Se “a essência da filosofia liberal é a crença na dignidade do indivíduo, em sua liberdade de usar ao máximo suas capacidades e oportunidades de acordo com suas próprias escolhas", como já disse um certo filósofo liberal, então quem acha que um analfabeto subnutrido e mórbido que vive no Sertão tem capacidade razoável de auferir renda? Boa parte da pobreza é relacionada não com as drogas ou a vagabundagem, mas com a própria falta de liberdade.A privação de capacidades individuais ocorre neste caso, porque o baixo nível de renda da maioria dos miseráveis dos países subdesenvolvidos tem como razão fundamental o analfabetismo (evasão escolar durante a infância por causa do trabalho) e más condições de saúde, além de fome e subnutrição. Sem a universalização do acesso a programas que minimizariam tais privações, não há sequer uma chance razoável de os miseráveis terem boa capacidade de auferir renda no mercado e se inserir de forma competitiva no capitalismo (como, por exemplo, ser capaz recusar ofertas de “empregos” como “ajudante de servente de pedreiro”)
A maior parte da miséria NÃO É conseqüência da limitação de renda, mas problemas relacionados a outras privações de aptidões, como as relacionados à idade (velhice, por exemplo, principalmente quando certas pessoas são incapazes de acumular um certo montante de contribuição previdenciária ao longo de sua vida por ter trabalhado no setor informal a maior parte da vida), sexo (discriminação sexual, por exemplo, que ocorre mais em países muçulmanos), posição social (como assistência à maternidade), localização (área sujeita a inundação, à seca ou a violência), ambiente epidemiológico e outras coisas sobre os quais o indivíduo não tem controle. Nenhuma assistência a essas limitações de aptidões, gera uma coisa que é chamado na literatura econômica como “ciclo intergeracional da pobreza” ou “armadilha da pobreza”.
Mais e mais argumentos absurdos são repetidos e inventados neste tópico (aquele que diz que 0,4% do PIB é "inchaço de máquina", eu já desconsidero):
Asserção: “Bolsa Família é do PT. Você é petista?”
É engraçado que a criação da idéia de programa de renda mínima foi de Milton Friedman. Ele deve ser petista, né?
Roberto Campos já disse que:
“Mesmo removidos obstáculos ao exercício das faculdades individuais, restarão desvalidos ou desequipados para o mercado de trabalho. Cabe ao governo, no interesse de preservar a coesão social, garantir-lhes um ‘mínimo vital’.Isso deve ser feito por meios tão desburocratizados quanto possível, deixando-se aos indivíduos a responsabilidade de usá-lo para sua subsistência. Hayek fala na ‘rede de segurança’ para os pobres e Milton Friedman no conceito de ‘renda mínima’, ou Imposto de Renda negativo:
http://pensadoresbrasileiros.home.comca ... ropica.htm
Asserção: “Com assistencialismo, os indigentes vão procurar menos trabalho.”
Uma pesquisa realizada pela UFMG concluiu que “a taxa de ocupação dos adultos na extrema pobreza incluídos no programa é 3,1 pontos porcentuais maior do que a dos não beneficiários na mesma situação de renda” (Roberta Caldo, Veja. “Cartas”. Edição 2024.5 de setembro de 2007). Também pudera, o teto de benefício do “Bolsa Família”, 112 reais, é muito inferior a um salário mínimo.
Asserção: “Pobres fazem mais filhos para aumentar o benefício e trabalhar menos”
Bolsa Família = benefício fixo (58 reais) + benefício variável (18 reais) x número de filhos (benefício limitado a três)
Pais indigentes já têm média igual ou superior a três filhos. Aumentar o número de filhos para a maioria significa AUMENTAR a miséria, e não diminuí-la. Mesmo o benefício máximo não desestimula o trabalho, como mostra a pesquisa da UFMG.
Asserção: “É dando comida ou estudo que se acaba com a miséria?”
Se acharmos interessante esse argumento, poderíamos fazer uma pergunta semelhante: “É dando estudo ou programas de vacinação grátis que se acaba com a miséria?”. Observe o desempenho de uma criança nutrida que não trabalha, uma criança subnutrida, uma criança doente, uma criança que falta às aulas para trabalhar e uma criança doente numa sala de aula e depois diga qual é a que tem mais chance de se dá bem no futuro, caso o governo de um país subdesenvolvido consiga melhorar substancialmente a qualidade do ensino básico.Para responder essa pergunta, basta não ser demente.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes