09/08/2007
Enquanto a infra-estrutura brasileira continua em frangalhos, dezenas de países lançam programas de concessões e delegam grandes obras à iniciativa privada
Por Fabiane Stefano
A cada semana, aumentam as evidências de que o péssimo estado da infra-estrutura brasileira virou não apenas uma dor de cabeça para o cidadão mas também um freio ao desenvolvimento nacional. O mesmo país que busca participar mais ativamente da globalização não consegue escoar minimamente em ordem a produção em estradas e ferrovias, embarcá-la em portos com capacidade adequada nem sequer transportar as pessoas com segurança pelos ares. Enquanto o Brasil vive sua maior crise de infra-estrutura, operadoras de serviços e construtoras vislumbram oportunidades de investimento -- fora do país. Na sede da Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), em São Paulo, os executivos da maior empresa brasileira de administração de estradas examinam exaustivamente mapas e editais internacionais. Eles procuram no exterior o que não têm encontrado aqui: novas concessões rodoviárias. Em julho, a CCR apresentou sua proposta para uma grande licitação no México. A empresa também foi pré-selecionada para participar de uma concorrência na República Dominicana. Independentemente dos resultados, os executivos da CCR já têm o que comemorar. Nas próximas semanas, uma equipe deverá assinar em Denver, nos Estados Unidos, o contrato de concessão da Northwest Parkway, primeira licitação rodoviária que uma empresa brasileira vence em território americano. Em parceria com a portuguesa Brisa, a CCR irá administrar por 99 anos os 18 quilômetros do anel viário que circunda a cidade. "É triste constatar que as empresas têm de ir para fora quando há tantas obras a ser feitas aqui no Brasil", diz Márcio Batista, vice-presidente da CCR.
Assim como a CCR, companhias como Odebrecht, Ecorodovias e OHL mostram um interesse cada vez maior em licitações no exterior. Essa busca virou quase uma obrigação, dada a falta de opções de negócios por aqui. Desde 1999, nenhum trecho de rodovia foi alvo de licitação -- mesmo sabendo que, da malha rodoviária de 150 000 quilômetros existentes no país, menos de 10 000 são operados pela iniciativa privada, não por coincidência os que estão em melhores condições. De acordo com a Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), outros 15 600 quilômetros poderiam ser transferidos para as empresas administrarem. Um estudo mais amplo da consultoria KPMG avalia em 80 bilhões de reais o potencial em parcerias público-privadas até 2011, envolvendo estradas, ferrovias, metrôs, portos e saneamento. Apesar dessas evidências, as concessões de estradas brasileiras andam a passos de tartaruga. Apenas sete trechos de rodovias federais e oito de estradas paulistas estão na lista para ser licitados. É muito pouco para um país com tamanha carência -- e quase nada ante a efervescência de novas obras verificada nos Estados Unidos, no México ou em países da América Central e da Europa. O Brasil vive um momento em que o governo não faz e também não deixa fazer. E talvez a única explicação para isso seja o fato de que a construção e a administração de estradas, aeroportos, portos, hidrelétricas e ferrovias confiram enorme poder político aos governos. É difícil abrir mão disso, mesmo com todos os indícios de colapso.
O DESAFIO DE MODERNIZAR a infra-estrutura hoje se coloca a todos os países. O longo ciclo de prosperidade da economia mundial se traduz em mais produção e comércio, exigindo mais e melhores estradas, portos e aeroportos -- obras que demoram a sair do papel em qualquer lugar do planeta. É isso que explica a onda de concessões à iniciativa privada. Muitos governantes já se renderam à realidade -- sem dinheiro privado, é impossível acompanhar a necessidade de investimentos em obras que, não raro, custam bilhões de dólares. "Mesmo os países mais ricos não conseguem acompanhar a demanda", diz Rafael Rossi, diretor da construtora portuguesa Mota-Engil, que no momento disputa sete projetos ao redor do mundo.
FONTE: Exame
- Pobre Brasil, até quando????

Abraços,