Por que o 'mau olhado' só atinge pobre?

[DarkWings]

Segundo o Dicionário do Cético:
"O mau olhado é uma espécie de maldição lançada a alguem, gado, colheitas, etc, por alguem que tem o "olho mau". Parece não haver uma razão especifica para alguem ter essa capacidade ou não a ter. Parece ser suficiente olhar outros com inveja e desejar-lhe mal. Na Sícilia e no sul da Itália acredita-se que algumas pessoas (os jettatore) são malévolos e deliberadamente lançam o mau olhado sobre as suas vitimas. A crença no mau olhado não está necessariamente associada à bruxaria ou feitiçaria, embora os Inquisidores da Igreja Católica fossem instruídos a procurá-lo. O Papa Pio IX era considerado um jettatore, não porque fosse malévolo, mas porque parecia que os desastres caíam sobre as pessoas e lugares que ele abençoava.

Esta superstição é antiga e espalhada pelo mundo, embora não universal. Parece ter surgido na Suméria. As suas motivações originais são obscuras mas pode ter a sua raíz no medo de estranhos ou outras preocupações sociais e num simples raciocínio post hoc, ou seja, um estranho passa pela localidade, e mais tarde uma criança adoece ou a colheita perde-se. Vários rituais se produziram para contrabalançar os efeitos do mau olhado, como cuspir ou sujar uma criança que sofreu o mau olhado, evitar o olhar de estranhos, recitar certas palavras da Biblia ou do Corão, etc. A crença mantem-se nas zonas do Mediterraneo e do Mar Egeu, onde amuletos e talismans são vendidos como proteção. Alguns etnólogos acreditam que a crença no mau olhado se enraíza na biologia primária (dominância e submissão são mostrados olhando e desviando o olhar) e relacionada com o nosso desconforto quando somos olhados fixamente.

O mau olhado é conhecido como ayin horeh em Hebreu; ayin harsha em Arábico, droch shuil na Escócia, mauvais oeil na França, böse Blick na Alemanha, mal occhio na Itália e era conhecido como oculus malus pelos antigos Romanos. "

http://brazil.skepdic.com/mauolhado.html

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Agora vocês já reparam que normalmente as pessoas mais simples são as que mais se preocupam com essas crendices de
"Mau olhado" ?
Outro dia vi um charreteiro catador de papel com uma plaqueta presa à charrete: "Não estou tão bem como imaginas, nem tão mal como gostarias". Ora... dá um tempo? Quem é que vai ter inveja de um catador de papel!
E quem nunca viu uma Brasíla 70 e poucos caindo aos pedaços com aqueles adesivos "A Inveja é uma merda", fitinhas de Nso. Sr. do Bonfim, figas e outros amuletos/adereços brega ?

É curioso que normalmente as pessoas que se dizem 'vítimas do mau olhado' não tem nada para serem invejadas. São pobres e feias... enfim... não tem nenhum atrativo, seja ele em exuberância ou beleza física, seja ele dinheiro ou posição social.

Sempre digo pra essas pessoas que se mau olhado funcionasse a Gisele Bundchen que é linda e rica não poderia nem sair na rua :)

[Acauan]

E quem nunca viu uma Brasíla 70 e poucos caindo aos pedaços com aqueles adesivos "A Inveja é uma merda", fitinhas de Nso. Sr. do Bonfim, figas e outros amuletos/adereços brega ?

Escrevi exatamente sobre este ponto algum tempo atrás:

Sobre a Inveja e Brasílias velhas
Postado originalmente em 24/5/2004 13:57:18
por Acauan

Cansei de ver o adesivo com a frase “tá amarrado olho gordo” em vidro traseiro de Brasília velha.
Nunca vi um Mercedes Benz classe "E” que ostentasse o mesmo selo protetor.
As preferências automotivas dos invejosos devem ser peculiares.

A inveja é vista por muitos como algo mais que um sentimento negativo ou uma falha de caráter.
Para o povão, a inveja é um poder místico maligno, que quando evocado pelo demoníaco vizinho ou pela traiçoeira sirigaita que se finge de melhor amiga pode levar à ruína a vida dos pobres invejados.

Tudo bem. Concordo que o mundo está cheio de espíritos de porco, que odeiam o sucesso alheio mais que o próprio fracasso (tá bom, esta é uma frase de pára-choque de caminhão, mas o assunto também é) e estão sempre mais dispostos a se empenhar no prejuízo dos outros do que no benefício próprio.

Só que tem uma coisa que eu nunca entendi neste medo todo que a turma tem da inveja.

Uma frase comum que pais ou mães-de-santo repetem após uma consulta com um desanimado cliente é o “zinfio, tem muita inveja incima di ocê”.
Em mais de uma ocasião me senti tentado a perguntar:

- Por que alguém invejaria este cara, se a vida dele é uma merda?

A resposta poderia ser que a vida dele estava ruim justamente por causa da inveja, só que em muitas das vezes a vida do cara sempre foi uma merda, desde que ele nasceu, logo, a menos que ele tivesse começado a ser invejado no útero materno, suas mazelas deveriam ter necessariamente outras causas.

Mas nestes casos, há que se reconhecer um certo efeito placebo no diagnóstico da inveja. Alguém cuja vida é uma merda, ao se crer invejado talvez recupere um pouco de sua auto-estima, talvez o suficiente para começar a enfrentar seus fracassos de modo mais positivo.
Um daqueles exemplos em que o Babalaorixá ou a Yalaorixá atuam mais como terapeutas populares do que como sacerdotes tribais.

E tem o sal grosso.

É impressão minha ou nunca se viu tanto sal grosso devidamente ornado por cabeças de alho exposto em estabelecimentos comerciais?
Tudo bem se o dono da venda da esquina não quer arriscar, mas quando você começa a perceber excesso de cloreto de sódio em lojas de Shopping Centers cheios de coisa é porque a coisa tá braba mesmo.

Espero que os lojistas joguem o sal grosso fora no dia em que comprarem seu primeiro Mercedes.

Não quero parecer um ignorante supersticioso, mas acredito que a estagnação econômica, os juros altos e a perda do poder de consumo da população têm mais a ver com a situação do comércio do que o mal olhado. Desculpem minha ingenuidade os defensores do mal olhado, que tem sempre uma relação enorme de exemplos para provar o quanto ele é destrutivo.

Mas voltando às Brasílias velhas, tenho que reconhecer que é compreensível o fato de o zeloso proprietário do Volkswagen estar mais preocupado com a inveja que desperta seu vistoso veículo, do que o modesto possuidor do Mercedes último tipo.

No mais das vezes, o dono do Mercedes vive e convive com gente que não pensa que ter um carro importado seja lá grande coisa, se procurar vai achar um ou outro naquele meio que diz que estes carrões são uma coisa meio brega (hereges...).
Nestes ambientes as pessoas não costumam atribuir os infortúnios cotidianos ao olho gordo. Eles os crêem oriundos de fontes mais sofisticadas, como o prazer de seus pares em levar um desafeto à falência ou passar para trás um sócio desatento.

Já o dono da Brasília poderá ter como vizinhos, pessoas para quem ter uma Brasília é um sonho de consumo inalcançável, o que dá uma conotação realista à sua preocupação com a inveja.
Além do que, um dono de Mercedes que porventura a tenha roubada ou batida se limitará a mandar algum auxiliar cuidar dos pormenores com o seguro, enquanto nosso amigo da Brasília em situação semelhante talvez nunca mais tenha a chance de desfrutar dos confortos de um automóvel, que por mais velho que fosse, é melhor que o transporte coletivo, em especial o que serve às periferias das grandes cidades brasileiras, o que justifica a sua preocupação de recorrer a todos os meios para minimizar os riscos.

Como tudo no Brasil, as superstições refletem os males da distribuição de renda.

Mas este era para ser um texto engraçado (isto que dá escrever na segunda-feira).

[Cabula]

Segundo o Dicionário do Cético:
"O mau olhado é uma espécie de maldição lançada a alguem, gado, colheitas, etc, por alguem que tem o "olho mau". Parece não haver uma razão especifica para alguem ter essa capacidade ou não a ter. Parece ser suficiente olhar outros com inveja e desejar-lhe mal. Na Sícilia e no sul da Itália acredita-se que algumas pessoas (os jettatore) são malévolos e deliberadamente lançam o mau olhado sobre as suas vitimas. A crença no mau olhado não está necessariamente associada à bruxaria ou feitiçaria, embora os Inquisidores da Igreja Católica fossem instruídos a procurá-lo. O Papa Pio IX era considerado um jettatore, não porque fosse malévolo, mas porque parecia que os desastres caíam sobre as pessoas e lugares que ele abençoava.

Esta superstição é antiga e espalhada pelo mundo, embora não universal. Parece ter surgido na Suméria. As suas motivações originais são obscuras mas pode ter a sua raíz no medo de estranhos ou outras preocupações sociais e num simples raciocínio post hoc, ou seja, um estranho passa pela localidade, e mais tarde uma criança adoece ou a colheita perde-se. Vários rituais se produziram para contrabalançar os efeitos do mau olhado, como cuspir ou sujar uma criança que sofreu o mau olhado, evitar o olhar de estranhos, recitar certas palavras da Biblia ou do Corão, etc. A crença mantem-se nas zonas do Mediterraneo e do Mar Egeu, onde amuletos e talismans são vendidos como proteção. Alguns etnólogos acreditam que a crença no mau olhado se enraíza na biologia primária (dominância e submissão são mostrados olhando e desviando o olhar) e relacionada com o nosso desconforto quando somos olhados fixamente.

O mau olhado é conhecido como ayin horeh em Hebreu; ayin harsha em Arábico, droch shuil na Escócia, mauvais oeil na França, böse Blick na Alemanha, mal occhio na Itália e era conhecido como oculus malus pelos antigos Romanos. "

http://brazil.skepdic.com/mauolhado.html

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Agora vocês já reparam que normalmente as pessoas mais simples são as que mais se preocupam com essas crendices de
"Mau olhado" ?
Outro dia vi um charreteiro catador de papel com uma plaqueta presa à charrete: "Não estou tão bem como imaginas, nem tão mal como gostarias". Ora... dá um tempo? Quem é que vai ter inveja de um catador de papel!
E quem nunca viu uma Brasíla 70 e poucos caindo aos pedaços com aqueles adesivos "A Inveja é uma merda", fitinhas de Nso. Sr. do Bonfim, figas e outros amuletos/adereços brega ?

É curioso que normalmente as pessoas que se dizem 'vítimas do mau olhado' não tem nada para serem invejadas. São pobres e feias... enfim... não tem nenhum atrativo, seja ele em exuberância ou beleza física, seja ele dinheiro ou posição social.

Sempre digo pra essas pessoas que se mau olhado funcionasse a Gisele Bundchen que é linda e rica não poderia nem sair na rua :)

Eu também já observei este tipo de coisa pessoas que dizem: Tá amarrada inveja, e eu pensando quem teria inveja desta pessoa?

[Lúcifer]

Vocês já viram aquelas ciganas de beira de calçada caçando vítimas incautas que caem naqueles papos idiotas? Bem, uma vez eu estava indo para o meu serviço e a calçada estava muito cheia e, como sempre tinha essas benditas ciganas. Uma delas conseguiu pegar a minha mão e disse:
- Tem alguém que inveja você.
E eu respondi:
- Grande novidade. Me conte algo que eu não sei.
Soltei a minha mão e fui embora. Isso não me afeta porque eu sei que, sempre nos lugares onde trabalhos, sempre tem um idiota fracassado que tem inveja de nossa competência e quer puxar o nosso tapete. Isso acontece em qualquer serviço, seja público ou particular.

[Lúcifer]

Uma outra vez, outra cigana tava querendo que eu meu consultasse com ela e eu me recusei. Ela disse:
- Cuidado. Se você desafiar a tia (esqueci o nome dela) você não será feliz.
Deu vontade de rir na cara dela mas eu estava atrasado para um compromisso.
Essas porras de mal-olhado só funcionam se você acreditar nelas; e um efeito psicológico, um medo irracional do irracional. Por isso que só pega pobre. Os pobres com um mínimo de instrução são mais suscetíveis a essas besteiras.

[Cabula]

Vocês já viram aquelas ciganas de beira de calçada caçando vítimas incautas que caem naqueles papos idiotas? Bem, uma vez eu estava indo para o meu serviço e a calçada estava muito cheia e, como sempre tinha essas benditas ciganas. Uma delas conseguiu pegar a minha mão e disse:
- Tem alguém que inveja você.
E eu respondi:
- Grande novidade. Me conte algo que eu não sei.
Soltei a minha mão e fui embora. Isso não me afeta porque eu sei que, sempre nos lugares onde trabalhos, sempre tem um idiota fracassado que tem inveja de nossa competência e quer puxar o nosso tapete. Isso acontece em qualquer serviço, seja público ou particular.

As pessoas de posição sentem prazer em ser invejadas. Expõe as propriedades das formas possíveis e em festas sociais querem vestir roupas que a destaquem. O único efeito adverso que isto pode causar é ASSALTO

[Acauan]

Há explicações para o comportamento daquelas pessoas que não tem nada de invejável, mas se acham invejadas e temem profundamente que isto prejudique suas vidas.
A primeira é a concepção que elas têm da inveja, não como uma admiração invertida que se ressente dos méritos e conquistas alheias, mas como uma espécie de força demoníaca, um tipo de campo de força do mal capaz de sugá-lo para os abismos de onde se origina.
Nesta concepção, a pessoa não é invejada pelo que tem ou deixa de ter, mas pelo desejo maléfico do invejoso que ela tenha ainda menos ou, preferencialmente, nada.
Me arriscando a um palpite sem fontes ou bases confiáveis, me parece um tipo de superstição medieval, resquícios dos tempos em que a Inquisição fomentou o medo de que todos os males cotidianos tivessem origem em algum tipo de bruxaria, que só surtiria efeito quando os alvos não estivessem em dia com suas obrigações religiosas. Como cautela nunca é demais, os servos da gleba sempre reforçavam as precauções pias ensinadas pela Santa Madre com algum tipo de mandinga druídica, cigana ou mística de alguma outra tendência.

Uma outra abordagem é que tais pessoas usam a inveja como um tipo de bode expiatório. É extremamente duro para qualquer um reconhecer que as causas de seus problemas e fracassos costumam ser primeiramente sua própria incompetência em fazer escolhas melhores. Crer-se invejada dá uma resposta satisfatória aos males cotidianos e, além de aliviar a auto-estima de quem adota tal pensamento, ainda cria a esperança vaga, mas útil no momento, de que basta um pouco de arruda ou sal grosso para que as coisas melhorem. Para muita gente, esta é uma das opções para enfrentar uma vida horrível. A outra é muita cachaça.

[Najma]

Uma outra abordagem é que tais pessoas usam a inveja como um tipo de bode expiatório. É extremamente duro para qualquer um reconhecer que as causas de seus problemas e fracassos costumam ser primeiramente sua própria incompetência em fazer escolhas melhores. Crer-se invejada dá uma resposta satisfatória aos males cotidianos e, além de aliviar a auto-estima de quem adota tal pensamento, ainda cria a esperança vaga, mas útil no momento, de que basta um pouco de arruda ou sal grosso para que as coisas melhorem. Para muita gente, esta é uma das opções para enfrentar uma vida horrível. A outra é muita cachaça.

Na minha opinião é isso também.

É muito mais fácil atribuir o fracasso à inveja alheia, ao ciúmes e/ou ao ódio de outrem do que admitir a própria incompetência. Não existe nada que corrobore cientificamente a idéia de que a inveja de alguém pode destruir a vida do outro, a não ser por alguma auto-sugestão, ou sugestão induzida por alguém que devote ódio a esse outro... Mas aí entramos em outro departamento, o das pessoas sugestionáveis atribuem qualquer coisa a qualquer coisa...

Beijos