Samael escreveu:Sua assertiva é perfeita até a parte final do texto, onde recai numa pequena parcialidade de quem defende o ideário individualista.
Eu poderia dizer que é isso mesmo: importa o utilitarismo da estatística. E, a nível histórico, mais geral, é o que realmente importa.
Devo concluir, pelo seu pensamento, que você poderia dizer que se matassem toda sua família e por algum critério de avaliação a punição dos assassinos for considerada sem utilidade estatística, então puni-los ou não seria sem importância em nível histórico, seja lá o que queira dizer isto.
Samael escreveu:Mas você não comentou que a maioria daqueles que defendem esse suposto coletivismo o fazem porque discordam plenamente dessa idéia de "livre e espontânea" vontade individual para realizar qualquer tipo de delito.
Gostaria de ver detalhes sobre esta discordância, uma vez que para sustenta-la é necessária alguma base factual que demonstre que criminosos na verdade não querem cometer crimes, que os cometem porque na decisão do ato suas vontades são dominadas por uma força externa e superior a elas.
Samael escreveu:Uma população de padrão moral extremamente debilitado por uma vida bastante pobre me parece ser muito mais apta a ingressar no crime, fato que a Clara apontou uma ou duas páginas atrás.
Cresci em um ambiente pobre e não achei os padrões morais de então nada debilitados, antes muito pelo contrário.
Poderia me ver como uma notável exceção, mas prefiro humildemente crer que a associação entre pobreza e degeneração moral é apenas preconceito contra os pobres e condescendência com os vagabundos que surgem do meio deles.
Samael escreveu:Assim, a ação de prevenção, a questão de agir nas causas dessa miséria humana são valores, que no fundo, almejam nada mais do que elevar esses indivíduos agora miseráveis à condição de indivíduos que possam escolher.
Voltamos à questão de que alguém pobre não tem escolha que não seja virar bandido?
Samael escreveu:Daí, a opção coletivista me parece muito mais humana, justa, e, acima de tudo, utilitária.
Talvez seja tudo isto para a minoria dentre os pobres que opta por virar bandido, mas é desumana, injusta e nada utilitária para a grande maioria que apesar de todas as dificuldades leva uma vida de trabalho honesto e ainda tem que agüentar os bandidos e aqueles que os defendem.
Samael escreveu:Sem contar o fato de agir junto à voz de quem não tem, normalmente, voz política para se fazer ouvir com tanta facilidade.
E quem tem voz política?
A Classe Média?
Bastou um movimento como o "Cansei" tentar se expressar e foi ridicularizado e malhado por todos os lados, da extrema direita à extrema esquerda.
Qualquer favela está cheia de ONG' s, vereadores associados, organizações de bairro e outras instituições políticas lhes dando voz, só que o objetivo destas vozes é claramente servir aos interesses políticos, que nunca encheram barriga de ninguém, pelo menos não dignamente.
Esta história de voz política é bobagem.
Esta gente precisa de trabalho decente, escola, rede de esgotos e o resto cada um faz a própria vida, sem depender de político nenhum que, como visto, tem menos moral do que a média dos favelados.
Samael escreveu:Entretanto, deve-se sempre frisar isso, essa falta de "arbítrio individual", na qual acredito como existente em boa parte dos casos, não me parece argumento para atenuação de pena alguma.
Acho estranho estes raciocínios que se concluem dizendo que não devem ser efetivados.