Escola Pública

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Claudio Loredo
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Re: Re.: Escola Pública

Mensagem por Claudio Loredo »

LABREGO escreveu:Eu acho estranho que um país que nada mais é do que um pedaço de chão onde todos pisam e compartilham mais ou menos da mesma cultura precise brigar tanto para resolver seus problemas. Eu acredito que qualquer profissão com sua ética, seus valores e seu senso de utilidade é apenas uma crença a mais que a gente se apóia. Será que ninguém percebeu que a crença na profissão, na religião, enfim, qualquer opinião que possamos ter sempre será uma crença em algo. Uns crêem que a educação salvará o país, outros que a economia salvará o país, outros que Deus salvará o mundo. Sim... Todos querem valorizar o seu ego profissional e se esquecem de se valorizar como indivíduos. Por exemplo: imagine que eu seja professor de matemática como sempre desejei. Ao me aperceber da situação profissional dos professores e do descaso pela educação no país optei por algo mais lucrativo e gerador de status que foi a informática. Por isso que eu não entendo essa coisa de idealismo. Às vezes estamos emocionalmente presos em uma profissão e nosso idealismo não mais se sustenta em vista das condições profissionais em que trabalhamos. Nesse momento é bom mudar de área, prestar um concurso público, enfim, a educação tá uma droga? prá mim se estiver só se for a minha educação porque cada um tá contente com a sua. Outra, como professores devemos nos ater a ensinar a nossa matéria. O resto é com outros educadores. Por isso se quiserem educar não vão conseguir mas ensinar vão.


Labrego,

Eu não sou professor, nunca trabalhei como um e não tenho formação na área. No entanto endendo a importancia da educação na sociedade na qual eu vivo e por isto estou defendendo a valorização do profissional da área.

Existem algumas atividades que não podem estar sujeitas as leis de mercado. A educação é uma dessas atividades. Em todos os países desenvolvidos a educação é gratuíta e de qualidade e todos os cidadãos tem acesso a ela. Pois estes países entenderam que a educação era atividade estratégica e vital e por isso, sempre investiram bastante nela.

O fato dos professores estarem recebendo pouco e as escolas abandonadas atinge a todos, pois querendo ou não vivemos em sociedade e não dá para vivermos bem se a nossa sociedade ao redor está um caos.



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Acauan
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Mensagem por Acauan »

Edson Jr escreveu:Oi Acauan!

Se estivéssemos conversando cara a cara, creio que nos entenderíamos mais rapidamente. Na internet, infelizmente, os mal entendidos são mais fáceis de acontecer. Vou procurar ser o mais claro possível, bem como me esforçar para ter uma compreensão mais precisa do que você tem a dizer.


É vero!

Edson Jr escreveu:Você parece criticar a ênfase exagerada que dão ao contexto político-social, eliminando a responsabilidade que todos nós temos pelos nossos atos. Concordo com sua critica. Por outro lado, você parece ir para outro extremo, praticamente anulando o contexto político-social, dando a entender que nossa responsabilidade é o único peso a medir. Se for realmente esse seu ponto de vista, teremos uma discordância. Para mim, realmente temos uma parcela de responsabilidade por nossos atos, mas ao mesmo tempo acredito que o sistema impõe regras tão duras e cruéis para tanta gente que fica muito difícil responsabilizá-las por alguma coisa.


É mais uma variante da questão do ovo e da galinha.
Temos que ter mais responsabilidade individual para obtermos mais progresso social ou temos que ter mais progresso social para obtermos mais responsabilidade individual?
Na minha opinião, responsabilidade e liberdade são indissociáveis. Se aceitarmos que regras duras e cruéis autorizam a redução das responsabilidades individuais, teremos que aceitar que autorizam também a redução das liberdades individuais. E assim abrimos a porta para a tirania.


Edson Jr escreveu:Tomemos como exemplo os pobres e famintos da África. Seriam eles responsáveis caso roubassem um carneiro da aldeia vizinha para sustentar sua casa? O que seria correto: roubar um carneiro ou deixar o seu filho morrer de fome?


Para mim isto é uma falsa dicotomia. Por que temos que acreditar que só existam estas duas opções?
Mesmo que seja o caso, nestas condições há uma grande possibilidade que o roubo do carneiro da aldeia vizinha salve o filho do ladrão da fome às custas da morte de fome do filho do pastor roubado. E aí?
O fato é que nenhuma sociedade civilizada pode tolerar que pessoas em dificuldades resolvam seus problemas os transferindo para outros que não são culpados pelos problemas em questão.


Edson Jr escreveu:O mesmo ocorre com professores, pais e alunos. Existe uma parcela de culpa de cada um, mas uma maior parcela de culpa ao sistema que, como opressor, potencializa uma série de reações negativas nas pessoas. E quem manipula o sistema é uma pequena minoria.


Edson, sempre que atribuímos a responsabilidade dos problemas a entidades indefinidas como "o sistema" ou "a pequena minoria" nos afastamos da oportunidade de resolve-los.
É preciso dar nomes aos bois.
Quem é "o sistema"? O sistema não é ninguém, é apenas o resultado das decisões de determinado grupo de pessoas.
Estas pessoas poderiam ser "a pequena minoria" de quem fala, mas quem são eles?
As elites brasileiras? É apenas outro grupamento indefinido, estrategicamente usado para receber todas as culpas sem que ninguém seja efetivamente responsabilizado.

Eu prefiro ser curto e grosso.
Os culpados pelo problema da educação no Brasil são os burocratas dos diversos níveis das secretarias e ministério da educação e das administrações escolares. Principalmente os pedagogos iluminados que decidem as políticas educacionais.

Esta turma não é uma pequena minoria tão distante de nós assim.
Qual foi a última vez que viu um diretor de escola queimar as pestanas para encontrar fórmulas criativas para melhorar o desempenho escolar de seus alunos nas condições disponíveis?
O que vemos por toda parte são estes burocratas reclamando da vida e não fazendo absolutamente nada para melhorar as coisas. Limitam-se a cumprir rotinas inúteis e choramingar sua mágoas.

Um gerente em uma empresa privada que fizesse isto, mesmo que esta empresa tivesse pouquíssimos recursos, seria posto no olho da rua na primeira lamentação.


Edson Jr escreveu:Existe um ditado que diz que “o mundo seria bem melhor se os homens de bem tivessem a mesma audácia dos canalhas”. Acredito que isso seja verdadeiro. Talvez a solução só venha ocorrer quando as pessoas de bem desejarem os cargos e funções dos canalhas, com luta e coragem, sempre de acordo com os princípios corretos que estão atrelados em suas consciências.


Bem..., numa sociedade em que liberdades e responsabilidades individuais são bem ponderadas, há mais estímulo para os homens de bem se manifestarem, pois nestas sociedades eles não são tachados de otários, como ocorre em certos países abaixo do equador, onde esta ponderação não existe.

Edson Jr escreveu:Em sua postagem anterior você me pediu resultados, talvez por minha inclinação sentimental demasiada. Sendo assim, vou procurar colocar bem resumidamente o que eu faria se estivesse no poder. Talvez nossos métodos sejam bem semelhantes.


De fato nossas propostas são convergentes na maioria dos aspectos, vou registrar abaixo apenas meus pontos de discordância. Entenda que concordo com o restante.

Edson Jr escreveu:A primeira providência que faria seria dirigir a atenção para os pais, pois é muito necessário o apoio e incentivo dos pais para que os seus filhos fiquem na escola. Também é necessário que os pais acompanhem os resultados obtidos por seus filhos.

Sendo assim, deveria ser feito um investimento pesado na escola, oferecendo aos alunos uma boa alimentação e um ótimo serviço de atendimento médico. Toda escola deveria ter uma proteção policial, fortalecendo a segurança dos alunos, professores e funcionários. Além disso, os pais receberiam um bônus caso seus filhos tivessem uma ótima freqüência e bons resultados. Para garantir esse bônus, os pais deveriam também comparecer as reuniões e palestras que a escola oferece com o intuito de conscientizá-los ainda mais sobre o valor da educação dentre muitas outras coisas mais. Com apoio e incentivo dos pais, o índice de evasão escolar ficaria minimizado e os resultados dos alunos iriam melhorar.


Os pais não devem receber um centavo por cumprir suas obrigações mínimas. Primeiro porque o dinheiro público não é para ser usado para subornar adultos para que se interessem por seus filhos. Segundo porque isto seria um prato cheio para os corruptos, que logo inventariam mil e uma formas de desviar mais esta verba. Em pouco tempo estourariam escândalos sobre bônus pagos a pais fantasmas ou reuniões fictícias, marcadas apenas para justificar a movimentação do dinheiro.

Edson Jr escreveu:A segunda providência seria a de aumentar o salário dos professores e reduzir a carga horária. Com um bom salário e uma carga horária mais suave, outras exigências poderiam se feitas como a do professor ter dedicação exclusiva numa escola e de participar de cursos de capacitação. Seria muito bom também que houvesse um incentivo para que os professores se especializassem ainda mais. Concursos deveriam ser abertos para preenchimento das vagas que ainda restam. Como o salário é bom, muita gente talentosa vai se sentir atraída pelo magistério, o que gerará professores mais qualificados, pois a concorrência será maior.


A parte que não gosto é a de gastar vela com defunto ruim. Acho que as avaliações de desempenho deviam preceder qualquer aumento, que só deveria ser dado com base no mérito.
Só depois de saneados os quadros do magistério dos peso-morto é que aumentos salariais generalizados deveriam ser planejados, visando atrair talentos e aumentar a produtividade.


Edson Jr escreveu:Tudo isso deixaria o professor num cenário mais positivo para o exercício do magistério onde, diferente dos operadores aéreos que possuem um trabalho mecânico, haveria um terreno propício para o bom desenvolvimento do pensamento criativo que os professores tanto precisam.


Parece que infelizmente criei uma indisposição sua com os operadores aéreos, que, convenhamos, tem constantemente que tomar decisões críticas.
Meu objetivo com o exemplo foi apenas lembrar que algumas profissões exigem muito e rendem pouco a quem se dedica a elas, mas mesmo assim a condescendência com o erro não é uma opção.
Para poupar os operadores de tráfego aéreo podemos mudar o exemplo para os policiais. Eles ganham pouco e por vezes arriscam a vida como parte do trabalho, mas ninguém em seu juízo perfeito pode acreditar que a sociedade deva aceitar conviver com o policial corrupto ou bandido por conta disto.


Edson Jr escreveu:Uma terceira providência seria a de adotar um planejamento curricular único em todas as escolas e pelo menos uma avaliação por ano para verificar os resultados obtidos pelos alunos. Agora sim os professores que obtiveram um maior desempenho ganhariam um bônus adicional. Quanto melhor o resultado dos alunos, maior seria o aumento salarial. Se não houver melhoras durante um certo tempo, o professor seria encaminhado para cursos de reciclagem. Se os resultados continuarem insatisfatórios seria o caso de se pensar num outro cargo, talvez mais burocrático.

Com o tempo, os alunos tenderiam a ficar cada vez mais homogêneos, os pais cada vez mais conscientes da importância da educação, os professores cada vez mais qualificados. Nesse contexto, o “choque de gestão” seria totalmente válido.

Sou a favor do “choque de gestão”. Só acho que é importante preparar o terreno antes de utilizá-lo.


A preparação do terreno faz parte do choque, afinal, todo plano gerencial deve considerar o cenário no qual é implantado e programar as ações que otimizem as chances de sucesso.

ANAUÊ!
Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

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Edson Jr
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Re: Re.: Escola Pública

Mensagem por Edson Jr »

LABREGO escreveu:Eu acredito que qualquer profissão com sua ética, seus valores e seu senso de utilidade é apenas uma crença a mais que a gente se apóia. Será que ninguém percebeu que a crença na profissão, na religião, enfim, qualquer opinião que possamos ter sempre será uma crença em algo. Uns crêem que a educação salvará o país, outros que a economia salvará o país, outros que Deus salvará o mundo.

Olá Labrego!

Não vejo problema em acreditar. Acho, inclusive, fundamental. Sem as crenças não teríamos senso de direção, algo de vital importância para nosso equilíbrio interior.

LABREGO escreveu:Por exemplo: imagine que eu seja professor de matemática como sempre desejei. Ao me aperceber da situação profissional dos professores e do descaso pela educação no país optei por algo mais lucrativo e gerador de status que foi a informática. Por isso que eu não entendo essa coisa de idealismo.

Talvez você não entende o idealismo porque o abandonou, dando mais valor ao aspecto financeiro.

LABREGO escreveu:Às vezes estamos emocionalmente presos em uma profissão e nosso idealismo não mais se sustenta em vista das condições profissionais em que trabalhamos. Nesse momento é bom mudar de área, prestar um concurso público, enfim, a educação tá uma droga?


Para mim, o idealismo é igual ao amor. Não dá para saber se realmente temos antes de surgirem os obstáculos. Pessoalmente, não abriria mão dos meus ideais por nada nesse mundo, pois minha visão de destino se sustenta neles. Talvez o magistério não seja seu ideal de verdade. Se for, não acho uma boa abrir mão dele. Algo dentro de você ficaria vazio.

LABREGO escreveu:Outra, como professores devemos nos ater a ensinar a nossa matéria. O resto é com outros educadores. Por isso se quiserem educar não vão conseguir mas ensinar vão.

Discordo.

O professor não é apenas o transmissor de conteúdos, mas também um formador de opinião. O impacto que ele tem na vida dos alunos pode ser altamente significativo. Os professores de verdade sempre procuram fazer a diferença na vida de alguém.

Abraços!

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Edson Jr
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Mensagem por Edson Jr »

Olá Acauan!

Acauan escreveu: Se aceitarmos que regras duras e cruéis autorizam a redução das responsabilidades individuais, teremos que aceitar que autorizam também a redução das liberdades individuais. E assim abrimos a porta para a tirania.

Sim, você tem razão, mas você negaria que regras duras e cruéis estimulam uma reação negativa nas pessoas? E que, em função disso, tais regras duras e cruéis não mereçam atenção para serem combatidas?

Acauan escreveu:O fato é que nenhuma sociedade civilizada pode tolerar que pessoas em dificuldades resolvam seus problemas os transferindo para outros que não são culpados pelos problemas em questão.

Claro que essa atitude é absolutamente reprovável. Isso me faz lembrar nossa boa intenção em salvar alguém que está morrendo afogado. Pode ser seu melhor amigo, mas se você não tomar os devidos cuidados ele vai te afogar junto com ele. No desespero, em questões de sobrevivência, é comum as pessoas fazerem qualquer coisa, até as mais absurdas. É por isso minha insistência no combate às duras regras que existem sobre a nossa sociedade.

Acauan escreveu:Eu prefiro ser curto e grosso.
Os culpados pelo problema da educação no Brasil são os burocratas dos diversos níveis das secretarias e ministério da educação e das administrações escolares. Principalmente os pedagogos iluminados que decidem as políticas educacionais.

Você tem toda razão!

Acauan escreveu:Esta turma não é uma pequena minoria tão distante de nós assim.
Qual foi a última vez que viu um diretor de escola queimar as pestanas para encontrar fórmulas criativas para melhorar o desempenho escolar de seus alunos nas condições disponíveis?
O que vemos por toda parte são estes burocratas reclamando da vida e não fazendo absolutamente nada para melhorar as coisas. Limitam-se a cumprir rotinas inúteis e choramingar sua mágoas.


Infelizmente isso é verdade. É possível realmente fazer muito mais, mesmo dentro de precárias condições. Acho que o problema está na tendência generalizada das pessoas de sempre se colocarem como vítimas, se distanciando da possibilidade de apresentar soluções, pois ao fazer papel de vítima, acaba jogando fora sua responsabilidade e, inevitavelmente, estará longe de encontrar uma solução e lutar por ela.

"A vitimização joga fora nosso futuro", como diz um ditado.

Acauan escreveu:Os pais não devem receber um centavo por cumprir suas obrigações mínimas. Primeiro porque o dinheiro público não é para ser usado para subornar adultos para que se interessem por seus filhos. Segundo porque isto seria um prato cheio para os corruptos, que logo inventariam mil e uma formas de desviar mais esta verba. Em pouco tempo estourariam escândalos sobre bônus pagos a pais fantasmas ou reuniões fictícias, marcadas apenas para justificar a movimentação do dinheiro.

Acauan, me referi ao bônus porque não enxerguei outra maneira para que os pais tivessem consciência da importância que eles devem dar para a educação dos seus filhos. Esse bônus seria temporário, até que eles realmente tenham consciência disso. Depois disso, não haveria mais necessidade. Mas foi apenas uma sugestão, visando combater o elevado índice de reprovação e evasão escolar. Qual seria a sua?

Acauan escreveu:A parte que não gosto é a de gastar vela com defunto ruim. Acho que as avaliações de desempenho deviam preceder qualquer aumento, que só deveria ser dado com base no mérito.
Só depois de saneados os quadros do magistério dos peso-morto é que aumentos salariais generalizados deveriam ser planejados, visando atrair talentos e aumentar a produtividade.


Entendo o que você quer dizer. Você não está disposto a gastar dinheiro com professores incompetentes.
Sim, tudo bem, mas então como seria sua avaliação? Você levaria em consideração as dificuldades de uns e o conforto de outros?

Acauan escreveu:Parece que infelizmente criei uma indisposição sua com os operadores aéreos, que, convenhamos, tem constantemente que tomar decisões críticas.

Ora Acauan!

Também preciso puxar a sardinha para o meu lado! :emoticon19:

Acauan escreveu:Meu objetivo com o exemplo foi apenas lembrar que algumas profissões exigem muito e rendem pouco a quem se dedica a elas, mas mesmo assim a condescendência com o erro não é uma opção.
Para poupar os operadores de tráfego aéreo podemos mudar o exemplo para os policiais. Eles ganham pouco e por vezes arriscam a vida como parte do trabalho, mas ninguém em seu juízo perfeito pode acreditar que a sociedade deva aceitar conviver com o policial corrupto ou bandido por conta disto.


hahá, pesquei!

Você está dizendo o professor ganha pouco, mas isso não significa que devemos aturar professor ruim!

Não seria mais adequado então, pelo menos durante o período de avaliação, os professores terem uma carga horária mais leve e um salário melhor?

Quero deixar bem claro que, minha intenção é a de apenas colocar os professores dentro de um contexto melhor que o atual, para que a avaliação pudesse ser mais justa.

Anauê!

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Neuromancer
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Re.: Escola Pública

Mensagem por Neuromancer »

O problema na avaliaçao de desempenho são os parâmetros utilizados, estão querendo utilizar o nivel de aprendizado para isso. Nas escolas públicas é tolerada a vagabundagem e preguiça, mas querem avaliar os professores pelo aluno. Não me importaria ser avaliado, mas não dessa forma. Me tiraram toda forma de fazer os alunos estudarem e querem me avaliar pelo progresso deles.
Fideliter ad lucem per ardua tamen.

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Lúcifer
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Mensagem por Lúcifer »

Primeiro eu quero dizer que os textos de mestre Acauan, Edson e do Claudio estão ótimos e refletem muito bem a situação hoje.

Vamos fazer uma constatação do que é mais triste neste país: a preocupação com o ensino está caindo cada vez mais.

Eu tenho informações de que nas décas de 30 e 40 do século passado, a educação, nas cidades do interior de São Paulo, eram assim: os professores tinham toda a autoridade na escola, ficando abaixo somente do diretor. Os pais das crianças podiam ficar tranquilas pois sabiam que na escola, os seus filhos estavam sendo educados e ensinados, sem precisarem meter o bedelho no que estava acontecendo. Se o aluno aprontava na sala de aula, os professores tinham a autoridade de darem o castigo que melhor quisessem (geralmente era o aluno se ajoelhar em grãos de milho). Quando o aluno chegava em casa, contava para os pais o que tinha acontecido. Sabe o que os pais faziam? Se você respondeu que eles iam até a escola tirar satisfação com o professor errou redondamente. Eles batiam no filho para que ele nunca mais fizesse a traquinagem. No caso dos boletins da escola, os alunos mostravam o boletim para os pais e eles tinham que mostrar, no dia seguinte para o professor, o boletim assinado pelos pais. Outra coisa: todas as provas, quem dava não era o professor e sim, o diretor da escola.

Até a década de 70 e80 do século passado, a educação ainda era boa, com pequenos resquícios da educação das décadas passadas. Eu também tive que mostrar o meu boletim para os meus pais e, em minha carteirinha escolar, era carimbada a minha presença. se você faltasse, teria o carimbo de falta e, todo mês eles exigiam que os pais assinasem para comprovar que estavam cientes da presença dos filhos.

Com o passar do tempo, o sistema educacional caiu demais; deram muita libertade para os alunos e estes aproveitaram para começarem a botar as manguinhas de fora e, além de só atrapalharem, passaram a ser uns vagabundos de primeira (pelo menos 90% dos alunos são assim). e o que é pior, mesmo que os filhos façam algo errado e seus pais souberem; os pais não irão punir os vagabundos dos filhos e, sim, o professor.

Eu acredito que a primeira educação quem tem que dar são os pais das crianças mas o que vemos é justamente o contrário. Os pais estão jogando a sua responsabilidade de educar os seus filhos para os professores e ainda brigam com os coitados por não conseguirem que os pestes sejam educados.

No início do século passado até meados dos anos 80, os professores eram considerados mestres e todos tinham respeito por eles (nas décadas de 30 a 50, os professores eram considerados mais importantes do que médicos ou advogados) hoje, ele tem sorte de sair vivo da escola se puxar a orelha de um vagabudno que se auto intitula alunos.

Ao meu ver, para termos uma educação forte e crescente, primeiro os pais tem que assumir a sua função de educar os seus filhos e ter coragem para punir os seus filhos se eles se comportarem mal nas escola.
Segundo, parar de relegar ao professor, o papel de babá e educador. Ele está lá para aprender as matérias e não comodeve se comportar. Isso,quem tem que ensinar são os pais.
Terçeiro, investir mais na educação dos professores pois o que vejo hoje em dia (pelo menos em meu bairro é uma merda).
Quanrto: quando o professor já se mostrou competente, os pais tem que dar apoio a ele quando os filhos estão errados e puni-los adequadamente e não ficar ameaçando o professor.
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Lúcifer
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Re.: Escola Pública

Mensagem por Lúcifer »

Só para finalizar: Somente quando os pais começarem a agir desse modo e começarem a cobrar dos governantes melhor situa~ção trabalhista para os professores, teremos enfim um sistema educacional que funcione.

Mas, como todo mundo já sabe, o governo nunca irá modificar esse sistema; aliás, irá piora-lo ainda mais pos é sabido que quanto mais burro o povo, mais fácil é de ser manobrado.

Só uma curiosidade: Quando eu trabalhava de inspetor de alunos em uma escola da periferia, depois que todos os alunos já tinham subido para as suas salas, o pai de um aluno pediu-me para que pudesse conversar com a professora. Como ele estava com o semblante calmo, eu deixei. Cinco minutos depoois, um aluno desceu correndo para avisar que um homem estava querendo cortar a língua do filho. Eu e o cara que trabalhava na cantina corremos e ficamos a espreita caso a professora não o controlasse e ele bancasse o valente. O cara tirou um facão da cintura e ameaçou cortar a língua do filho fora. E abem por que? Porque contaram para aquele pai que o filho tinha desreispeitado a professora. Ele estava gritando que, se o guri aprontasse novamente ele arrancaria a língua do filho dele a golpe de peixeira.

Embora eu desaprove a atitude daquele pai, pelo menos ele deu uma lição naquele pivete. Nunca mais o garoto deu problema novamente.
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Edson Jr
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Re: Re.: Escola Pública

Mensagem por Edson Jr »

Neuromancer escreveu:O problema na avaliaçao de desempenho são os parâmetros utilizados, estão querendo utilizar o nivel de aprendizado para isso. Nas escolas públicas é tolerada a vagabundagem e preguiça, mas querem avaliar os professores pelo aluno. Não me importaria ser avaliado, mas não dessa forma. Me tiraram toda forma de fazer os alunos estudarem e querem me avaliar pelo progresso deles.


Isso! É assim mesmo!

Você é professor da rede pública, Neuromancer?

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Re: Re.: Escola Pública

Mensagem por Neuromancer »

Edson Jr escreveu:
Neuromancer escreveu:O problema na avaliaçao de desempenho são os parâmetros utilizados, estão querendo utilizar o nivel de aprendizado para isso. Nas escolas públicas é tolerada a vagabundagem e preguiça, mas querem avaliar os professores pelo aluno. Não me importaria ser avaliado, mas não dessa forma. Me tiraram toda forma de fazer os alunos estudarem e querem me avaliar pelo progresso deles.


Isso! É assim mesmo!

Você é professor da rede pública, Neuromancer?

Infelizmente sou. :emoticon11:

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Edson Jr
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Re.: Escola Pública

Mensagem por Edson Jr »

hehe...um dia vai melhorar e você vai sorrir...rsrs

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Edson Jr
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Mensagem por Edson Jr »

Lúcifer escreveu:Eu acredito que a primeira educação quem tem que dar são os pais das crianças mas o que vemos é justamente o contrário. Os pais estão jogando a sua responsabilidade de educar os seus filhos para os professores e ainda brigam com os coitados por não conseguirem que os pestes sejam educados....

....Ao meu ver, para termos uma educação forte e crescente, primeiro os pais tem que assumir a sua função de educar os seus filhos e ter coragem para punir os seus filhos se eles se comportarem mal nas escola.


Olá Lúcifer!

Também acho que o ponto de partida para se ter alguma melhoria na educação está na conscientização dos pais sobre a importância e valor da educação dos seus filhos.

Os pais só irão agir quando se conscientizarem disso. O problema é como conseguir isso. É o que Acauan e eu estamos discutindo.

Vou aguardar sugestões dos foristas. Estou sem idéia.

Ps:. Não achei necessário comentar o restante do seu texto (muito bom, por sinal), pois compartilho de idéias muito semelhantes.

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LAB
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Re.: Escola Pública

Mensagem por LAB »

Com respeito à resposta do Edson Jr. às minhas elucubrações pedagógicas, reconheço que de algum modo eu esqueci que no passado precisei usar de muito idealista em minha área profissional para suportar as dificuldades e fazer delas estimulos para eu seguir em frente. Confesso que hoje não tenho mais tanto idealismo assim pois o pragmatismo vai tomando conta da gente com o passar dos anos e aquele nosso combustível inicial de idealismo mostrap-se desnecessário. Realmente, acho que errei em minhas colocações mas também estou certo em afirmar que os melhores profissionais que conheço são aqueles que conseguiram se libertar do idealismo e partir para o pragmatismo da profissão. Estes sim, conseguem ajustar-se às imposições da vida profissional sem muito stress e possuem mais qualidade de vida, pois não aspiram mais a melhorarem o mundo. Aceitam-no tal qual ele é e procuram tirar o melhor proveito para si da realidade que se apresenta a sua frente. Vocês que ainda não chegaram à idade balzakiana (30 anos), canalizem seus idealismos e seus anseios de mudarem o mundo para estudarem e se aprimorarem naquilo que vocês sabem fazer melhor. O estímulo do idealismo é um excelente combustível mas não o usem para brigar com o mundo e sim, para fazerem melhor aquilo que já fazem. Somente assim a gente conseguirá mudar o mundo: mudando a gente mesmo para melhor.
A diferença entre um ateu e um teísta é que as abobrinhas do primeiro são mais inteligentes que as do segundo.

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NightMare
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Re.: Escola Pública

Mensagem por NightMare »

Ateu-roxo vc abriu meus olhos, li seu texto e percebi a verdade, para mudar, me converti, onde fica sua igreja para que eu possa ir lah encher seus pastores de dinheiro?

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LAB
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Re.: Escola Pública

Mensagem por LAB »

Pô NightMare. Eu mudei meu ninck de Labrego para Crente-Roxo para fazer uma brincadeira com um pessoal mas, infelizmente, meu nick mudou em todo lugar. Por isso retornei ao meu nick original.
A diferença entre um ateu e um teísta é que as abobrinhas do primeiro são mais inteligentes que as do segundo.

Steve
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Re.: Escola Pública

Mensagem por Steve »

Enquanto isso, Cuba,Chile,Venezuela,Costa Rica, Argentina,Uruguay nos atropelam feio em educação...

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Edson Jr
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Re: Re.: Escola Pública

Mensagem por Edson Jr »

Labrego escreveu:Realmente, acho que errei em minhas colocações mas também estou certo em afirmar que os melhores profissionais que conheço são aqueles que conseguiram se libertar do idealismo e partir para o pragmatismo da profissão. Estes sim, conseguem ajustar-se às imposições da vida profissional sem muito stress e possuem mais qualidade de vida, pois não aspiram mais a melhorarem o mundo. Aceitam-no tal qual ele é e procuram tirar o melhor proveito para si da realidade que se apresenta a sua frente.

Olá Labrego!

Você parece insinuar que abandonar o idealismo e aceitar o pragmatismo é uma melhor opção. Pessoalmente, não vejo a necessidade de haver essa troca. Acredito que podemos ser, ao mesmo tempo, idealistas e pragmáticos. Uma coisa não exclui necessariamente a outra. O que idealizo é uma educação de qualidade para todos e posso precisar ser pragmático para isso. Não entendi o porquê de separar uma coisa da outra. Ser idealista não é necessariamente fugir da realidade.

Ser um profissional de sucesso também não significa ser um profissional feliz. Podemos nos envolver mecanicamente numa profissão, obtendo, inclusive, excelentes resultados, mas com ausência de paixão não há como experenciarmos felicidade e bem estar duradouros. É preciso ter tesão pelo que faz. Como haver tesão sem ideal?

Para obtermos melhorias siginificativas, precisamos questionar nossa realidade e lutar para que ela melhore. Como promover mudanças se não temos mais essa aspiração?

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Edson Jr
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Re.: Escola Pública

Mensagem por Edson Jr »

O Professor está deixando de ser uma fonte de inspiração.

Antigamente todo professor gostava de dizer com orgulho para os alunos: "Estudem, pois através dos estudos vocês vão vencer na vida". Os ânimos dos alunos ganhavam força com tal afirmação. Alguns pretendiam até mesmo serem professores, pois refletia respeito e dignidade.

Hoje em dia a realidade é diferente. Ser um "soldado" dos traficantes, com salário de 800 reais é, para muitos, mais inspirador do que ser um professor, com um salário de 540 reais (sem levar em consideração os descontos).

A previsão é de um futuro ainda mais sombrio se nada for feito em prol da educação.

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DEUS
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Re: Re.: Escola Pública

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user f.k.a. Cabeção escreveu:
Eu acho que um ítem que deveria ser gradualmente abolido é a faculdade pública.

Isso é uma fantasia, uma irrealidade. Eu estudo numa e sei disso. Faculdades públicas podem funcionar bem na França, mas no Brasil é estupidez. Os recursos para educação devem ser destinados para a formação fundamental e secundária sólida, e pública.

O ensino superior deveria ser todo ele pago, com as pessoas de menor renda trabalhando durante o curso ou conseguindo uma bolsa por processos meritocráticos.

Esse é o sistema mais funcional, o que implica em menores desperdícios.

Só para constar, os sindicatos de professores das universidades federais rejeitou uma proposta do MEC de reajuste de 30%, pois de acordo com eles, o justo seria 48%. Outra observação pertinente é que esses gananciosos são todos (ou quase todos) de orientação marxista.

Isso é absurdo. Os salários devem ser regulados pelo mercado, ou tudo vira uma palhaçada.


mas que opinião ridícula! nem merece comentários.
http://www.ateus.net/artigos/historia/j ... xistiu.php


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Cabeção
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LAB
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Re.: Escola Pública

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Caro Edson Jr.

Concordo com você que o idealismo é necessário para qualquer coisa que vamos fazer na vida, tornando a coisa até mais agradável para a gente. Tipo assim, tem que estudar? Tem. Oras, para que vamos estudar com dor? Inventamos um motivo culturalmente aceitável e que torne agradável para nós o ato de estudar. Temos que trabalhar? Claro. Gostamos? Com certeza não. Então fazemos o mesmo com o trabalho. A esse processo que elaboramos mentalmente e emocionalmente chamamos de ideologia. O problema é que esse tipo de comportamento pode se generalizar na gente, principalmente, se formamos nossas ideologias visando a atender os interesses de outros e não propriamente os nossos. Com isso acabamos ficando eternamente insatisfeitos pois para sermos felizes os outros deverão ser também, ou seja, colocamos a felicidade do próximo como mais importante que a nossa. E realmente, o próximo merece a felicidade que desejamos para ele? O que ele faz por si mesmo? Oras, ele faz tudo aquilo que tivemos vontade de fazer e não fizemos para poder estudar, trabalhar e se adaptar a um ambiente social e profissional. Entende como nós projetamos nossas necessidades nos outros achando que eles estão sentindo falta daquilo que estamos sentindo para nós mesmos? Isso eu chamo ideologia: quando os interesses do próximo são mais importantes que os nossos. Às vezes, nossos interesses nem são os mesmos dos outros e queremos dar uma de teimosos convencendo nossos próximos de que aquilo que nos interessa também é importante para ele. Ele, se achar vantajoso, fingirá que concorda somente para tirar vantagens se por acaso aquela idéia que ele chama de maluca der certo. Lamento mas tudo isso que estou falando aqui eu também já fiz como idealista. Hoje até tiro vantagem dos idealistas. Eles são ótimos para a gente passar a perna e tomar o lugar.
A diferença entre um ateu e um teísta é que as abobrinhas do primeiro são mais inteligentes que as do segundo.

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Edson Jr
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Mensagem por Edson Jr »

Labrego escreveu: Caro Edson Jr.

Concordo com você que o idealismo é necessário para qualquer coisa que vamos fazer na vida, tornando a coisa até mais agradável para a gente. Tipo assim, tem que estudar? Tem. Oras, para que vamos estudar com dor? Inventamos um motivo culturalmente aceitável e que torne agradável para nós o ato de estudar. Temos que trabalhar? Claro. Gostamos? Com certeza não. Então fazemos o mesmo com o trabalho. A esse processo que elaboramos mentalmente e emocionalmente chamamos de ideologia.

Olá Labrego!

Acredito que somos movidos por princípios. Alguns princípios nos conduzem para um bem estar genuíno, outros nos impelem rumo à decadência. Alguns desses princípios seriam a honestidade, dignidade, integridade e aperfeiçoamento.

Tenho como idéia também que temos determinadas necessidades fundamentais que, se forem negligenciadas, não obteremos uma felicidade duradoura. Algumas delas seriam acesso a alimentação (para a sobrevivência física), a necessidade de ser compreendido, aceito e amado (dando ares para a emoção), a necessidade de dar algum tipo de contribuição significativa (para se sentir útil) e a de deixar um legado para as gerações futuras (pois isso nos traria o prazer em saber que nossa existência não foi em vão).

Estudar e trabalhar, ao meu ver, são fundamentais para o nosso bem estar. O estudo aprimora a mente e gera aperfeiçoamento. O não estudar traria um efeito inverso, gerando estagnação e acomodação, o que implica numa incômoda sensação de inutilidade. Somos seres ativos e o não estudar nos conduziria a estagnação e, conseqüentemente, à infelicidade.

Somos curiosos por natureza e temos o impulso para aprender desde o nascimento. Uma coisa é aprendermos aquilo que nós apreciamos. Outra seria insistirmos em aprender algo que não desejamos. E o verdadeiro idealismo sempre caminha junto com o querer autêntico.

Da mesma forma, o trabalho nos faz sentir útil, desde que o façamos com a certeza de que estamos dando algum tipo de contribuição significativa, o que atende outra de nossas necessidade.

Eu, por exemplo, abandonei o militarismo justamente por isso. Ficava me perguntando o porquê de me preparar para uma guerra que não existe e que se existir, provavelmente atenderá desejos de outras pessoas (quem sabe do Bush?). Pior, seria necessário que eu abrisse mão de grande parte de minha sensibilidade e de determinados valores para atender os caprichos trogloditas da rotina militar.

Troquei-o por outro que, apesar dos problemas, me faz sentir mais útil. Creio que, agora, de alguma forma, estou dando algum tipo de contribuição mais positiva, de acordo com minha sensibilidade e valores.

Labrego escreveu:O problema é que esse tipo de comportamento pode se generalizar na gente, principalmente, se formamos nossas ideologias visando a atender os interesses de outros e não propriamente os nossos. Com isso acabamos ficando eternamente insatisfeitos pois para sermos felizes os outros deverão ser também, ou seja, colocamos a felicidade do próximo como mais importante que a nossa.

Um dia iremos morrer, é óbvio. Não fazemos a mínima idéia do que virá após a morte, se é que venha alguma coisa, mas tenho certeza de que, quando partir, futuras gerações seguirão depois de mim. E tenho dentro de mim uma grande necessidade de deixar um legado, tendo a certeza de que fiz a diferença na vida de alguém. E isso não é tão pessoal assim! Quem possui filhos devem saber disso melhor do que eu.

A nossa felicidade não seria em função da felicidade dos outros, mas de ao menos termos procurado, ao máximo, fazer nosso papel.

Labrego escreveu:E realmente, o próximo merece a felicidade que desejamos para ele? O que ele faz por si mesmo? Oras, ele faz tudo aquilo que tivemos vontade de fazer e não fizemos para poder estudar, trabalhar e se adaptar a um ambiente social e profissional. Entende como nós projetamos nossas necessidades nos outros achando que eles estão sentindo falta daquilo que estamos sentindo para nós mesmos? Isso eu chamo ideologia: quando os interesses do próximo são mais importantes que os nossos. Às vezes, nossos interesses nem são os mesmos dos outros e queremos dar uma de teimosos convencendo nossos próximos de que aquilo que nos interessa também é importante para ele. Ele, se achar vantajoso, fingirá que concorda somente para tirar vantagens se por acaso aquela idéia que ele chama de maluca der certo.

Acho que tudo isso é uma questão de compreensão. Se tenho a intenção de fazer uma pessoa feliz, preciso fazer um esforço em compreendê-la como indivíduo único que ela é, para aí sim, a partir daí, promover meios que a façam feliz.

Um dos erros que comuns do magistério é esse. O professor costuma desenhar em sua mente um padrão, seguindo-o sempre, ignorando que numa sala de aula existem alunos de diferentes tipos. Ou, às vezes, valoriza mais os alunos que obtém bons resultados, ignorando aqueles que apesar de não terem bons conceitos, apresentam um grande potencial, mas que nunca serão explorados, pois o professor só ensina de um jeito, mas muitos alunos só desenvolveriam seus potenciais de outro.

Não acho que o próximo mereça a felicidade que desejamos para ele antes de o compreendermos. Somente após a devida compreensão podemos detectar aquilo que o faria realmente feliz e assim desejar e contribuir para a felicidade que ele realmente mereçe.

Também não me simpatizo com a idéia de valorizarmos mais os interesses dos outros do que os nossos, mas aí já seria uma questão de baixa auto-estima, de quem não valoriza suficientemente seus próprios interesses. Saiba que não defendo que todos os tipos de ideologias são vantajosos. Se essa for sua idéia de ideologia, concordo que, nesse aspecto, ela seria dispensável.

Labrego escreveu: Lamento mas tudo isso que estou falando aqui eu também já fiz como idealista. Hoje até tiro vantagem dos idealistas. Eles são ótimos para a gente passar a perna e tomar o lugar.

Isso me soa um tanto desumano, Labrego. O quê o motiva a fazer isso?

Abraços!

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LAB
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Re.: Escola Pública

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Caro Edson Jr.:

Gostei de sua resposta pois a mesma encontrou eco dentro de mim, ou seja, fez sentido para mim. Realmente, eu quando iniciei minha jornada profissional foi meio que na porrada, já que, familiarmente e socialmente, eu ainda não tinha conseguido formar uma auto-imagem positiva. Oras, lançando-se no mundo aos 20 anos sem muita experiência positiva da vida e muita negativa, acreditei que se fizesse tudo certo ou pelo menos tudo certo como pregava o moralismo familiar vigente eu conseguiria ser feliz. Oras, com essa ideologia ou pseudo-ideologia me pus no mundo: estudei, trabalhei e dei o maior sangue na vida acreditando que não me importava ser infeliz agora. O importante é que a felicidade viria desde que eu fizesse tudo certo. He, he. Tornei-me um frustrado e agora tento me vingar: acho que esta é a minha motivação. Acredito agora, depois de suas palavras, que este não é mais o meu caminho. Procurarei resgatar a minha capacidade de me apaixonar pelas minhas causas perdidas ou não - afinal,a gente abraça uma causa e só sabe no final se ela era perdida ou não - e tentarei de novo como diz a música do Raul Seixas: Tente outra vez.
A diferença entre um ateu e um teísta é que as abobrinhas do primeiro são mais inteligentes que as do segundo.

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Edson Jr
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Re: Re.: Escola Pública

Mensagem por Edson Jr »

Labrego escreveu:Caro Edson Jr.:

Gostei de sua resposta pois a mesma encontrou eco dentro de mim, ou seja, fez sentido para mim. Realmente, eu quando iniciei minha jornada profissional foi meio que na porrada, já que, familiarmente e socialmente, eu ainda não tinha conseguido formar uma auto-imagem positiva. Oras, lançando-se no mundo aos 20 anos sem muita experiência positiva da vida e muita negativa, acreditei que se fizesse tudo certo ou pelo menos tudo certo como pregava o moralismo familiar vigente eu conseguiria ser feliz. Oras, com essa ideologia ou pseudo-ideologia me pus no mundo: estudei, trabalhei e dei o maior sangue na vida acreditando que não me importava ser infeliz agora. O importante é que a felicidade viria desde que eu fizesse tudo certo. He, he. Tornei-me um frustrado e agora tento me vingar: acho que esta é a minha motivação. Acredito agora, depois de suas palavras, que este não é mais o meu caminho. Procurarei resgatar a minha capacidade de me apaixonar pelas minhas causas perdidas ou não - afinal,a gente abraça uma causa e só sabe no final se ela era perdida ou não - e tentarei de novo como diz a música do Raul Seixas: Tente outra vez.

Entendo.

Já tive esse tipo de reação também, pouco tempo atrás. Fui religioso (evangélico) desde berço, quando percebi que muitos aspectos doutrinários não refletiam exatamente o que eu sentia, acreditava e desejava. Quando abandonei a igreja (faz uns 3 anos) a minha primeira reação foi de vingança, pois senti que fui enganado por muito tempo e precisava dar o troco. Senti uma profunda frustração também. E a frustração quase sempre nos leva ao desejo de vingança.

Com o tempo fui percebendo que isso não me fazia bem. Sinto que a cada dia me sinto mais livre desse sentimento. A vida não deve ser centrada num inimigo.

Isso só me trouxe vantagens, pois me sinto muito mais flexível com os mais variados tipos de idéias, o que me torna mais humano e sociável.

Creio que o único segredo seja o de seguir a voz da consciência. Acredito ser o único guia seguro.

É claro que muitas vezes, talvez por orgulho, acabo me desviando dos princípios corretos que a consciência traz, mas procuro me voltar à ela o mais rápido possível.

A jornada do bem nem sempre é fácil, mas fundamental. E acredito que sua jornada será bem sucedida! Estou contigo nessa empreitada!

Abraços, camarada!

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LAB
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Re.: Escola Pública

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Caro Edson Jr.:

É. Pelo jeito a minha escolha profissional se refletiu muito na solução de meus problemas. Há 20 anos atrás eu pretendia estudar Técnico em Eletrônica mas não sei por que optei por Técnico em Processamento de Dados. Com essa escolha, o microcomputador se tornou uma constante em minha vida, nestes últimos 20 anos. Posso dizer que vivi muito mais para a informática do que propriamente para a vida. Percebendo, pela sua experiência de vida, que a mesma é muito semelhante à minha, reconheço hoje que a minha escolha profissional foi a mais acertada na época. E olha que eu sou do tempo do TK82-C, TK85, TK95, etc... Acompanhei a história da microinformática no Brasil desde os primórdios (dos 8 bits, 16 bits e agora 32 bits). Eu, apesar de minha recém-conversão ao ateísmo tenho dificuldades de acreditar que "deus" não existe. Ainda mais que na minha juventude eu presenciei as famosas "experiências do copo" que muitos garotos fazem e, até hoje, não consegui dar uma explicação racional para esse tipo de fenomenologia. Alguns amigos faziam a experiência com garrafas e as mesmas se quebravam sozinhas. Como não sei explicar esse tipo de fenômeno sou forçado no momento a manter as minhas dúvidas quanto ao materialismo e o Espiritismo Kardecista. Sei que a religião ou filosofia não são um fim em si mesmo pois não devemos viver em função de um conceito filosófico e/ou religioso já que a vida sempre nos surpreende com novas situações ainda não previstas pela nossa razão. Por isso, eu tomo estes princípios metafísicos como ponto de partida e não algo pelo qual eu deva viver e dar a minha vida. Por isso que tenho dificuldades hoje de adotar uma ideologia. Redescobrir a necessidade de estudar, trabalhar e se desenvolver na vida já é para mim uma grande ideologia. Esta sim, é a minha bandeira atual, ou seja, centrei-me em mim mesmo e nas minhas necessidades de crescimento social, intelectual, cultural, etc. Pode até parecer egoísmo para alguns mas, como você disse, a vida é curta para a gente se ocupar de todo mundo.

Abraços...
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Edson Jr
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Re.: Escola Pública

Mensagem por Edson Jr »

Olá Labrego!

Sinceramente tento compreender de onde os ateus tiram tanta certeza afirmando que "Deus não existe", até mesmo pela impossibilidade lógica de comprovar a "não existência de algo".

Minha posição atual é de dúvida.

Meu palpite (posso estar enganado) é que os teístas normalmente possuem vantagens sobre os não-teístas, pois a crença num Deus protetor gera conforto e bem estar. O único grande problema, ao meu ver, é quando existe o fanatismo. De qualquer forma, existem teístas e não-teístas igualmente fanáticos e radicais. Existe uma certa democracia.

Assim como você, procuro ter a mente aberta com relação a isso, ouvindo e tentando compreender o que cada um me diz.

Penso que pelo menos uns 90% das falhas de comunicação é por pura questão semântica. Talvez, mais importante do que se prender ao significado de cada palavra, seja procurar entender a intenção por detrás da mensagem.

Isso, inclusive, é uma das coisas que estou procurando me aperfeiçoar. Quando alguém, por exemplo, chega até mim e diz: "Deus te abençoe" "Fique com Deus", parece-me totalmente descabido questionar nesse momento se Deus existe. Não tem nada a ver. Muitos ateus, nesse momento, fazem cara de brabo ou demonstram indiferença, que os acaba levando a uma total falta de sintonia com a outra pessoa.

A intenção das pessoas que falam isso costuma ser a de um desejo sincero que tudo nos vá bem. Capturando essa intenção, posso dizer com segurança e sinceridade um "amém" ou retribuir a mensagem com um "Deus te abençoe também". Estou procurando, no momento, me prender menos ao significado das palavras e captar tão somente a intenção.

Acredito que isso seja uma postura muito mais humana. Minha consciência aponta para esta direção então procuro disciplinar meu espírito para ser assim. Ainda tenho muito a aprender.

No fundo no fundo, o que as pessoas querem é uma boa companhia e se formos pessoas de bem, os outros vão perceber isso em nós, independente da religião.

Talvez a resistência que você tem em dizer quen "Deus não existe", não seja uma resistência qualquer. É bem provável que sua natureza humana sensível esteja apontando numa outra direção e você não esteja percebendo isso.

Conheço um livro muito bom que reflete uma boa parte de minha argumentação. Posso indicá-lo para você, caso queira. Este livro foi importante para eu me descobrir. Na verdade, ainda estou me descobrindo. E, talvez, esse processo de descoberta nunca termine.

É um prazer dialogar com você, Labrego.

Um abraço!

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LAB
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Re.: Escola Pública

Mensagem por LAB »

Caro Edson Jr.:

Para mim tem sido um prazer estes diálogos, também. Se possível, passe-me o nome do livro que você mencionou. Talvez eu até tenha lido já que sou um voraz devorador de livros que versam sobre sociologia, antropologia, psicologia, história, folclore, mitologia, auto-ajuda, enfim, tudo aquilo que não tive compreensão para ler no passado já que as ciências exatas sempre foram o meu forte. O difícil é todo esse conhecimento assimilado surtir algum efeito em meu cotidiano pois parece-me que o conhecimento vem antes da experiência. Por exemplo, antes quando me acontecia algo ruim eu atribuía a algum castigo da vida ou a alguém que me desejava mal. Assim eu procurava fazer as coisas cada vez mais certo para evitar as coisas ruins. Era como se eu sentisse medo de apanhar dos pais (vida e/ou deus). Essas crenças foram oriundas de uma educação infantil violenta e sem diálogo por parte dos pais. O interessante era que eu sabia que meus medos eram infundados mas como eles eram mais fortes que eu eles acabavam sendo racionalizados por mim como alguém me perseguindo no serviço, alguém tentando puxar meu tapete, etc..., o que me fazia ter um comportamento agressivo e pouco social. Com minhas leituras acabei identificando as causas desses medos e passei a trabalhar estas causas, compreendendo melhor a criança que eu fui e as suas vontades para poder satisfazê-las. Com isso meus medos foram desaparecendo pois eu próprio tornei-me o pai que sempre quis ter, satisfazendo minhas fantasias e necessidades infantis da melhor forma possível. O mais interessante de tudo é que estas fantasias e necessidades foram desaparecendo a medida em que as fui realizando: é como uma criança que enjoa de seus brinquedos. O pior de tudo foi descobrir que trabalhei a vida inteira não para mim mesmo e sim para suprir as necessidades dos outros: família, sociedade, etc...

Às vezes, me pergunto porque estou dizendo tudo isso mas acredito que quanto mais eu dialetizo minha experiência de vida mais eu a compreendo. Por isso que a Internet é um canal importante de comunicação sem a gente ter que expor nosso ego.

Abraços.
Curiosamente, atentei para a sua idade e verifiquei que você tem 25 anos. É duro eu ter que admitir mas, hoje com 42 anos, ainda não tenho metade da sua capacidade de compreensão da vida. Isso não me espanta porque faltou-me experiência já que conceitualmente todo mundo sabe o que é certo. Sim, estive muito ocupado com minha vida profissinal para dar atenção a outros tipos de atividades humanas.
A diferença entre um ateu e um teísta é que as abobrinhas do primeiro são mais inteligentes que as do segundo.

Trancado