Slow Down Now?!

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Jeanioz
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Slow Down Now?!

Mensagem por Jeanioz »

Alguém como eu que tem uma rotina de 18 horas sem parar para nada realmente estranha artigos desse tipo.

Na verdade, é o primeiro artigo que critica o ritmo acelerado do capitalismo escrito por alguém sem tendências comunistas... :emoticon26:

Isso mesmo: ISSO NÃO É UM ARTIGO COMUNISTA!!!!!! :emoticon12:

http://www.jperegrino.com.br/temas_dive ... w_down.htm

SLOW DOWN
novembro/2006

L M C M - Volvo IT South America

Já vai para 16 anos que estou aqui na Volvo, uma empresa sueca. Trabalhar com eles é uma convivência, no mínimo, interessante. Qualquer projeto aqui demora 2 anos para se concretizar, mesmo que a idéia seja brilhante e simples. É regra.

Então, nos processos globais, nós (brasileiros, americanos, australianos, asiáticos) ficamos aflitos por resultados imediatos, uma ansiedade generalizada. Porém, nosso senso de urgência não surte qualquer efeito aqui neste prazo.

Os suecos discutem, discutem, fazem "n" reuniões, ponderações.

Trabalham num esquema bem mais "slow down". O pior é constatar que, no final, acaba sempre dando certo no tempo deles com a maturidade da tecnologia e da necessidade: bem pouco se perde aqui. E vejo assim:

1. O país é do tamanho de São Paulo;

2. O país tem 2 milhões de habitantes;

3. Sua maior cidade, Estocolmo, tem 500.000 habitantes (compare com Curitiba, que tem 2 milhões);

4. Empresas de capital sueco: Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux, ABB, Nokia, Nobel Biocare... Nada mal, não?

5. Para ter uma idéia, a Volvo fabrica os motores propulsores para os foguetes da NASA.

Digo para os demais nestes nossos grupos globais: os suecos podem estar errados, mas são eles que pagam muitos dos nossos salários. Entretanto, vale salientar que não conheço um povo, como povo mesmo, que tenha mais cultura coletiva do que eles. Vou contar para vocês uma breve só para dar noção.

A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas suecos me pegava no hotel toda manhã. Era setembro, frio, nevasca.. Chegávamos cedo na Volvo e ele estacionava o carro bem longe da porta de entrada (são 2.000 funcionários de carro).

No primeiro dia não disse nada, no segundo, no terceiro ... Depois, com um pouco mais de intimidade, numa manhã, perguntei: "Você tem lugar demarcado para estacionar aqui? Notei que chegamos cedo, o estacionamento vazio e você deixa o carro lá no final." Ele me respondeu simples assim:

"É que chegamos cedo, então temos tempo de caminhar - quem chegar mais tarde já vai estar atrasado, melhor que fique mais perto da porta. Você não acha?"

Olha a minha cara! Ainda bem que tive esta na primeira. Deu para rever bastante os meus conceitos.

Há um grande movimento na Europa hoje, chamado Slow Food. A Slow Food International Association - cujo símbolo é um caracol, tem sua base na Itália (o site, é muito interessante. Veja-o! http://www.slowfood.com). O que o movimento Slow Food prega é que as pessoas devem comer e beber devagar, saboreando os alimentos, "curtindo" seu preparo, no convívio com a família, com amigos, sem pressa e com qualidade.

A idéia é a de se contrapor ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida que o americano endeusificou. A surpresa, porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo chamado Slow Europe como salientou a revista Business Week numa edição européia. A base de tudo está no questionamento da "pressa" e da "loucura" gerada pela globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em contraposição à qualidade de vida ou à "qualidade do ser". Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, embora trabalhem menos horas (35 horas por semana) são mais produtivos que seus colegas americanos ou ingleses. E os alemães, que em muitas empresas instituíram uma semana de 28,8 horas de trabalho, viram sua produtividade crescer nada menos que 20%.

Essa chamada "slow atitude" está chamando a atenção até dos americanos, apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it now" (faça já). Portanto, essa "atitude sem-pressa" não significa fazer menos, nem ter menor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais "qualidade" e "produtividade" com maior perfeição, atenção aos detalhes e com menos "stress". Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer, das pequenas comunidades, do "local", presente e concreto em contraposição ao "global" - indefinido e anônimo. Significa a retomada dos valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé.

Significa um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais alegre, mais "leve" e, portanto, mais produtivo onde seres humanos, felizes, fazem com prazer, o que sabem fazer de melhor.

Gostaria de que você pensasse um pouco sobre isso...

Será que os velhos ditados "Devagar se vai ao longe" ou ainda "A pressa é inimiga da perfeição" não merecem novamente nossa atenção nestes tempos de desenfreada loucura? Será que nossas empresas não deveriam também pensar em programas sérios de "qualidade sem-pressa" até para aumentar a produtividade e qualidade de nossos produtos e serviços sem a necessária perda da "qualidade do ser"?

No filme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível, em que um personagem cego, vivido por Al Pacino, tira uma moça para dançar e ela responde: "Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos." "Mas em um momento se vive uma vida" - responde ele, conduzindo-a num passo de tango. E esta pequena cena é o momento mais bonito do filme.

Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só alcançam quando morrem enfartados, ou algo assim. Para outros, o tempo demora a passar; ficam ansiosos com o futuro e se esquecem de viver o presente, que é o único tempo que existe.Tempo todo mundo tem, por igual! Ninguém tem mais nem menos que 24 horas por dia. A diferença é o que cada um faz do seu tempo. Precisamos saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon: "A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro"...

Parabéns por ter lido até o final! Muitos não lerão esta mensagem até o afinal, porque não podem "perder" o seu tempo neste mundo globalizado.

Pense e reflita, até que ponto vale a pena deixar de curtir sua família. De ficar com a pessoa amada, ir pescar no fim de semana ou outras coisas...

Poderá ser tarde demais! Saber aprender para sobreviver...


Mais detalhes:

http://www.slowdownnow.org/
"Uma sociedade sem religião é como um navio sem bússola."
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"Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas."
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Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


A proposta nao e ma.

Empresas querem produtividade. Se menos carga horaria e menos "pressao" conduzem a mais produtividade, otimo, elas tomarao tal decisao. E o que muitas empresas efetivamente fazem.

O que nao da e para generalizar. Um apertador de parafuso ou um pedreiro nao funcionam sobre a mesma logica. Usar alguns resultados para justificar mudancas em legislacoes que afetam a todos e muito diferente.

Sobretudo, o Estado nao precisa se meter na historia.

Na Franca, Nicolas Sarkozy foi eleito justamente porque era preciso rever alguns desses "conceitos", sobretudo as tais 35 horas.

Sobre a parte pessoal da ideologia "slowdown", tudo bem, muito bonito, mas cada um escolhe a vida que leva. Se o cara quer ser um workhahoolic, que seja.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

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Apo
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Re.: Slow Down Now?!

Mensagem por Apo »

É tão simples isto. Não me estranha em nada. O problema das coisas andarem devagar é quando se referem à áreas básicas. Tecnologia e aprimoramento, visando o mínimo de perda e risco é ótimo. A questão no Brasil é que o que deveria merecer urgência ( urgência requer dinheiro bem administrado, foco e trabalho) , leva anos e ainda sai mal feito, quando sai. E ainda justificam a lerdeza com um monte de justificativas torpes.
O que deveria levar tempo para chegar à excelência, vai para a rua rapidinho e sem um pingo de cuidado e controle. E nestes casos, os autores se gabam de fazer a besteira, como é o caso, por exemplo, da liberação da pista de Congonhas e das condecorações da ANAC dias depois do acidente.
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Fernando Silva
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Re.: Slow Down Now?!

Mensagem por Fernando Silva »

A Suécia, de certa forma, já está pronta. Agora é só manter e melhorar.
Já o Brasil ainda tem muito por fazer. Temos muito o que trabalhar até conseguirmos o básico, que a Suécia já tem há muito tempo.

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O ENCOSTO
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Mensagem por O ENCOSTO »

Além do "Fordismo" e do Sistema Toyota de Produção, há também o "Volvismo", empregado apenas pela Volvo DA SUÉCIA.

A informação que tenho é que lá não seguiram a onda do Toyota e todo aquele papo de Kanban, Lean, etc. Isso tudo devido a forte pressão do sindicato local. Eles alegam que os funcionarios da Volvo ficavam estressados...

Esse sistema dá muito certo onde há bastante suecos e elevado grau de informatização e automação das linhas de produção. . A Volvo do Brasil já segue outra linha de pensamento mais adaptada a espertalhões, vagabundos e comunistóides babões em geral.

No Brasil, é mais barato contratar gente para apertar parafusos. Comprar automação é infinitamente mais caro.
O ENCOSTO


http://www.manualdochurrasco.com.br/
http://www.midiasemmascara.org/
Onde houver fé, levarei a dúvida.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”

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Tobias
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Re.: Slow Down Now?!

Mensagem por Tobias »

a idéia não é ruim

Trancado