Como o Acauan dá respostas grandes, o que me incentivas a dá respostas ainda maiores (e exaustivas), então aí vai a minha última réplica a ele (acho que é suficiente):
Acauan escreveu:Em geral é mais fácil, rápido e eficaz otimizar mercados incentivando o empreendedorismo e a concorrência do que otimizar economias estatizadas, quebrando a resistência corporativa de um Estado gigante, burocrático, monolítico e fisiológico como é de sua natureza ser.
O problema é justamente que “otimizar mercados incentivando o empreendedorismo e a concorrência” não gera uma alocação eficiente de recursos em muitos casos, justamente devido às falhas de mercado. Mais uma vez estás desviando para essa questão irrelevante da discussão.A questão que importa aqui não é aumentar o tamanho do Estado, é justamente introduzir o Estado onde existem falhas de mercado (a literatura econômica está cheia de evidências que apontam que elas não são meras exceções na economia capitalista).Se isso implica aumentar ou não o tamanho do Estado, aí já é outra história.
Um setor público eficiente é muito mais eficaz em qualquer situação onde o setor privado é particularmente falho.Um setor público eficiente pode minimizar alguns dos males do aumento do tamanho do Estado.
Citando dois males alegados: (1) O gestor público está preocupado em expandir a despesa pública a nível local sem pensar no impacto nos indicadores sociais da nação como um todo, pois isso lhe confere prestígio e renda. (2) a eficiência da administração pública depende do comportamento, nem sempre supervisionado, de burocratas, a sociedade (representada pelo governo) vê-se a mercê da perda de controle sobre a máquina estatal.O último caso pode-se chamar de “corrupção”, um caso onde se alega que só se pode combate-la dando prioridade a medidas caras e difíceis, como fiscalização e o controle do comportamento dos burocratas.Como veremos a seguir, isto é um equívoco.
Esses problemas citados se resolvem com inteligência e competência técnica (e é por isso que os economistas estudam uma disciplina chamada “Economia do Setor Público” nas universidades), não com conformismo liberal-privatizante, coisa rejeitada pelos países da Europa Setentrional de Estado grande e eficiente.Soluções geralmente adotadas em países desenvolvidos para os dois problemas:
(problema 1):Haver divisão de poderes, evitando que um único nível de governo detenha, sozinho, a força da lei.Isso permite que eles se policiem mutuamente.Além disso, pode-se buscar um desenho institucional que busque a transparência e puna de forma rigorosa a má administração (um exemplo de uma solução brasileira: a Lei de Responsabilidade Fiscal).
(problema 2):
-Busca de um desenho institucional que iniba as oportunidades de caçar renda ilegalmente ( imposição de protecionismo com reserva de mercado, por exemplo).
-Introdução de incentivos aos contratos:se o agente tem a priori incentivo para agir em seu próprio interesse, uma mudança no sistema de incentivos pode dirigir seu comportamento a um resultado ótimo do ponto de vista do Estado e dele mesmo (por exemplo, leis que limitem o poder discricionário do burocrata).
-Imposição de um sistema de crime e castigo que aumenta o risco, na margem, da ação corrupta.
-Diminuição do excesso de regulamentação e de centralização estatal nas instituições.
Acauan escreveu:Primeiro a indexlatria, que já comentei em outra situação.
Índices ultra-compactos como Heritage e IDH cumprem seu papel de fornecer informação sintética aos leigos, mas não têm qualquer valor analítico.
Eu fico me perguntando porque atualmente essa sua conclusão sobre os índices ainda não lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia e nem serve como guia para as políticas públicas dos países.
Veja o caso do IDH, índice desenvolvido em 1990 pelo economista paquistaniano Mahbub ul Haq e pelo Prêmio Nobel de Economia de 1998, Amartya Sen.Esse índice é utilizado como parâmetro para calcular a eficiência da partilha das transferências intergovernamentais (redistribuição de receitas tributárias pelo governo central para os estados e municípios):
http://www.stn.fazenda.gov.br/Premio_TN ... o_tefp.pdfPorque índices econômicos são “ultra-compactos”?Porque eles são meramente abstrações da realidade.Todos os modelos científicos são simplificações, você tem que negligenciar muitas coisas.Muitas variáveis estranhas interferem nas conclusões.Isso não é diferente na Economia.Mas economistas não são burros.Eles usam testes econométricos para saber o nível de influência dessas variáveis estranhas.Se os gestores públicos tecnocratas estão satisfeitos com índices econômicos que servem de guia para suas políticas porque elas dão resultado, isso é o que importa, ou seja que ela sirva como uma aproximação bastante razoável.E não uma avaliação subjetiva de alguém que acha que índices não tem “qualquer valor analítico” (como se a criação de um índice econômico é algo que um economista sonha depois de ter ficado bêbado a noite toda).
Acauan escreveu:O segundo problema é misturar alhos com bugalhos.
Comparações da eficiência de modelos econômicos são tão mais realistas quanto mais semelhantes são os ambientes comparados, como é o caso de se comparar a Alemanha Ocidental e Oriental, nos tempos do comunismo ou a Inglaterra sob o Keynesianismo trabalhista dos anos 1950 a 1970 e sob o liberalismo de Thatcher, nas décadas seguintes.
Nem vou comentar o caso citado do comunismo, porque falar mal de comunismo é igual a empurrar bêbado em ladeira.
A crise de gestão pública de alguns países europeus nas décadas de 60 e 70 e o Keynesianismo são coisas completamente independentes.Keynesianismo jamais defendeu que governos devessem aumentar gastos públicos e expandir a oferta monetária quando a economia já estivesse em nível de produção potencial.Pelo contrário, modelo keynesiano diz que governo praticar gerar déficit público nesta situação só irá gerar inflação e aumento da taxa de juros, sem qualquer efeito na produção no curto prazo.Segundo, Keynes defende o uso de benefícios-desemprego e outros fatores institucionais que afetam o mercado de trabalho como forma de segurar a demanda agregada em tempos de flutuações recessivas.E isso pode ter um impacto no crescimento econômico de longo prazo, tornando-o um “estabilizador fiscal automático”.Keynes não diz quanto maior o aumento esses benefícios, maior o crescimento do emprego e do PIB.Isso porque um aumento excessivo na regulamentação faz os recursos serem alocados de forma ineficiente e isso afugenta investimento para outros países, sendo assim um efeito desestabilizador.O que ele defende é que se faça um balanço estimativo entre os efeitos estabilizadores automáticos e os efeitos desestabilizadores desses fatores institucionais que afetam o mercado de trabalho.Dependendo das particularidades econômicas e conjunturais de cada país, um aumento de encargos trabalhistas/ “bolsas sociais” pode ser bom ou não (foi adequado para os EUA no Pós-Depressão , por exemplo).Para keynesianos, a discussão é “efeitos estabilizadores vs. efeitos desestabilizadores” e não “aumentar encargos trabalhistas vs. não aumentar encargos trabalhistas”
Outra coisa, é bom vim aqui desnudar o “mito do Tchatcherismo”.Diga o nome “Margareth Thatcher” para trabalhadores das classes menos abastadas britânicas na década de 80 e reações alérgicas surgirão.Isso porque os dados macroeconômicos dos 25% trabalhadores menos qualificados do Reino Unido (em termos de escolaridade) apresentaram a seguinte evolução do final da década de 70 até o início a década de 90:
Crescimento do salário real:-14%
Taxa de desemprego:passou de 3,1% para 5,3%
Durante o mesmo período França, Itália e Alemanha (países de legislação trabalhista rígida), essa mesma categoria de trabalhadores tiveram crescimento positivo no salário real.No caso da Alemanha, o aumento do desemprego foi até menor que o visto na Inglaterra para essa categoria de trabalhadores (e a taxa de desemprego da Inglaterra para esses trabalhadores foi a maior dos países europeus componentes do G7, no início da década de 90).
Fonte: Blanchard, O.(2001).Macroeconomia, 2ª edição.Editora Campus, p.477-481.
Conclusão: Governo Thatcher= UM LIXO EM JUSTIÇA SOCIAL
Acauan escreveu:Comparar realidades econômicas, geo-políticas e sociais tão díspares como os Estados Unidos da América e a Noruega já é temeroso per si, mas mesmo assim a análise é incorreta.
É um erro dizer que a Noruega tem um Estado visivelmente maior que os Estados Unidos.
O que ocorre é que enquanto o Estado Norueguês se manifesta principalmente na promoção social, o Estado Americano se manifesta principalmente no orçamento militar.
Na Noruega, a carga tributária/PIB é maior (44,9%), o salário mínimo é maior, a legislação trabalhista é mais inflexível,etc..Eu queria saber de evidências convincentes que mostrem que o Estado norueguês não é claramente maior que o americano.O único exemplo que você deu, já mostra o contrário.Gasto governamental é uma política menos intervencionista que uma transferência de renda direta (TDR: coisa típica dos programas de assistência social).Quando o governo americano faz um gasto governamental em despesa militar, ele imediatamente aumenta a demanda agregada, afetando diretamente o nível de investimento na economia.No caso da transferência de renda, uma parte da renda cedida pelo governo será poupada e o efeito sobre a demanda agregada será apenas parcial. Gasto militar não tem uma proporção relativa na contribuição de inchar o Estado maior que o da assistência social.
Acauan escreveu:Se os Estados Unidos da América reduzissem seus gastos militares à proporção norueguesa e os revertessem à assistência social, teriam de imediato por volta de trezentos a quatrocentos bilhões de dólares extras por ano para gastar com a melhoria da qualidade de vida da população, montante que representa mais que o dobro do PIB da Noruega.
A questão aqui não é de tamanho relativo dos dois Estados na economia, mas das prioridades estratégicas que cada Estado adotou.
Não existe “se”.Se minha avó fosse virgem, eu não teria nascido.E esse “se” é muito subjetivo.E se a Noruega reduzisse a quase a totalidade dos gastos em política industrial ou outros programas não-sociais para aumentar o financiamento dos seus programas de Seguridade Social?Dado que a receita tributária/PIB na Noruega é elevada, não seria difícil achar uma receita equivalente a uns 5% do PIB que pudesse ser desviada para aumentar o gasto com sua Seguridade Social, e assim, aumentar a distância do IDH entre ela e os outros países de menor IDH.
Além disso, os EUA têm uma renda per capita 33% mais elevada que a do Japão (que está a 14 posições atrás no Heritage), mas o último o supera em IDH
Acauan escreveu:No mais a Noruega é sui generis, pois produz mais de três e meio milhões de barris de petróleo por dia, dos quais consome apenas duzentos e cinqüenta mil. Isto em uma população de quatro e meio milhões, o que dá quase um barril de petróleo por habitante dia.
Com números como estes, até emirados árabes extremamente primitivos em gestão pública conseguem melhorias expressivas em seus IDH's, sem que isto represente algum mérito particular da gestão estatal.
Conclusão irrelevante.Não estou discutindo crescimento econômico.A questão que discuto é: “Dado dois países com nível de renda per capita semelhante, qual deles consegue uma distribuição de renda que garante um melhor desenvolvimento humano:um Estado Liberal ou um Estado de Bem-Estar Social?”.A goleada da Noruega em cima dos EUA em desenvolvimento humano fornece uma resposta para isso.E não se esqueça do caso do Japão.
Você não percebe seu erro de raciocínio.Quando falamos de dois países que tem o mesmo nível de renda por habitante, não importa se isso foi conseguido através de petróleo, investimento em padaria, mercearia, etc.
Acauan escreveu:Por fim, os Estados Unidos da América são os maiores importadores de pobres do planeta, com uma população heterogênea vinda de todas as partes do mundo, coisa muito diferente do que ocorre na loura, homogênea e estável Noruega.
Mesmo considerados todos estes fatores, as taxas de crescimento econômico dos Estados Unidos da América são superiores às norueguesas, cujo desempenho é fortemente atrelado aos preços internacionais do petróleo.
Como já disse antes, não estou discutindo crescimento econômico.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes