Alter-ego escreveu:Fernando Silva escreveu:Você pode explicar por que a Jericó dos arqueólogos não tem nada a ver com a da Bíblia?
Posso falar sobre Jericó, sim. Na volta. Estou encima da hora da aula!
A revista Superinteressante (julho/2002) (
não vá dizer "Parei aqui")
baseou sua matéria de capa nesta URL :
http://www.bib-arch.org/index.html (ou, mais precisamente, nesta:
http://www.bib-arch.org/bswbBreakingIllSpecial1.html)
e em outras fontes para "detonar" a historicidade da Bíblia. Apesar
de sua abordagem ser um tanto parcial (apresenta conclusões como
definitivas e ignora hipóteses alternativas, principalmente quanto
ao Novo Testamento), o texto é interessante.
A URL acima leva ao artigo "Deconstructing the Walls of Jericho" e
diz, em resumo:
Na década de 20, o arqueólogo William Foxwell Albright decidiu
provar a historicidade da Bíblia escavando os locais por ela
citados. O tiro saiu pela culatra e o projeto acabou revelando que
as narrativas bíblicas eram em parte invenções e em parte exagero
(embora alguns trechos sejam bem fiéis aos fatos).
1. Os israelenses já viviam nas colinas de Israel. Não houve um
êxodo do Egito e uma conquista de Canaã. Um documento egípcio
de 1208 a.C. já menciona sua presença no local. Por outro lado,
não há registro de terem permanecido no Egito como escravos por
430 anos. Durante os milhares de anos que durou a civilização
egípcia, os povos da região costumavam procurar as margens do
Nilo durante tempos difíceis. É possível que algumas famílias
hebraicas o tenham feito em determinada época e sua história,
grandemente exagerada, tornou-se a história de todos os judeus.
2. Não houve uma conquista de Canaã. Os judeus eram pastores que
viviam nas colinas. Os cananeus, seus parentes próximos, eram
agricultores que viviam nos vales e trocavam grãos por carne
com seus vizinhos. Não contruíram as cidades grandes, ricas e
fortificadas que o livro de Josué menciona. As escavações
encontraram apenas vilarejos sem muralhas que foram abandonados
progressivamente ao longo de séculos e não destruídos durante
uma única campanha militar. Com a falta de grãos, os judeus
desceram para os vales e passaram eles mesmos a cultivá-los.
Outra coisa que a Bíblia não menciona é que Canaã era controlada
pelos egípcios, cujos centros administrativos foram descobertos
em vários locais da região.
3. Os judeus não se uniram num único grande reino sob Salomão e
David. Formaram dois pequenos reinos rivais, Judá ao norte e
Israel ao sul. As ricas e poderosas cidades construídas por eles
revelaram-se bem menores, com apenas uma pequena área fortificada.
É provável que os autores da Bíblia tenham se baseado na
Jerusalém de seu tempo (a partir de 800 a.C) e deduzido que, nos
tempos do apogeu, durante o reinado de David, a cidade teria
sido ainda maior. Salomão e David devem ter sido apenas pequenos
líderes tribais, com poderes limitados.
4. Não houve um êxodo e, provavelmente, nem Abraão nem Moisés.
A religião judaica só deve ter se tornado monoteísta depois do
século 8 antes de Cristo. Encontraram-se inscrições ainda dessa
época mencionando Yaveh e sua esposa Asherah. É possível que os
conceitos de vida após a morte, céu e inferno e julgamento final
tenham vindo dos egípcios e dos persas. Note-se que os profetas
da fase pós-exílio eram todos nomeados pelos reis persas, como
eles próprios afirmam no início de seus livros, e que "fariseu"
vem de "farsi" (persa).
As descobertas acima já são conhecidas há décadas mas são solenemente
ignoradas pelos judeus, que não querem abdicar de seu passado de
glórias, nem pelos cristãos, que se agarram à historicidade da Bíblia.