Apo escreveu:A paixão e os sentimentos são sinais de ignorância? Acho que fazem de nós humanos. Ignorantes são os bichos e os psicopatas, que não têm sentimentos, apenas instintos. Se bem que até alguns bichos demonstram sentimentos e prazer. Não vá me dizer agora que sentimento e prazer é coisa de bicho irracional, que aí você se pela para todo o sempre.
"Os sentimentos" não são pura ignorância, ser controlado por eles e/ou distorce-los sim.
Psicopatas também "sentem", eles não são seres sem emoção, só são mais controlados por essas coisas que a maioria das pessoas e tem algumas falhas em questões como a empatia ou prazer em causar sofrimento. Alguns tiram o prazer deles com base no sofrimento dos outros.
Tá difícil Apoc.
Vamos começar do começo.
Estamos falando de sentimentos/sensações/pensamentos.
Essas coisas estão interligadas, uma influencia a outra.
Se você deseja muito uma casa maior e não consegue realizar isso, pode acabar criando um sofrimento.
Se você deseja transar com um cara que não te dá bola, isso pode ser outro sofrimento.
Cada pessoa vai reagir de forma diferente a cada questão.
Esses desejos e sonhos não satisfeitos podem gerar ansiedade.
Uma pessoa pode abafar essa ansiedade na comida, então se torna gorda. Ela pode acabar ficando com uma auto-imagem ruim por isso, fica com a auto-estima baixa.
Isso por sua vez, cria mais um conflito, mais distrações e mais ansiedade.
Quando ela está na presença de um cara que acha atraente, deseja ele e lembra que é "feia" (na cabeça dela).
Isso gera insegurança e desconforto.
Uma pessoa que se acha feia, pode acabar se retraindo, assim se fecha até mesmo para investidas de um possível pretendente.
Ela deseja e não satisfaz esse desejo, tem ansiedade e desconta na comida, se acha feia por ser gorda e isso a impede de satisfazer seu desejo.
Por outro lado isso gera ainda mais ansiedade, coisa que ela desconta na comida.
Como ela não quer ser gorda, a comida passa a ser inimiga, então quando ela desconta na comida e tem um prazer momentâneo, logo se sente culpada... pois comeu e é isso que faz ela ficar feia.
Então aqui, a própria válvula de escape torna-se mais uma fonte de sofrimento.
Ela tenta fazer jejum, mas está acostumada e aliviar a ansiedade na comida.
Ao tentar fazer jejum, sente ainda mais a ansiedade. Se não aguenta, se não tem força para aguentar essa ansiedade... Como e se sente novamente culpada.
Tudo sofrimento desnecessário.
Foi um caso hipotético, cada ser humano vai ter seu próprio problema e nem sempre tão grande quanto o dela, pois nem todos tem "vícios" como o dela pela comida.
Mas vamos comentar esse caso hipotético.
Faz parte da vida?
A pessoa precisa se achar feia e sofrer com isso?
Ela precisa comer para aliviar a ansiedade e em seguida sofrer por ter comido?
Ela precisa fugir da ansiedade atacando algo que só cria mais ansiedade?
Ela precisa sofrer por não ter uma casa maior, ou por não transar com quem gostaria?
Não, esses sofrimentos são desnecessários e ela pode se livrar deles.
Vamos agora a algo comum a todo ser humano.
Todos tem o mesmo problema ao lidar com os prazeres, mas nem todos acabam caindo em um caso mais extremos como o apontado.
Ainda assim, todos sufocam ansiedades, todos desejam e sofrem ao não satisfazer esse desejo, todos fogem de certos sofrimentos e todos buscam pelos prazeres por depender deles e não apenas por serem "bons" e "saudáveis".
Os prazeres incluem os sonhos e planos que fazemos, incluem o que compramos, e até mesmo o que pensamos.
A paixão é um ponto comum a quase todos.
Quando ela não é correspondida, sofremos.
Alguns mais (e chegam ao suicídio ou a matar por isso), outros menos.
São variados os graus de sofrimento em uma paixão não correspondida.
Precisamos desse sofrimento?
É parte natural da vida ou pode ser eliminado?
Não seria ele fruto de um descontrole semelhante ao caso anterior?
A resposta não é simples.
Em ambos os casos são parte da vida, mas ao mesmo tempo são desnecessários e não fazem parte da vida.
Uma criança sofre quando a mãe sai de casa sem ela, chora e quer ir com a mãe, ou pode querer comer algo sozinha, como um pacote inteiro de bolacha, sem dividir com os irmãos.
É gula e egoísmo, já vi muitas crianças assim.
Quando a mãe divide a bolacha entre todos, um deles joga a própria bolacha no chão e berra dizendo que não quer, pois queria tudo.
Com o tempo ela "aprende" a dividir e isso deixa de ser um "sofrimento". Esse sofrimento se vai junto com a ignorância de não saber dividir.
Pois bem, a ignorância é parte da vida, assim como tudo o que é fruto dela.
A paixão, gula, desejos descontrolados, ansiedades, etc... São todos partes da vida... por um tempo são muletas necessárias.
Até aprendermos o que são e até termos força o bastante para resolver o problema, até aprendermos que são desnecessários e que podemos nos livrar deles.
Isso também vale pra quilo que você me perguntou se eu fosse pai.
Uma criança ou mesmo um adulto, podem depender de suas paixões por um tempo.
Se você tentar "impor" isso a quem não está pronto, você pode levar a pessoa a insanidade.
A vida ensina, a conta gotas ela vai tirar do meu filho, uma por uma as coisas que ele tem apego. A cada coisa perdida, mais forte e acostumado com isso ele vai ficar, e vai sofrer cada vez menos por isso.
Inclusive o pai dele também vai ser tomado pela morte. Ele pode ter o apego que quiser, isso não vai me manter vivo com ele, só vai faze-lo sofrer.