Fernando escreveu:Ok. Vou tentar reformular minha pergunta. Pq vc diz que nós somos deuses por sermos parte de Deus?
Por remeter a nossa essência e para sair das verdades relativas.
Fernando escreveu: Pq vc usa justamente a palavra deuses pra se referir a nós e não nenhuma outra?
Outras palavras criam a ilusão de separação, como se fôssemos algo diferente daquilo que somos.
Seria como tentar separar minha mão do resto.
Minha mão é uma parte minha, eu sinto o que ela sente, eu sou ela e ela é "um" comigo.
Dizer "criatura" ou "homem", cria a idéia de que somos algo totalmente independente de Deus, cria a idéia de que somos "algo" individual, que temos um alma própria separada de resto.
Nossa consciencia é a de Deus, quem pensa e sente é ele.
Fernando escreveu: Somos deuses em que sentido? Pra que dizer que somos deuses e não que somos modos finitos, por exemplo?
Bem, primeiro eu não sei se Deus é infinito, prefiro a palavra eterno.
Sendo finito não é menos Deus por isso, nem deixa de ser eterno.
Somos deuses no sentido que Deus se dividiu em nós.
Nossa consciencia é a consciencia de Deus interpretando diversas personagens simultaneamente. Como um super RPG.
Ou como nós em nossos sonhos.
Fernando escreveu:Tudo bem que a diferença entre Deus e o homem seja meramente modal e não substancial. Mas pq uma modificação finita da substância infinita deve necessariamente ser chamada de deus?
Apenas por ser parte dele.
Se pensarmos em Deus como um oceano, seriamos um gota imersa nele, não existe separação e todas as gotas formam o oceano.
É a mesma diferença entre telhas individuais e o telhado.
Deus é o telhado, nós as telhas.
Veja que Deus nunca aparece... Só vemos as telhas individuais (nós) que juntas, são chamadas telhado (Deus).
Essa é a manifestação dele, é como ele se apresenta.
Fernando escreveu: No fundo, o que significa ser deus?
Significa existência, o absoluto e a origem do absoluto.
Fernando escreveu: Significa que somos parte finita de uma potência infinita e por isso seríamos deuses em um sentido fraco? Se assim fosse, seríamos tb infinitos num sentido fraco?
Se Deus for infinito sim, seriamos infinitos em essência, pois somos parte de Deus, partes sem separação real, apenas separação relativa.
É como minha mão, é uma parte minha que não é "separada" do resto, mas também não é o meu "todo".
Fernando escreveu: Qual a diferença de chamar modos finitos como nós de deuses ou de homens?
Na verdade nenhuma diferença real, a diferença é apenas relativa a forma como as pessoas costumam entender essas duas palavras.
É difícil entender o conceito por entendermos tudo de forma "relativa".
Todo conceito cria uma "separação" de uma coisa "una".
Quando falamos dividimos o que não pode ser dividido.
Uma pessoa que se une a Deus, enxerga o outro e tudo como ela própria. Ela vê Deus em tudo e vê a si própria em tudo.
É por isso que o panenteísmo é o ultimo "conceito", exige um esforço de reflexão que elimine conceitos, um modo e olhar e questionar esse conceitos focando diferentes "realidades relativas" a que ele remete, algumas quando olhadas juntas podem parecer mutuamente excludentes.
Por um lado podemos olhar as telhas individuais e Deus desaparece, por outro podemos olhar o telhado e então só existe Deus e nós desaparecemos.
Para visualizar as duas coisas juntas, temos que suspender a mente racional, suspender o juizo que julga segundo conceitos relativos e olha a realidade me "partes", sempre de olho na realidade relativa.
O Budismo e o Taoismo falam muito sobre isso, seria olhar através da vacuidade, um olhar além dos conceitos.
No Budismo a realidade absoluta existe e ela tem dentro dela a realidade relativa.
Conceitos só trabalham com a realidade relativa e não nos permitem ver a absoluta.
Olhar pela vacuidade é olhar diretamente a realidade absoluta, vendo inclusive a realidade relativa dentro dela.
Nesse caso não existem conceitos e por isso são a que se falar em "Deus", em "alma" ou qualquer coisa do tipo.
Eu sei que é complicado, mas acho que você vai entender o que estou falando. No panenteísmo você vê as diferentes verdade "relativas", vê as telhas ou o telhado. Na vacuidade enxerga as duas coisas juntas em "unidade", mas ai já é um processo além do que a razão pode enxergar. De fato na vacuidade você vê a unidade a ao mesmo tempo a separação, vê a razão e vê aquilo que está além dela.
O panenteísmo nos leva a um esforço em enxergar as diferentes verdades relativas, a fim de levar a razão a seu limite, para que possamos procurar enxergar o que existe além dela e além da relatividade criada por ela.
Somos deuses pois o que existe é apenas uma coisa "una", não dá pra falar em nós e em Deus com se fossem coisas diferentes e separadas. Só existe um todo uno.