Acauan escreveu:Apo escreveu:Não entendi ainda o que este tal "civismo", "patriotismo" e afins, tem a ver com a educação de um povo, a noção, a sensação e o orgulho de "pertencer" a uma Nação.
Apo,
Veja o exemplo que dei dos imigrantes japoneses.
Mesmo pobres eles sempre cuidaram para que os filhos estudassem e fossem bons alunos, ao contrário das ideologias atuais que pregam que pobre precisa ser empurrado série a série porque não tem inteligência suficiente para atingir as médias requeridas sozinho.
Perfeito. Eles estão certíssimos e nós erradíssimos. Eles têm dignidade e prezam a honra em fazer o melhor para si, para os seus e em nome de suas raízes e raça ( mas quero deixar claro que isto têm limites, nada de ultra-nacionalismos, nem de xenofobias e muito menos de esquecer a liberdade, se seu filho chegar e disser que não concorda com algo na cultura e valores de seu país ou nação, que prefere seguir outros parâmetros, ele deve ser respeitado ). Ou seja, a auto-estima e a maturidade do ser humano estão acima de qualquer outro ente, porque não faz sentido aprisionar alguém onde ele não sente inserido por julgamento próprio. Liberdade, sempre. Ser livre não significa ser um traidor. Quando a nossa cultura e valores pátrios não nos servem, ou somos traídos por eles em nossas verdades genuínas, temos todo o direito de seguir nosso caminho. Como fazem os refugiados políticos, os exilados por vontade própria e os que fogem das garras da opressão. Eles é que são dignos de respeito e não a Pátria que os condena à prisão seja lá de que forma for.
Acauan escreveu:Isto é uma questão de valores e cultura, incluindo aí valores e cultura cívicos e patrióticos, a idéia de pertencimento a uma comunidade não apenas no sentido transitório de relação e equilíbrio de interesses, mas no transcendente, de um ambiente físico-social anterior a nós que formou nossos avós e que formará nossos netos, sendo a nossa parte contribuir para manter e legar este ambiente aos nossos filhos melhor do que recebemos de nossos pais.
Não transcende. E nem deve. Assim como cada cultura é diferente da outra, cada ser humano e cada grupo tem as suas idéias por afinidade, é digno que se respeite a individualidade e não se aprisione o ser humano dentro de preceitos sem que ele tenha direito à pensar por si só e ponderar se aquilo lhe agrada ou não. Pertencer é se sentir pleno, feliz, contribuinte e seguro. Mas isto é dinâmico e não pré-existe, mas vai se construindo. Vem de todos e é devolvido a todos. Migra-se quando esta identidade não bate mais com nossos valores. Crianças trocam de brinquedo quando perdem o interesse, e as faz amadurecer e se conhecer. Trocamos de turma e de grupo na adolescência, até nos enquadrar. Mudamos de casa, mudamos de escola, de profissão, encerramos amizades que não servem mais, conquistamos outros espaços, mudados nosso jeito de ser, abrimos as portas e fechamos outras. E é assim que devemos criar nossos filhos e nossos cidadãos. Na liberdade se cria o respeito e o amor. E é nela que se desenvolve este sentimento que se chama Patriotismo, amor à Pátria, não importa qual. Pode ser onde nasci, pode ser para onde migrei, pode ser onde quero morrer.
Minha filha foi concebida em SP e nasceu aqui em Porto Alegre. Ela vive aqui e já viveu em SP. Gosta daqui e não de SP. Se tivesse nascido em SP e não gostasse da cidade, seria algum time de traição? Não. É escolha e direito dela. O mesmo vale para estados e países.
Bom..ser patriota pode ser uma coisa muito boa e construtiva, desejável e necessária para manter a coesão da Nação ( já que o mundo é feito de divisões, o que é discutível ). Mas neste patriotismo existe a exigência de que se exerçam justamente o direito à liberdade de expressar melhorias aos indivíduos, através de suas instituições todas, para o bem comum e o desenvolvimento. Patriotismo não é idolatria cega. Muito pelo contrário, a Pátria só existe enquanto seio de proteção e aconchego. Se for manipulada por poderes opressores, não devemos nos submeter à opressão só porque a figura da Pátria é usada para nos rotular de traidores, se não obedecermos.
Civismo é outra coisa. Inclui compactuar com as regras e leis e ideologia, sem se questionar se concorda com elas. É mais uma adoração ao poder e aos símbolos. É usado para manipular as massas, especialmente as crianças em idade escolar, pois está ligado à questões morais e disciplinantes. Lembra bem da disciplina " Educação Moral e Cívica ", uma coisa quase religiosa, sutil ou fortemente impregnada de proselitismo. Está focada nos símbolos, que escondem a ideologia por trás e apenas coordenam o rebanho na direção dos interesses do poder que está em vigor. O civismo e o nacionalismo andam de mãos dadas. Mas nos convencem de que civismo é algo incondicional, quando não deve ser.
As pessoas constumam confundir civismo com civilidade, que é verdadeiro empenho em transformar o seu lugar num lugar melhor, junto com os seus pares, que podem ser conterrâneos ou não.
Acauan escreveu:A compreensão desta transcendência e de sua importância não se dá em nível utilitário, pragmático, a partir da identificação das vantagens e desvantagens trazidas e sim em seus significados simbólicos, que orientam as condutas coletivas e permitem o estabelecimento das confianças mútuas a partir das quais as sociedades se fortalecem.
Mas deve se dar. Pensar que devemos aceitar que qualquer tipo de sociedade ou grupo no qual caímos trazidos pela cegonha ou por outro motivo, nos serve e a ela devemos respeito, portanto para com ela temos deveres, é um erro. É aquela história de aceitar que o voto obrigatório é um direito. Não é um direito. É uma obrigação, da qual não podemos fugir, porque somos penalizados. Isto é anti-patriótico, anti-democrático. Mas convencem os jovens inocentes de que a eles foi dada esta bênção e que devem se sentir felizes por isto. É uma lavagem cerebral e cívica terrível.
Acauan escreveu:Apo escreveu:Não é incutindo - através de adoração aos símbolos nacionais - que se observa o desenvolvimento de um amor à Pátria, à Nação e ao lugar onde se nasceu e onde se deseja manter as raízes.
[color=yellow]Toda compreensão e valorização de entes abstratos se dá através de símbolos. A própria religião é rica neles. Liturgias são repetições de padrões simbólicos que resumem as crenças fundamentais de cada uma.
Entes abstratos demandam a existência de símbolos, o ser humano cria, os desenvolve, divulga e se afeiçoa. O que nçao quer dizer que a cruz suástica por exemplo seja merecedora de respeito e crédito.
Repetições do Corão e da Bíblia não fazem deles símbolos de respeito apenas porque assim se fazem significativos.
Acauan escreveu:Sem isto o conceito de Pátria se torna ininteligível, principalmente para crianças, que primeiro devem associá-los aos valores que sabem identificar – como o amor maternal, seguindo conforme o aprendizado avança para a interpretação dos significados autônomos e próprios dos símbolos pátrios.
A criança ama a pracinha em que brinca não é pela árvore frondosa e bonita que lhe foi mostrada dez vezes antes de se divertir na caixinha de areia com os amigos, ou de sentir-se protegida pelo bom ambiente à volta, com sol aconchegante e os pais cuidando dela. A àrvore pode um dia ser lembrada com o símbolo de uma infância feliz naquela praça e talvez ela traga os filhos e os netos para brincar na mesma praça.
Talvez outra criança tenha sido vítima de um abuso embaixo desta mesma árvore frondosa, cheia de galhos assustadores, onde o sol a cegou e onde lhe roubaram a chance de ser feliz.
O que construiu a simbologia oposta para ambas as crianças? A árvore?
Acauan escreveu:Apo escreveu:Este amor e este orgulho são conseqüência e jamais pode ser imposto, muito menos quando os bons valores e exemplos de honestidade e coesão entre os indivíduos segue por caminhos obscuros, torpes e criminosos.
e não sei o que isto tudo tem a ver com pobre e rico, ter dinheiro ou não. Tem mais a ver com poder e opressão.
Aí tivemos as mistura de alguns conceitos.
A citação a pobres e ricos sobre educação foi posta relativa às ideologias que determinam que as classes sociais têm precedência sobre a nacionalidade, o que é estúpido, uma vez que esta propicia uma identidade construída por História, cultura e valores comuns que a classe social, por si só, é incapaz de prover.
Concordo. Mas misturaram não sei por quê.
Acauan escreveu:Quanto a haver caminhos torpes e obscuros, isto diz respeito apenas a quem os pratica, não aos valores sob os quais estes se escondem.
A prática está ligada aos valores sempre.
Acauan escreveu:E o amor pátrio não é e não pode ser amor materno, conjugal, sexual ou fraterno.
Pode porque a Pátria é tanto seio quanto a família. Embora possamos amar ou odiar um ao outro indiscriminadamente. Tipo: eu amo a minha família , mas sinto ter visto esta família importante para mim ter sofrido tanto numa Pátria tão cruek com seus cidadãos.
Ou...eu amo minha Pátria ( porque concordo com o ambiente nela existente ), mas odeio os valores da minha família..queria ter nascido em outra.
Acauan escreveu:Estas analogias existem apenas para efeito didático, o sentimento em questão tem características próprias, resumidas em seus significados simbólicos abstratos, mas sempre será apenas no individuo que eles encontrarão expressão real, que tanto melhor compartilhada será quanto mais fortes forem seus fundamentos.
A expressão projetada no indivíduo depende das trocas entre ele e o grupo, seja este grupo uma pequena comunidade ou um país com 1 bilhão de cidadãos. A expressão saudável, satisfatória e plena é que tem 2 mãos e prevê amplos direitos , inclusive de não concordar ou não se sentir pertencente.