aknatom escreveu:André escreveu:Fernando escreveu:André escreveu:Mas quem disse que não tem sentido? Vc? Ou qualquer outro?
O máximo que pode dizer é que não tem sentido para vc, não pode falar pelos outros.
Chame do que chamar, encontrar um sentido próprio, algo como um pai cuidar dos filhos, um professor que ensina os alunos, ...um sentido que vc deu a sua vida, isso além de ajudar na realização pessoal, significa uma contribuição para o bem estar de outros. Em diferentes níveis é algo admirável, claro quando realizado de forma ética.
Estudos sobre felicidade indicam que a felicidade mais duradoura está ligada ao sentido de contribuição. Além de ter efeitos práticos, quem somos nós para definir pelo outro o que lhe fornece significado.
O máximo que nos cabe é avaliar e definir para nós mesmos o que nos fornece significado, e se nada professar isso, mas não universalizar o que é uma conclusão válida para si como se fosse válida para todos.
Ué. Dizer que cada um dá o sentido que quer à vida não é o mesmo que dizer que ela não tem um sentido real? Ou eu estou errado?
Para mim, sim. Pois dizer que a vida não tem sentido, se não for restrito a vc, é universalizar uma opinião sua para todos. Que vc supõe que é válida para os outros, mas que os outros, eu, por exemplo, não concordo. Caracterizar isso como auto-alienação é apenas uma forma de procurar desmoralizar uma posição que não concorda e como o aknatom demonstrou o que pode ser feito pelo outro lado igualmente.
Já dizer que cada um dá sentido a vida a sua maneira é outra forma de dizer que a vida pode e tem diversos sentidos diferentes. Definidos por cada individuo.
E para mim a vida tem sentido, mas não um único, universal. O sentido que a vida tem varia de indivíduo para indivíduo. E esse sentido é real, tem valor, ela apenas não é único.
Quem pretende dar um sentido universal e único são normalmente as religiões. Como o sentido "todos devem temer a Deus" ou "Todos devem aceitar Jesus como Salvador" e coisas afins.
A não existência de um sentido único universal, ou como vc chamou "real", não implica na inexistência de sentidos. Implica na pluralidade e variação de sentidos, existentes, e assumidos pelos seres humanos, em sua heterogeneidade.
No budismo que pratico temos dois conceitos de objetivos "universais", que são mais um caminho do que uma meta.
São os conceitos de Revolução Humana, que é procurar o auto-desenvolvimento, o auto-conhecimento e o autodomínio. É não permitir a própria derrota diante das dificuldades, diante do eterno retorno, e quando o limite das forças for alcançado, superar os próprios limites.
O outro conceito é Kossen-Rufu, que pode ser erroneamente traduzido como Paz Mundial. É promover uma Revolução Humana no nível social, permitindo que uma cultura que fomente a Revolução Humana individual se torne a base da sociedade.
Apesar de serem objetivos tidos como "universais" não são únicos, já que a especificidade de cada ser humano determina o que é Revolução Humana e em qual aspecto este pode agir pelo Kossen-Rufu. Isto é, mesmo existindo um objetivo "universal" e "único", ele ainda assim permite e necessita da valorização e da atuação de cada pessoa para que tenha sentido.
São mais flexíveis, pois se sujeitam a heterogeneidades dos indivíduos e sua relação com que significaria para ele Revolução humana. Imagino devem ter diretrizes gerais e interpretações predominantes, mas pelo que vc diz há abertura.
O problema não está no sentido universal que os teístas acreditam, o problema está em supor que esse sentido universal que ele acredita, é ou deve ser válido para todos. Ai cai invariavelmente em algo impositivo. Infelizmente a própria linguagem autoritária de boa parte das religiões colabora para isso.
Eu tenho princípios e valores que acredito e que defendo, e obviamente gostaria de ver-los difundidos. De solidariedade, de valorização do outro...Porém sei que os compartilho com muitos, mas que qualquer pessoa tem o direito de não compartilha-los e não ver sentido algum neles. Eles não se tornam menos reais ou importantes para mim, eu apenas demonstro que posso democraticamente respeitar que eles não compartilhem o que eu valorizo. Operação que não é fácil, mas ser verdadeiramente democrata não é.