______________________________
Resumo para quem não estiver com saco para ler tanto: fazer barraco e dispensar muita atenção é fazer o jogo deles, e pode ser contraproducente na tentativa de combater as mentiras que eles promovem (ver a citação no final da mensagem)
______________________________
Como o Abmael colocou em outro tópico, não vale a pena perder muito tempo. Não só com adventistas, mas com criacionistas em geral (que muitas vezes nem são criacionistas de verdade, mas tem nisso só um tipo de passatempo idiota, como o emmmmcri e uns outros) e outros defensores de idéias malucas.
Depois de quase sete anos debatendo e vendo debates relacionados na internet, só ouvi falar de uns poucos criacionistas que deixaram de ser: um está até aqui entre nós e também é adepto de criar múltiplas contas em fórum, e os outros foram apenas depoimentos aqui e ali.
Acho que o melhor modo de agir é simplesmente colocar algum link para alguma coisa como talkorigins, sendo bem breve, talvez mencionando que as coisas dessa categoria são sempre os mesmos erros e mentiras, de novo e de novo, e que quem procurar não tendenciosamente pela internet (especialmente se souber inglês), vai encontrar.
A partir daí minimiza-se significativamente a possibilidade de pessoas um pouco menos interessadas simplesmente caírem na conversa deles e ficar por isso mesmo, achando que os cientistas são um bando de farsantes, que o método científico é uma bosta porque Feyerabend disse que sim, etc.
Depois disso, acho que se as pessoas não conseguem ir atrás da informação adicional por si próprias talvez mereçam mesmo so chifres intelectuais que foram colocados, e o problema acaba meio que passando para o lado político da coisa; talvez seja mais um assinando petições a favor de criacionismo e astrologia nas escolas ou contra a evolução, genética e sistema métrico.
Mas principalmente acho contraproducente ficar fazendo esses "barracos" ratinhescos concentrando em chamar de mentioroso e desonesto, com letras enormes. Em muitos casos, pode ser mera ignorância mesmo. Aí é um prato cheio para depois mostrarem para outros coleguinhas como os só se defende as áreas da ciência não condizentes com a interpretação funadmentalistas dele na base do ad hominem.
Alguns talvez tenham presenciado um enorme barraco que aconteceu nos tempos do fSTR, envolvendo um punhado de criacionistas e se espalhando até os grupos de discussão do UOL... faz parte da tática chamar atenção.
Esse barraco atual, por exemplo, acho que é tudo que ele poderia querer. Não acho que seja o caso mesmo, mas fico imaginando se criacionistas não poderiam se beneficiar de ficar criando contas adicionais para criar esses barracos.
O principal problema do caso de Chernobyl, não é que ele tenha mentido, cortado partes da matéria, nem nada, ainda que tenha ou tivesse mesmo feito. O principal é que - como praticamente tudo que ele fala - não tem a menor importância para refutar a evolução ou sustentar a criação especial dos seres vivos e etc.
A evolução não ocorre devido a contaminações radiativas. E como apontado, talvez até seja um caso de evolução de alguma resistência a radiatividade, ou meramente a descoberta de que alguns animais ou todos são menos suscetíveis a radiação vestigial do que se pensava originalmente. E não se pensava originalmente nada disso baseado na teoria da evolução; não é uma previsão que se mostrou falsa sobre evolução, seria sobre como os genes são suscetíveis a radiação, ou sobre a própria natureza da radiação.
Quanto ao restante dos argumentos do doc de oz especificamente são basicamente três tipos: criacionistas clássicos, que dispensam maiores comentários - como que as mutações são sempre deletérias, que a evolução não é observada, aparentemente que nem a microevolução é observada, que macroevolução não é a mesma coisa que micro (como em raças de cães), etc, etc, etc.
Depois vem associações de evolução e cientistas com coisas condenáveis, seja nazismo/capitalismo/marxismo/stalinismo, racismo ou o que ele preferir; argumentos bem "engana trouxa", bem para impressionar os mais pobres coitados sem noção de epistemologia alguma. Darwin poderia ter inventado a evolução sozinho, poderia ter escrito no seu diário ou em "sobre a origem das espécies" algo como:
"Bem, eu gostaria que os negros fossem cientificamente considerados inferiores que a minha raça. Para poder justificar essa inferioridade, creio que poderia existir um mecanismo como que de modificação na descendência, na qual alguns organismos vão se aperfeiçoando com o tempo, estando os negros e outras raças abaixo dos brancos, mais próximos aos macacos. Me parece melhor do que o embasamento bíblico para a escravidão e inferioridade racial, ou sugerir criações especiais para as raças, como também poderia fazer. Essa teoria foi baseada no conceito da mão invisível de Adam Smith, é basicamente a mesma coisa, aplicada à ecologia em vez de economia, e descrevo a seguir:..."
Nessa altura do campeonato, não teria a menor importância, epistemologicamente falando. Seria decepcionante, o Darwin de verdade felizemente é muito distante disso e abominava a escravidão. Mas Darwin também poderia ter sido um estuprador pedófilo e colocado qualquer coisa sobre ser tudo bem porque é a lei do mais forte ou algo assim, e novamente, não mudaria nada sobre o que se descobriu sobre a o parentesco entre todos os seres, nem mesmo sobre as demais evidências presentes no livro. Além disso, os livros de Darwin tratam muito mais de biologia propriamente dita, e nem é ele o descobridor da evolução, seja da seleção natural ou da ancestralidade comum universal. A maior parte dos seus livros se trata de exposição de evidência sobre essas coisas, que até o precedem - ele inclusive menciona Aristóteles e o Conde de Buffon como inspiração. Ainda tem o Wallace e o Lord Burnett mais ou menos na mesma época, de diferentes classes sociais, para ajudar a "desenviesar" a coisa toda - o que, repetindo, nem teria importância, contanto que as evidências se sustentem.
Assim não importa se existia racismo na Europa na época, se o Stephen Jay Gould (que era marxista e tinha suas implicâncias com a seleção natural) acha que a seleção natural se parece muito com capitalismo, etc. Há também do outro lado os capitalistas que preferem atacar a evolução por associá-la ao comunismo, dizendo que é inspirada ou inspirou a idéia da luta de classes e etc; cada lado ataca com aquilo que não gosta, tentando associar para atrair pessoas já adeptas de algum lado - comunista ou capitalista - para algum fundamentalismo específico.
Por último, uma das mais originais que merece algum destaque, e essas eu considero realmente as mais desonestas que já vi, são as colagens de recortes praticamente aleatórios sem ligação nenhuma com qualquer refutação de qualquer coisa que seja de evolução, ou evidência para criações especiais, terra Jovem e etc.
São meio como:
docdeOSX escreveu:A evolução, o mecanismo das mutações está muito longe de ser explicado. Vejam aqui, sobre o processo de metilação.
A metilação, que é a associação de algum componente do grupo metil em alguma outra coisa. Quando em associação com os sítios CpG (por que necessariamente com esses sítios CpG? Seria algo relacionado com a segunda lei da termodinâmica, que nunca é violada?), o efeito que tem é de permitir alterações hereditárias em linhagens somáticas não baseadas em modificações nas seqüências de genes.
E para complicar mais ainda, essa associação pode em alguns casos se dar não com o ADN, mas com as proteínas sintetizadasSão todos mescanismos de herança epigenética.
Há ainda diferentes pecularidades na metilação entre os diversos grupos de seres... mesmo entre os vertebrados, como diferenças entre os mamíferos e os demais.....
E o que isso teria a ver com refutar qualquer coisa evolução? Ou evidenciar criações separadas? Nada.
Mas é aparentemente complicado, tem esses diagramas de moléculas e etc, jargão técnico, pode impressionar. E depois, como ele ainda teve a cara de pau de falar, pode dizer que é preciso algum nível de entendimento mais profundo da coisa para compreender o impacto disso aí, e que é por isso que nós, pobres mortais, não médicos, não compreendemos.
Por mais revoltante que isso seja, dedicar esses posts todos (onde acabo sendo até quase contraditório ao postar esse, mas a intenção é vender a idéia de não perder tempo com isso, ser breve e conciso, sem fazer barraco...) acaba dando a atenção demasiada e não merecida, a "não-questões", e inclusive prejudicando em vez de ajudar, talvez...
Há algum tempo saiu uma notícia de que pesquisadores descobriram que, ao tentar se refutar um mito, pode-se acabar ajudando acidentalmente a perpetuá-lo, porque implicitamente está se dando a ele algum crédito mínimo ao abordá-lo, e assim apenas o "volume", quantidade da discussão, faz parecer que é alguma "controvérsia" científica de verdade. É claro que isso é uma falácia: não é a existência de um rebuliço popular em si que de fato dá mérito ao debate, mas é uma percepção que ocorre inconscientemente, eles argumentam. Só para uns poucos que absorvem a coisa mais pela qualidade, pelos detalhes específicos, é que a coisa adianta.
Kentaro Mori escreveu:
Se você quiser desbancar um mito, você o cita claramente, e então mostra como é falso, certo? Certo. Mas o Washington Post publicou um excelente artigo (em inglês) detalhando pesquisas recentes mostrando que:
Negações e esclarecimentos, apesar de todo seu apelo intuitivo, paradoxalmente podem contribuir para a persistência de mitos populares ... A repetição parece ser a principal culpada. Coisas repetidas com freqüência tendem a ser mais acessíveis à memória, e uma das regras de funcionamento do cérebro é a de que coisas facilmente lembradas são verdadeiras ...
Experimentos por Ruth Mayo, psicóloga social cognitiva da Hebrew University em Jerusalém, também mostraram que para uma porção significativa das pessoas, o "rótulo de negação" de uma negativa desvenasce com o tempo.
Isto é, ao citar um mito, ainda que para contrariá-lo, você ajuda a promovê-lo. A resposta seria então o silêncio?
Infelizmente, a resposta a essa questão também parece ser não. Outro estudo recente descobriu que quando acusações ou afirmações são recebidas com silência, é mais provável que sejam percebidas como verdadeiras.
Uma solução possível seria...
Mayo notou que ao invés de negar uma alegação falsa, é melhor fazer uma afirmação completamente nova que não faça referência ao mito original.
Mas a pesquisadore também reconheceu que a afirmação nova pode acabar sendo inacurada de certa forma, uma vez que busca negar algo sem ao menos mencioná-lo, e pode não ser uma alternativa em alguns casos.
Infelizmente, tais estudos reforçam que a informação voltada ao público em geral deve ser cuidadosamente construída. A ponto de que os detalhes e minúcias de uma questão podem bem acabar sendo impossíveis de abordar de forma ampla. Os estudos, originais em inglês no formato PDF, podem ser baixados aqui, aqui e aqui.
http://sitemaker.umich.edu/norbert.schw ... raight.pdf
http://www.apa.org/journals/releases/psp925821.pdf
http://pluto.mscc.huji.ac.il/~mschul/ya ... in-neg.pdf