SickBoy escreveu:Se um/a professor/a é muito brilhante, ou admirado/a pelos alunos, isso o/a transforma num elemento de quebra da harmonia. Todos devem ser iguais, a qualquer custo.
Diante destes entraves todos, e diante da atitude anti-intelectual e mesmo anti-ensino do próprio sistema universitário japonês, é incrível que ainda assim há os professores que se dedicam à pesquisa, à melhoria de suas aulas, e à uma ética profissional que seria recomendável em qualquer parte do mundo. Mas estes são, com efeito, a minoria absoluta. A pressão para a conformidade, neste país, tem uma força que nós brasileiros, acostumados a uma diferente ideologia de nosso país, quase não conseguimos entender. Se para nós um ditado popular é “cresça e apareça,” aqui no Japão o mais comum é: “se um prego é saliente, martele até que ele desapareça.”
Nossa! Isso é um escândalo!
Percebo que países muito populosos e densamente povoados, principalmente se os recursos naturais são escassos, têm uma tendência a possuírem uma cultura fortemente coletivista. Ao menos no oriente.
Mas o Japão parece ser um caso extremo. A China também é coletivista, mas não parece sofrer desses males com a mesma intensidade. A Coréia do Sul também não.
Aliás, como deve ser a educação na Coréia do Sul? Pelas notícias que temos, é muito diferente, e os alunos sul-coreanos estão entre os mais aplicados do mundo.
Por que essa diferença?
Arrisco-me a palpitar que seria o seguinte conjunto de fatores. Em primeiro lugar a prosperidade da Coréia é mais recente. Se foram os avós da atual geração japonesa os que deram duro para levar o Japão aonde ele chegou, na Coréia essa transformação se deu a menos tempo, de tal forma que o relaxamento ainda não se instalou. Em segundo lugar, recordo que o Japão foi intensamente ajudado pelos EUA em sua recuperação econômica, o que deve ter facilitado as coisas. Não sei se a ajuda foi de mesmo porte na Coréia, mas pode ter sido, devido à Guerra da Coréia. O fato é que para um país pequeno como a Coréia foi necessário um esforço maior. Devemos lembrar que o Japão já era uma potência mundial antes da Segunda Guerra. Foi um caso de reconstrução, não de construção. O Japão é maior e mais rico, o que nos faz lembrar do último fator, que é o fato de que a Coréia ainda não chegou lá. Se o Japão indiscutivelmente deve ser considerado um país desenvolvido, a Coréia ainda está num meio-termo entre um país desenvolvido e um país emergente. Ela está saindo do clube de países como o Brasil e entrando no clube dos países ricos.
SickBoy, muito obrigado por nos ter brindado com esse precioso artigo.