Adrianoped escreveu:André escreveu:Adrianoped escreveu:Eu sou a favor no movimento negro, e acho que essa idéia do dia do mestiço é apenas para contrariar, algo como dia do hétero para quem é contra os gays.
A desigualdade sócio-racial no país é alarmante, com os negros (partos e pretos) tendo um terço da renda dos brancos. Nas universidades eram apenas 2 a 5% de negros que tinham acesso as universidades públicas, demonstrando a discriminação na nossa sociedade.
Sou contra o mito da democracia racial, que considera que o nosso país é justo racialmente e que o problema é econômico. Vejo como um dos problemas econômicos, da pobreza, o descaso do país durante a nossa história com os negros. Assim, vou a favor de políticas de ação afirmativas, tanto para os negros como para os pobres.
1-Eu respeito a legitimidade do movimento negro, e de democraticamente defender suas causas. Mas gostaria muito de um movimento mestiço, para não se esquecer, que nem todos que são considerados pelos outros como negros se consideram. E não devem ser excluídos, alias ninguém deve ser excluído devido a raça. Esse não deve ser um critério.
1-Ser mestiço não é referente a cor, que é a causa do racismo no Brasil. Isso é mais baseado na idéia de que todos somos iguais, mas que na prática é diferente. O movimento negro busca mais valorizar as origens, e isso acho importante.
André escreveu:2- A desigualdade econômica é o grande problema. Assim como racismo, e preconceitos, mas para resolver ambos, políticas sociais, e educação, que valoriza o individuo, e não sua cor, ou sua religião, mas que respeita a identidade dele, e sua forma de pensar, são fundamentais.
2-A desigualdade econômica é o resultado. E com base nesse resultado a situação persiste continuamente. Vejo a desigualdade racial como uma das causas da pobreza e não o contrário.
André escreveu:3-Não acredito em democracia racial nenhuma, e existe racismo sim. Apenas discordo que esse seja o meio para resolver.
Como já disse anteriormente, não se pode punir pessoas pela cor de sua pele, nem beneficiar por isso. O único critério de equidade que eu entendo como justo, é o socioeconômico.
3-As cotas não punem ninguém. Não existem donos de vagas que depois as perdem. Apenas ocorre uma mudança nos critérios de admissão na universidade, sendo que a maioria branca é resultado das melhores condições econômicas.
André escreveu:O risco, enorme, de se incentivar, acabar com identidade mestiça, assim como, o de excluir todos os que não se identifiquem como negros, é algo já materializado em parte, por políticas universitárias. Mesmo que sejam pobres, e tenham estudado a vida toda em escola pública, apenas por não se identificar como negros, estão fora. É essa a injustiça com aqueles que não se identificam que eu não posso compactuar.
4-Pelo que me parece essa identidade mestiça é baseada no mito de uma democracia racial onde somos todos mestiços e o problema é apenas econômico. Mas é impressão apenas, não conheço.
1-Eu não me baseio na idéia que todos são iguais. Deixei isso claro. Um dos meus professores de África fala do choque quando os que buscam suas origens conhecem os reinos africanos e sua história. Como colaboraram, vários, para o tráfico de escravos, como se envolveram (E envolvem) em guerras, e escravizam, de forma diferente é verdade (pois o europeu introduziu na maioria dos casos escravidão como mercadoria).
As origens não são um mar de rosas. E no Brasil, houve miscigenação, isso não é um mito faz parte da nossa história. O mito construído, que seriamos um povo tolerante, e igualitário, esse sim é uma construção mítica, e que não procede.
2-Não nego que desigualdade racial, com ligações históricas, e de racismo institucional, e social, seja uma das causas da pobreza, de boa parte dos pobres. Não de todos, e esquecer dos que não estão nesse universo, tratando apenas como números é temerário. São pessoas, e se forem esquecidas e sem políticas que as ajudem, estaremos cometendo uma injustiça com elas, e usando um critério racial para definir quem é ajudado e quem não é.
3-Os não-negros pobres são punidos sim, não podem pagar universidades privadas, e não vão entrar nas públicas. Estão condenados pelo sistema a permanecer na pobreza. É mais do que uma punição, é uma condenação, com pouco espaço de escapatória.
4-Não é. Muitas pessoas têm de fato identidade mestiça, dizer que elas não devem ter, e/ou dizer que elas estão erradas em não se reconhecer como negras ou pardas, é querer, determinar por elas quem elas são. E já disse, se ela não se comportar como esperado, é condenada ao ostracismo acadêmico, a impossibilidade de cursar a Universidade, reduzidas suas chances de ascender a quase zero. Essas pessoas existem, e para mim se são maioria ou se são minoria é um caso menor, o que importa é que devemos respeitá-las, ajudá-las, independente de sua cor, independente de sua auto-declaração. Não somos todos iguais, nem os pobres são iguais entre si, mas a nossa solidariedade não deve medir com base na cor quem merece mais ajuda, e sim ver quem mais precisa, e a necessidade está ligada muito mais a condições econômicas.
Os fatores do racismo, devem ser combatidos fortemente, o racismo institucional, nas escolas, no mundo do trabalho, assim como demais preconceitos. Punindo criminosos, prevenindo descriminação. E não é necessário produzir uma nova injustiça, marginalizar ainda mais um grupo já excluído, para lutar por uma sociedade na qual as pessoas vêem o individuo pelo que ele é, que vai muito além de sua cor.
5-Sobre isso não vamos concordar. Apenas reforço que apesar de minha veemente discordância, como democrata, uma vez aprovado, e implementado, eu respeito as regras do jogo, e a vitória daqueles que conseguiram nos canais democráticos, obter maioria. Assim como respeito indivíduos das diferentes posições, e qualquer posição, advinda do sincero exame dos princípios, das evidencias, é respeitável. Sendo o ataque a pessoa, algo tão comum nesses debates, é algo tão deplorável. E ainda bem ausente no nosso debate.
E na democracia devemos aprender a discordar, a levar o dissenso, como algo que integra nossas relações, faz parte da disputa, e enriquece o diálogo.
P.S. A partir daqui nessa questão provavelmente iria me tornar repetitivo, por isso vou procurar, me ater a dizer que já compreendo as razões das outras posições, apenas acho mais fracas perante as minhas. Como imagino o mesmo ocorre nos outros.