O fim dos tratados de controle de armas

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spink
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O fim dos tratados de controle de armas

Mensagem por spink »

El País


O sistema que garantiu a estabilidade militar entre Leste e Oeste desmorona

Andrea Rizzi
Em Madri

A arquitetura de segurança internacional estabelecida durante a Guerra Fria e nos anos 1990 com a assinatura de um complexo emaranhado de tratados sobre controle de armas está desmoronando.

Todos os principais pilares dessa estrutura tremem sob a pressão de novas relações de força que se afirmaram, ou pretendem se afirmar, no tabuleiro mundial. A suspensão da aplicação do Tratado sobre Armas Convencionais decidida pela Rússia é só um elemento de um conjunto de atritos que também afetam os tratados sobre armas nucleares intermediárias e intercontinentais. "A medida é mais um passo, uma conseqüência lógica de uma dinâmica que começou em 2002, quando Washington se retirou do Tratado Antimísseis Balísticos", comenta Oksana Antonenko, analista do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em Londres. "O governo Bush deixou claro então que não apostava nesse emaranhado de tratados, e a única coisa surpreendente na reação de Moscou é que tenha demorado tanto", argumenta Antonenko.

"Trata-se de um sistema pensado para um mundo bipolar que já não existe. Mas seria um erro pensar que não faz mais sentido. É preciso adaptá-lo", considera Kart Kaiser, professor da Universidade de Harvard. "EUA e Rússia continuam mantendo arsenais nucleares muitas vezes maiores que os de todos os outros juntos."

O motivo de discórdia oficial em torno do Tratado de Armas Convencionais é que os países da Otan não ratificaram a revisão acordada depois da desintegração do Pacto de Varsóvia. O Kremlin denuncia que sem a ratificação há vários países ex-comunistas -por exemplo, os bálticos- que ficam de fato com as mãos livres. A Otan justifica sua posição alegando que a Rússia descumpriu o compromisso de retirar suas tropas da Abcázia (Geórgia) e de Transdniester (Moldávia).

O atrito é só a ponta de um iceberg. "As forças convencionais em si -tanques, artilharias, etc.- já não têm relevância estratégica", comenta Antonenko. Outra coisa, por exemplo, é a vontade dos EUA de instalar mísseis e radares na Polônia e na República Checa para seu escudo espacial. Ou os contrastes sobre tratados nucleares.

"A Rússia manteve um perfil discreto durante muito tempo. Foi paciente, apesar da atitude expansionista da Otan. Agora seus progressos econômicos respaldam posições de maior firmeza na defesa de seus interesses nacionais", observa Vladimir Orlov, presidente do Centro de Estudos Políticos em Moscou. O Kremlin mostra os músculos.

"Nesse movimento devem-se levar em conta algumas coisas. Apesar do crescimento, o PIB russo tem praticamente o mesmo tamanho que o da Holanda. Isso esclarece as relações de força", indica José Ignacio Torreblanca, diretor do Conselho Europeu sobre Relações Exteriores em Madri. "A Rússia, que além disso é um país em declínio demográfico, não tem força para financiar um gasto militar realmente ameaçador."

"Por outro lado", continua Torreblanca, "creio que a atitude russa em relação ao exterior corresponde em grande medida a motivações de política interna. Essa atitude produz consenso político. Mas acentua o retrocesso da ordem multilateral a que assistimos. Retrocesso para o qual os EUA também contribuem. O mundo está se obscurecendo."

Nesse quadro, os analistas concordam em salientar a relevância das tensões ao redor do Tratado sobre Armas Nucleares Intermediárias. Com esse acordo bilateral, Moscou e Washington pactuaram a eliminação dos arsenais de mísseis com alcance entre 500 e 5.500 km. O Kremlin pede uma internacionalização do acordo, alegando que enquanto a Rússia está de mãos atadas seus países vizinhos podem desenvolver livremente seus arsenais. "É claro que há um problema aí. A Rússia destruiu seu arsenal e agora se preocupa com a China, Índia, Paquistão, Irã", comenta Kaiser. "Um novo tratado que preveja a eliminação é impossível, esses novos países não aceitariam destruir suas armas nucleares. Mas é possível pensar em um novo tipo de disciplina que torne o cenário mais estável. Penso em normas que permitam inspeções, transparência. Inclusive estabelecer limites legais; por exemplo, cem ogivas para cada país."

Kaiser está convencido de que, apesar de haver "novos atores, e até atores não-estatais com armas de destruição em massa", os sistemas de controle de armamentos não devem ser abandonados. Acredita que uma mudança de rumo em Washington permitiria reatar o diálogo com eficácia. Antonenko, por sua vez, se diz totalmente "cética" sobre a possibilidade de que sistemas desse tipo possam ter sentido em "um mundo tão fragmentado quanto o atual".
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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Soviete Supremo
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Re.: O fim dos tratados de controle de armas

Mensagem por Soviete Supremo »

O lobby da industria armamentista norte-americano é muito forte, precisam fabricar armas para manter o crescimento econômico. Chomsky chama isto de "economia de guerra permanente". Tomara que os EUA e a Russia cheguem sempre a um acordo.
“A classe capitalista fornece continuamente à classe operária letras de câmbio por uma parte do produto fornecida pela segunda, mas encampada pela primeira. Mas o operário continua a devolvê-la à classe capitalista, retirando a parte que lhe toca por seu próprio produto. A forma mercadoria do produto e a forma dinheiro da mercadoria dissimulam essas relações.”

O Capital – edição resumida - Karl Marx e Julian Borchardt - 7ª edição – pág.139

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Samael
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Re.: O fim dos tratados de controle de armas

Mensagem por Samael »

Que merda. A concentração de forças nas mãos de uma só nação é sempre problemática.

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O ENCOSTO
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Mensagem por O ENCOSTO »

Menos problematico seria se o Iran tivesse o mesmo poder de fogo.
O ENCOSTO


http://www.manualdochurrasco.com.br/
http://www.midiasemmascara.org/
Onde houver fé, levarei a dúvida.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”

Trancado