano é questionável? Sim, o que não significa que deva ser abandonado. Liberdade para questionar é liberdade para pensar sobre algo, e quando se demarca que algo é inquestionável isso está na raiz dos autoritarismos, ditaduras, e totalitarismos.

O essencial é ver as conseqüências boas e ruins e procurar caminhos de minimizar as ruins e maximizar as boas. Alterando o que for preciso, democraticamente. Respeitando os direitos dos indivíduos, principalmente à vida, e condições básicas de sobrevivência.
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Fernando Silva
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Re: Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por Fernando Silva »

Edson Jr escreveu:Mas Acauan, e como ficaria, num sistema capitalista, a questão dos abusos de poder e o aparente descaso do governo com o lado social, como saúde e educação de qualidade para o povão.

Não seria melhor (ou mais justo) conciliar geração de riqueza com responsabilidade social? Porque isso não costuma ser feito de forma mais eficiente?

Houve uma evolução da mentalidade e da ética ao longo dos séculos. Não se esqueça de que ainda havia escravidão no país há menos de 150 anos, e era uma coisa normal e aceita.

O que achamos absurdo hoje quanto às injustiças sociais já foi apenas a ordem natural das coisas para nossos antepassados.

Tomar consciência é o primeiro passo para corrigir. Disseminar essa consciência é o segundo passo. E as mudanças só começam realmente quando os novos conceitos se tornam, mais do que aceitos, naturais.

Quanto a se fazerem as mudanças necessárias, a coisa se complica, já que milagres não acontecem. A miséria no mundo não acabaria de repente nem mesmo se todos quisessem e lutassem por isto.

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Jeanioz
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Mensagem por Jeanioz »

[Monfort]

Tanto o capitalismo quanto o comunismo são frutos do materialismo ateu da burguesia satânica pagã.

O melhor sistema que existe é, sem dúvida, o feudalismo!

[/Monfort]

:emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:
"Uma sociedade sem religião é como um navio sem bússola."
Napoleão Bonaparte


"Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas."
Napoleão Bonaparte

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Edson Jr
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Re: Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por Edson Jr »

Fernando Silva escreveu:
Edson Jr escreveu:Mas Acauan, e como ficaria, num sistema capitalista, a questão dos abusos de poder e o aparente descaso do governo com o lado social, como saúde e educação de qualidade para o povão.

Não seria melhor (ou mais justo) conciliar geração de riqueza com responsabilidade social? Porque isso não costuma ser feito de forma mais eficiente?

Houve uma evolução da mentalidade e da ética ao longo dos séculos. Não se esqueça de que ainda havia escravidão no país há menos de 150 anos, e era uma coisa normal e aceita.

O que achamos absurdo hoje quanto às injustiças sociais já foi apenas a ordem natural das coisas para nossos antepassados.

Tomar consciência é o primeiro passo para corrigir. Disseminar essa consciência é o segundo passo. E as mudanças só começam realmente quando os novos conceitos se tornam, mais do que aceitos, naturais.

Quanto a se fazerem as mudanças necessárias, a coisa se complica, já que milagres não acontecem. A miséria no mundo não acabaria de repente nem mesmo se todos quisessem e lutassem por isto.


Fernando;

Então a questão seria a de combatermos os excessos do capitalismo e não o capitalismo em si?

Pois me parece ser bem visível um certo abuso de poder por muitos capitalistas. Ou estou enganado?

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Edson Jr
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Re: Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por Edson Jr »

André escreveu:
Fernando Silva escreveu:
André escreveu:Um para mim Locke está errado, e Rousseau certo. Propriedade não é natural, mas uma construção humana social, logo questionável.

Por que não? Animais demarcam territórios e acumulam objetos, por exemplo.
Isto é uma forma primitiva de propriedade.

E se fosse apenas uma construção humana? Tudo o que é humano é questionável?

E será que tudo o que é natural é legítimo? Se nos comportarmos como os animais, sem conter nossos instintos, estaremos sendo naturais? Acima de questionamentos?


Falo mais especificamente da propriedade da terra e dos meios de produção. Esse conceito é uma construção. Pode ser questionado.

O que é natural faz parte de nos, precisamos comer, respirar. Os tais instintos não nos dominam sempre pois somos tb como diria Aristóteles, animais sociais e políticos. Natural não é bom, nem ruim, o mesmo para o que é social.

O relevante é que a questão é colocada como inquestionável, por defensores do capitalismo, como se fosse uma conseqüência humana inescapável, isso é de um autoritarismo extremo, e falta de respeito a liberdade sem nome.

Tudo que é humano é questionável? Sim, o que não significa que deva ser abandonado. Liberdade para questionar é liberdade para pensar sobre algo, e quando se demarca que algo é inquestionável isso está na raiz dos autoritarismos, ditaduras, e totalitarismos.

O essencial é ver as conseqüências boas e ruins e procurar caminhos de minimizar as ruins e maximizar as boas. Alterando o que for preciso, democraticamente. Respeitando os direitos dos indivíduos, principalmente à vida, e condições básicas de sobrevivência.


Andre, pelo que me parece, os defensores do capitalismo paracem acreditar que as mazelas sociais se extinguirão com o tempo, de forma lenta e gradual, seguindo o fluxo natural da própria natureza humana.

Talvez tenham razão. Talvez pensamentos e idéias como os nossos, apesar das boas intenções, só venham a impedir ou atrasar o percurso lento e gradual dessa "evolução social".

Não sei, mas talvez a nossa postura seja comparável ao desejo de ver um bebê correr quando mal deixou de engatinhar. Talvez nossa consciência seja por demais sensível ao ponto de percebermos o que seria ideal, mas precipitada ao querer antecipar ou forçar uma barra para que esse ideal venha logo a existir.

Sei lá...talvez...não sei... :emoticon28:

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emmmcri
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Mensagem por emmmcri »

Acauan escreveu:Mesmo querendo ser sutil, o que geralmente não quero, é difícil sê-lo quando se vê o quanto alguns enunciados teóricos tomados como realidade impedem tantos de enxergar o que saltita a frente de seus narizes.

Esqueçam as citações de nomes famosos e seus gloriosos postulados por alguns momentos e acompanhem estes dois raciocínios simples:

1. Se o capitalismo faz com que uma pequena minoria de ricos fique cada vez mais rica e a grande maioria de pobres cada vez mais pobre e em sendo a causa do aumento da riqueza dos ricos a expansão dos mercados capitalistas de onde tiram seus rendimentos, como conciliar as duas coisas?

Um doce virtual para quem conseguir inventar uma resposta aritmeticamente correta, sem precisar recorrer a nenhuma teoria econômica.

2. Se o capitalismo faz com que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e o Brasil, segundo alguns, é uma das sociedades capitalistas mais injustas e desiguais do planeta, de onde se conclui que aqui os pobres devem empobrecer mais e mais depressa ainda, como explicar que as favelas de São Paulo nos 1960 eram amontoados de barracos de madeira e teto de lata, minúsculos e imundos, onde os pobres da época juntavam alguns móveis improvisados, poucas roupas e utensílios básicos, enquanto hoje estas mesmas favelas, habitadas pelos mesmos pobres, são constituídas em sua grande maioria de casas de alvenaria, muitas das quais com metragem quadrada maior que a de um apartamento de classe média típico, nas quais praticamente todas possuem televisão, geladeira, outros eletrodomésticos e utensílios de conforto diversos, além da expressiva percentagem que é proprietária de automóveis (mesmo que usados ou velhos)?

Se os pobres ficam cada vez mais pobres, aqueles que não tinham um gato para puxar pelo rabo e moravam em barracos de madeira cercados de esgoto a céu aberto há quarenta anos não deveriam estar hoje em condições muito piores?

Estas questões traduzem fatos óbvios, visíveis a qualquer um que queira julgar conceitos a partir do que realmente existe, mas a miopia ideológica contaminou a sociedade a tal ponto, que poucos ainda se esforçam para julgar a realidade a partir daquilo que vêem e não a partir do que algum guru disse.


As favelas são lugares horríveis,onde não se vive e sim se sobrevive! A pobreza do País não se encontra apenas nas favelas,mas nas cidades satélites,nos interiores, nos bairros satélites, etc...
Você sabe quantas pessoas no Brasil vivem em estado total de miséria,não tendo água esgoto,sem alimentação ,assistência em saúde? Pois é!!
E a vida nas cidades está longe de ser um paraíso !!!
Lendo alguns debates aqui no rev,seja sobre politica,economia ou pena de morte,a impressáo q tenho é que alguns aqui vivem em outro País!
"Assombra-me o universo e eu crer procuro em vão, que haja um tal relógio e um relojoeiro não.
VOLTAIRE

Porque tanto se orgulhar de nossos conhecimentos se os instrumentos para alcançá-los e objetivá-los são limitados e parciais ?
A Guerra faz de heróis corajosos assassinos covardes e de assassinos covardes heróis corajosos .
No fim ela mostra o que somos , apenas medíocres humanos.



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Acauan
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Mensagem por Acauan »

André escreveu:1)O aumento de produção não beneficia apenas os ricos, beneficia principalmente esses.


Incorreto.
O aumento de produção tira pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza para um novo nível em que elas têm, no mínimo, sua subsistência garantida.
O aumento de renda que pouco altera as condições de vida do rico, apenas aumenta seu capital, para o pobre representa muitas vezes a diferença entre viver ou morrer, o que implica que quem usufrui de tal benefício máximo é necessariamente o mais beneficiado.


André escreveu:O aumento da riqueza beneficia também trabalhadores, e todos os membros de uma sociedade prospera.


Correto.

André escreveu:Porém a concentração de riqueza significa tb diferencial de poder. Além do que se a sociedade não é tão rica, nem tem uma balança tão favorável, o contingente de pobres é maior. Medidas que diminuam essa distancia, e diminuam os efeitos do diferencial de poder são necessários em uma sociedade que deseja ser justa.


Incorreto.
Em uma sociedade capitalista democrática e liberal os mecanismo de poder são muito mais complexos do que o reducionismo de atribuir mais poder aos ricos.
Tome-se por exemplo o Brasil, que está muito longe do capitalismo liberal, mas no qual os maiores empresários do país imploram há décadas por redução da carga tributária e menos encargos sobre a produção, recebendo em troca mais impostos e encargos.
Se fossem tão poderosos quanto diz o mito, não teriam suas principais reivindicações sistematicamente ignoradas como são e a dura realidade da competição não levaria dezenas de milhares de empreendimentos à falência todos os anos.

No Brasil, oligarquias políticas regionais nordestinas tem mais poder que a FIESP, sem produzir uma ínfima fração da riqueza gerada pela indústria paulista. Burocratas estatais que não sabem a diferença entre uma nota fiscal e um cachorro quente fazem todo o empresariado nacional tremer com uma simples canetada, para não falar dos traficantes de drogas, do MST e outros bandidos que detém mais poder do que qualquer Abílio Diniz ou Antonio Ermírio jamais tiveram por estas bandas.


André escreveu:Logo qualquer solução inclui o fomento a produção, de preferência auto-sustentável, e tb medidas que busquem fornecer a todos as necessidades básicas. Para, além disso, cada um com sua individualidade, tem liberdade para buscar.


Correto.

André escreveu:2)Como disse, o aumento da produção não beneficia apenas os mais ricos, nem a ampliação de mercados. Logo a cidade de São Paulo ficou mais rica, houve mais chances e oportunidades para um contingente maior de pessoas. Mas não houve oportunidade para todos, e para ser universal nesse quesito (em relação a essa sociedade), as necessidades básicas de todos devem ser atendidas (por programas democraticamente instituídos), inclusive para que tenham condições de competir, não pela sobrevivência, essa deve ser garantida, mas por uma vida melhor, essa que somente pode ser conquistada.


Quem quiser medir o grau em que São Paulo oferece oportunidades para todos que reveja a trajetória de vida do atual presidente da república.
Embora seja sem dúvida o exemplo melhor sucedido, ele é apenas um entre milhões que conquistaram aqui uma vida melhor, ganho que em nada é reduzido pelo fato de alguns outros terem uma vida melhor ainda.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

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André
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Re: Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por André »

Edson Jr escreveu:
André escreveu:
Fernando Silva escreveu:
André escreveu:Um para mim Locke está errado, e Rousseau certo. Propriedade não é natural, mas uma construção humana social, logo questionável.

Por que não? Animais demarcam territórios e acumulam objetos, por exemplo.
Isto é uma forma primitiva de propriedade.

E se fosse apenas uma construção humana? Tudo o que é humano é questionável?

E será que tudo o que é natural é legítimo? Se nos comportarmos como os animais, sem conter nossos instintos, estaremos sendo naturais? Acima de questionamentos?


Falo mais especificamente da propriedade da terra e dos meios de produção. Esse conceito é uma construção. Pode ser questionado.

O que é natural faz parte de nos, precisamos comer, respirar. Os tais instintos não nos dominam sempre pois somos tb como diria Aristóteles, animais sociais e políticos. Natural não é bom, nem ruim, o mesmo para o que é social.

O relevante é que a questão é colocada como inquestionável, por defensores do capitalismo, como se fosse uma conseqüência humana inescapável, isso é de um autoritarismo extremo, e falta de respeito a liberdade sem nome.

Tudo que é humano é questionável? Sim, o que não significa que deva ser abandonado. Liberdade para questionar é liberdade para pensar sobre algo, e quando se demarca que algo é inquestionável isso está na raiz dos autoritarismos, ditaduras, e totalitarismos.

O essencial é ver as conseqüências boas e ruins e procurar caminhos de minimizar as ruins e maximizar as boas. Alterando o que for preciso, democraticamente. Respeitando os direitos dos indivíduos, principalmente à vida, e condições básicas de sobrevivência.


Andre, pelo que me parece, os defensores do capitalismo paracem acreditar que as mazelas sociais se extinguirão com o tempo, de forma lenta e gradual, seguindo o fluxo natural da própria natureza humana.

Talvez tenham razão. Talvez pensamentos e idéias como os nossos, apesar das boas intenções, só venham a impedir ou atrasar o percurso lento e gradual dessa "evolução social".

Não sei, mas talvez a nossa postura seja comparável ao desejo de ver um bebê correr quando mal deixou de engatinhar. Talvez nossa consciência seja por demais sensível ao ponto de percebermos o que seria ideal, mas precipitada ao querer antecipar ou forçar uma barra para que esse ideal venha logo a existir.

Sei lá...talvez...não sei... :emoticon28:


Essa "evolução social" não é do interesse de muitos capitalistas. Ter gente desempregada mantem o custo do empregado mais baixo, pois se ele exigir mais pode ser substituido.

O capitalismo desenvolveu mecanismos conservadores da riqueza, e o crescimento tão defendido se não houver regulação, vai destruir as riquezas naturais, e promover alteraçoes no equilibrio da Terra, como o aquecimento global, que já vem demonstrando os problemas que gera.

Milhoes morreram e continuaram morrendo, em guerras, devido a condiçoes precarias de vida, devido a fatores climaticos, e a lógica do capital se não é responsavel, e não estou dizendo que seja em todos os casos, não vai se interessar por resolver isso. Pois para essa lógica a vida humana é um numero, um fator, não o mais importante. Se o custo cair desempregando um monte de gente, a lógica do capital vai aplaudir não condenar.

O objetivo deles é que vc se sinta ingenuo, quando na verdade sua capacidade de se indignar é justamente o que é necessario. Somente acreditando que é necessario mudar, é que mudanças podem ocorrer.
Visite a pagina do meu primeiro livro "A Nova Máquina do Tempo." http://www.andreteixeirajacobina.com.br/

Ou na Saraiva. Disponivel para todo Brasil.

http://www.livrariasaraiva.com.br/produ ... 0C1C301196


O herói é um cientista cético, um pensador político. O livro debate filosofia, política, questões ambientais, sociais, bioética, cosmologia, e muito mais, no contexto de uma aventura de ficção científica.

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Xicao
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Re.: Você gosta do capitalismo?

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A classe capitalista já não pode conservar o seu poder senão através da guerra. É interessante notar que os economistas neoclássicos começaram seriamente a desenvolver uma economia de defesa, mas até agora têm fracassado. Uma razão para este fracasso é a incapacidade da economia neoclássica para lidar com o conflito, um autêntico problema na análise da guerra!

Neoliberalismo contra o Desenvolvimento

A teoria do desenvolvimento nasceu no anos 40 e 50 a partir de uma dupla diferenciação: primeiro no que refere à economia neoclássica padrão, pela rejeição dos dogmas dos benefícios sistemáticos do comércio; e em segundo, no que respeita à economia Keynesiana (que foi corrente dominante de 1945 a 1975), pela sua crítica à inadequação da análise Keynesiana do desemprego e do crescimento a curto termo, ao examinar os problemas estruturais com que se depararam os países em desenvolvimento. Portanto, existia um elemento heterodoxo na teoria do desenvolvimento desde o início. Por esse motivo, o novo campo encorajou aqueles que eram mais radicalmente heterodoxos a analisar o desenvolvimento, tal como os Marxistas e estruturalistas, e estes por sua vez criaram a economia do planeamento, o Cepalismo estrutural a teoria da dependência e as teorias do sistema capitalista mundial. Essas evoluções na história do pensamento foram relacionadas com as que ocorriam na história dos factos: as grandes revoluções do século XX (Rússia, China, Vietnam, Cuba), aos movimentos de libertação nacional (Índia, mundo Árabe, África) e mesmo dom as necessidades de reconstrução no período do após guerra (o Plano Marshall no Ocidente). A emergência de autores do Sul, como Prebisch e Furtado na América Latina, Mahalanobis na Ásia, Amin em África, mostraram-nos que a teoria do desenvolvimento, nascida na Europa, tal como a economia política anterior a ela, não são um monopólio do Norte. Assim, a economia do desenvolvimento surgiu no espaço intelectual aberto pelas transformações sociais que ocorreram sob a pressão das lutas populares em todo o mundo, tentativas mais ou menos radicais para cortarem com as leis do sistema mundial. O estado foi colocado no centro de todas as estratégias de mudança estrutural, esforçando-se por tornar autónomas, por “auto-centralizar”, tanto quanto possível, as condições de acumulação: planeamento e industrialização no Leste e, nos países socialistas do Sul, e desenvolvimentismo capitalista das burguesias nacionais nos restantes países. É este espaço, o produto das histórias de factos e ideias, que irá ser reconquistado nos anos 70 e 80 pelo neoliberalismo na prática, e pelo pela corrente dominante neoclássica na teoria económica. O neoliberalismo significa o regresso ao poder da finança, ou seja, os mais poderosos (sobretudo nos EUA) possuidores do capital do mundo. Isto começou em finais dos anos 70 - precisamente desde a subida das taxas de juro nos Estados Unidos (1979), exacerbando a crise da dívida do terceiro mundo. Este retorno teve lugar sobre as ruínas dos pilares do sistema mundial (por exemplo, as taxas fixas de câmbio financeiro), erguidos após a II Guerra Mundial. O declínio das taxas de lucro registado nos países centrais no fim dos anos 60 e ao longo dos anos 70, espalhou-se numa crise aberta do capitalismo, caracterizada por um deslizar de todo o sistema, para um caos monetário-financeiro, fazendo explodir as desigualdades e o desemprego em massa. A conjugação do questionamento da regulação Keynesiana do capitalismo no Norte (produzida nos anos 70 pela stagflação), os fracassos dos projectos de desenvolvimento burguês nacional no Sul (a crise da dívida nos anos 80) e o colapso do bloco soviétoco no Leste (início dos anos 90) causaram uma profunda alteração nas relações capital-trabalho a uma escala mundial. Como as vias seguidas pelos seus pioneiros não eram as da corrente principal e como as forças sociais que as empreendiam iam perdendo terreno, a teoria do desenvolvimento do após guerra apenas podia ser considerada pela ortodoxia neoclássica como um recuo do declínio não-científico. Os fracassos das políticas de desenvolvimento, especialmente da indústrias substitutas da importação, tornaram-se óbvios nos anos 80, período do advento do neoliberalismo. É neste contexto da retirada dos trabalhadores e habitantes da periferia que a ofensiva global a ideologia neoliberal na manipulação da crise de expansão do capital, deve ser entendida. Os seus dogmas são conhecidos. A nível nacional, trata-se de levar a cabo uma estratégia anti-estatal agressiva deformando a estrutura da posse do capital em benefício do sector privado, reduzindo a despesa pública com fins sociais e impondo austeridade salarial como prioridade chave ao combate à inflação. A nível global, os objectivos são perpetuar a supremacia do dólar USA em relação ao sistema monetário internacional e promover o livre comércio, desmantelando a protecção e liberalizando as transferências de capitais. A standardização desta estratégia de desregulamento planetário é uma das funções das mais importantes organizações internacionais (antes de mais o FMI, o Banco Mundial e a OMC) e das instituições monetárias-financeiras locais (os bancos centrais “independentes”). O edifício inteiro é assim posto sob o controle dos Estados Unidos, cuja supremacia militar garante o funcionamento global do sistema. Como consequência, qualquer ideia de desenvolvimento à margem do capitalismo neoliberal está vedada, tal como o está qualquer independência da teoria do desenvolvimento como disciplina distinta do corpus neoclássico dominante. Desde o início dos anos 90, as organizações internacionais, especialmente o FMI, têm vindo a ser pródigas para com os seus “países clientes” em recomendações sobre “a boa governação”. O FMI procura promover a boa governação dominando “todos os aspectos da condução dos negócios públicos”, procurando tornar as decisões políticas mais transparentes, tornar disponível o máximo de informação respeitante às finanças públicas e auditar procedimentos e, mais recentemente, “combater o financiamento do terrorismo”. O que está em jogo é a modelação das políticas dos estados nacionais a fim de criar os contextos institucionais mais favoráveis à abertura do Sul aos mercados globalizados. Como reflexo das necessidades financeiras sob a égide do neoliberalismo, a boa governação pode assim ser vista como uma inversão do bom governo. A finalidade não é a promoção da participação democrática dos indivíduos no processo da tomada de decisões, ou o respeito pelo seu direito ao desenvolvimento, mas sim a desregulação do mercado sob a égide do estado, ou seja, uma nova regulação pelas forças dominantes do capital. Confrontado com a incapacidade do neoliberalismo para controlar a crise e com a recusa do FMI, Banco Mundial e OMC para reconhecer a necessidade de encontrar alternativas que possam impor limites dinâmicos à expansão do capital, independente da sua busca de lucros máximos, a boa governação apenas pode intensificar a sua crítica aos fracassos do estado. Os funcionários públicos não são apenas acusados de “procura de rendimentos”; o que de futuro será chamado à colação é a sua capacidade para manipular os assuntos públicos, especialmente no sul individado, e também para construir e manter instituições “decentes”, não tanto para o povo, mas sim para o capital. Contudo, a retórica moralizante a respeito da responsabilidade dos estados (aos quais, de resto, são imputados todos os erros) e os discursos a respeito da irresponsabilidade dos seus agentes (quando não é a sua honestidade básica que é questionada) não passa da legitimação daquilo a que poderíamos chamar as opções “ultraliberais” de abandonar as normais prerrogativas do estado, as quais em alguns casos vão até ao abandono da defesa nacional, à substituição da moeda nacional por moeda estrangeira e à cobrança privada de impostos. Estamos assim perante um paradoxo chocante, inerente à “boa governação”: as organizações internacionais exigem aos governos nacionais a adopção de políticas económicas impostas de fora enquanto os mercados financeiros globalizados esbulham esses países da sua soberania e se introduzem elas mesmas na posse da estrutura do capital desses países. Enquanto as organizações internacionais controlam os aparelhos estatais do Sul directamente a partir do centro do sistema mundial, estão a neutralizar o poder desses países despojando-os de todas as suas prerrogativas e reduzindo ao mínimo as suas margens de manobra. Não será esse de facto, o segredo da governação ideal? Que democracia poderiam as autoridades públicas pretender, quando limitam o exercício da soberania nacional à liberalização dos mercados, ao pagamento de dividendos ao investimento estrangeiro e ao re-pagamento da dívida estrangeira?


A Absorção do DEsenvolvimento pela Economia Neoclássica

Durante mais de vinte anos, quase sozinhos, os neoclássicos dominaram a teoria económica, incluindo a teoria do desenvolvimento económico. A sua ambição é analisar todos os factos socioeconómicos partindo dos comportamentos individuais maximizados. O cerne da economia neoclássica e a fonte da sua pretensão de ser uma ciência é a teoria do equilíbrio geral. Esta teoria propõe-se mostrar que quando cada comprador e vendedor agem no mercado segundo o seu interesse individual, a competição produzirá um único conjunto de preços e quantidades que criará um perfeito desafio entre a oferta e procura de todos os bens e serviços assim como de cada investimento usado na produção. E o que é mais, uma vez alcançada esta quantidade de “equilibrio” de preços e quantidades, o bem estar social será tão elevado como poderá possivelmente ser, no sentido em que nenhum indivíduo será capaz de estar em melhor condição sem fazer com que outrem fique em pior condição. Pesadamente matemático, fortemente normativo e confiante num leque de suposições absurdamente irrealistas, é a pedra de toque de toda a mocroeconomia padrão. A sua verdadeira intenção é determinar a via pela qual as escolhas dos múltiplos agentes, (compradores e vendedores) podem ser coordenadas dentro de uma moldura que integre o total das interdependências relacionadas com as suas trocas. Assumindo-as como livres, racionais e impulsionadas pelo interesse pessoal, estas escolhas dependem não apenas das características dos agentes (dotação dos factores de produção, gostos e preferências, conjecturas e funções de produção), mas também na forma da organização social em que estas relações operam. O caso privilegiado é umaa estrutura de mercado de perfeita competição que permite o modelo, se tivermos em conta as suposições Arrow-Debrew (assim designado graças a Arrow e Debreu, ambos laureados com o prémio Nobel), a fim e dar uma solução de equilíbrio para o qual a coordenação de escolhas individuais seja possível e a atribuição “óptima” de recurso (no sentido dado por Pareto). Enquanto este modelo pretende processar informação respeitante a um grande número de indivíduos, as dificuldades técnicas com que os neoclássicos depararam levaram-nos frequentemente a desenvolver o modelo com um número muito restrito de agentes, na suposição de que estes são “representativos” dtodos os agente e s. Em casos extremos, mas nem por isso muito raros, uma vez que eles permitem simplificações matemáticas, há apenas um único agente; é suposto que toda a análise possa ser elaborada com sucesso no caso de um indivíduo, como Robinson Crusoe na sua ilha. Até ao ponto em que o equilíbrio geral forneça referência teórica básica para quase todos os modelos neoclássicos, o seu conhecimento é crucial para os autores heterodoxos críticos. A partir de finais dos anos 70, esta teoria foi amplamente aplicada à área do desenvolvimento, graças ao uso dos modelos gerais de equilíbrio quantificáveis. Esses modelos calculam, na base de comportamentos individuais, os valores de equilíbrio variáveis na economia, por exemplo os efeitos do preço ou quantidade das variações dos modelos parâmetro ligados à política económica, tal como impostos ou subsídios. O Banco Mundial fez um uso sistemático destes instrumentos a fim de tentar justificar teoricamente e tornar politicamente credíveis as medidas anti-sociais de ajustamento estrutural impostas ao Sul, contribuindo assim para a sua extensa difusão no âmbito das esferas académicas. Além disso, o estudo das instituições em crescimento (tal como os sindicatos de trabalhadores, o estado, os militares, as organizações religiosas, as leis, e assim por diante) levou também os neoclássicos a considerar as questões do desenvolvimento. Durante muito tempo, de acordo com a teoria padrão da perfeita competição, as instituições foram olhadas como dados exógenos, deviam ser encaradas como aceites e a análise económica não poderia ser-lhes aplicada. Assim, a sua análise era excluída do raciocínio económico e deixada a outras disciplinas da área das ciências sociais relacionadas com categorias colectivas como a sociologia e a ciência política. Contudo, mais recentemente, os economistas têm vindo a introduzir as instituições precisamente no âmbito dos modelos de equilíbrio geral e aplicando a análise económica padrão ao seu comportamento. Mas para fazê-lo, os economistas ortodoxos assumem simplesmente que o comportamento individual maximizado consegue explicar cabalmente quais as instituições e como procedem. Por exemplo quando Akerlof usou a teoria dos jogo para analisar as castas indianas, começou por assumir que existe um modelo padrão de comportamento económico aplicável em todos os tempos e lugares, nomeadamente aquele que se encontra implícito no modelo Arrow-Debreu do equilíbrio geral da competição perfeita. Um economista chega mesmo a assumir, para facilitar o argumento, que “no princípio” era o mercado. Na macroeconomia, o desenvolvimento económico foi muito influenciado pela teoria neoclássica do crescimento, chamada “crescimento endógeno”. Estes modelos, segundo Romer ou Lucas por exemplo) procuram explicar o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) pela acumulação do próprio processo, ou, de modo endógeno (i.e., pelos factores de produção), sem recurso a motores exógenos, como no famoso modelo de Solow de 1956. O ponto essencial do modelo de Solow era a ideia de que o crescimento “regular” em qualquer economia, rica ou pobre, surge automaticamente desde que exista total confiança nos mercados competitivos. Não haveria realmente necessidade de qualquer “grande impulso”, apenas uma estrutura institucional que permitisse ao auto-interesse manifestar-se. Uma das previsões da nova teoria do crescimento endógeno é a ausência de convergência de crescimento entre países, com a conclusão chave de que, nas economias de mercado, o estado deve intervir para acelerar a acumulação de capital, e portanto o crescimento a longo prazo. Graças a estes modelos, os neoclássicos estão agora numa posição dominante na modelização do crescimento a longo termo. E muitos economistas heterodoxos, exasperados pelas teses anti-estado neoliberais, reagiram aos encantos desta nova teoria neoclássica.


A Crise da Economia Neoclássica

Assim, a economia neoclássica de curso normal coloca os economistas heterodoxos na defensiva, ao atacá-los nas frentes da micro e da macroeconomia, bem como na das instituições. Contudo, é importante esclarecer que a chacina neoclássica não se deve à sua superioridade teórica. A economia neoclássica encontra-se numa profunda crise teórica. Na microeconomia é (matematicamente) impossível, para os neoclássicos, provar a singularidade do equilíbrio geral - discutido anteriormente - pelo comportamento maximizador dos agentes. Claro que tais problemas teóricos nunca são mencionados nos estudos neoclássicos dedicados ao desenvolvimento, especialmente quando se trata de modelos gerais de equilíbrio quantificáveis, mas eles constituem o mais sério desafio ao pensamento comum. A economia neoclássica não tem resposta para eles. terá que responder-lhes. Na macroeconomia, o postulado frequentemente usado do agente representativo levanta a questão de se o facto de se falar de “mercado”, de “troca” ou de “preço” faz qualquer sentido no caso de existir um agente solitário. O que é mais, a nova teoria neoclássica do crescimento é incapaz de explicar conceitos básicos como “capital”, (que é o motor do crescimento: conhecimento, capital humano, infraestrutura…?) ou sequer do estado, (como distingui-lo do agente singular?). Nas áreas neo-institucionais, a ideologia da livre escolha individual, conduz a catástrofes intelectuais, [tal como a explicação do feudalismo por North ou a do actual ressurgimento da partilha das colheitas no Sul por Stiglitz. Não nos ensinou Williamson que todos os “contratos privados” que resultam de transacções inter-individuais foram racionais e eficientes em todos os períodos da história? Será surpreendente vê-lo afirmar a paternidade e a validade das “reformas institucionais” do Consenso de Washington? Aquilo que os neoclássicos exibem como avanços teóricos, são na verdade retrocessos que transformam a ciência económica em ficção científica. O que deve ser posto a claro é a função ideológica das teorias neoclássicas. Servem elas para dar um verniz científico às políticas do neoliberalismo. Não é coincidência que a teoria pregue aquilo que o neoliberalismo faz: o neoliberalismo põe exclusivamente o estado ao serviço do capital privado e, na verdade, o que outrora foram bens públicos estão agora em processo de privatização. Tudo deve ser “mercadejado”, incluindo a produção de todo o conhecimento e educação. Não é que o estado não deva actuar - neste aspecto os modernos neoclássicos distinguem-se tanto dos velhos anti-estado como das posições libertárias de economistas como Hayek. O estado deve apenas garantir o reinado supremo do capital privado e das empresas multinacionais. Qualquer reivindicação de objectividade se tornou questionável a partir do momento em que economistas do Nobel, Friedman, Becker e Lucas se apresentaram juntos no “entusiástico apoio ao programa económico de G.W.Bush”.

A Crise do Neoliberalismo

As políticas neoliberais foram usadas durante três décadas e até agora, para controlar a crise do capitalismo. Ofereceram muito pela via das oportunidades de investimento especulativo aos grandes senhores do capital, ou seja, à alta finança, especialmente dos E.U.A. Para obviar à falta de escoamento de investimento para os enormes excedentes que estes possuidores haviam arrancado aos trabalhadores , camponeses e povos do mundo, as políticas neoliberais pretenderam alargar esses escoamentos e evitar a desvalorização do capital. Estas políticas foram nefastas para a maioria da humanidade, e especialmente o Sul global suportou odiosos re-pagamentos de dívida, a fuga de capitais e a repatriação dos lucros dos investimentos estrangeiros. O neoliberalismo não é um modelo de desenvolvimento; é a estratégia posta em prática pela alta finança, os seus efeitos foram pilhar o Sul enquanto se realizava uma lenta acumulação de capital no Norte. Apesar de todos os seus fracassos em todos os campos (o que implica o fracasso da sua legião de peritos, ele continua a ser imposto unilateralmente e antidemocraticamente. Entretanto as desigualdades internas e internacionais estão a explodir. Mesmo os mecanismos de regulação do capitalismo global, estão em crise. Hoje, a característica fundamental do poder da finança global sob a hegemonia dos EUA é a sua militarização. Isto mede-se menos pelo indicador que é o incremento do “fardo militar” – as despesas militares como percentagem do PIB - do que pela agressiva expansão das bases militares dos EUA por todo o mundo, e ainda pela crescente presença das corporações multinacionais no seio do complexo militar-industrial. O nome da globalização é imperialismo, e imperialismo cada vez mais abertamente apoiado na guerra. O capital está em guerra contra quem quer que tente libertar-se do seu domínio ou seguir a via de um desenvolvimento autónomo, e esse desenvolvimento é causa primeira das guerras imperialistas de defesa do capital. No Iraque, por exemplo, existe o óbvio desejo, por parte do capital, de controlar o petróleo. Contudo, existe uma realidade ainda mais decisiva: o que está em causa e o que leva a esta e a outras guerras necessárias para a alta finança, é a reprodução das condições que permitam que o poder do capital se mantenha e cresça. A classe capitalista já não pode conservar o seu poder senão através da guerra. É interessante notar que os economistas neoclássicos começaram seriamente a desenvolver uma economia de defesa, mas até agora têm fracassado. Uma razão para este fracasso é a incapacidade da economia neoclássica para lidar com o conflito, um autêntico problema na análise da guerra!


Da Luta contra a Pobreza à Guerra contra os Pobres

A continuação das políticas neoliberais, para quem um dos sustentáculos ideológicos é o de que essas políticas reduzem a pobreza, tornou-se cada vez mais uma guerra total contra os pobres. Nessa guerra, a maior parte dos economistas, inclusive aqueles que são usualmente apontados como sensíveis aos aspectos sociais do desenvolvimento - ou mesmo aqueles cujo pensamento contém críticas ao neoliberalismo -, como Stiglitz e Sem, não propõem alternativas à vasta expansão do neoliberalismo. Os debates entre os “grandes” economistas (ganhadores de Prémios Nobel) são ásperos, especialmente em relação às saídas apontadas pelos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas. Schelling, laureado com o Nobel pelas suas “descobertas” sobre a teoria do jogo (e também outrora empregado pela Rand Corporation, função em que o seu trabalho influienciou McNamara em decisões que tomou durante a longa escalada da guerra do Vietname), fez parte do “Consenso de Copenhaga” de 2003, constituído para avaliar os Objectivos do Milénio. O “Consenso de Copenhaga” foi convocado pelo anti-ambientalista Lomborg do The Skeptcal Environmentaliste fame – com o apoio do Instituto Nacional do Financiamento ao Ambiente da Dinamarca). Ele recomendou que a ONU desse uma baixa prioridade às metas para redução do efeito de estufa (antes havia apoiado a rejeição do Protocolo de Kyoto pelos E.U.A.), que as Nações Unidas promovessem maior liberalização do comércio, que fosse dada maior protecção às patentes das corporações farmacêuticas sobre os medicamentos para a SIDA, e que fossem promovidos organismos geneticamente modificados na luta contra a desnutrição. Somos tentados a tomar os pontos de vista de Schelling como uma excepção em relação aos economistas galardoados com o Nobel. Mas é muito difícil que seja esse o caso. Recordemos a interpretação de Fogel (prémio em 1993) da escravatura nos E.U.A. como sendo basicamente uma forma de livre escolha entre donos e escravos! Também Fogel foi membro do grupo de peritos do “Consenso de Copenhaga” e fez recomendações similares às de Schelling – com a liberalização do comércio quase no topo das prioridades globais e com os esforços para vencer a desnutrição, a fome e o combate ao aquecimento global em último lufgar. Como é que nos podemos esquecer de Friedman (Nobel de 1976) que entende que a intervenção do estado além dos serviços educacionais oferecidos pelo mercado “não é necessária” e conduz a um sistema muito pior do que aquele que se desenvolveria se o estado tivesse desempenhado um papel cada vez mais relevante. Ou Hayek (Nobel de 1974), cujas posições ultra-liberais são demasiado conhecidas para precisarem de ser explicadas aqui? Becker (Nobel em 1992) declarou que a prontidão dos “Chicago Boys” em trabalhar para o General Pinochet “ foi uma das melhores coisas que poderiam ter acontecido ao Chile”. Como uma das inspirações deles na Universidade de Chicago, disse que se sentia “orgulhoso da imensamente merecida glória deles.” No mesmo espírito, Barro (aspirante ao Nobel) escreveu que o actual “bom” comportamento da economia do Chile se devia indubitavelmente às reformas neoliberais implementadas por Pinochet entre 1973-1989, uma vez que ninguém mais do que ele havia feito mais para mostrar a “superioridade” do capitalismo sobre o socialismo.


“Grandes Economistas” Críticos, mas Pró-Sistema

A ideologia reaccionária de alguns “grandes” economistas é relativamente bem conhecida e frequentemente denunciada. Mas os argumentos pró neoliberais de Prémios Nobel mais moderados, usualmente olhados como críticos do sistema, como Stiglitz e Sem por exemplo, atraem muito menos uma atenção crítica. Estes dois autores “na moda” sabem “surfar” na onda de protestos contra o neoliberalismo selvagem e na necessidade de regular o mercado a fim de promover um capitalismo “de rosto humano.” Contudo trata-se de um sério equívoco, dado que nenhum deles recomenda a reedificação do estado de bem estar, modificando a estrutura da posse do capital em favor do sector público, aplicando uma política de redistribuição do rendimento, ou promovendo o serviços públicos, e muito menos ainda argumentando em favor do desenvolvimento planificado conduzido pelo estado. A despeito de umas quantas nuances e subtilezas, os seus argumentos implicam sempre que o estado deve submeter-se inteiramente às forças dominantes do capital global e ajudar a sua acumulação de capital. Stiglitz (Nobel em 2000) era ainda o economista chefe do Banco Mundial quando em 1998-99 foi publicado o relatório sobre “Conhecimento para o Desenvolvimento”. Este relatório ensina-nos o que significa a “cooperação” com o sector privado nas áreas da informação e das telecomunicações: privatização, desmantelamento da investigação pública (e mesmo a transformação dos institutos de investigação em companhias por acções), e a comercialização da educação (mesmo ajudando-se os pobres a pagar os seus estudos). Condiz com a série de outros relatórios previamente publicados pelo Banco Mundial sobre infraestruturas, dividendos da saúde ou paz, que protegiam as multinacionais ao assegurá-las contra qualquer risco de nacionalização; ao permitir que as transnacionais se encarreguem, a expensas do estado, de erguer a infraestrutura para acumulação do capital; ao promover a exploração das florestas para exportação; ao cortar os orçamentos públicos e os programas sociais; e ao abrir suculentas saídas para os seus complexos militar-industriais antes de recomendarem o desarmamento para poderem continuar a receber o reembolso das dívidas do terceiro mundo. Sen (Nobel em 2004) é normalmente apresentado como propondo uma “outra voz” na luta contra a pobreza. A sua análise concentra-se na escassez de saídas (especialmente em capital humano) para os pobres, impedindo-os de escaparem à sua pobreza tomando parte activa nos mercados. As ideias de Sen influenciaram consideravelmente as organizações internacionais ligadas ao desenvolvimento humano. No entanto, o seu arrazoado é sobretudo uma cópia perfeitamente compatível da teoria neoclássica (incluindo o equilíbrio geral e o seu individualismo metodológico). E, nos seus discursos éticos “pluralistas” - que são por vezes muito confusos - as suas propostas coadunam-se com as da gente da boa governação do Banco Mundial e do FMI. Obcecado pelo indivíduo solitário e suas oportunidades (e capacidades) de escolha, Sen negligencía quase sistematicamente a questão da distribuição dos recursos entre os grupos sociais, e acima de tudo o problema das desigualdades na posse do capital. Sen perde-se na ficção das escolhas livres individuais dos agentes, tão estreitamente ligada à da “democracia” que oculta os efeitos de classe e/ou o domínio nacional e a violenta relação de forças entre exploradores e explorados – isto é, as contradições essenciais do capitalismo desde os seus mais distantes primórdios. Actualmente, o domínio da teoria do desenvolvimento pelos neoclássicos vai a par com o poder da alta finança neoliberal sobre as políticas de desenvolvimento. Isto não significa que todos os neoclássicos sejam neoliberais. Uma das complexidades do tempo presente advém precisamente da esquizofrenia de uma quantidade de economistas, neoclássicos no gabinete mas pseudo-populistas durante os fins de semana. Isto significa simplesmente que existem importantes complementaridades entre estas duas formas de domínio ideológico que se reforçam mutuamente e são ao mesmo tempo independentes. Assim, em minha opinião, não são apenas a ausência de uma base científica e as inconsistências lógicas que desqualificam estas abordagens, mas sua a função ideológica e o projecto anti-social que as suas metodologias e conclusões apoiam ao serviço do capital mundial. Os autores heterodoxos já não podem dar-se ao luxo de estarem desunidos por polémicas inúteis, reproduzindo divisões ultrapassadas. Contudo, não é por pregarem novas “sínteses”, nem por se submeterem à corrente neoclássica dominante que eles conseguirão mobilizar forças para a sua reconstrução, mas pelo contrário, é resistindo à corrente dominante e reafirmando uma radicalidade combativa. Hoje, mais do que nunca, a questão permanece: como é que podemos caminhar para lá dos fracassos e erros do passado para construir um autêntico projecto de desenvolvimento para uma alternativa pós-capitalista – uma alternativa que seja simplesmente social, ou, o que é melhor, socialista? Esse é o motor que desde o princípio animou as heterodoxias na economia do desenvolvimento.

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:emoticon13:

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Xicao
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Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por Xicao »

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Editado pela última vez por Xicao em 05 Jun 2007, 15:29, em um total de 1 vez.

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Acauan
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Mensagem por Acauan »

André escreveu:Concordo em grande medida. Agora acho que a parcela que dos ricos é redistribuída pode ser maior. Sem chegar a ser punitiva claro.


Como aumentar uma carga tributária de 40% do PIB, que obviamente já é muito punitiva, sem torná-la mais punitiva?

André escreveu: Detalhe distribuída em programas que atendam as necessidades básicas, e que ofereçam melhores chances para que o pobre deixe de ser pobre pelo seu trabalho, estudo, esforço.


O único jeito de fazer isto é oferecendo vagas em postos de trabalho, coisa que ninguém até hoje descobriu como fazer sem investimento e crescimento econômico.
Obviamente que educação e saúde entram na equação, mas sem investimento e crescimento econômico tudo que conseguiremos são desempregados educados e saudáveis.


André escreveu: Como acredito que a maioria da sociedade não é avessa ao trabalho, e a chances, tais programas teriam grandes chances de serem bem sucedidos.


Para que sejam mal sucedidos basta fazer com que o Estado os administre.


André escreveu:Detalhe os trabalhadores geram riqueza, em conjunto, alias sem eles os ricos não gerariam quase nada. Quem não gera, ou quase não gera, são os pobres miseráveis, os da classe media baixa, e pobres que trabalham, geram sim, alias sem eles a sociedade não funcionaria. O que se deve fazer é oferecer melhores condições e chances para todos.


A geração de riqueza só acontece quando os fatores e recursos de produção são mobilizados e direcionados para um objetivo. Quem faz este papel é o empreendedor, sem o qual os recursos – incluída aí a mão-de-obra – jamais gerariam riqueza.
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
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Acauan
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Mensagem por Acauan »

emmmcri escreveu:As favelas são lugares horríveis,onde não se vive e sim se sobrevive! A pobreza do País não se encontra apenas nas favelas,mas nas cidades satélites,nos interiores, nos bairros satélites, etc...
Você sabe quantas pessoas no Brasil vivem em estado total de miséria,não tendo água esgoto,sem alimentação ,assistência em saúde? Pois é!!
E a vida nas cidades está longe de ser um paraíso !!!
Lendo alguns debates aqui no rev,seja sobre politica,economia ou pena de morte,a impressáo q tenho é que alguns aqui vivem em outro País!


Puxa!!!

Quer dizer que as favelas são feias, há muita pobreza e as cidades tem coisas ruins???

Minha visão da realidade mudou completamente depois que você me revelou estes fatos que eu nem imaginava que existissem.

Nós, Índios.

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André
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Mensagem por André »

Acauan escreveu:
André escreveu:1)O aumento de produção não beneficia apenas os ricos, beneficia principalmente esses.


1)Incorreto.
O aumento de produção tira pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza para um novo nível em que elas têm, no mínimo, sua subsistência garantida.
O aumento de renda que pouco altera as condições de vida do rico, apenas aumenta seu capital, para o pobre representa muitas vezes a diferença entre viver ou morrer, o que implica que quem usufrui de tal benefício máximo é necessariamente o mais beneficiado.


André escreveu:O aumento da riqueza beneficia também trabalhadores, e todos os membros de uma sociedade prospera.


Correto.

André escreveu:Porém a concentração de riqueza significa tb diferencial de poder. Além do que se a sociedade não é tão rica, nem tem uma balança tão favorável, o contingente de pobres é maior. Medidas que diminuam essa distancia, e diminuam os efeitos do diferencial de poder são necessários em uma sociedade que deseja ser justa.


2)Incorreto.
Em uma sociedade capitalista democrática e liberal os mecanismo de poder são muito mais complexos do que o reducionismo de atribuir mais poder aos ricos.
Tome-se por exemplo o Brasil, que está muito longe do capitalismo liberal, mas no qual os maiores empresários do país imploram há décadas por redução da carga tributária e menos encargos sobre a produção, recebendo em troca mais impostos e encargos.
Se fossem tão poderosos quanto diz o mito, não teriam suas principais reivindicações sistematicamente ignoradas como são e a dura realidade da competição não levaria dezenas de milhares de empreendimentos à falência todos os anos.

No Brasil, oligarquias políticas regionais nordestinas tem mais poder que a FIESP, sem produzir uma ínfima fração da riqueza gerada pela indústria paulista. Burocratas estatais que não sabem a diferença entre uma nota fiscal e um cachorro quente fazem todo o empresariado nacional tremer com uma simples canetada, para não falar dos traficantes de drogas, do MST e outros bandidos que detém mais poder do que qualquer Abílio Diniz ou Antonio Ermírio jamais tiveram por estas bandas.


André escreveu:Logo qualquer solução inclui o fomento a produção, de preferência auto-sustentável, e tb medidas que busquem fornecer a todos as necessidades básicas. Para, além disso, cada um com sua individualidade, tem liberdade para buscar.


Correto.

André escreveu:2)Como disse, o aumento da produção não beneficia apenas os mais ricos, nem a ampliação de mercados. Logo a cidade de São Paulo ficou mais rica, houve mais chances e oportunidades para um contingente maior de pessoas. Mas não houve oportunidade para todos, e para ser universal nesse quesito (em relação a essa sociedade), as necessidades básicas de todos devem ser atendidas (por programas democraticamente instituídos), inclusive para que tenham condições de competir, não pela sobrevivência, essa deve ser garantida, mas por uma vida melhor, essa que somente pode ser conquistada.


3)Quem quiser medir o grau em que São Paulo oferece oportunidades para todos que reveja a trajetória de vida do atual presidente da república.
Embora seja sem dúvida o exemplo melhor sucedido, ele é apenas um entre milhões que conquistaram aqui uma vida melhor, ganho que em nada é reduzido pelo fato de alguns outros terem uma vida melhor ainda.


1)Concordo, porém penso que não somente aumento de produção como simultaneamente melhor distribuição da riqueza, e medidas que atendam as necessidades básicas são necessárias. Assim como oferecer a todos a chance de prosperar.

2)Concordo parcialmente. Dinheiro nem sempre é suficiente para fazer valer suas vontades, depende do contexto, seu exemplo é bom. Mas ele, o dinheiro, não deixa de ser um diferencial de poder, somente não é absoluto. Nem eu disse que era, se pareceu foi apenas impressão.

3) Claro que São Paulo em comparação com o resto do Brasil oferece mais chances. Mas mesmo lá existem miseráveis, e pessoas na miséria se foram beneficiados, nem todos saíram da miséria, e os que estão, não acredito que seja por falta de vontade, mas por falta de capacidade, de Estado e sociedade, em desenvolver políticas que atendam as necessidades básicas, e ofereçam melhores chances para esses. Apenas uma minoria, acredito, aceitaria passivamente sua condição de miséria, sendo esses poucos, talvez os únicos que o rotulo "vagabundos" seja apropriado.
Visite a pagina do meu primeiro livro "A Nova Máquina do Tempo." http://www.andreteixeirajacobina.com.br/

Ou na Saraiva. Disponivel para todo Brasil.

http://www.livrariasaraiva.com.br/produ ... 0C1C301196


O herói é um cientista cético, um pensador político. O livro debate filosofia, política, questões ambientais, sociais, bioética, cosmologia, e muito mais, no contexto de uma aventura de ficção científica.

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Acauan
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Mensagem por Acauan »

emmmcri escreveu:Você sabe quantas pessoas no Brasil vivem em estado total de miséria,não tendo água esgoto,sem alimentação ,assistência em saúde?


Sei, com números precisos de pesquisas recentes de instituições especializadas.
Além de conhecer pessoalmente muitos deles e saber de sua situação de relatos diretos.

E você?

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Acauan
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Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por Acauan »

Já que falamos do assunto, só para relembrar:

Acauan, em 10/04/2007 às 13:15, no tópico: Lula manda censurar Jabor escreveu:
Makaveli escreveu:Se nunca pisou numa favela, e nunca viu ninguém passar fome, cale sua boca.


Makaveli,

De quem já pisou em favela para outro, sabemos muito bem que gente passando fome não é o cenário típico destas áreas.

As favelas brasileiras, pelo menos as das periferias das grandes cidades do sul, apresentam a mesma diversidade que a sociedade brasileira.
Por mais pobres e indignas que sejam as condições de vida em algumas, no geral a idéia de que aquelas pessoas lutam diariamente contra a inanição é um mito, criado, mantido e divulgado por diferentes motivos como sentimento de culpa de alguns segmentos da classe média, exploração política ou a tal estética da miséria, pela qual alguns cineastas favelófilos sonham ser indicados para o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Tenho que a melhor imagem das favelas das grandes periferias urbanas é o cerimonial de encher laje no fim de semana.
O sujeito quer ampliar a casa, compra o material, convoca os amigos, em uma manhã enchem a laje com concreto içado em latas a um custo mínimo e parte do dinheiro economizado se transforma em uma tarde de churrasco, cerveja e pagode – uma fartura de deixar europeus confusos.

De ampliação em ampliação, em várias favelas de São Paulo a média de metragem quadrada das lajes somadas é maior que a de apartamentos de classe média típicos. Detalhe, nestas favelas a maioria das casas tem garagem e um carro nelas, por mais velho que seja.

Claro que há cenários muito mais deprimentes, com palafitas penduradas a beira de córregos imundos e ratos comendo bebês (já ouvi relatos assim de primeira mão), mas estas são situações extremas e não o padrão de vida nestas favelas.

É quase impossível passar fome em São Paulo se a pessoa não estiver sozinha e doente ou for um completo travado, incapaz de pedir ajuda.
Alguém que pede moedas no farol em meia hora arrecada o suficiente para uma refeição completa em um restaurante popular por quilo. Se comprar os ingredientes para cozinhar em casa, em um dia pode coletar o suficiente para o arroz e feijão da semana inteira, completado por salsicha ou outra carne barata, verduras e legumes.

Quem coleta sucatas e papelão diligentemente – e conheço quem dentre eles trabalhe disciplinadamente doze horas por dia nesta coleta, todos os dias – pode arrecadar até mais de três salários mínimos por mês, conforme aprenda as sutilezas do negócio.

E se há uma relutância grande em se dar dinheiro a pedintes, poucos relutam em dar comida a quem pede, sendo que muitos restaurantes mantém seu cadastro de "pobres preferenciais" que diariamente recebem as sobras das panelas, além das igrejas, associações de bairros e ONG's.

Tem muito folgado em favela, sim, os muitos bares estão sempre cheios e as mesas de sinuca sempre lotadas, não importa o dia da semana ou a hora do dia. Mas a maioria dos jovens tenta por um tempo trabalhar de dia e estudar a noite, com muitos desistindo por uma combinação de fatores que inclui o fato de o atual sistema de ensino público ser uma porcaria que não motiva ninguém a aprender.
Nós, Índios.

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Apocaliptica

Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por Apocaliptica »

Barbaridades neste tópico, excetuando-se os posts do índio. Ou a sanha esquerdista é muito mais violenta do que eu pensava, ou a inocência vai acabar com este país. Pode ser uma união demoníaca das duas coisas também.

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Xicao
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Re.: Você gosta do capitalismo?

Mensagem por Xicao »

O capitalismo é, no mundo atual, sem sombra de dúvida, o melhor sistema econômico disponível, se olhado do ponto da plausibilidade e das necessidades mundiais. Embora bastante criticado, tem diversos pontos em comum com o socialismo e, também, diversos pontos em que supera-o.

Tanto no capitalismo como no socialismo há corrupção, isso é fato. Havendo Estado controlado por seres humanos, a corrupção, o desejo de maior poder e a ânsia por menos limitações é inevitável, considerando-se o socialismo praticado e possível, e não o utópico. Em ambos os regimes, é inevitável que haja desigualdade, já que os líderes e governantes, com maior grau de imunidade e menores limitações, reservam para si um poder acima do previsto, caindo novamente na questão da ambição humana. Também há em comum certa desigualdade social, parte pouco conhecida do socialismo, devido à quantidade de trabalho e à necessidade do especialista dentro da sociedade.

Há, sim, várias diferenças entre os dois. As diferenças sociais não são tão acentuadas no socialismo, já que a educação é comum a todos e, portanto, recai sobre o estudante a sua escolha profissional. Mas, em compensação, os luxos possíveis também devem ser comuns a todos - nisso havendo uma injustiça, já que, pelos princípios justos e lógicos, a necessidade e a função de certas especialidades deveriam conceder a seus estudiosos maiores confortos e remunerações - sendo que, dessa forma, os habitantes de praticamente todos os países atuais tivessem pouquíssimos meios de desfrutar dos luxos disponíveis e bem conhecidos no capitalismo, onde rege o sistema oposto: a necessidade e a habilidade do especialista (exluindo-se os esportes, que são excessão absurda à regra) tornam-no melhor ou pior remunerado, dando-lhe possibilidades de ter todos esses luxos, ou tirando-nas. Isso causa as desigualdades sociais, que devem, como no socialismo utópico, deixar de existir ou, como no socialismo prático, serem menos acentuadas, sim, mas não de forma a eliminar ou decrescer absolutamente o acesso a luxos e confortos hoje tão comuns.
O fato de o capitalismo ser tão malvisto deve-se, majoritariamente, à hipocrisia das classes que o criticam.

O capitalismo é, sim, muitíssimo mal-aplicado em países subdesenvolvidos, devido principalmente à corrupção do Estado. Mas, se bem aplicado, as classes baixas não reclamariam do capitalismo pois, nele, há possibilidades de melhora, e o Estado fornece o suficiente para que, com decisões certas, iniciativa privada e capacidade do capitalista, haja melhora. A classe alta, que dispõe de todos os luxos ou, pelo menos, grande maioria deles, não vê, obviamente, razão para mudar (de forma egocêntrica, sim, mas racional do ponto de vista humano).

A classe média é a única que queixa-se continuamente do capitalismo, pregando o socialismo utópico por não ter conhecimento suficiente de como esse viria a ser e por excesso de ambição, querendo, apesar de possuir diversos luxos, obter o que não tem, e que não tem vontade ou não vê possibilidade para trabalhar e esforçar-se para tê-los. E há, claro, o sensacionalismo que gira em torno de fatos que, apesar de devidos à natureza humana, são atribuídos ao sistema capitalista.

O ideal seria, portanto, uma mescla de sistemas, tendo em vista a implausibilidade de sistemas como o anárquico e o comunista. Uma mescla não só dos pontos bons, que seria de certa forma uma utopia, mas dos pontos possíveis de serem mesclados, possibilitando tanto os luxos e vantagens capitalistas clássicas como a participação do Estado na melhora e no condicionamento de melhoras para a população.


é isso aí......

:emoticon14:

Por mais que desejamos, por mais que anseiamos que Deus exista....
Nenhuma Divindade ou Deus virá a existir para atender nossos anseios...

Citação da Bíblia Sagrada- Anotado por mim na contra-capa de Caneta Bic Preta
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André
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Mensagem por André »

Acauan escreveu:
André escreveu:Concordo em grande medida. Agora acho que a parcela que dos ricos é redistribuída pode ser maior. Sem chegar a ser punitiva claro.


1)Como aumentar uma carga tributária de 40% do PIB, que obviamente já é muito punitiva, sem torná-la mais punitiva?

André escreveu: Detalhe distribuída em programas que atendam as necessidades básicas, e que ofereçam melhores chances para que o pobre deixe de ser pobre pelo seu trabalho, estudo, esforço.


2)O único jeito de fazer isto é oferecendo vagas em postos de trabalho, coisa que ninguém até hoje descobriu como fazer sem investimento e crescimento econômico.
Obviamente que educação e saúde entram na equação, mas sem investimento e crescimento econômico tudo que conseguiremos são desempregados educados e saudáveis.


André escreveu: Como acredito que a maioria da sociedade não é avessa ao trabalho, e a chances, tais programas teriam grandes chances de serem bem sucedidos.


3)Para que sejam mal sucedidos basta fazer com que o Estado os administre.


André escreveu:Detalhe os trabalhadores geram riqueza, em conjunto, alias sem eles os ricos não gerariam quase nada. Quem não gera, ou quase não gera, são os pobres miseráveis, os da classe media baixa, e pobres que trabalham, geram sim, alias sem eles a sociedade não funcionaria. O que se deve fazer é oferecer melhores condições e chances para todos.


4)A geração de riqueza só acontece quando os fatores e recursos de produção são mobilizados e direcionados para um objetivo. Quem faz este papel é o empreendedor, sem o qual os recursos – incluída aí a mão-de-obra – jamais gerariam riqueza.


1)Diminuindo ela sobre trabalhadores assalariados, sobre pequenos negócios, e sobre a classe media. Aumentar apenas sobre patrimônio que supere, por exemplo, 5 milhões de reais. Quem tem muitas terras, não produtivas, casas, apartamentos, em grande quantidade. Enfim concentração excessiva de riqueza, um pouco mais taxada, sem chegar a ser punitiva. E diminuir naqueles que está já sendo punitiva.

2)Por isso inclui o fomento a produção auto-sustentável, ecologicamente responsável, como um pré-requisito na equação.

3)Por isso não podemos confiar no Estado, e uma administração mais participativa, mais democrática, com maior controle popular, e influencia no processo decisório amadurecendo idéias é necessário. Sendo vedada, logicamente, a opressão de minorias, pois isso contraria um dos princípios básicos da democracia.

4)Assim como os trabalhadores são necessários. E nos raros casos que não são, ou trabalham sem remuneração, isso tende a ser ruim para a sociedade, já que concentra ainda mais riqueza sem distribuir.

Pode ficar confuso trabalho sem remuneração, mas isso é um dos estudos em sociologia do fenômeno da tecnologia levar pessoas a trabalhar para o capital, de forma voluntária, sem extrair nada dele, não sendo esse trabalho regulamentado. Coisas na internet, por exemplo, que as pessoas estão fazendo, ajudando empresas, e grupos, sem ser pagas para isso. É um fenômeno e o estudo é recente por isso ainda não aprofundei leituras, mas já assisti a uma palestra sobre o assunto.
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O herói é um cientista cético, um pensador político. O livro debate filosofia, política, questões ambientais, sociais, bioética, cosmologia, e muito mais, no contexto de uma aventura de ficção científica.

Trancado