Religião é Veneno. Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico.
Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Sempre achei o bate-papo um entretenimento delicioso. O diálogo oferece ocasião a sentirmos o pensamento do outro, e o que é mais agradável, a exteriorização do nosso próprio pensamento. Por isso, sempre optei pela conversa a dois, ainda que em um vídeo de TV ou num palco de teatro. Quando estava só, procurava, tal qual o menino solitário no faz-de-conta, o diálogo desejado e interessante representando o parceiro, fazendo os dois papéis. E isso é uma delícia. Dar asas à imaginação, poder perguntar sem reservas, sem convenções, sem preconceitos, e colocar respostas na boca do outro. A tal ponto podemos chegar nesse jogo que às vezes somos surpreendidos pelas respostas inesperadas e interessantes. Como fazemos isso? Talvez liberando lados ocultos do nosso inconsciente, porque se nós "não podemos ser" dessa ou daquela forma, falar isso ou aquilo, o outro pode, a responsabilidade é dele. Nossa censura não interfere. Podemos nesse jogo criar vários personagens diferentes. Vocês já experimentaram? Claro que sim. Quem, na expectativa de uma entrevista importante de cunho profissional, sentimental ou até desagradável, já não imaginou com antecedência como ela se desenrolaria, colocando-se no lugar do interlocutor e criando o diálogo? Mas, aqui, um prolongamento da sociedade terrena, faiemos a mesma coisa. Tanto nas colónias, ou cidades dos que estão mais ligados ao plano superior fora da faixa terrena, como nas proximidades da Terra, até na sua crosta, em meio aos encarnados e em suas profundezas no submundo, o homem é o ser do diálogo, da expressão, e não fala só através do verbo, mas de atitudes, de gestos, por vezes mais autênticos do que suas palavras. Assim, eu amo o diálogo, adoro conhecer gente, aprender a enxergar dentro do ser humano. Continuei a procu¬rar aqui, da mesma forma que quando encarnado, entrevistar, conhecer, dialogar, e embora não consiga ainda deixar de divagar, colocando respostas na boca dos meus persona¬gens, constatei que às vezes a realidade, isto é, o diálogo a dois onde cada um assume sua posição supera a mais fértil imaginação. Se na Terra nos deparamos com pessoas defendendo os mais incríveis pontos de vista, e talvez isso represente uma das belezas do nosso mundo terreno, aqui encontramos criaturas tão originais que tornam insignificantes as nossas mais ousadas fantasias. Desde que fui liberado para entrevistar, e consegui material para reportar aos homens o nosso mundo fantasma, tenho consumido todas as minhas horas de lazer em procurar conhecer pessoas das mais variadas camadas sociais. Como? Também aí, no além, existem camadas sociais? -perguntarão os mais beatos, sonhando com o dolce far niente da vida contemplativa, ou imaginando que sejam de imediato impostas aos recém-desencarnados posições definidas e irreversíveis. Não é bem assim. O livre arbítrio continua a ser para nós uma determinante. E a confusão que anda pelo mundo sobre tal coisa se deve por certo à imaginação um tanto fértil de cada um, qtie a seu modo idealiza a vida depois da morte. Mas eu posso afirmar que o inevitável, logo de início, assim que regressamos, é contatar nossa realidade. Dada a natureza do nosso corpo espiritual, fora da densidade da carne, isso é o que acontece de pronto. Há também a mate rializaçao rápida do nosso pensamento, livre das barreiras carnais. Na Terra, pensamos e não vemos de imediato a ação da nossa mente, mas aqui, ao pensar, já percebemos a materialização da ideia. Essa diferença tem confundido os homens na Terra a imaginar coerção ou férrea disciplina. A escola aqui é outra. Quando voltamos e nos vemos tal qual somos, e, às vezes, o que temos sido em outras vidas, naturalmente nos chocamos. Se na Terra fantasiamos a nosso respeito, procurando até artifícios sutis para nos enganarmos pêlos caminhos da nossa mente, criando uma imagem que gostaríamos de ser e encobrindo o que somos, é óbvio que enxergar essa realidade temida e quase sempre não muito agradável provoca reações dolorosas. Aí então, nesse momento, o recém-desencarnado escolhe seu caminho. O amor divino, através de mãos compassivas, o espera na chegada, mas quase sempre ele prefere mergulhar na fantasia e, entre apelos da realidade que encontra a cada passo, atraindo desafetos de outros tempos e o desejo de fugir, perde-se nos umbrais da perturbação e do sofrimento. Mas, quando se decide realmente a aceitar sua realidade, então, pode ser auxiliado e outra vez tem possibilidade de escolher entre submeter-se à sábia orientação dos nossos maiores - aí a disciplina é obrigatória - ou continuar livremente ao sabor das forças que atraiu. Mas eu disse tudo isso para que possam entender um pouco como se vive aqui. Há sociedade, hierarquia, e cm alguns lugares é interessante observar o comportamento de cada um. Com exceção dos planos mais altos, onde o equilíbrio é mais cons-tante e as comunidades socializadas em alto padrão, há cidades onde as criaturas, mesmo convivendo em paz e preparando-se para voltar a reencarnar com proveito, conservam costumes adquiridos durante vidas consecutivas, que lhes é difícil modificar. Assim, os que já desenvolveram o senso de beleza, e usufruíram de dinheiro na Terra, morando cm residências bem decoradas, aqui construíram suas habitações com gosto e requinte. Vestem-se com apuro e bom gosto, e procuram ocupar-se com tarefas intelectuais ou condizentes com sua maneira de ser. E há os que, ao contrário, tendo tido suas últimas encarnações na pobreza ou ocupando posições mais humildes na sociedade, constróem suas casas sobriamente, com poucas acomodações, c procuram trabalhar nas ocupações mais modestas, que requerem menos esforço mental. Estão admirados? Então não existe nenhum "Cinderelo", que da noite para o dia sai do borralho terreno para o palácio do príncipe encantado? Não existe. E explico por quê. Cada um escolhe o rumo que quer seguir. Assim como o mendigo não entra em um luxuoso magazine porque não se sente à vontade, ao chegar aqui ele tem poucas ambições, e o pouco já lhe parece muito. São fases de cada um. O duro é sair do luxo e renascer na pobreza, e isso pode acontecer, porque, às vezes, certos de que precisam alcançar o próprio equilíbrio, ao inverso da Cinderela, os príncipes resolvem nascer no borrralho, e aí sim é que vão sofrer. Ë que eles pretendem valorizar as coisas, e por isso necessitam sentir a necessidade de cada uma. Escolhem a mudança, e o que é fácil aqui, devido à visão mais real, torna-se difícil aí, onde se medem as pessoas pelas aparências. Mas o livre arbítrio c mantido sempre. Eu falava do diálogo e pretendia dizer que, circulando nessa cidade muito próxima da Terra, onde me é agradável estar, tanto que às vezes me parece estar ainda na carne, conheci pessoas interessantes com as quais tive os mais curiosos contatos e aprendi muito de suas experiências. Antes que eu me esqueça, gostaria de esclarecer que o fato de estarmos muito próximos à Terra não significa que esta cidade seja uma região de acerbos sofrimentos, onde habitem espíritos infelizes e atrasados. Não! Isso é fantasia de cada um. Claro que há os agrupamentos dos desajustados. Mas, há também, tanto quanto na Terra, comunidades, que dentro do seu relativismo natural, trabalham e estudam, lutam e se esforçam para progredir, levando vida normal e operosa como grande parte da população encarnada. O que há de estranho nisso? Se aí é assim, por que aqui não pode ser também, já que somos os mesmos? E uma delícia poder travar relacionamento com o outro, e trocar ideias, renovar nossos conceitos ao toque das alheias experiências. Assim como eu, que nas minhas horas de lazer gasto o meu tempo cm busca de um bom bate-papo, pensando em escrever essas experiências, os outros também procuram, em suas horas de lazer, os lugares de sua preferência, conforme seus planos para o futuro. Há os que pensam em voltar à Terra, e aqui todos pensam, procuram atividades que os ajudem a atender, ao reencarnar, o programa que idealizam. Há os que procuram estudar Direito, Filosofia, Política, leis dos países onde pen¬sam renascer. Os que pretendem prestar socorro vão estudar Enfermagem, Medicina. Há os escritores, poetas; há os que procuram o comércio e a indústria, interessados em resolver -eus problemas passados, contribuindo ou repondo os danos na Terra, construindo empresas que acionem o progresso e proporcionem trabalho, meios de subsistência. Há os artistas jue procuram mergulhar cada vez mais nas maravilhas da natureza para levar aos homens beleza, alimento espiritual e, porque não dizer, alegrar, entreter, tornar a vicia na Terra .ivais agradável e bela. Nos múltiplos departamentos onde podemos circular em nossas horas de lazer existe sempre a preparação para a reencarnação, e em muitos deles há os aparelhos de testes, a ava liação das probabilidades que fariam inveja ao mais sofisticado computador do mundo. E eu circulei por esses lugares maravilhosos, encantados, onde a realidade supera em muito a mais ousada fantasia do homem encarnado. Tenho muitas coisas a contar das entrevistas que fiz, dos diálogos que travei, dos bate-papos amigos onde não coloquei palavras na boca do outro, mas ouvi, admirado e atento, curiosas ideias que eu jamais teria imaginado, experiências reais e objetivas dos inexplicáveis e fascinantes caminhos do psiquismo humano. Vocês não acreditam? Pois eu prometo que voltarei para contar.