O super-homem

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Edson Jr
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Mensagem por Edson Jr »

zencem escreveu:O que Nietzche estaria querendo dizer com este "super-homem"?

A meu ver é aquilo com que sonhamos como o homem ideal, o homem não alienado, o homem lúcido, o sábio, capaz de sentir, de ser livre, de não depender de ser obediente a uma lei, para ser perfeito.

Imagina o que seria a vida e a sociedade humana se fosse formada por super-homens.?

Esse, na verdade, era o alvo de Sócrates, também.

Sócrates via na razão, na capacidade de pensar livre e no auto conhecimento, a chave que poderia solucionar o conflito entre o indivíduo (super-homem) e seu modo de viver gregário.



Orlando;

Encontrei em minha andanças aqui pela internet algumas boas considerações do super-homem de Nietzsche (acho que você vai gostar):

"O super-homem é o homem que tem poder sobre si mesmo, independente, criativo e original, um homem além de tudo, liberto de regras e normas morais, um criador de valores próprios."

"O super-homem parte em busca do poder, mas não um poder sobre os outros, mas sim, um poder sobre si mesmo, no sentido de domar os seus instintos e impulsos nocivos."

"De um modo geral, estamos bem aquém desse super-homem. Longe de sermos senhores de nós mesmos, somos motivados principalmente pelo medo, pelos hábitos, superstições, ressentimentos e tudo o mais que compõe a "mentalidade de escravo". Desde que nascemos, somos treinados pela família, pela igreja e pela escola, para nos submetermos a regras e leis, agir segundo o padrão, acreditar em superstições, e nos escravizarmos a vários senhores. Cada coisa atribuída à "natureza humana" é na verdade apenas hábito. Crescemos preguiçosos e receosos de desafios e perigos, entorpecidos para as inspirações de nossa consciência interior."

"Um mundo sem padrões de costumes ou sem alguém a quem obedecer é assustador, mas a alternativa é a escravidão e a alienação. Podemos nos render à sociedade ou podemos superar nosso medo e nos tornarmos criadores, em vez de meras criaturas. Criar é construir seu próprio entendimento do mundo, que de fato é caótico e está sempre mudando; ser criatura é submeter-se ao entendimento dos outros. Toda linguagem, do ponto de vista de Nietzsche, é uma interpretação mais ou menos inspirada, um tipo de "mentira". Se a linguagem engana, então é melhor -- mais verdadeiro para nós mesmos -- construirmos nossos próprios enganos. Isso é o que significa ser "super-homem"."

"O que não significa que devamos, por nossa vez, simplesmente nos tornarmos escravizadores. Tirania é o resultado, não de autonomia, mas de frustração: é simplesmente a expressão de mais ressentimento. O homem superior, em vez disso, vive a vida sem ressentimentos, e está realmente pronto, se a situação assim o exigir, para servir, bem como para liderar. (Para a maioria de nós, servir é algo parecido com escravidão). Controlando suas paixões e canalizando sua vontade, este ser que está acima do humano cria arte e filosofia, assegurando vida, alegria e todas as coisas boas."
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m!ghell
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Re.: O super-homem

Mensagem por m!ghell »

quanto lirismo. Nietzsche é bem um produto do romantismo. O Drama de Nietzsche contudo é que se sentia fatalmente atraido pelas metodologias dos malditos psicologos ingleses (os darwinistas). Aliás, ele até é visto hoje em dia como o primeiro sociobiólogo. Por um lado Nietzsche era contra as luzes (o romantismo é uma reação contra o iluminismo)... por outro explica o nascimento da moral contando uma história evolucionista...

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Edson Jr
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Mensagem por Edson Jr »

Elissandro escreveu:"Nenhum pastor, e só um rebanho! Todos querem o mesmo, todos são iguais: o que pensa de outro modo vai por seu pé para o manicômio."


Ao meu ver, esse texto é uma crítica aos regimes do tipo socialistas que, anulam as individualidades, colocando todos dentro de um mesmo rebanho. E quem ousar expressar sua individualidade de forma autêntica, questionando o regime estabelecido, seria imediatamente punido.

Elissandro escreveu:Ser super-homem é loucura para os medíocres. Ser super-homem é possuir sua própria individualidade. Ninguém nasce super-homem, mas torna-se através da vontade de evoluir. Vontade que leva a ação.


Ou seja, quem pertence ao rebanho, o alienado, não costuma ver com bons olhos aquele que tem um pensamento independente. E que é nossa vontade de evoluir, aprender, crescer e se aperfeiçoar quem nos aproxima do super-homem. Vontade esta inexistente dentro de um rebanho.

Elissandro escreveu:Qual a relação entre explorador e explorado e o super-homem?


Nenhuma, pois o super-homem não se deixaria explorar por ninguém, da mesma forma que a ninguém exploraria.
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Edson Jr
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Mensagem por Edson Jr »

m!ghell escreveu:Marx sabe essa...


Não Miguel;

Marx não sabe!
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m!ghell
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Re.: O super-homem

Mensagem por m!ghell »

pois... os mortos não sabem nada...

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Edson Jr
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Edson Jr »

m!ghell escreveu:pois... os mortos não sabem nada...


...também...hehehe
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Edson Jr »

m!ghell escreveu:...que não conseguiu ultrapassar o cristianismo... pois a sua filosofia partia do sofrimento.


Partia da superação do sofrimento, encarando-o de frente, sem medo. A cada vitória, uma maior sensação de poder e domínio de si. O que é, obviamente, muitíssimo superior ao cristianismo, que é uma espécie de paralisia diante do sofrimento, atrofiando qualquer possibilidade de crescimento pessoal.
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m!ghell
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por m!ghell »

Edson Jr escreveu:
m!ghell escreveu:...que não conseguiu ultrapassar o cristianismo... pois a sua filosofia partia do sofrimento.


Partia da superação do sofrimento, encarando-o de frente, sem medo. A cada vitória, uma maior sensação de poder e domínio de si. O que é, obviamente, muitíssimo superior ao cristianismo, que é uma espécie de paralisia diante do sofrimento, atrofiando qualquer possibilidade de crescimento pessoal.


cristo fez isso. será ele o superhomem? a teologia cristã moderna diz que devemos usar o sofrimento como forma de nos superarmos. Swinburne, teologo de oxford, diz que o sofrimento é uma oportunidade para nós fazermos o bem. Acho interessante a forma acritica como alguns aplaudem Nietzsche partindo do principio que a análise dele do que é o cristianismo é correta e incontestável...
Editado pela última vez por m!ghell em 09 Out 2007, 21:46, em um total de 1 vez.

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Edson Jr
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Edson Jr »

m!ghell escreveu:Acho que ele não superou a rigida educação religiosa que teve enquanto criança. No tumulo do pai ele mandou até colocar uma citação da Biblia. Ver Fedidovisk - youtube - Nietzsche


Não me recordo agora, mas lembro que foi uma citação bíblica bastante bonita, um gesto de amor ao seu pai. Seu pai era cristão e Nietzsche o amou muito. Nada mais justo colocar uma citação bíblica em sua homenagem.

Afinal de contas, Nietzsche foi humano.
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Mensagem por Shanaista »

Edson Jr escreveu:"O super-homem é o homem que tem poder sobre si mesmo, independente, criativo e original, um homem além de tudo, liberto de regras e normas morais, um criador de valores próprios."

"O super-homem parte em busca do poder, mas não um poder sobre os outros, mas sim, um poder sobre si mesmo, no sentido de domar os seus instintos e impulsos nocivos."

hoje eu aprendi isso... e percebi o quanto é dificil caminhar com as proprias pernas por essas trilhas ai, "ciente' que minha lanterna teria o mesmo efeito que um farol... o de clarear, ledo e puro engano meu!

pastei feio... :emoticon5:
Editado pela última vez por Shanaista em 09 Out 2007, 23:03, em um total de 1 vez.

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Edson Jr
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Edson Jr »

m!ghell escreveu:cristo fez isso. será ele o superhomem? a teologia cristã moderna diz que devemos usar o sofrimento como forma de nos superarmos. Swinburne, teologo de oxford, diz que o sofrimento é uma oportunidade para nós fazermos o bem. Acho interessante a forma acritica como alguns aplaudem Nietzsche partindo do principio que a análise dele do que é o cristianismo é correta e incontestável...


Quando, ao nos depararmos com o sofrimento em potencial, nos revestimos com a couraça das ilusões e mentiras, é sinal de fraqueza e covardia. Não é sinal de força e coragem.

Qual seria a razão de se acreditar no além? Não seria o medo da morte? Não seria a covardia e a fraqueza ao evitar o enfrentamento das duras realidades da vida com força, amor e coragem?

Pai, pai, porque me abandonaste? - disse Jesus, de forma desesperada!

A força de Jesus ao se permitir passar por todo aquele sofrimento consistia na falsa esperança de que, num último instante, Deus fizesse alguma coisa. Estava iludido, coitado, e se desesperou quando se deu conta disso...

Não tinha como ser o super-homem...
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Elissandro
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Mensagem por Elissandro »

Edson Jr escreveu:
Elissandro escreveu:"Nenhum pastor, e só um rebanho! Todos querem o mesmo, todos são iguais: o que pensa de outro modo vai por seu pé para o manicômio."


Ao meu ver, esse texto é uma crítica aos regimes do tipo socialistas que, anulam as individualidades, colocando todos dentro de um mesmo rebanho. E quem ousar expressar sua individualidade de forma autêntica, questionando o regime estabelecido, seria imediatamente punido.

Elissandro escreveu:Ser super-homem é loucura para os medíocres. Ser super-homem é possuir sua própria individualidade. Ninguém nasce super-homem, mas torna-se através da vontade de evoluir. Vontade que leva a ação.


Ou seja, quem pertence ao rebanho, o alienado, não costuma ver com bons olhos aquele que tem um pensamento independente. E que é nossa vontade de evoluir, aprender, crescer e se aperfeiçoar quem nos aproxima do super-homem. Vontade esta inexistente dentro de um rebanho.

Elissandro escreveu:Qual a relação entre explorador e explorado e o super-homem?


Nenhuma, pois o super-homem não se deixaria explorar por ninguém, da mesma forma que a ninguém exploraria.


     "O avestruz corre mais depressa que o mais veloz corcel; também enterra a cabeça na pesada terra; assim é o homem que ainda não sabe voar." (Assim falava Zaratustra)

O que faz com que o homem não reconheça sua possibilidade de se tornar um super-homem?

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m!ghell
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Re.: O super-homem

Mensagem por m!ghell »

não sei... quem pensa nessas coisas já está fora da corrida...

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Bellé
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Mensagem por Bellé »

"O avestruz corre mais depressa que o mais veloz corcel; também enterra a cabeça na pesada terra; assim é o homem que ainda não sabe voar." (Assim falava Zaratustra)

O que faz com que o homem não reconheça sua possibilidade de se tornar um super-homem?


Bordunadas de todos os lados agridem este homem, o mundo ainda não está preparado, as pessoas não estão preparadas...

Somos escravos da idéia de outros, ao tentar ser um livre pensador o homem é bombardeado de adjetivos tais como louco, insensível, egoísta... um grande má interpretação paira sobre este filósofo.

Não sei se leram o livro "Quando Nietzsche Chorou", nem se gostaram, mas lendo este pensador não consigo ver o super-homem como outro senão o expressado no livro. Um homem tem que saber o que quer e a partir dai viver, o fato de levarmos vidas em prol de mesquinharias é o fato gerador do remorso e base para toda religião.

Um homem que não se arrepende é bem diferente de um homem que não precisa se arrepender, um homem que critica um amigo é diferente de um homem que engana um amigo...e assim por diante!!!

O poder que emana de tal pessoa é inaceitável em nossa sociedade hoje, tal perfeição toma formas moldadas por quem quer manter a imperfeição no mundo, distorcedores de histórias ao longo da história fizeram de tudo para esconder do hoemem o homem!!!
O poder é parte da fraqueza de um homem sem deus...

Bellé

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Edson Jr
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Edson Jr »

m!ghell escreveu:não sei... quem pensa nessas coisas já está fora da corrida...


Pq?
"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)

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Edson Jr
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Mensagem por Edson Jr »

Elissandro escreveu:"O avestruz corre mais depressa que o mais veloz corcel; também enterra a cabeça na pesada terra; assim é o homem que ainda não sabe voar."


Talvez essa passagem nos esteja dizendo que não adianta apenas ter velocidade. É preciso ter direção. E a direção, aos que sabem voar, é para o alto, rumo à liberdade e à busca da felicidade.

Aos que não sabem voar, aos imbecis e idiotas, a direção é para baixo, atolando a cabeça nos problemas e sofrimentos da vida.

Se é para correr, que esse correr nos sirva para nos impulsionar para cima, para o alto. Não para o chão!


Elissandro escreveu:O que faz com que o homem não reconheça sua possibilidade de se tornar um super-homem?


Acho que é o desconhecimento ou falta de confiança no seu verdadeiro potencial. Potencial para brilhar, potencial de superação, de ir além...

Pode ser também o medo de enfrentar nossas próprias resistências internas que nos paralisa e nos impede de confiarmos em nossa capacidade.

Acho que é mais ou menos por aí...

É legal brincar de interpretar Zaratustra...hehehe...
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Elissandro
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Mensagem por Elissandro »

Bellé escreveu:
"O avestruz corre mais depressa que o mais veloz corcel; também enterra a cabeça na pesada terra; assim é o homem que ainda não sabe voar." (Assim falava Zaratustra)

O que faz com que o homem não reconheça sua possibilidade de se tornar um super-homem?


Bordunadas de todos os lados agridem este homem, o mundo ainda não está preparado, as pessoas não estão preparadas...

Somos escravos da idéia de outros, ao tentar ser um livre pensador o homem é bombardeado de adjetivos tais como louco, insensível, egoísta... um grande má interpretação paira sobre este filósofo.

Não sei se leram o livro "Quando Nietzsche Chorou", nem se gostaram, mas lendo este pensador não consigo ver o super-homem como outro senão o expressado no livro. Um homem tem que saber o que quer e a partir dai viver, o fato de levarmos vidas em prol de mesquinharias é o fato gerador do remorso e base para toda religião.

Um homem que não se arrepende é bem diferente de um homem que não precisa se arrepender, um homem que critica um amigo é diferente de um homem que engana um amigo...e assim por diante!!!

O poder que emana de tal pessoa é inaceitável em nossa sociedade hoje, tal perfeição toma formas moldadas por quem quer manter a imperfeição no mundo, distorcedores de histórias ao longo da história fizeram de tudo para esconder do hoemem o homem!!!



     "Homens superiores, aprendei isto comigo: na praça pública ninguém acredita no homem superior. E se teimais em falar lá, a populaça diz: “Todos somos iguais”.    Homens superiores — assim diz a populaça: — não há homens superiores: todos somos iguais; perante Deus um homem não é mais do que outro: todos somos iguais!”
     Perante Deus! Mas agora esse Deus morreu; e perante a populaça nós não queremos ser iguais. Homens superiores, fugi da praça pública!"(Assim falava Zaratustra)


O que NIETZSCHEquiz dizer com a "morte de Deus"?

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m!ghell
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por m!ghell »

Edson Jr escreveu:
m!ghell escreveu:não sei... quem pensa nessas coisas já está fora da corrida...


Pq?


basta ler como Nietzsche descreve o aristrocata...

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Edson Jr
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Edson Jr »

m!ghell escreveu:
Edson Jr escreveu:
m!ghell escreveu:não sei... quem pensa nessas coisas já está fora da corrida...


Pq?


basta ler como Nietzsche descreve o aristrocata...


hum...como?
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Acauan
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Re.: O super-homem

Mensagem por Acauan »

Acauan escreveu:Nietzsche revisitado – a síntese de O Anticristo
Postado originalmente em 21/11/2005 às 17:59

Por Acauan

E desde então surgiu um problema absurdo: "Como Deus pode consentir nisto?" A razão perturbada da pequena comunidade achou uma resposta de um absurdo verdadeiramente terrível: Deus deu o seu filho para o perdão dos pecados, em sacrifício. Ah! Como terminou de uma assentada o Evangelho! O sacrifício expiatório na sua forma mais desprezível, mais bárbara, o sacrifício dos inocentes pelas faltas dos pecadores! Que espantoso paganismo! Não tinha Jesus suprimido até a idéia do pecado? Não havia negado o abismo entre Deus e o homem, vivido essa unidade entre Deus e o homem, que era a sua boa nova?... E isto não era para ele um privilégio! Desde então se introduz a pouco e pouco no tipo do Salvador a doutrina do "juízo" e da vinda, a doutrina da morte por sacrifico, a doutrina da ressurreição que escamoteia toda a idéia de salvação, toda a só e única realidade do Evangelho a favor de um estado depois da morte... Paulo tornou lógica essa concepção - concepção descarada! – com aquela insolência rabínica que o caracteriza em todas as coisas: "Se Cristo não ressuscitou dentre os mortos, é vã a nossa fé". E de um só golpe converte-se o Evangelho na promessa irrealizável mais digna de desprezo, a doutrina insolente da imortalidade pessoal... O próprio Paulo a ensinava ainda, como uma recompensa!...

Friedrich W. Nietzsche, O Anticristo, capítulo 41


No capítulo destacado acima de O Anticristo, Nietzsche nos apresenta o que pode ser a síntese de sua crítica ao cristianismo.

O filósofo aponta a morte do Cristo como o momento que decide o destino do Evangelho, quando, nas palavras do autor, a boa nova foi seguida de perto pela pior de todas - a de Paulo.

A tese é que a crucificação de Jesus de Nazaré colocou seus seguidores diante de um dilema: O mestre morreu. Qual o significado de sua morte?
Uma solução seria os seguidores darem conotação heróica à morte de seu Messias, já que o herói conhece o triunfo em vida e a glória na morte.

Mas, para Nietzsche, não havia como identificar a morte do Cristo com a morte do herói, pois para ele a noção do herói é essencialmente antievangélica.

Até a sua morte, Jesus de Nazaré foi um pregador rejeitado pelos judeus e um líder popular que nada conseguiu contra o poder romano. Na religião e na política não triunfou em vida.
Preso sem resistência, vendo o povo se voltar contra ele e seus seguidores mais próximos fugirem apavorados, terminou executado de modo humilhante.

Sem triunfo e glória, o cristianismo corria o risco de perecer no berço.

É aí que surgem as doutrinas do sacrifício vicário, da ressurreição, do segundo advento e do juízo.

Tais doutrinas criaram a fé de que a morte na cruz foi o triunfo de uma missão divina destinada a remir os pecados humanos visando à glória de Deus.
O triunfo e a glória que não foram testemunhados factualmente são definidos espiritualmente e só se mostrariam em sua plenitude no fim dos tempos.

É contra isto que Nietzsche se enfurece.
Ao contrário do que muitos possam pensar, em nenhum trecho de O Anticristo encontramos uma declaração de repulsa ao Evangelho em si.
O filósofo renega o que chama de "conversão do Evangelho na mais desprezível e irrealizável das promessas, a petulante doutrina da imortalidade do indivíduo", pois para ele "a boa nova não se manifesta através de milagres, recompensas, promessas ou escrituras. É, do principio ao fim, seu próprio milagre, sua própria recompensa, sua própria promessa, seu próprio reino de Deus”.
Nietzsche vê na origem do cristianismo um movimento de características budistas, que promete a tranqüilidade e felicidade na terra. Este movimento conduzido por Jesus de Nazaré em vida, teria findado com a morte na cruz, sendo substituído por outro movimento instituído em torno dos novos significados dados a esta morte – é este o cristianismo que o filósofo rejeita e critica.

Visto desta forma, O Anticristo deveria chamar-se O Ante-Paulo, já que é ao apóstolo de Tarso que Nietzsche dirige suas mais duras críticas, tendo-o como expressão do sangue de teólogo que despreza e representação do instinto de sacerdote que odeia.
Paulo é mostrado como um falsário que rejeita a proposta primitiva do Evangelho de felicidade real nesta vida, a substituindo por uma felicidade prometida para uma outra vida (e ainda assim vinculada a condições), transformando o cristianismo em uma "religião que promete tudo, mas não cumpre nada".

Para Nietzsche, as conseqüências deste falseamento conduzido por Paulo seriam posteriormente estendidas à própria História, uma vez que o cristianismo dele oriundo reivindicaria primeiro o passado judaico, e posteriormente toda a história pregressa da humanidade, como uma pré-história do cristianismo.
O filósofo neste ponto se omite de reconhecer que nossa percepção da História, como hoje a temos, surge justamente da necessidade de o pensamento cristão assentar-se em um contínuo temporal de eventos que se inicia na eternidade e se finda nela, da criação ao fim dos tempos.

É sobre este assentamento histórico que o cristianismo elevou a morte na cruz da condição de encerramento inglório de uma vida sem triunfo, para cumprimento de uma promessa feita no início dos tempos, o Messias judaico que triunfa na redenção e profetiza a vindoura glória eterna. Ou seja, passado, presente e futuro foram combinados para dar sentido a um acontecimento que dentro de sua contemporaneidade era completamente desprovido dele.

Este sentido histórico do cristianismo, segundo o filósofo, transferiu o centro de gravidade da vida, dela própria (o aqui, agora, o real, o instinto) para um além indefinido (no espaço, no tempo, na vontade) que na prática representa o mesmo que trocar a vida pelo nada.

É obviamente temeroso tratar um pensamento de ruptura com toda a tradição filosófica ocidental, como o é o pensamento de Nietzsche, em aventuras diletantes como este brevíssimo resumo. Assim como é temeroso mergulhar de cabeça em sua visão de mundo e correr o risco de se deixar seduzir pela transmutação de todos os valores que pregava, sem estar preparado para as terríveis conseqüências possíveis.

Mas não podemos deixar de louvar a coragem deste pensamento que ousou proclamar para uma civilização ocidental moldada pelas doutrinas de Paulo que no fundo só existiu um cristão, e ele morreu na cruz.


Nós, Índios.

Acauan Guajajara
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Re.: O super-homem

Mensagem por Acauan »

Samael escreveu:Nietzsche é uma porcaria.


Resumiu bem.

Diria mais, Nietzsche era um bundão.
Pode-se dizer que uma coisa é o homem, outra a obra, mas as limitações pessoais do bigodudo se refletem no que escreveu.

Toda filosofia de Nietzsche, se é que podemos chamá-la assim, é poética, uma descrição da natureza humana extraída do conflito entre a percepção do autor e os valores civilizacionais do ocidente, construídos pelo cristianismo e pela filosofia grega socrática-aristotélica.

A força poética da narrativa é muitas vezes arrebatadora, pois invoca mitos e símbolos poderosos, bem como fala alto aos anseios reprimidos de cada um.
O problema é que aquilo não tem nada a ver com a realidade, uma vez que não é preciso ser filósofo para saber que se alguns anseios são reprimidos é porque motivos há.

Nietzsche era o que hoje chamaríamos de NERD, um estudioso brilhante, mas esquisitão, que invejava os grandes conquistadores do passado como o estereótipo do presidente do clube de ciências da high school inveja o capitão do time de futebol.

Bertrand Russel, dentre outros, demonstrou claramente como as fraquezas pessoais de Nietzsche transparecem em pontos de sua obra e em sua visão de mundo, reduzindo o pensador alemão a uma caricatura mesquinha, que sonha com uma grandeza que se sente incapaz de alcançar e, por isto mesmo, mas com brilhantismo, cria uma realidade poética onde tal sonho, em si, é força, não fraqueza.

Mesmo assim, há muita injustiça sobre Nietzsche e sua obra.
A maioria das correlações traçadas entre seus escritos e o nazismo não resiste a uma análise minimamente aprofundada, que deixa claro que o super-homem nietzscheniano e o hitlerista só têm em comum a origem, o fato de serem ambos produto do triunfo da vontade.
No mais, o super-homem nazista é apenas uma fração de um coletivo místico no qual reside o verdadeiro poder, enquanto o de Nietzsche é a expressão mais brutal do individualismo.

Além do que a irmã do cara, uma mulher prá lá de sinistra, após a morte dele adulterou vários trechos de seus livros, inserindo alguns conteúdos explicitamente associáveis ao nazismo, mas facilmente identificáveis como incompatíveis com o conjunto da obra.

E por aí afora.


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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Edson Jr »

Acauan escreveu:
Samael escreveu:Nietzsche é uma porcaria.


Resumiu bem.

Diria mais, Nietzsche era um bundão.


Acauan;

Samael não pode admirar Nietzsche e, imagino eu, que por razões distintas das suas.

Pois a intuição de Nietzsche foi tão aguçada que suas idéias centrais se hamonizam perfeitamente com a psicanálise freudiana. Tanto Freud, quanto Nietzsche possuem posicionamentos essencialmente distintos dos de Marx, que Samael admira.

Sei lá Acauan, mas sua argumentação não me pareceu convincente não....
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Edson Jr
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Edson Jr »

Acauan escreveu:O problema é que aquilo não tem nada a ver com a realidade, uma vez que não é preciso ser filósofo para saber que se alguns anseios são reprimidos é porque motivos há.


Acauan;

A grande dificuldade, para mim, não é a percepção de que existem motivos por detrás das repressões e, sim, a coragem e ousadia em buscar compreender estes motivos.

Isso não tem nada a ver com a realidade? Não entendi!
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Acauan
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Acauan »

Edson Jr escreveu:Acauan;

Samael não pode admirar Nietzsche e, imagino eu, que por razões distintas das suas.

Pois a intuição de Nietzsche foi tão aguçada que suas idéias centrais se hamonizam perfeitamente com a psicanálise freudiana. Tanto Freud, quanto Nietzsche possuem posicionamentos essencialmente distintos dos de Marx, que Samael admira.

Sei lá Acauan, mas sua argumentação não me pareceu convincente não....


Talvez porque para mim, dizer que alguma idéia se harmoniza com a psicanálise freudiana não é elogio nenhum para a idéia em questão, muito pelo contrário.

Na modesta opinião do Índio cá, nem Nietzsche, nem Freud e nem Marx tem pé ou cabeça, cada qual por seus próprios motivos.
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Re: Re.: O super-homem

Mensagem por Acauan »

Edson Jr escreveu:
Acauan escreveu:O problema é que aquilo não tem nada a ver com a realidade, uma vez que não é preciso ser filósofo para saber que se alguns anseios são reprimidos é porque motivos há.


Acauan:

A grande dificuldade, para mim, não é a percepção de que existem motivos por detrás das repressões e, sim, a coragem e ousadia em buscar compreender estes motivos.

Isso não tem nada a ver com a realidade? Não entendi!


Muitas vezes há muito mais coragem e ousadia na repressão dos instintos do que na sua realização.
A idéia de que toda rebeldia é nobre e toda subordinação é vil é tipicamente revolucionária, um outro subproduto da cultura marxista, com antecedentes históricos nas ideologias de outras revoluções.

Qualquer animal pode ceder aos seus instintos e direcionar sua força para realizá-los.
A verdadeira nobreza está em que, possuindo a força e a vontade para realizar seus instintos, renunciar a eles em função de um propósito tido como superior a eles.

O problema em Nietzsche é mais complexo do que se pode concluir de uma análise superficial.
Ele compreende perfeitamente a capacidade humana de dominar seus instintos e direcionar sua força para um propósito maior, mas não aceita que este propósito seja posto acima de seu proponente. Para ele se o esforço de superação leva à uma subordinação, então este esforço foi pervertido e inútil e seu realizador traiu sua "vontade de potência", o que para o pensador era o único pecado.

Esta visão de Nietzsche é muito deslumbrante, arrebatadora até, mas apenas no sentido poético, não encontramos nada na experiência prática que lhe dê sustentação, tanto quanto não encontramos na experiência prática nada que dê sustentação à psicanálise freudiana ou ao marxismo.

Onde está o super-homem de Nietzsche?
Onde estão as evidências científicas de que os simbolismos da psicanálise freudiana podem ser demonstrados experimentalmente?
Cadê um único estado marxista que deu certo?

Todas estas teorias se sustentam pelo poder que exercem sobre seus estudiosos em afasta-los da realidade empírica e confundi-los a ponto de não distinguir a diferença entre arrebatamento poético e análise crítica da veracidade dos conteúdos.
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