Procedure escreveu:Porque numa mecânica de darwinismo social, na qual funciona a economia liberal,
"Darwinismo social"... Que bela forma de deturpar a lógica do mercado. Todo defensor do livre mercado é, por conseguinte, um defensor da eugenia, um desumano! Um darwinista social![/quote]
Não preciso descer ao nível do chilique ideológico. Se você se diz liberal, defende a sobrevivência do mais apto num contexto de concorrência mercadológica, logo...
Se você quer usar o eufemismo de "lógica do mercado", problema é seu. O mercado é uma mera abstração humana para explicar meia dúzia de relações de produção e troca de bens, vai seguir a lógica do que for socialmente interessante aos seres envolvidos.
Procedure escreveu:Então seria melhor manter as empresas ineficientes, por benevolência para com seus proprietários? O Wal-Mart é grande e desbanca muito vendendor de esquina porque oferece produtos de alta qualidade a preços mais baixos, de forma que os consumidores escolhem voluntariamente comprar ali, e não no vendedor da esquina. Se ele é grande, é porque o consumidor o fez assim, não por que o "Sr. Mart" fez uso de algum meio ilícito para atrair consumidores. A dinâmica do mercado compreende não só a criação de novas empresas a todo instante, como também a eliminação das ineficientes segundo o consumidor.
Mais darwinismo social...e não, existem mil formas de se boicotar outras empresas. As cervejarias brasileiras fizeram isto com a Kaiser a partir da AMBEV, e, pasmem, a Coca-Cola fez algo aindam ais divertido com o tal Guaraná Jesús lá no Nordeste, que vendia como água: comprou a firma e parou gradativamente de produzir a mercadoria, até aumentando seu preço, colocando Coca-Cola no lugar. Não sei como a situação se resolveu, mas até aí não vejo muita escolha do consumidor.
Ainda assim, é necessária uma massa de consumidores bem grande para "fazer valer" qualquer produção ou coisa do tipo, o que é até bastante anti-individual.
Procedure escreveu:Mesmo um já bem estruturado Wal-Mart da vida não se pode dar ao luxo de estabelecer "os preços que quiser" a seus produtos. Ele deve enfrentar a concorrência daquelas empresas que surgem a todo momento. Manter uma grande empresa dominante também requer o mérito de oferecer produtos e serviços demandados pela sociedade aos preços mais baixos.
Quando se está no topo e se dispõe de muito capital de giro, é mole. Vira, no fim das contas, uma concorrênciazinha monopólica, onde os valores variam muito pouco, como o próprio caso dos supermercados.
Procedure escreveu:E? Que sejam eliminados os que não foram capazes de prever uma crise ou se adequar rapidamente às exigências do consumidor.
Mais darwinismo social, muito legal.
Procedure escreveu:!!?
E em que ambiente de livre concorrência um produto de péssima qualidade vai gerar mais lucro do que um de ótima qualidade? O foco final de qualquer empreendedor é o lucro, óbvio. E para alcançá-lo não deve abrir mão de produzir com mais qualidade do que o concorrente.
Você parece não entender postagens...eu não disse que eu necessariamente VOU produzir algo de péssima qualidade, eu disse que se uma contingência me levar a tal, eu PRODUZIREI, pois o que importa é meu lucro e não o produto em si.
E em muitos ambientes, principalmente em nichos econômicos onde vigoram os produtos de preços muito baixos e qualidade tão baixa quanto.
Mas no mundo liberal da fantasia, onde toda essa anarquia de vontades funciona magicamente sozinha, tudo vai bem...
Procedure escreveu:Não poderíamos esperar outra coisa do torto e alejado liberalismo do Brasil... Aliás, chamar o que temos aqui de liberalismo é piada mesmo.
E queira Deus que nenhum néuliberau maluco assuma as rédeas dessa porra. Eu gosto do meu país.
Procedure escreveu:Entre trabalhar e morrer? Trabalhar, óbvio. SE as condições forem apenas estas duas.
E aí o seu trabalho não é medido por mérito, mas por contingência do capitalismo local? Que gracinha.
Prefiro até uma organização comunal que seja mais benéfica à população local do que esta porra.
Procedure escreveu:Mesmo que as opções de trabalho no começo sejam escassas, é o sistema de livre mercado que permite a ascenção social e o desenvolvimento das oportunidades de trabalho, e, conseqüentemente, das suas condições e da qualidade de vida geral da população.
Mentirada das grossas. O que permite a melhoria das condições de vida de uma população é o desenvolvimento econômico da nação à qual ela está subjugada. E não há forma de bolo para isso. Várias fórmulas foram aplicadas em vários lugares do mundo e funcionaram.
Procedure escreveu:Em As Seis Lições, Mises escreve algo interessante a respeito, sobre a revolução industrial inglesa e as condições de trabalho que lá existiam:
"A velha história, repetida centenas de vezes, de que as fábricas empregavam mulheres e crianças que, antes de trabalharem nessas fábricas, viviam em condições satisfatórias, é um dos maiores embustes da história. As mães que trabalhavam nas fábricas não tinham o que cozinhar: não abandonavam seus lares e suas cozinhas para se dirigir às fábricas - acorriam a elas porque não tinham cozinhas e, ainda que as tivessem, não tinham comida para nelas cozinharem. E as crianças não provinham de um ambiente confortável: estavam famintas, estavam morrendo. E todo o tão falado indescritível horror do capitalismo primitivo pode ser refutado por uma única estatística: precisamente nesses anos de expansão do capitalismo na Inglaterra, no chamado período da revolução industrial inglesa, entre 1760 e 1830, a população do país dobrou, o que significa que centenas de milhares de crianças - que em outros tempos teriam morrido - sobreviveram e cresceram, tornando-se homens e mulheres.
Mises deveria continuar escrevendo sobre Economia, pois é um completo imbecil tratando de História. As condições de vida da população britânica, durante a Revolução Industrial, melhoraram em torno de um pequeno grande centro, onde pequenos nichos de "favelas" se tornaram mão-de-obra farta. A inserção de indústrias de alta capacidade de degradação física (e nisso contamos muito aquelas com possibilidades de amputação, como boa parte das primeiras máquinas têxteis ou metalúrgicas ou mesmo as máquinas à carvão, que detonavam os pulmões dos trabalhadores) diminuíram, e muito, a princípio, as condições materiais de vida da população que vivia da pequena agricultura (sempre sujeita a crises de subprodução, é claro) em regiões mais afastadas. A variação de expectativa de vida é enorme dependendo da região, e isso já foi registrado na "Situação do Operariado Inglês..." do próprio Engels. Se quiser uma visão empírica que te dê números, leia "Industry and Empire: The Birth of the Industrial Revolution", do Hobsbawn ou até mesmo o seu mais geral "A Era das Revoluções".
Procedure escreveu:Não há dúvida de que as condições gerais de vida em épocas anteriores eram muito insatisfatórias. Foi o comércio capitalista que as melhorou. Foram justamente aquelas primeiras fábricas que passaram a suprir, direta ou indiretamente, as necessidades de seus trabalhadores, através de exportação de manufaturados e importação de alimentos e matérias-primas de outros países. Mais uma vez, os primeiros historiadores do capitalismo falsearam - é difícil usar uma palavra mais branda - a história."
Com o tempo, até certa parte do século XX, as condições de vida na Inglaterra, Estados Unidos, e outros países que adotaram o livre mercado apenas melhoraram.
Cara, eu já ouvi esse bla bla bla dogmático e estruturalizante tantas vezes que até cansei. Em nada perde para as "lutas contra as elites neo-liberais em favor do socialismo e contra o imperialismo".
Boa parte das condições de vida na Inglaterra e nos EUA melhoraram, e isso a custa de muito sangue operário, devido a batalhas sindicais fortíssimas que impediram as loucuras de gastar mais de 10 horas diárias esfacelando seu organismo num serviço braçal pesado.
Procedure escreveu:Inveja? Não, nem um pouco.
Não falei de inveja. Eu seria invejoso se estivesse desejando aquele dinheiro, da mesma forma, e sem méritos, para mim. Não o fiz.
Procedure escreveu:Para não complicar, então: eles estão ganhando o dinheiro de uma forma desonesta? Usaram da coerção para fechar negócios que lhes fossem lucrativos? Roubaram?
Não. Apenas assumiram um risco, compraram algo hoje para, com sucesso, vender por mais amanhã. O texto comenta algo que faz a atividade parecer não tão digna de repúdio: quando o dono de um mercado julga provável haver escassez de certo produto amanhã, de modo que seu preço aumente, trata de comprar mais hoje para deixar em estoque. Ele também é um especulador. Um consumidor que adia ou antecipa as suas compras para pegar um período de preços mais baixos também especula. Será eticamente condenável se ele resolver revender por um preço mais alto o produto que comprou?
E sobre "eles mesmos poderem causar aumentos ou declínios dos valores de determinado bem", há um trecho no texto que fala exatamente sobre isso, parece até que foi escrito em resposta diretamente a você. Dê uma lida novamente lá no texto, vai, não custa!
"Mas pelo fato da especulação transmitir os preços maiores esperados no futuro para o presente, ela é denunciada como a causa desses maiores preços. Aqueles que assim o fazem estão ignorando que os estoques acumulados no presente como resultado da especulação terão que ser usados algum dia, e neste momento irão necessariamente agir de forma a reduzir os preços. Além disso, se os especuladores errarem em suas estimativas, eles mesmos são quem pagam o preço, pois compraram o produto e investiram em sua estocagem pagando preços maiores, sendo que deverão vender a preços mais baixos, arcando com o prejuízo. Se, por outro lado, acertaram na previsão, apenas anteciparam uma mudança na relação entre a oferta e a demanda, suavizando seu impacto nos preços no tempo.
[...]
Aqueles que culpam os especuladores por uma alta nos preços presentes estão ignorando um princípio básico de economia. Estão confundindo correlação com causalidade. Estão, em suma, condenando um termômetro por mostrar a febre do doente."
Eu não falei de desonestidade, cara. Falei de "falta de mérito".
E, bom, a grande questão do efeito reflexo é justo o fato dessa mesma especulação em torno do suposto acúmulo ou ausência desses estoques causar furor e mover o mercado. Não que isso, da mesma maneira, dentro do sistema capitalista, seja desonesto, mas me parece um efeito insano.
Procedure escreveu:Mas movimentam.
Yeah.
Procedure escreveu:Absurdo! De onde tirou isso? Não sou nenhum pregador do anarquismo. Que história é essa de que o capitalismo compreende corrupção, desvio do capital de outrem?? É exatamente para evitar a coerção de um indivíduo por outro que serve o estado em uma sociedade liberal.
Se o centro da produção fosse o produto, e não o lucro, ou o trabalho, e não o salário, não haveria esse "germe" em torno da própria corrupção. E esse é o meu ponto contra o capitalismo.
Infelizmente, não surgiu nada melhor no mundo até agora.
Procedure escreveu:E nada mais natural do que um homem buscar o lucro. O que não significa que você tenha que necessariamente pisar em outras pessoas para consegui-lo, como anticapitalsitas fazem parecer! É justamente a presença do estado liberal que garante o que foi dito antes: "em um contrato voluntário, ambas as partes se beneficiam". Eu não posso te forçar a comprar um produto e, conseqüentemente, lucrar. Só posso lucrar se produzir algo que você deseje obter. Não posso usar da coerção, só há negócio quando ambos saem ganhando. Eis aí o mérito do capitalismo.
Bom, há dois problemas aí: primeiro, se o lucro fosse algo "natural", toda sociedade, desde sempre, o apresentaria como fator imanente. Para mim, é uma construção histórica como outra qualquer.
Segundo, eu já disse acima que posso ter contratos, voluntários ou não (na teoria e/ou na prática) que beneficiem apenas uma parte, de uma forma geral.
Eu não acredito nessa fórmula perfeita de felicidade.
Procedure escreveu:Como assim "é claro"? Então concorda comigo? Pois há uma enorme diferença entre o tipo de atuação estatal que eu prego e o que você prega. Você advoga por controle de produção, controle de preços, protecionismo e outras coisas totalmente contra o mercado livre. O que contrasta com o estado atuante em economias liberais: estímulo à livre iniciativa, estímulo à livre concorrência, ausência de protecionismo, não-intervenção em preços e produção, etc.
Não é válido colocar lado a lado essas duas formas de "planejamento", de atuação do estado.
Eu concordo com qualquer sistema que funcione: que seja perfeitamente benéfico à população, que traga melhorias materiais para todos e que gere o menor grau possível de violência.
Não vejo o capitalismo fazer isso. Daí, o máximo que eu apóio é um capitalismo de Estado, controlado, com burocracia pouco sufocante e serviços acessíveis à população.
Até porque, acho que existem fatores muito maiores que liberdade de iniciativa para levantar um país.
Procedure escreveu:O país é "fudidão" mesmo? As pessoas estariam sendo forçadas a abdicar de um padrão de vida superior caso aceitassem as condições de trabalho oferecidas pelas empresas americanas? Em nenhum país do mundo as pessoas se submeteriam a um emprego que as deixasse em situação pior do que as que vivem.
Não se o estabelecimento desse novo modelo de produção destruir o antigo de forma a deixar essas pessoas sem opção. Em certas áreas de Liverpool, isso foi bem comum.
Procedure escreveu:Aliás, tenho certeza que existem muitas pessoas neste pobre Brasil que dariam um dedo para ter um emprego de, digamos, limpador de esgotos, gari, lixeiro, quebrador de pedras embaixo de um sol rachante, etc, por um salário de R$ 500,00 mensais, por exemplo. Pessoas que tem menos que isso, que estariam dispostas a enfrentar as adversidades de tais serviços para garantirem seu alimento e melhorarem os seus padrões de vida, pessoas que ficariam bastante felizes por terem arranjado um emprego.
Credo. E depois ainda me perguntam poque é que eu sou contra essa tralha! Um bendito dedo para um salário de fome, trabalhando feito um condenado, tudo em nome da "liberdade do trabalho voluntário".
Procedure escreveu:Acha mesmo que pessoas assim se sentiriam "exploradas" por tais condições de trabalho?
E você, com seu atual padrão de vida, aceitaria uma função destas? Ou não necessariamente essas, mas alguma outra que só te permitisse ter um padrão de vida inferior ao que atualmente tens? E quanto a alguém com um padrão de vida superior ao seu, estaria correta ao dizer que seria "exploração" um emprego com as condições de trabalho que você tem atualmente?
Não sei. Não acho que "exploração" passe tanto por um juízo de valor. Mas o ponto, como eu disse, não é optar por um padrão de vida inferior, é NÃO ter opção de se manter no padrão de vida atual.