clara campos escreveu:Obrigada andré, é dificil para mim ter este debate em portugal porque é uma realidade que desconhecemos.
Se não te importas vou bater n'algumas teclas apenas para te "obrigar" a explorar um pouco tema, porque isso ajudar-me-á a clarificar algumas ideias.
Talvez seja casmurrice minha, mas queria muito compreender melhor esta situação que muito me intrigou. Talvez seja só uma cisma
Quando dizes que o medo da tomada do poder por minorias intelectuais articuladas é um medo de esquerda é porquê? Havia na altura uma maior proporção de minorias intelectuais de direita? Estas não teriam também um receio semelhante?
E ainda em relação à fonte que assume a democracia brasileira como inconsolidada...
bem tudo isto me parecem estratégias (não propriamente democráticas) para a manutenção da democracia, e estranha-me esse receio... esse medo aparentemente pujante de que a democracia caia... bem, não formulei propriamente uma pergunta, mas parece-me que saberás detectar aqui as minhas dúvidas... poderás fazer um pouco de advogado do diabo?

Primeiro é um prazer teclar com vc, e gostei muito das suas mensagens no debate sobre socialismo e liberalismo.
Colocando agora as gentilezas para trás.
Eu talvez não tenha sido claro. Quem se tornou maioria intelectualizada durante o regime militar, ou pelo menos essa é a impressão dominante, foi a esquerda. Não uma esquerda militante, essa foi perseguida, mas uma perspectiva de esquerda dentro desses ambientes.
Ai quando foi hora de democratizar a direita temia que se apenas os politizados votassem a esquerda venceria, logo todos devem votar, e como culturalmente o povo brasileiro é conservador, os antigos políticos do regime militar poderiam fazer a transição para democracia muitos se mantendo no poder. Como foi o caso de ACM que foi prefeito, e governador da Bahia durante o regime militar, e que com a democratização foi eleito e fez sucessores várias vezes, sendo derrotado poucas vezes nas urnas, por Waldir Pires, e mais recentemente por Jacques Wagner. Faleceu recentemente. Foi somente um exemplo.
Logo o argumento contra o voto por medo de uma minoria, há época, refletia um medo de uma minoria de direita pertencente a elite política e econômica (coisa de menos de 1 por cento da população), para com uma minoria universitária, ou com passagem universitária, que tb é pequena, mas deve ter influencia sobre uns 7 a 10 por cento da população.
Hoje com o crescimento da direita na classe média o medo se inverteria. Porém tb é infundado, o medo, pois o volume de pessoas que ativamente participam das eleições vindas das classes mais baixas é considerável, e mesmo com o voto facultativo tudo leva a crer que permaneceria alto, sendo a diminuição da parcela que participa provável em diversas classes e não somente nos pobres. Pois a desilusão com a política é um sentimento geral. Talvez a desilusão maior seja com os políticos.
Com coisas como Bolsa Família os pobres estejam até mais mobilizados para manter determinados programas sociais, do que a classe média, difícil julgar.
Talvez eu ainda não esteja totalmente abordando o que vc deseja, mas acredito que a gente chega lá. E com vc eu não me incomodo do debate durar.