Dawkins-probabilidade e SN
O que é que faz a seleção natural ser bem-sucedida como solução para o problema da improbabilidade, para o qual o acaso e o design fracassam já de saída? A resposta é que a seleção natural é um processo cumulativo, que divide o problema da improbabilidade em partículas pequenas. Cada uma das partículas é ligeiramente improvável, mas não definitivamente. Quando grandes números desses fatos ligeiramente improváveis são reunidos em série, o resultado final do acúmulo é mesmo improba-bilíssimo, improvável o bastante para estar muito além do alcance do acaso. São esses produtos finais que dão forma aos objetos do argumento cansativamente reciclado pelos
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criacionistas. O criacionista não enxerga o cerne da questão, porque ele (pelo menos uma vez, as mulheres não deviam se importar por serem excluídas pelo pronome) insiste em tratar a génese da improbabilidade estatística como um evento único e isolado. Ele não entende o poder do acúmulo. Em A escalada do monte Improvável, manifestei essa questão na forma de uma parábola. Um lado da montanha é um despenhadeiro, impossível de escalar, mas o outro lado é uma encosta de subida amena até o topo. No topo está um dispositivo complexo, como um olho ou um flagelo bacteriano. A idéia absurda de que tamanha complexidade possa se montar sozinha, esponta-neamente, é simbolizada por um pulo só, do pé do penhasco até o cume. A evolução, pelo contrário, vai por trás da montanha e pega a subida amena até o topo: fácil! O princípio da comparação entre escalar a encosta amena e pular pelo lado do precipício é tão simples que ficamos tentados a nos espantarmos com o fato de ter demorado tanto para um Darwin aparecer e descobri-lo. Quando ele fez isso, quase dois séculos haviam se passado desde o annus mirabilis de Newton, embora sua realização pareça, pensando bem, ter sido mais difícil que a de Darwin.
sou burro...
