Poesia e afins...

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Fedidovisk
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Poesia e afins...

Mensagem por Fedidovisk »

Estavas eu passeando pela rede, e me deparo com essa "coisa" !

http://poesias-macabras.blogspot.com/

Leiam e tirem suas conclusões... :emoticon16:

Mas a intenção do tópico e fazer um "trade" de informações no que diz respeito a poesias e etc.

Não sou muito adepto, mas gostaria de fazer algumas indicações.

Vale a pena ver a primeira, (todas)

http://opticnerve.co.uk/ArrowsofDesire.htm

The Charge of the Light Brigade
Alfred, Lord Tennyson
1.

Half a league, half a league,
Half a league onward,
All in the valley of Death
Rode the six hundred.
"Forward, the Light Brigade!
"Charge for the guns!" he said:
Into the valley of Death
Rode the six hundred.

2.

"Forward, the Light Brigade!"
Was there a man dismay'd?
Not tho' the soldier knew
Someone had blunder'd:
Their's not to make reply,
Their's not to reason why,
Their's but to do and die:
Into the valley of Death
Rode the six hundred.

3.

Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon in front of them
Volley'd and thunder'd;
Storm'd at with shot and shell,
Boldly they rode and well,
Into the jaws of Death,
Into the mouth of Hell
Rode the six hundred.

4.

Flash'd all their sabres bare,
Flash'd as they turn'd in air,
Sabring the gunners there,
Charging an army, while
All the world wonder'd:
Plunged in the battery-smoke
Right thro' the line they broke;
Cossack and Russian
Reel'd from the sabre stroke
Shatter'd and sunder'd.
Then they rode back, but not
Not the six hundred.

5.

Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon behind them
Volley'd and thunder'd;
Storm'd at with shot and shell,
While horse and hero fell,
They that had fought so well
Came thro' the jaws of Death
Back from the mouth of Hell,
All that was left of them,
Left of six hundred.

6.

When can their glory fade?
O the wild charge they made!
All the world wondered.
Honor the charge they made,
Honor the Light Brigade,
Noble six hundred.


Essa daqui é apenas uma parte, e as duas no vídeo completo do "Arrows of desire" existe o vídeo... que aliás são ótimos, embora eu goste mais de Wilde, a melhor representação foi a do Teenyson.

Balada do Cárcere de Reading
Tradução de Paulo Vizioli

I

O casaco escarlate não usou, pois tinha
De sangue e vinho o jeito;
E sangue e vinho em suas mãos havia quando
Prisioneiro foi feito,
Deitado junto à mulher morta que ele amava
E matara em seu leito.

Ao caminhar em meio aos Julgadores, roupa
Cinza e gasta vestia;
Tinha um boné de críquete, e seu passo lépido
E alegre parecia;
Mas nunca em minha vida vi alguém olhar
Tão angustiado o dia.

Eu nunca vi alguém na vida que tivesse
Tanta Angústia no olhar,
Ao contemplar a tenda azul que os prisioneiros
De céu usam chamar,
E as nuvens à deriva, que iam com as velas
Cor de prata pelo ar.

Num pavilhão ao lado, andei com outras almas
Também a padecer,
Imaginando se seu erro fora grave
Ou um erro qualquer,
Quando alguém sussurrou baixinho atrás de mim:
- O homem tem que pender.?

Cristo! As próprias paredes da prisão eu vi
Girando a meu redor
E o céu sobre a cabeça transformou-se em elmo
De um aço abrasador;
E, embora eu fosse alma a sofrer, já nem sequer
Sentia a minha dor.

Sabia qual o pensamento perseguido
Que lhe estugava o andar,
E por que demonstrava, ao ver radiante o dia,
Tanta angústia no olhar;
O homem matara a coisa amada, e ora devia
Com a morte pagar.

Apesar disso - escutem bem - todos os homens
Matam a coisa amada;
Com galanteio alguns o fazem, enquanto outros
Com face amargurada;
Os covardes o fazem com um beijo,
Os bravos, com a espada!

Um assassina o seu amor na juventude,
Outro, quando ancião;
Com as mãos da Luxúria este estrangula, aquele
Empresta do Ouro a mão;
Os mais gentis usam a faca, porque frios
Os mortos logo estão.

Este ama pouco tempo, aquele ama demais;
Há comprar, e há vender;
Uns fazem o ato em pranto, enquanto que um suspiro
Outros não dão sequer.
Todo homem mata a coisa amada! - Nem por isso
Todo homem vai morrer.

Não vai morrer um dia a morte de vergonha
Num escuro traspasso;
Nem há de Ter um pano a lhe cobrir o rosto,
E no pescoço um laço;
Nem através do chão vai atirar os pés
Para o vazio do espaço.

Não vai sentar-se, noite e dia no silêncio,
Com uma guarda tesa
Que há de vigiá-lo quando tenta o pranto
E quando tenta a reza;
Sempre a vigiá-lo, para que não roube
Da prisão sua presa.

Não vai na aurora despertar com vultos hórridos
Cruzando o seu umbral:
O tiritante Capelão todo de branco,
O Xerife espectral,
E o Diretor, de negro luzidio, e a cara
Do Juízo Final.

Nem vai vestir, com pressa comovente, as roupas
De almas condenadas,
Enquanto um médico boçal exulta, e anota
Suas torções crispadas,
Manuseando o relógio com um tique-taque
De horríveis marteladas.

Nem, a arear-lhe a garganta, vai sentir aflito
A sede que antecede
O carrasco, enluvado como um jardineiro,
Que vem junto à parede
E ata-o com três correias, para que a garganta
Não sinta mais a sede.

Nem curvará a cabeça para ouvir o Ofício
Fúnebre ser lido;
Nem, enquanto o terror lhe diz dentro do peito
Não ter ele morrido,
Com seu caixão há de cruzar, ao se mover
Para o estrado temido.

Nem através de um teto vítreo vai fitar
O espaço azul... lá atrás;
Nem com lábios de argila um dia vai rezar
Para implorar a paz;
Nem, por fim, vai sentir em sua face trêmula
O beijo de Caifás.

Oscar Wilde

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Fedidovisk
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Mensagem por Fedidovisk »

Olha essa!

Acho que o pessoal aqui tem "maturidade" suficiente... :emoticon12: não creio que tenha algum problema em postar essa daqui... :emoticon13:


Massacre na igreja universal

Imagem

Certo dia acordei possuído pelo Cão,
logo planejei a seguinte missão
as almas do mal iria libertar
junto aos fiéis iria festejar
Então fiz o seguinte, corri pro fundo do quintal
Desenterrei minhas armas e fui para igreja universal

Chegando fiz uma tal brincadeira
"Calma Irmãos, isso não é um assalto"
logo foram metralhados
com as mãos para o alto
havia um picareta que fingia ter encosto
com um tiro de 12 ficou sem cérebro nem rosto

Joguei uma granada naqueles coitados
Era crente voando pra todo lado
Corpos e viceras espalhados pelo chão
Numa feliz celebração

Bem no cantinho se escondia o pastor...
foi espancado com todo louvor
com facadas no reto foi torturado
depois com minhas mãos foi massacrado.

(Allan Snipher)

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Fedidovisk
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Re.: Poesia e afins...

Mensagem por Fedidovisk »

"Vale a pena ver denovo"

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Dragão Invisível
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Re.: Poesia e afins...

Mensagem por Dragão Invisível »

Essa aqui é minha: Assim falou Adão

Adão vivia como o Diabo gosta
Foi expulso do Paraíso
Saiu puto no prejuízo
Carregando Eva nas costas

"Não serás amada,
Não serás querida,
Serás estuprada,
Serás bem comida,
Quando tiveres filhos
Serás a puta que pariu."

Assim falou Adão
E tudo se cumpriu.

:emoticon19:
O ateísmo não é uma filosofia, não é sequer uma visão de mundo, é simplesmente o reconhecimento do óbvio.

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Márcio
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Re.: Poesia e afins...

Mensagem por Márcio »

Batatinha quando nasce,
se esparrama pelo chão.
Menina quando dorme,
sonha com o Don João.

João sonha pegar as batatinhas,
colocar num panelão com água a ferver,
esmagar com manteiga, fazer purê.
Nem liga prá menina, prefere as batatas comer.

Um dia a garota se revolta,
e vai plantar cenouras...
O ateísmo é uma consequência em mim, não uma militância sistemática.

'' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)

Não importa se você faz um pacto com deus ou o demônio, em quaisquer dos casos é a sua alma que será perdida, corrompida...!

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Fedidovisk
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Re: Re.: Poesia e afins...

Mensagem por Fedidovisk »

Márcio escreveu:Batatinha quando nasce,
se esparrama pelo chão.
Menina quando dorme,
sonha com o Don João.

João sonha pegar as batatinhas,
colocar num panelão com água a ferver,
esmagar com manteiga, fazer purê.
Nem liga prá menina, prefere as batatas comer.

Um dia a garota se revolta,
e vai plantar cenouras...


Nossa... :emoticon5:

Para quem tem o mínimo de inglês, vale a pena ler em voz alta a poesia de Lord Tennyson.

Ele tem muito ritmo, é muito bom recitar ela, e se você entende arrepia-te os pêlos... :emoticon14:

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Lúcifer
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Re.: Poesia e afins...

Mensagem por Lúcifer »

Trocando o anterior pelo doce...

Este cheiro de urina


Você fez xixi nas calças
Tão grandinha, quem diria!?
Apenas quem sente o cheiro
Este cheiro de urina

Já estou entorpecido
Com o perfume da vagina
Este aroma tão pungente
Este cheiro de Urina

Cheiro que está mais forte
Está bebada, caída
Mal concege perceber
Este cheiro de urina

Meu nariz entre suas pernas
Me desculcupe, não queria
Mas não pude resistir...
A este cheiro de urina.

(Allan Snipher)
Editado pela última vez por Lúcifer em 12 Set 2007, 18:53, em um total de 1 vez.
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Lúcifer
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Re.: Poesia e afins...

Mensagem por Lúcifer »

Essa é legal!!


Deus em decomposição

Uma imensa nuvem negra
Se abre no céu
Expelido matéria orgânica
Decepcionando os fiéis

Infinito é o mal cheiro
Gigantescas são as colônias de vermes
Deus se converteu em carne...
Farta carne que apodrece

Enfim morreu
Perdeu o seu poder
Na forma de um grotesco cadáver
Cresceu e apodreceu

Deus está se decompondo
Causando o supremo caos
Ao infinito se estende
O Fedor universal!!!

(Allan Snipher)
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Márcio
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Mensagem por Márcio »

Bestas e santos.

As bestas violentas , à serviço ,
De hienas acovardadas.
Violentas bestas, e seus senhores
Endinheirados.
Santos poderosos , com seus traseiros
Santificados.
Impõem o seu domínio ,
Sobre coitados acéfalos.
Assim é o mundo ...
Mas não há culpa no mundo.
Culpados ?
Somos nós que deixamos ,
Que fechamos a mente.
Dominados.
O ateísmo é uma consequência em mim, não uma militância sistemática.

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Mensagem por Márcio »

" Vais para um lugar onde:
Não sentirás nada , nem dor ou prazer ,
não há fome ou saciedade ,
não pensarás em nada ,
pois pensar não será mais necessário,
nem consciência de ti mesmo terás ...
Pois , também não terás sentimentos de nenhum tipo .
Sem amor ou ódio , nem alegria ou tristeza .
Apenas estarás lá , para o deleite de alguém.
Onde é esse lugar ?
Não sábes ?
Por acaso pensáste que verías chamas ?
Um fogo eterno à te queimar ?
Ou quem sabe, um paraiso com anjos a voar?
Nada disso , nem isso terás .
A única parte que te cabe é simplesmente estar lá.
Para o deleite de alguém .
Quem , e que lugar ?
Não sabes ?
Melhor não saber mesmo ..."
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Re.: Poesia e afins...

Mensagem por Márcio »

Adoro surrealismo! :emoticon16:

...


Um acontecimento .

Esgueirando por aqui , alí ,olha lá , acolá , anda apressado , impulsionado por uma vontade que lhe atiça por dentro , por um desejo que lhe vale a vida .
Passos lentos percorrem a sala , você se sacode , ele se vai , você anda , abaixa e se arrasta , levanta de repente e corre feito louco , seguindo um chamado .
Um cheiro no ar , é o que você quer ardentemente , olhos apertam procurando a nitidez .
Lá está , aquilo que mais quer lhe espera , todos os seus sentidos percebem e é como um grito à lhe empurrar . Num pulo, se aproxima , cheira , apalpa de leve , muito levemente , a saliva densa incontrolavelmente lhe escorre por entre os dentes e cai no solo .
Não é mais preciso procurar , a espera acabou , seus tormentos serão acalmados , num gesto rápido , você crava as unhas para pegar , puxa firme .
A última coisa que viu foi um clarão vermelho , o que você mais queria lhe fugiu das mãos inesperadamente , na verdade tudo sumiu para você ...

De manhã , o homem se aproximou , olhou e viu o rato esmagado sob a forte mola da ratoeira , não pode conter uma sensação de nojo , o queijo tinto de sangue parecia estar entre suas patas como uma espécie de troféu , curiosamente lhe veio a imagem de queijos e vinho tinto .
Havia aquela luz estranha que sempre na mesma hora da tarde , aparecia , brilhando como um olho de gato .
As pessoas perdiam tempo , pairavam o olhar , paravam a mente e ficavam observando aquele horizonte que possuía uma luz .
O horizonte se ia com a escuridão e o brilhar daquela luz permanecia sem explicação .
Até que um dia um estrondo se fez e a luz sumiu de vez .
E um homem se deliciou saboreando queijo com vinho tinto .
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Re.: Poesia e afins...

Mensagem por manoelmac »

Eu dançarei com os mortos

Eu dançarei com os mortos
Uma dança macabra,
Vocês verão...
Um dia também dançarão
E acreditem, estranho não acharão

Nesta festa bizarra,
Nós de corpos cinza
Sugando da saliva fria
E com gosto de fel,
Nos beijos das bocas pútridas,
Dançando em plena noite
Cheia de estrelas no céu.

Serviremos vinho e sangue,
Porcos e ratos
Balas e baratas
Minhoca e macarrão.

Deus e o diabo, não sabem ainda não
Desta festa estranha
Que os homens dançarão
Mortos e felizes,
achando que a vida
Não passa de ilusão
E o medo de um dia viver
Aos mortos acompanharão.
Manoel Machado Henriques

"...A razão de um povo inteiro, leva tempo a construir..."

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(Pedro Ayres Magalhães - As Brumas do Futuro)

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Re.: Poesia e afins...

Mensagem por Fedidovisk »

Mas essas poesias macabras não são feitas do fundo d'alma, estão mais para uma "ferramenta artística" para causar um impacto ou uma reação... é o tipo de coisa que além de não se ouvir todo dia, você não ouvirá nunca, isso porque tem que ser escrita com a mentalidade não apenas expressiva, mas "afetar".

Eu acho que ela faz o seu papel muito bem, já que as obras de arte não são feitas apenas para serem agradáveis, como disse Wilde uma vez, o artista tem que pintar aquilo que não é...

Mas poeta poeta mesmo, pra mim são os do "Arrows of desire" por exemplo. :emoticon16:

Não sei porque não vou com a cara de Fernando Pessoa e derivados...

Mas um dos poemas que eu mais gosto, e mais gostava é esse do Bocage...

Já Bocage não sou!... À cova escura

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

Bocage

Os poetas no final da vida no dão "obras-primas" com a máxima expressão, é o caso da Balada Cárcere...

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Márcio
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Re.: Poesia e afins...

Mensagem por Márcio »

Concordo contigo Visk, essas poesias macabras trash, parecem feitas para apenas criarem sensações nas entranhas, não se pensa muito sobre elas que logo são esquecidas. Mas há poemas que tratam do tormento humano, daquele compartimento escondido que todos nós temos, estes acabam ficando de alguma forma e são extraídos do fundo da alma.

Gosto do Edgar.

O CORVO *
(de Edgar Allan Poe)

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.


É só isto, e nada mais."
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,


Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.


É só isto, e nada mais".
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.


Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.

Isso só e nada mais.
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.


"É o vento, e nada mais."
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,


Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."


Disse o corvo, "Nunca mais".
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,


Com o nome "Nunca mais".
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".


Disse o corvo, "Nunca mais".
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais


Era este "Nunca mais".
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,


Com aquele "Nunca mais".
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,


Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"


Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!


Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"


Disse o corvo, "Nunca mais".
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"


Disse o corvo, "Nunca mais".
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,


Libertar-se-á... nunca mais!


(Esta é uma tradução de Fernando Pessoa)
O ateísmo é uma consequência em mim, não uma militância sistemática.

'' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)

Não importa se você faz um pacto com deus ou o demônio, em quaisquer dos casos é a sua alma que será perdida, corrompida...!

Trancado