Fantástico
25.12.2005
A família de Jesus Cristo
O americano Tony Burroughs é o homem que investigou a família de Jesus Cristo. Ele esteve no deserto da Judéia, em laboratórios arqueológicos na Europa, pesquisou textos bíblicos, buscou pistas em documentos do início da era cristã e ouviu especialistas conceituados. Ele é um investigador experiente: é um genealogista, pesquisa a história das famílias. Nos últimos 20 anos, ele rastreou o passado de centenas de americanos descendentes de africanos.
Hoje, Tony Burroughs acredita ter juntado as peças de um fascinante quebra-cabeças. Como era na verdade a família de Jesus Cristo? Ele teve irmãos? Quem foram esses irmãos?
Está na Bíblia, Novo Testamento, evangelho do apóstolo Marcos, capítulo seis.
“Esse capítulo diz que Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar aos judeus citando trechos da Bíblia. Muitos se espantaram com aquilo, e comentaram: ‘Não é esse homem o carpinteiro, filho de Maria? Não são aqueles seus irmãos Tiago, José, Judas e Simão? E aquelas não são as irmãs dele?’”, conta o historiador bíblico Jim Charlesworth.
As palavras do apóstolo Marcos levaram Tony Burroughs a imaginar: será que de fato o Jesus histórico cresceu dentro de uma grande família?
Em 1902, durante escavações no Egito, arqueólogos encontraram uma relíquia: um antigo texto sírio, atribuído ao apóstolo Tiago. O relato, que ficou conhecido como o proto-evangelho de Tiago, conta a vida de Jesus e traz uma revelação surpreendente: no momento em que Maria deu à luz, além de José, outra personagem estava presente, uma menina, chamada Salomé.
O intrigante é que o texto não explica quem é Salomé, ou por que ela estaria lá naquele momento. Para a historiadora Vicky Philips, é justamente a falta de uma explicação que serve como pista:
"Salomé é um nome muito comum naquela região. Então, seria esperado que o autor desse alguma referência, algo que a distinguisse das outras mulheres chamadas Salomé. Salomé de Belém, por exemplo. Mas não, ela é apresentada apenas como Salomé. Ou seja, o autor escreve como se os leitores soubessem quem era aquela Salomé, como se ela tivesse uma ligação íntima com José e Maria", explica Vicky.
A historiadora ainda afirma: aquela Salomé era, na verdade, irmã de Jesus. E um detalhe importante: ela não teria sido filha de Maria, mas de um casamento anterior de José. Para investigar essa pista de uma possível irmã de Jesus, Tony Burroughs vai foi à Inglaterra, a um respeitado centro de estudos em Oxford.
Mark Goodacre, especialista em Bíblia, diz que textos escritos por cristãos dos séculos II e IV fazem referências a um primeiro casamento de José.
“Essas antigas fontes dizem que, antes de morrer, a primeira mulher de José deu filhos àquele que viria a ser o pai de Jesus", diz ele.
O evangelho de Marcos diz que Jesus tinha "irmãs" - seriam, portanto, ao menos duas irmãs. Salomé poderia ser uma delas. Quem seria a outra? Um texto escrito no século IV pelo cristão Epifânio indica que esta segunda irmã de Jesus se chamaria Maria, ou Miriam.
Tony Burroughs precisa aprofundar suas investigações. Ele viaja a Tel-Aviv, em Israel. Num depósito nos arredores da cidade, está a maior coleção de ossuários do século I. As urnas de pedra servem para identificar os nomes mais usados na época de Cristo. O arqueólogo Joe Zaias aponta a inscrição em aramaico, língua que era falada nos tempos de Cristo.
"Este é o ossuário de Miriam, filha de Shimon. Naquela época, cerca da metade das mulheres tinha o nome de Miriam. Acho, sim, que existe uma grande chance de que uma das irmãs de Jesus se chamasse Miriam, ou Maria", diz ele.
Se as investigações de Tony Burroughs estiveram corretas, portanto, Jesus teve pelo menos seis irmãos. E isso levanta uma questão muito delicada para os católicos: teriam sido todos esses irmãos filhos do primeiro casamento de José? Ou Maria teria concebido outro filho, além de Jesus?
Os evangelhos dizem que Maria recebeu a visita de um anjo que anunciou: ela engravidaria por obra do Espírito Santo. Para a Igreja Católica, Jesus foi o único filho de Maria, e esta permaneceu para sempre virgem.
Miriam Peskovitz, historiadora judaica, afirma: de acordo com as leis da sociedade no primeiro século, José e Maria jamais poderiam ser celibatários e permanecer casados. Uma mulher que não tivesse um filho do marido num prazo de 10 anos, poderia ser abandonada por ele.
“Porém, os evangelhos apresentam Jesus como filho de José, ainda que José não seja o pai biológico de Jesus. José assume a paternidade legal de Jesus”, afirma o padre brasileiro Paulo Cezar Costa, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e professor da PUC do Rio de Janeiro. Ele explica o ponto de vista dos católicos sobre os irmãos de cristo citados no evangelho de Marcos:
“São Jerônimo no quarto século usa um argumento muito interessante. Ele diz que as línguas semíticas e, nesse caso o aramaico que foi a língua falada por Jesus, não tinha uma palavra específica para designar irmão. A mesma palavra era usada para designar primos, então nesse caso quando o Novo Testamento usa a palavra que para nós seriam os irmãos de Jesus, está designando os primos de Jesus”, analisa ele.
O proto-evangelho de Tiago, uma das fontes do genealogista Tony Burroughs, não é aceito pela Igreja Católica - é considerado um evangelho apócrifo.
“Os evangelhos apócrifos foram escritos geralmente do segundo, terceiro quarto século. São escritos mais tardios, que estão mais ou menos 200, 300 anos depois de Cristo. E são muito fantasiosos. Os evangelhos apócrifos fantasiaram em demasia a vida de Jesus. E a Igreja rechaçou exatamente esses evangelhos porque não interessava para ela o Jesus muito fantasiado”, esclarece o padre Paulo Cezar Costa.
Ainda assim, Tony Burroughs acredita ter recolhido indícios suficientes para comprovar a existência dos irmãos de Cristo, e vai além: está determinado a identificar primos, tias e tios de Jesus.
No evangelho de São Lucas, uma mulher chamada Isabel aparece como prima de Maria. Isabel é mais velha que Maria e durante anos tentou e não conseguiu ter filhos. Segundo Lucas, as duas primas milagrosamente ficaram grávidas num espaço de seis meses. Maria teve Jesus e Isabel deu à luz um menino que seria uma das maiores influências na vida do Salvador. João Batista - o homem que batizou Jesus seria também seu primo de segundo grau.
Depois de consultar uma grande variedade de fontes, Tony Burroughs acredita ter conseguido traçar os ramos principais da árvore genealógica de Jesus. Jesus, Simão e Judas são apontados como filhos de Maria. Maria teria escolhido esses três nomes porque, segundo este historiador bíblico, são nomes de guerreiros, heróis que lutaram contra a opressão romana, um cenário violento que a mãe de Jesus conheceu de perto.
Os outros dois supostos irmãos de Jesus, Tiago e José, têm nomes de reis de Israel, e seriam filhos do primeiro casamento de José. Pelas investigações de Tony Burroughs, Jesus Cristo teria então dois irmãos de sangue mais novos, dois meio-irmãos mais velhos e duas meio-irmãs. No Novo Testamento é o nome de Tiago que aparece primeiro, sugerindo que ele seria o mais velho.
No domingo que vem, o genealogista Tony Burroughs usa a tecnologia e achados arqueológicos para recriar a aparência da suposta família de Jesus Cristo.
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*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
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