
Andrei Netto
O governo da França fez ontem mais um gesto no sentido de um acordo humanitário para a libertação dos 45 reféns em poder do grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Um dia após a decisão unilateral dos guerrilheiros de libertar três seqüestrados - entre eles a ex-assessora da refém franco-colombiana Ingrid Betancourt, Clara Rojas -, o premiê francês, François Fillon, anunciou que seu país está disposto a receber membros das Farc que venham eventualmente a ser soltos pelo governo de Álvaro Uribe. Na França, a posição de Fillon foi interpretada como um passo a mais para um acordo humanitário - e todos agora aguardam uma posição similar de Bogotá.
Fillon fez o anúncio durante uma jornada dedicada a Ingrid, ex-candidata à presidência da Colômbia, seqüestrada em fevereiro de 2002. Na terça-feira, o comando guerrilheiro havia afirmado em comunicado que libertaria três reféns - Clara, seu filho nascido no cativeiro Emmanuel, de cerca de 3 anos, e a ex-senadora Consuelo González. A reação foi clara: “Uribe nos indicou que gostaria que a França pudesse acolher (rebeldes soltos)”, disse Fillon. “Nosso governo indicou que está disposto, assim com outros países europeus e da América Latina”, acrescentou, sem mencionar o termo “asilo”.
Fillon transferiu a responsabilidade por novos gestos de boa vontade ao presidente da Colômbia. “Uribe deve ser aquele que vai permitir a libertação da refém”, afirmou, referindo-se a Ingrid. “Digo ao presidente Uribe: há urgência humanitária. Essa mulher pode morrer.” Uribe, porém, insistiu que as Farc libertem “de forma unilateral e incondicional” todos os reféns. Já o líder das Farc Raúl Reyes afirmou que a renúncia de Uribe e de seu governo “garantiria” a libertação de todos os reféns.
Fillon disse que a intermediação de três meses do presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi determinante para a divulgação das provas de vida de 17 reféns, no início de dezembro. A gestão de Chávez, afirmou, “teve um efeito extraordinário no mundo todo”. O reconhecimento do papel do venezuelano nos avanços deve fazer crescer a pressão sobre Uribe (ler mais na pág. 18). Foi o colombiano que destituiu Chávez do papel de mediador em novembro, justo quando ele prometera obter provas de vida e conseguir a liberdade de reféns ainda este ano. Desde então, a família de Ingrid ataca o que considera “mostras de intransigência” de Uribe e pede pressão internacional para que ele faça um acordo humanitário.
Nessa linha, Mélanie, filha de Ingrid, exortou ontem o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, a tomar posição publicamente, e não apenas agir nos bastidores diplomáticos. “O presidente Lula pode ter um papel determinante”, disse ela ao Estado. “É o líder da maior potência econômica da região e um político de esquerda que sabe transigir com outras vertentes ideológicas. Ele precisa manifestar-se de maneira forte pelo fim do impasse.”