Labrego escreveu: Caro Edson Jr.
Concordo com você que o idealismo é necessário para qualquer coisa que vamos fazer na vida, tornando a coisa até mais agradável para a gente. Tipo assim, tem que estudar? Tem. Oras, para que vamos estudar com dor? Inventamos um motivo culturalmente aceitável e que torne agradável para nós o ato de estudar. Temos que trabalhar? Claro. Gostamos? Com certeza não. Então fazemos o mesmo com o trabalho. A esse processo que elaboramos mentalmente e emocionalmente chamamos de ideologia.
Olá Labrego!
Acredito que somos movidos por princípios. Alguns princípios nos conduzem para um bem estar genuíno, outros nos impelem rumo à decadência. Alguns desses princípios seriam a honestidade, dignidade, integridade e aperfeiçoamento.
Tenho como idéia também que temos determinadas necessidades fundamentais que, se forem negligenciadas, não obteremos uma felicidade duradoura. Algumas delas seriam acesso a alimentação (para a sobrevivência física), a necessidade de ser compreendido, aceito e amado (dando ares para a emoção), a necessidade de dar algum tipo de contribuição significativa (para se sentir útil) e a de deixar um legado para as gerações futuras (pois isso nos traria o prazer em saber que nossa existência não foi em vão).
Estudar e trabalhar, ao meu ver, são fundamentais para o nosso bem estar. O estudo aprimora a mente e gera aperfeiçoamento. O não estudar traria um efeito inverso, gerando estagnação e acomodação, o que implica numa incômoda sensação de inutilidade. Somos seres ativos e o não estudar nos conduziria a estagnação e, conseqüentemente, à infelicidade.
Somos curiosos por natureza e temos o impulso para aprender desde o nascimento. Uma coisa é aprendermos aquilo que nós apreciamos. Outra seria insistirmos em aprender algo que não desejamos. E o verdadeiro idealismo sempre caminha junto com o querer autêntico.
Da mesma forma, o trabalho nos faz sentir útil, desde que o façamos com a certeza de que estamos dando algum tipo de contribuição significativa, o que atende outra de nossas necessidade.
Eu, por exemplo, abandonei o militarismo justamente por isso. Ficava me perguntando o porquê de me preparar para uma guerra que não existe e que se existir, provavelmente atenderá desejos de outras pessoas (quem sabe do Bush?). Pior, seria necessário que eu abrisse mão de grande parte de minha sensibilidade e de determinados valores para atender os caprichos trogloditas da rotina militar.
Troquei-o por outro que, apesar dos problemas, me faz sentir mais útil. Creio que, agora, de alguma forma, estou dando algum tipo de contribuição mais positiva, de acordo com minha sensibilidade e valores.
Labrego escreveu:O problema é que esse tipo de comportamento pode se generalizar na gente, principalmente, se formamos nossas ideologias visando a atender os interesses de outros e não propriamente os nossos. Com isso acabamos ficando eternamente insatisfeitos pois para sermos felizes os outros deverão ser também, ou seja, colocamos a felicidade do próximo como mais importante que a nossa.
Um dia iremos morrer, é óbvio. Não fazemos a mínima idéia do que virá após a morte, se é que venha alguma coisa, mas tenho certeza de que, quando partir, futuras gerações seguirão depois de mim. E tenho dentro de mim uma grande necessidade de deixar um legado, tendo a certeza de que fiz a diferença na vida de alguém. E isso não é tão pessoal assim! Quem possui filhos devem saber disso melhor do que eu.
A nossa felicidade não seria em função da felicidade dos outros, mas de ao menos termos procurado, ao máximo, fazer nosso papel.
Labrego escreveu:E realmente, o próximo merece a felicidade que desejamos para ele? O que ele faz por si mesmo? Oras, ele faz tudo aquilo que tivemos vontade de fazer e não fizemos para poder estudar, trabalhar e se adaptar a um ambiente social e profissional. Entende como nós projetamos nossas necessidades nos outros achando que eles estão sentindo falta daquilo que estamos sentindo para nós mesmos? Isso eu chamo ideologia: quando os interesses do próximo são mais importantes que os nossos. Às vezes, nossos interesses nem são os mesmos dos outros e queremos dar uma de teimosos convencendo nossos próximos de que aquilo que nos interessa também é importante para ele. Ele, se achar vantajoso, fingirá que concorda somente para tirar vantagens se por acaso aquela idéia que ele chama de maluca der certo.
Acho que tudo isso é uma questão de compreensão. Se tenho a intenção de fazer uma pessoa feliz, preciso fazer um esforço em compreendê-la como indivíduo único que ela é, para aí sim, a partir daí, promover meios que a façam feliz.
Um dos erros que comuns do magistério é esse. O professor costuma desenhar em sua mente um padrão, seguindo-o sempre, ignorando que numa sala de aula existem alunos de diferentes tipos. Ou, às vezes, valoriza mais os alunos que obtém bons resultados, ignorando aqueles que apesar de não terem bons conceitos, apresentam um grande potencial, mas que nunca serão explorados, pois o professor só ensina de um jeito, mas muitos alunos só desenvolveriam seus potenciais de outro.
Não acho que o próximo mereça a felicidade que desejamos para ele antes de o compreendermos. Somente após a devida compreensão podemos detectar aquilo que o faria realmente feliz e assim desejar e contribuir para a felicidade que ele realmente mereçe.
Também não me simpatizo com a idéia de valorizarmos mais os interesses dos outros do que os nossos, mas aí já seria uma questão de baixa auto-estima, de quem não valoriza suficientemente seus próprios interesses. Saiba que não defendo que todos os tipos de ideologias são vantajosos. Se essa for sua idéia de ideologia, concordo que, nesse aspecto, ela seria dispensável.
Labrego escreveu: Lamento mas tudo isso que estou falando aqui eu também já fiz como idealista. Hoje até tiro vantagem dos idealistas. Eles são ótimos para a gente passar a perna e tomar o lugar.
Isso me soa um tanto desumano, Labrego. O quê o motiva a fazer isso?
Abraços!