Ana Carolina escreveu:Fernando
Talvez...eu não estou atrás de garantias, apenas procuro pensar de uma maneira que me traga mais conforto que acreditar que nada tenha propósito, é apenas uma questão de escolha entre o que não sabemos e o que não sabemos.
Você escolheu ter sua crença que você denomina descrença, eu escolhi crer, e nós dois tentamos apenas ter o direito desta escolha.
Crenças são representações do mundo. Eu me esforço para representar internamente em meus pensamentos o retrato mais acurado e preciso possível do mundo. Para tal, prefiro acreditar em informação advinda de métodos que consistentemente revelaram descrições mais confiáveis daquilo que existe no Universo.
Não tenho a menor dúvida que esse pragmatismo de escolher crenças reconfortantes mas que não são baseadas em evidência empírica é de imensa
utilidade e
importância para a maior parte da humanidade. Entretanto, posicionamentos assim são incoerentes.
Um erro freqüente por parte de religiosos é o
non sequitur de julgar que suas crenças por serem pessoalmente muito úteis e importantes devem ser boas aproximações da realidade. A
crença de que eu possuo um baú de tesouros no sótão de minha casa pode ser extremamente motivadora e preciosa para mim sem que isso possua um pingo de correlação com o que realmente existe de fato em meu sótão.
Por fim, novamente a questão do "propósito". Religiosos muitas vezes caem na falácia de composição de julgar que se o Universo for fundamentalmente amoral e sem propósito e pessoas forem formadas por processos dentro desse Universo, então as mesmas não possuem o menor valor ou possibilidade de serem boas. Isso faz tanto sentido quanto dizer que já que moléculas de água não são molhadas, então um oceano não pode ser algo molhado. Como já comentei em outro tópico, responsabilidade moral, atitudes teleológicas e planejamentos de longo-prazo são características indispensáveis de certos sistemas inteligentes como seres humanos.