
A porcelana comum resulta de um processo cerâmico triaxial, ou seja, é formada por três elementos: argila, feldspato e quartzo. A argila, fundamental para a produção de cerâmica, combina-se com o feldspato, que é transformado em vidro quando submetido a altas temperaturas e tem a propriedade de reduzir o ponto de fusão do quartzo quando misturado a ele, além de dar mais resistência ao material.
Já a porcelana desenvolvida por Miyahara retoma a técnica surgida na Inglaterra no século 18, que utiliza cinzas de ossos e caulim acrescidos de cornish stone , minério da família do feldspato detentor de propriedades adesivas. “Devido à elevada proporção de ossos, o custo é alto para a obtenção das cinzas de ossos, mas a porcelana resulta mais alva e resistente”, diz o físico. A diferença entre a tradicional fórmula inglesa e a porcelana brasileira é a maneira de produção. Substituindo o cornish stone pelo feldspato nacional, o pesquisador chegou a uma nova proporção que se funde à temperatura de 1.270°C, em comparação com os 1.400°C necessários para a queima da porcelana comum.
“Essa redução da temperatura de queima representa um menor gasto na produção do material, uma vez que o processo de queima pode chegar a 40% do custo do produto. A porcelana adquire maior valor agregado por ser um produto de excelente qualidade, chegando a ser quase duas vezes mais resistente que a comum e mais branca que a porcelana de ossos inglesa”, esclarece Miyahara.

Ossos bovinos após o tratamento para obter a cinza, que, misturada ao caulim e ao feldspato, é utilizada para a fabricação da porcelana.
Biocompatibilidade
O novo composto, quando aplicado em material cirúrgico, como implantes ósseos e odontológicos, apresenta uma vantagem adicional. As cinzas de ossos utilizadas na fórmula contribuem para a pouca rejeição corporal ao objeto inserido, devido à presença da hidroxiapatita, minério encontrado na natureza e, portanto, biocompatível. Esse potencial para bioimplantes solucionaria a rejeição a materiais como a platina, atualmente aplicada na fixação de dentes e em implantes ortopédicos.
De acordo com Miyahara, a descoberta tem grandes chances de conquistar o mercado de implantes. O estudo está em fase de testes finais para que possa ser encaminhado para avaliação industrial, quando será analisada a viabilidade de produção da porcelana de ossos em larga escala. A possibilidade de o Brasil produzi-la, deixando de importar o produto da Inglaterra, China e Estados Unidos, únicos países produtores expressivos de porcelana, significaria um nicho de mercado promissor. “Como o Brasil é um dos maiores criadores de gado bovino do mundo e tem grande tradição na fabricação de produtos cerâmicos, temos condições de produzir essa porcelana em grande quantidade, podendo até nos tornar um grande exportador do material”, conclui Miyahara.