Fernando escreveu:NadaSei,
Não é suficiente dizer que vc é um com sua mão. Afinal vc é um ser muito mais complexo do que sua mão. Vc não é uma mão. Vc é um ser humano. Tudo bem que o conceito de mão e o de ser humano possam aparecer juntos. Mas dizer que ambos são a mesma coisa é ir um pouco mais além.
A parte não é o mesmo que o todo, pois o todo é muito mais complexo que a parte. Veja bem. Vc disse que se Deus for infinito nós tb o seremos num sentido fraco. Mas isso é impossível. O que seria um sentido fraco pra infinito? Finito. Qualquer privação é uma negação do infinito, e portanto, finito.
Voltando ao exemplo da mão. Sua mão é parte de vc. Mas ela não tem o atributo pensamento. Vc é um ser pensante. Mas a sua mão não. Sua mão não tem consciência, vc tem. São coisas como essas que ficam obscuras no que vc diz.
Tudo bem, pera lá.
Isso foi apenas um exemplo de algo que podemos entender melhor.
No nosso caso somos feitos de parte da consciencia de Deus e por isso, feitos a sua imagem e semelhança.
Nesse caso o exemplo do sonho funciona melhor, mas também é mais difícil de entender.
Se você sonha com três pessoas e elas estão conversando, os pensamentos de cada uma vem de você, elas são você.
Você é todas elas.
Elas tem alguma parte "fixa" da sua consciencia que é apenas delas?
Ou a mesma parte da sua consciencia que cria os pensamentos de uma delas, pode criar os pensamentos da outra?
Quando digo "parte", estou falando de forma relativa, pois essas três pessoas não tem uma "parte" fixa que é só delas.
Elas não são você como um todo, mas também não são nada por si só, nem tem uma parte que seja fixa.
Duas delas poderiam inclusive compartilhar as mesmas sensações e pensamentos ou usar a mesma parte de sua consciencia. Essas pessoas se misturam entre si, se misturam em você e com você.
Falar em consciências é diferente de falar sobre mãos.
Fernando escreveu:Um círculo que gira a uma velocidade infinita sobre o seu diâmetro formará um novo objeto geométrico, a saber, uma esfera. Embora a esfera nada mais seja do que um círculo em movimento, o próprio círculo não é uma esfera, nem a esfera um círculo. Pois um círculo é um objeto geométrico de duas dimensões e a esfera de três.
A esfera nesse caso, pode ser entendida como uma ilusão.
Nós também podemos ser entendido como uma ilusão do comportamento do todo.
A esfera não existe por si só, é a junção do circulo com o movimento e com um observador que vê aquele circulo como uma esfera, isso por causa da velocidade com a qual nosso olho enxerga.
Digamos que o circulo seja uma realidade relativa do objeto parado, e a esfera a realidade relativa daquele mesmo objeto em movimento junto com o observador.
As realidades relativas são de certa forma falsas, mas não podem ser negadas e são partes diferentes da mesma realidade absoluta, por isso confunde-se com ela. A realidade absoluta do objeto, inclui o movimento e o objeto parado, inclui os dois conceitos que são relativos a seus estados, "parado" ou em "movimento". Então aqui o passo dado é ir além dos dois extremos e dos dois conceitos, aceitando os extremos e entendendo os dois como inseparáveis na realidade absoluta.
Isso seria o todo do objeto, algo que está além dos dois extremos que são relativos a seu estado e a forma como são observados, ao mesmo tempo confundem-se no todo pois o todo inclui essas realidades relativas em uma só verdade absoluta. Deus nesse caso, é tanto cada uma das realidade relativas quanto a absoluta.
Fernando escreveu:Posto isso repito que não é nada claro pra mim o seu raciocínio de que pelo simples fato da coisa ser parte do todo, que posse ser o próprio todo em algum sentido.
Eu não estou dizendo que uma gota no oceano pode se dizer o oceano inteiro... não é isso.
Como consciencia somos miniaturas da consciencia de Deus, mas não somos ele todo.
O problema é que nos confundimos com ele, em nenhum momento podemos definir o que somos nós dentro desse todo, pois não temos partes fixas nesse todo.
No seu exemplo nós seriamos a esfera.
Pegue o circulo, o movimento e o atraso na forma como o observador enxerga. A esfera é a forma como tudo isso funciona junto. Não tem como desmembrar essas coisas e dizer: "Lá está você", pois a esfera é o resultado disso tudo.
Deus é a esfera, o circulo, o movimento, o atraso na forma como o observador enxerga e o observador.
Nesse caso somos apenas a esfera, já Deus é tudo isso.
Nós e Deus nos confundimos por não ser possível nos olhar sem tudo isso, a esfera é a junção dessas coisas todas.
Eu acho que consegui ser mais claro aqui nesse ponto, a diferença é sutil.
É nesse ponto que nos confundimos com Deus.
Lembrando que estamos falando de conceitos, a vacuidade pega o panenteismo, a realidade absoluta e a relativa e coloca tudo junto, são conceitos que discutidos juntos, visam nos levar além desses mesmos conceitos, coloca eles juntos e nos dá uma noção do que está além deles, mas sem negar eles. Pelo contrario, junta todos, aceita a relatividade de cada um como parte do absoluto, mas coloca todo juntos em uma nova construção do absoluto, indo além da relatividade de cada conceito.
PS. A vacuidade não é invenção minha, é um conceito budista/taoista que descrito via conceitos visa tirar nossa mente de uma visão muito apegada a realidade de conceitos relativos, mostrando suas diversas faces que de certa forma tornam a outra face falsa. O objetivo é ao se desprender dos conceitos, poder observar a vacuidade diretamente. (algo que está além da capacidade da razão). Eu não pude entender direito a vacuidade até ver isso diretamente, mas acho que se eu me fizer claro o bastante (algo que até agora não consegui, talvez nesse post), você vai entende-la de forma abstrata quase como um paradoxo... Ao menos em seu ultimo questionamento você pareceu estar quase lá (talvez consiga fazer o que eu não consegui). É um bom exercício mental, mas se não estiver se divertindo podemos encerrar discussão.
Hoje eu posso vê-la quase como um paradoxo, mesmo usando a razão pra isso... mas só pude fazer isso depois de olhar diretamente por ela, isso pode tornar a discussão muito obscura ou mesmo maçante.