Bipolaridade

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First Knight
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Bipolaridade

Mensagem por First Knight »

Olá amigos!

Eu fui diagnosticado como bipolar na adolescência. Mais tarde, frequentando o RV, descobri que o usuário Alenônimo também sofre desse disturbio. É de vital importancia diagnosticar cedo.

Segue reportagem, muito interessante, da Revista Época acerca da doença.

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Aceito críticas destrutivas: http://odiandotudo.blogspot.com/

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Fenrir
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Fenrir »

Ja eu fui diagnosticado com Distimia e ADHD (Attention Deficit/Hyperactivity Disorder) adulto.
Mas permaneco cetico... fiz tratamento contra o ADHD (ritalina) e nao surtiu efeito algum.

Ainda tenho duvidas se o ADHD existe mesmo e se existe, que eu tenha o tal disturbio,
ja que os malditos diagnosticos sao todos subjetivos (questionarios, depoimentos...).
Nao e como um exame de sangue ou diabetes!

E o pior e que um outro psiquiatra disse que era TOC (Transtorno Obssessivo-Compulsivo).
Ou eu sou um CID-10 ambulante ou estes profissionais sao todos uma porcaria!!
"Man is the measure of all gods"
(Fenrígoras, o sofista pós-socrático)

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Bellé
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Bellé »

Tenho um amigo que tem o disturbio e nota-se nas suas atitudes uma costante briga pelo comando, indo de gargalhadas frenéticas até discussões bestas sobre assuntos idiótas!!!

Ele encontrou nos livros uma fuga para tal problema, o problema é que não sai mais de casa...ele devora dois livros por dia e dorme muito pouco...
O poder é parte da fraqueza de um homem sem deus...

Bellé

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Apo
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

Fenrir escreveu:Ja eu fui diagnosticado com Distimia e ADHD (Attention Deficit/Hyperactivity Disorder) adulto.
Mas permaneco cetico... fiz tratamento contra o ADHD (ritalina) e nao surtiu efeito algum.

Ainda tenho duvidas se o ADHD existe mesmo e se existe, que eu tenha o tal disturbio,
ja que os malditos diagnosticos sao todos subjetivos (questionarios, depoimentos...).
Nao e como um exame de sangue ou diabetes!

E o pior e que um outro psiquiatra disse que era TOC (Transtorno Obssessivo-Compulsivo).
Ou eu sou um CID-10 ambulante ou estes profissionais sao todos uma porcaria!!


Diagnósticos não são fáceis mesmo. E nem há entre os melhores profissionais um diagnóstico único, muito menos consenso. É difícil ouvir de um que você está apenas estressado, de outro que são problemas de infância mal resolvidos, que é bi-polaridade ou depressão pós traumática. Eles tentam alguns medicamentos baseados em análises subjetivas do que você reporta como sintomas ( nem sempre muito claros ou reconhecidos).

Já fui diagnosticada com stress e depressão, nunca com bi-polaridade . Um Prozac resolve muito bem a sensação de mal-estar. Mas tenho minhas dúvidas quanto ao disgnóstico.
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

Bellé escreveu:Tenho um amigo que tem o disturbio e nota-se nas suas atitudes uma costante briga pelo comando, indo de gargalhadas frenéticas até discussões bestas sobre assuntos idiótas!!!

Ele encontrou nos livros uma fuga para tal problema, o problema é que não sai mais de casa...ele devora dois livros por dia e dorme muito pouco...



Alguns bi-polares na fase eufórica fazem isto, e na fase depressiva, isolam-se e dormem muito. É muito triste.
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waldon
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Re: Bipolaridade

Mensagem por waldon »

Dizem que Winston Churchil era bipolar, alguns historiadores até acreditam que muitas decisões em batalhas que lhes deu vitórias foram feitas por causa disso, e que ele não teria tomado decisoes que tomou se nao tivesse bipolaridade o que o tornou herói na Inglaterra.
Crie sua camisa com frases ateístas ou de qualquer religião, frases tipo "DARWIN TEM AMA" ou fotos que você quiser, são camisas personalizadas, voce manda fazer a estampa, clique abaixo no link e saiba mais:


http://www.CamisaOnline.com.br/?id=449

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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

waldon escreveu:Dizem que Winston Churchil era bipolar, alguns historiadores até acreditam que muitas decisões em batalhas que lhes deu vitórias foram feitas por causa disso, e que ele não teria tomado decisoes que tomou se nao tivesse bipolaridade o que o tornou herói na Inglaterra.


O que não significa que bipolaridade seja algo benéfico ou desejável. E muito menos que todas as suas decisões acertadas o seriam em função da doença. Melhor se ele pudessem escolher sem o sofrimento de uma bipolaridade. Bipolares são eternos infelizes, e carregam todos a sua volta para dentro de sua instabilidade. É muito difícil.
Mais difícil ainda é imaginar que alguém possa achar que a bipolaridade o teria feito um herói.
A humanidade é mesmo monstruosa.
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Ilovefoxes
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Ilovefoxes »

O National Geographic já comentou sobre isso, e gerou muitas dúvidas para mim...

A questão da existência da bipolaridade é em ser consciente ou não. Mas basicamente, o programa colocou que a bipolaridade é uma idéia que os psiquiatras põem na cabeça das pessoas, de que elas não sabem o que fazem, que aconteceram coisas na vida delas de que não se lembram, etc... Até imagino que a aceitação fácil seja devido a justificar atos compulsivos que se faz.
Achei a parte mais duvidosa a idéia de que para resolver o problema é preciso reunir as personalidades.

A metodologia do programa é a de retrucar os "casos de historinhas". Como toda psicologia, para apresentar "provas", você aponta casos famosos, ou não tão famosos. O programa abrangeu da mesma maneira que o programa "Verdade ou Mito" ("Is It Real?") fez no episódio "Sonâmbulos Assassinos", comentou cada caso apresentado.

E na verdade, até acho que, na minha infância de menino mau comportado que brigava com as freiras da escola, teria sido bem fácil um psiquiatra enfiar essa idéia na cabeça minha e dos meus pais.

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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

Ilovefoxes escreveu:O National Geographic já comentou sobre isso, e gerou muitas dúvidas para mim...

A questão da existência da bipolaridade é em ser consciente ou não. Mas basicamente, o programa colocou que a bipolaridade é uma idéia que os psiquiatras põem na cabeça das pessoas, de que elas não sabem o que fazem, que aconteceram coisas na vida delas de que não se lembram, etc... Até imagino que a aceitação fácil seja devido a justificar atos compulsivos que se faz.
Achei a parte mais duvidosa a idéia de que para resolver o problema é preciso reunir as personalidades.

A metodologia do programa é a de retrucar os "casos de historinhas". Como toda psicologia, para apresentar "provas", você aponta casos famosos, ou não tão famosos. O programa abrangeu da mesma maneira que o programa "Verdade ou Mito" ("Is It Real?") fez no episódio "Sonâmbulos Assassinos", comentou cada caso apresentado.

E na verdade, até acho que, na minha infância de menino mau comportado que brigava com as freiras da escola, teria sido bem fácil um psiquiatra enfiar essa idéia na cabeça minha e dos meus pais.



Isto está mais para esquizofrenia do que para bipolaridade. O primeiro está ligado à múltiplas personalidades e o segundo a estados de humor opostos ( euforia e depressão).O bipolar sente as fases eufórica e depressiva se alternando e se sente desgastar com isto. A oscilação pode dias ou meses e ele geralmente reconhece que algo está muito errado, embora pouco consiga fazer para se sentir diferente. Medicação adequada costuma surtir efeito, além de terapia para quem gosta.
Tenho alguns conhecidos bipolares. Uns falam nisto como se falassem que sofrem de enxaqueca. Outros preferem fazer terapia e tomar remédio na deles.
Não vejo que os psiquiatras tentem enfiar isto na cabeça de ninguém. O que anda meio na moda é o tal deficit de atenção aliado à hiperatividade, o que é outra conversa bem diferente.
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Ilovefoxes
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Ilovefoxes »

Mas "eles se sentem mal" não quer dizer que haja transtorno de personalidade múltipla (TPM a sigla o.O), e sim que há ao menos um transtorno de identidade.

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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

Ilovefoxes escreveu:Mas "eles se sentem mal" não quer dizer que haja transtorno de personalidade múltipla (TPM a sigla o.O), e sim que há ao menos um transtorno de identidade.


Sentir-se mal ou desajustado e sentir-se oscilando já uma pequena tomada de consciência de que algo PODE não andar muito bem.
Estes sintomas se referem à muitos tipos de distúrbios de humor ou de personalidade. Identidade me parece ser mais a imagem mantida por nós e percebida pelos de fora na maior parte do tempo. É sentir-se e ser visto com aquela personalidade.
Se estou certa, acho que os transtornos de identidade podem ser transitórios, ao contrário dos de personalidade.

Mas não tenho certeza.
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Ilovefoxes
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Ilovefoxes »

Identidade seria porque a mudança é consciente (no sentido de você mesmo o estar fazendo), diferente de personalidade.

Por exemplo, pense em quando você era criança e quebrou um vaso, ninguém disse que você teve culpa mas você se sentiu culpado e foi no quarto se encolher. Na verdade, a culpa é você mesmo que está fazendo. Para ficar no nível do transtorno de personalidade, seria dizer que faz isso fora do seu próprio controle da mesma maneira como não se decide quando desmaiar.
E esses transtornos de personalidade parece que são atirados em cima de qualquer comportamento poucamente estranho.

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zumbi filosófico
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Re: Bipolaridade

Mensagem por zumbi filosófico »

Uma contraposição sem nem ter lido o tópico todo, e com a ressalva de que não é algo que eu estou "defendendo" com certeza absoluta e etc e tal. Parte do que eu vou falar é opinião de alguns médicos e cientistas, outra parte é principalmente especulação minha, que não sei se é compartilhada por alguma parte da comunidade científica, mas não me surpreenderia se fosse, já que é meio que uma "colcha de retalhos" de coisas relacionadas.


Há alguns médicos ou cientistas hoje em dia que são mais ou menos "contra" uma porção de coisas de psiquiatria, e sou mais ou menos simpatizante desse ceticismo. Eles dizem coisas como que, desde que "inventaram" o distúrbio de déficit de atenção, por exemplo, passou de algo raro para praticamente epidêmico num período mais ou menos breve; há uma profusão de novas "doenças", algumas - e não estou brincando aqui, estou citando "doenças" que uns dizem existir mesmo - são tão estapafúrdias como "fobia de falar em público", "fobia financeira" e acho que até "fobia matemática", mas não tenho bem certeza dessa última.

Lembro de ter lido em um livro sobre genética e psiquiatria, definições praticamente "irrefutáveis" de algumas condições, como depressão, tinha depressão de uns dois ou três tipos, com definições como "tipo 1: tristeza gradual ou súbita , profunda, com ou sem motivo desengatador, que se prolonga continuamente". "tipo 2: episódios de tristeza profunda, que podem se prolongar continuamente ou podem ter períodos de amenização ou aparente melhora, gradual ou súbita, mas seguidos de recaídas, graduais ou súbitas", "tipo 3: um tipo intermediário entre o tipo 1 e o tipo 2"

!!!

Segundo uns, há inclusive sutilezas nas nomenclaturas que seriam utilizadas para se esquivar do mesmo rigor de comprovação: haveriam doenças psiquiátricas e desordens psiquiátricas, sendo as últimas as que não cumprem todos os requisitos para algo que seria classificado propriamente como doença. Isso não impede de se inventar remédios para essas condições e etc.

Um debate sobre isso do instituto de psiquiatria do King's College: Are we all mentally ill now? (mp3, 1 hora e 21 minutos, 148 MB)

Houve um cara mais ou menos antigo, cujo nome não me lembro, que disse uma vez algo como "saudáveis são aqueles que têm as doenças que todos nós temos", hehehe, acho que talvez estejam seguindo essa filosofia.



Ao mesmo tempo, segundo alguns neurocientistas, alguns tratamentos sem medicamentos são até mais efetivos para alguns casos, como depressão. Tem menor reincidência; a lógica sendo que, o tratamento "comportamental", força a neuroplasticidade, a capacidade do cérebro em mudar a si mesmo; ele acaba "aprendendo um novo jeito de pensar", mais ou menos. Já com remédios, ficam dependentes sempre novas doses, acaba sendo mais ou menos como uma muleta que poderia ser abandonada (há um episódio nesse mesmo site sobre o dilema entre dependência e outras formas de tratamento (ou talvez sem tratamento algum, não sei), mas ainda não ouvi esse).

Outra vantagem é que, alguns medicamentos podem ter efeitos colaterais até meio "contraditórios", como anti-depressivos podendo causar depressão e até levar ao suicídio (inclusive tendo ocorrido um caso assim com uma forista do fSTR há alguns anos)

Ressalva importante: me lembro de ter ouvido que nesse aspecto, bipolaridade e depressão seriam diferentes, por algum motivo que não me lembro.


Episódio de um podcast sobre neurologia abordando neuroplasticidade (o link para o arquivo mp3 está na página)



Ao mesmo tempo, acho que boa parte dessa coisa toda de novas doenças aparecendo e tendo esses diagnósticos praticamente inescapáveis, talvez possa acabar fazendo com que as pessoas "assumam a identidade" de alguns distúrbios, mais do que teriam realmente, algo mais auto-imposto do que natural. Meio parecido com o processo de ameaça de estereótipo ou outras coisas relacionadas com auto-sugestão; meio como as pessoas crêem em milagres, astrologia ou coisas do tipo, contando os "acertos" e descontando os "erros", com o agravante de ser algo que não é sobrenatural, e logo é mais crível, e que pode guiar o próprio comportamento em conformação com a "doença" que se convencer que tem.

Tem também um tópico interessante em algum lugar nesse fórum, sobre o problema de diagnósticos pressupostos pelos próprios médicos: pessoas saudáveis deram um jeito de se internar num hospital psiquiátrico mas os médicos simplesmente assumiam que eram pacientes e tinham que ter algum problema. Se os próprios médicos são capazes de se auto-enganar, imagino que os leigos sejam até mais suscetíveis. O irônico desse estudo foi que algum(ns) dos pacientes de verdade percebeu que aqueles pacientes do estudo eram "falsos".

Acho que o tópico é "pressuposto dominante".
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Fenrir
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Fenrir »

zumbi filosófico escreveu:Uma contraposição sem nem ter lido o tópico todo, e com a ressalva de que não é algo que eu estou "defendendo" com certeza absoluta e etc e tal. Parte do que eu vou falar é opinião de alguns médicos e cientistas, outra parte é principalmente especulação minha, que não sei se é compartilhada por alguma parte da comunidade científica, mas não me surpreenderia se fosse, já que é meio que uma "colcha de retalhos" de coisas relacionadas.


Embora tenha sido diagnosticado como DDA, permaneco cetico não somente quanto à correção do diagnóstico como tambem quanto existência do DDA...

zumbi filosófico escreveu:Há alguns médicos ou cientistas hoje em dia que são mais ou menos "contra" uma porção de coisas de psiquiatria, e sou mais ou menos simpatizante desse ceticismo. Eles dizem coisas como que, desde que "inventaram" o distúrbio de déficit de atenção, por exemplo, passou de algo raro para praticamente epidêmico num período mais ou menos breve;


O diagnóstico é baseado em testemunhos, depoimentos, questionários subjetivos... o tipo de coisa que é bem fácil sabotar.
Me pergunto se não há casos onde o próprio paciente sabota, inconscientemente ou não os questionários, entrevistas, depoimentos,
pois assim se conseguiria uma explicação fácil para este ou aquele comportamento, problemas, etc.

zumbi filosófico escreveu:há uma profusão de novas "doenças", algumas - e não estou brincando aqui, estou citando "doenças" que uns dizem existir mesmo - são tão estapafúrdias como "fobia de falar em público", "fobia financeira" e acho que até "fobia matemática", mas não tenho bem certeza dessa última.


Chama-se discalculia.

zumbi filosófico escreveu:Lembro de ter lido em um livro sobre genética e psiquiatria, definições praticamente "irrefutáveis" de algumas condições, como depressão, tinha depressão de uns dois ou três tipos, com definições como "tipo 1: tristeza gradual ou súbita , profunda, com ou sem motivo desengatador, que se prolonga continuamente". "tipo 2: episódios de tristeza profunda, que podem se prolongar continuamente ou podem ter períodos de amenização ou aparente melhora, gradual ou súbita, mas seguidos de recaídas, graduais ou súbitas", "tipo 3: um tipo intermediário entre o tipo 1 e o tipo 2"

Segundo uns, há inclusive sutilezas nas nomenclaturas que seriam utilizadas para se esquivar do mesmo rigor de comprovação: haveriam doenças psiquiátricas e desordens psiquiátricas, sendo as últimas as que não cumprem todos os requisitos para algo que seria classificado propriamente como doença. Isso não impede de se inventar remédios para essas condições e etc.


Seria isto um exemplo?
F90.9 - 314.9 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade Sem Outra Especificação (tirado do DSM-IV)

Há outros exemplos de Transtorno XPTO Sem Outra Especificação (ou algo parecido no DSM-IV)

Um outro aspecto é que os psiquiatras consideram que existe todo um espectro de uma síndrome
(em termos da intensidade dos sintomas, etc), indo desde casos brandos a casos mais severos.
A coisa não se resumiria simplesmente a ser ou não ser portador de uma dada síndrome.

zumbi filosófico escreveu:Um debate sobre isso do instituto de psiquiatria do King's College: Are we all mentally ill now? (mp3, 1 hora e 21 minutos, 148 MB)


Grato pelo link

zumbi filosófico escreveu:Houve um cara mais ou menos antigo, cujo nome não me lembro, que disse uma vez algo como "saudáveis são aqueles que têm as doenças que todos nós temos", hehehe, acho que talvez estejam seguindo essa filosofia.


Dizem outros que os assim chamados neurotípicos (com cérebros perfeitamente normais) seriam raridade... dá na mesma

zumbi filosófico escreveu:Ao mesmo tempo, segundo alguns neurocientistas, alguns tratamentos sem medicamentos são até mais efetivos para alguns casos, como depressão. Tem menor reincidência; a lógica sendo que, o tratamento "comportamental", força a neuroplasticidade, a capacidade do cérebro em mudar a si mesmo; ele acaba "aprendendo um novo jeito de pensar", mais ou menos. Já com remédios, ficam dependentes sempre novas doses, acaba sendo mais ou menos como uma muleta que poderia ser abandonada (há um episódio nesse mesmo site sobre o dilema entre dependência e outras formas de tratamento (ou talvez sem tratamento algum, não sei), mas ainda não ouvi esse).


Tenho esta visão sobre a Ritalina. Não queria depender de um remédio e um tratamento que nem estava dando resultados perceptíveis (quanto a sintomatologia do DDA)

zumbi filosófico escreveu:Outra vantagem é que, alguns medicamentos podem ter efeitos colaterais até meio "contraditórios", como anti-depressivos podendo causar depressão e até levar ao suicídio (inclusive tendo ocorrido um caso assim com uma forista do fSTR há alguns anos)


A Ritalina parece ter me deixado mais irritável que o usual... Após alguns episódios de pavio curto, tive a idéia de ler
na bula e havia algo a respeito de irritabilidade. Mas não sei se havia relação de causa-efeito no meu caso (ou em qualquer caso, diga-se).
De qualquer forma, não quero mais me arriscar.

zumbi filosófico escreveu:Ao mesmo tempo, acho que boa parte dessa coisa toda de novas doenças aparecendo e tendo esses diagnósticos praticamente inescapáveis, talvez possa acabar fazendo com que as pessoas "assumam a identidade" de alguns distúrbios, mais do que teriam realmente, algo mais auto-imposto do que natural. Meio parecido com o processo de ameaça de estereótipo ou outras coisas relacionadas com auto-sugestão; meio como as pessoas crêem em milagres, astrologia ou coisas do tipo, contando os "acertos" e descontando os "erros", com o agravante de ser algo que não é sobrenatural, e logo é mais crível, e que pode guiar o próprio comportamento em conformação com a "doença" que se convencer que tem.


Já me surpreendi me portando de maneira mais "DDA" que seria habitual em situações onde seria interessante
que tal comportamento aflorasse, como por exemplo antes ou durante uma consulta... por isso permaneço cético.

zumbi filosófico escreveu:Tem também um tópico interessante em algum lugar nesse fórum, sobre o problema de diagnósticos pressupostos pelos próprios médicos: pessoas saudáveis deram um jeito de se internar num hospital psiquiátrico mas os médicos simplesmente assumiam que eram pacientes e tinham que ter algum problema. Se os próprios médicos são capazes de se auto-enganar, imagino que os leigos sejam até mais suscetíveis. O irônico desse estudo foi que algum(ns) dos pacientes de verdade percebeu que aqueles pacientes do estudo eram "falsos".

Acho que o tópico é "pressuposto dominante".


Vou procurar este tópico
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

Ilovefoxes escreveu:Identidade seria porque a mudança é consciente (no sentido de você mesmo o estar fazendo), diferente de personalidade.

Por exemplo, pense em quando você era criança e quebrou um vaso, ninguém disse que você teve culpa mas você se sentiu culpado e foi no quarto se encolher. Na verdade, a culpa é você mesmo que está fazendo. Para ficar no nível do transtorno de personalidade, seria dizer que faz isso fora do seu próprio controle da mesma maneira como não se decide quando desmaiar.
E esses transtornos de personalidade parece que são atirados em cima de qualquer comportamento poucamente estranho.


Sim, é claro. Procuro deixar o conceito de identidade de forma mesmo, pois ele tem mais a ver com a sintonia fina, o encaixar-se. Perder ou desestruturar a personalidade é muito mais sério terapeuticamente falando, do que perder a identidade, embora esta última perda também seja perturbadora. Geralmente ela se faz em alguns momentos da vida, como aqueles em que você troca de status ( ter um filho, perder um emprego, sofrer um acidente grave, casar-se ou separar-se, mudar de país ou cultura).
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

Fenrir escreveu:O diagnóstico é baseado em testemunhos, depoimentos, questionários subjetivos... o tipo de coisa que é bem fácil sabotar.
Me pergunto se não há casos onde o próprio paciente sabota, inconscientemente ou não os questionários, entrevistas, depoimentos,
pois assim se conseguiria uma explicação fácil para este ou aquele comportamento, problemas, etc.



Sim, sabota. Inconsciente ou semi-conscientemente. Como defesa contra algum diagnóstico indesejado.Ou para endossar algum diagnóstico já recebido que ele aceite como provável e suportável. Ou para bater com algumas "certezas" suas a respeito de si mesmo.
Há quem faça terapia ou análise por décadas ( e pague caro por ela), sabotando-se através do "tratamento". Alguns cansam outros não. Outros se assustam mediante alguns insight qualquer, surgido à revelia da terapia.

Na verdade, sabe-se de terapeutas que sabotavam as perguntas para proteger o seu paciente de uma certa forma, por não condições de tratá-lo, ou por estar envolvido emocionalmente com ele, ou por estar ele mesmo em tratamento daquele diagnóstico.
Não é maluquice isto? Mas acontece.
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Fenrir
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Fenrir »

Apo escreveu:
Fenrir escreveu:O diagnóstico é baseado em testemunhos, depoimentos, questionários subjetivos... o tipo de coisa que é bem fácil sabotar.
Me pergunto se não há casos onde o próprio paciente sabota, inconscientemente ou não os questionários, entrevistas, depoimentos,
pois assim se conseguiria uma explicação fácil para este ou aquele comportamento, problemas, etc.



Sim, sabota. Inconsciente ou semi-conscientemente. Como defesa contra algum diagnóstico indesejado.Ou para endossar algum diagnóstico já recebido que ele aceite como provável e suportável. Ou para bater com algumas "certezas" suas a respeito de si mesmo.
Há quem faça terapia ou análise por décadas ( e pague caro por ela), sabotando-se através do "tratamento". Alguns cansam outros não. Outros se assustam mediante alguns insight qualquer, surgido à revelia da terapia.

Na verdade, sabe-se de terapeutas que sabotavam as perguntas para proteger o seu paciente de uma certa forma, por não condições de tratá-lo, ou por estar envolvido emocionalmente com ele, ou por estar ele mesmo em tratamento daquele diagnóstico.
Não é maluquice isto? Mas acontece.


Tenho uma consulta na próxima terça... Aceito sugestões
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

Ao mesmo tempo, segundo alguns neurocientistas, alguns tratamentos sem medicamentos são até mais efetivos para alguns casos, como depressão. Tem menor reincidência; a lógica sendo que, o tratamento "comportamental", força a neuroplasticidade, a capacidade do cérebro em mudar a si mesmo; ele acaba "aprendendo um novo jeito de pensar", mais ou menos. Já com remédios, ficam dependentes sempre novas doses, acaba sendo mais ou menos como uma muleta que poderia ser abandonada (há um episódio nesse mesmo site sobre o dilema entre dependência e outras formas de tratamento (ou talvez sem tratamento algum, não sei), mas ainda não ouvi esse).


CASO o diagnóstico de depressão esteja correto e CASO não haja outro transtorno concomitante, o médico terapeuta pode fazer testes com tipos de medicamentos até encontrar no paciente uma melhora nos sintomas, se não perfeita, que melhore consideravelmente sua qualidade de vida.
No meu caso, SE o diganóstico de depressão foi acertado ( e não havendo mais coisa em desequilíbrio), a terapia não surtiu efeito algum, muito pelo contrário, comprometeu ainda mais o quadro. Antes da fluoxetina ser testada ( e os 10, 15 , 20 dias iniciais costumam aprofundar o mal estar), outros 2 antidepressivos foram utilizados ( um deles inútil e o outro insuportável no tocante à efeitos colaterais, mesmo acompanhado de ansiolíticos).
A questão da dependência causa angústia em muitas pessoas. Pensamos que não somos quem somos e sim que somos o que o remédio nos faz ser.

A questão é: a saúde ( bem estar ) em primeiro lugar. É um grande tabu encarar distúrbios mentais ( como os transtornos de humor por exemplo, causados por disfunção neuroquímica) com culpa do doente.
A hemofilia já não causa tanta culpa, mas causava. O hipo e o hipertireoidismo eram mal encarados, assim como o diabetes insulino dependente. Mas se estas disfunções podem demandar tratamento por um longo período ou por toda a vida, porque depressões não podem?
Diábeticos também são dependentes de medicação. A negação disto não leva a cura. O diabético só é o que é ( em seu metabolismo porque a insulina assim o propicia). Caso negue, as complicações podem ser graves.
O tabu está nas doenças realacionadas à mente.
Depressões e transtornos de humor podem ser temporários ou não.
Há quem considere depressão qualquer coisa, até distimia.
Há quem melhore com terapia, há quem piore. Há quem fique na mesma.
A medicação que alivia os sintomas, no caso da depressão, apenas age naquilo que não está sendo suprido ( no caso do Prozac, para mim, funciona muito bem).
Fiz paradas de 1 mês até 2 meses em 4 oportunidades durante 10 anos. Em todas elas os sintomas voltaram, contra a minha vontade. Ou seja, eu nada posso fazer. Apenas tratar e tratar ( nem sempre tratar resulta em cura, mas em controle) e testar como a química funciona sem o medicamento, vez por outra.
Parei de me estressar com isto.
Se isto é dependência, não é uma dependência consentida. Eu não busquei a depressão, não me auto-mediquei e não fico eufórica com a medicação. Apenas volto a ser quem eu era antes de sentir os sintomas desagradáveis.
Se inventarem algo melhor ( Prozac não causa nenhum paraefeito), ou os sintomas cessarem, será ótimo.
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Re: Bipolaridade

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Fenrir escreveu:
Apo escreveu:
Fenrir escreveu:O diagnóstico é baseado em testemunhos, depoimentos, questionários subjetivos... o tipo de coisa que é bem fácil sabotar.
Me pergunto se não há casos onde o próprio paciente sabota, inconscientemente ou não os questionários, entrevistas, depoimentos,
pois assim se conseguiria uma explicação fácil para este ou aquele comportamento, problemas, etc.



Sim, sabota. Inconsciente ou semi-conscientemente. Como defesa contra algum diagnóstico indesejado.Ou para endossar algum diagnóstico já recebido que ele aceite como provável e suportável. Ou para bater com algumas "certezas" suas a respeito de si mesmo.
Há quem faça terapia ou análise por décadas ( e pague caro por ela), sabotando-se através do "tratamento". Alguns cansam outros não. Outros se assustam mediante alguns insight qualquer, surgido à revelia da terapia.

Na verdade, sabe-se de terapeutas que sabotavam as perguntas para proteger o seu paciente de uma certa forma, por não condições de tratá-lo, ou por estar envolvido emocionalmente com ele, ou por estar ele mesmo em tratamento daquele diagnóstico.
Não é maluquice isto? Mas acontece.


Tenho uma consulta na próxima terça... Aceito sugestões


Sei que dá vontade de pedir sugestões e tudo o mais. A minha é que, caso não dê a química entre as partes depois unm tempo, troque.
Se não for médico ( psiquiatra), ele não pode receitar. Se a terapia for insuficiente, não tenha resistência de procurar um bom médico ( bom aqui é questão de confiança e fé, depois fica a cargo de erro/acerto).
Boicotar por defesa de se ver pode ser bom, e pode ser ruim.
Depende da sua capacidade de suportar-se e da velocidade que as coisas andam.
Você vai sentir.
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zumbi filosófico
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Re: Bipolaridade

Mensagem por zumbi filosófico »

Apo escreveu:No meu caso, SE o diganóstico de depressão foi acertado ( e não havendo mais coisa em desequilíbrio), a terapia não surtiu efeito algum, muito pelo contrário, comprometeu ainda mais o quadro.


Qual foi o tipo de terapia? Eu tenho a impressão que devem haver terapias meio woo-woos demais também. E acho que deve possivelmente haver um problema bem grande de várias coisas diferentes poderem ser dadas como terapia sob um mesmo rótulo; nesse aspecto os medicamentos químicos são mais constantes...

O tipo de terapia que ouvi algumas vezes que acaba sendo superior em superação definitiva do problema:

http://en.wikipedia.org/wiki/Cognitive_ ... al_therapy

Ao mesmo tempo, há coisas que me parecem totalmente balela, como "energy psychology", me cheira a umas coisas meio do tipo "o segredo", misturando Lair Ribeiro com Walter Mercado... e o principal problema, acho que algumas vezes é possível que se tenha uma coisa promivida sob o rótulo da outra e etc



A questão da dependência causa angústia em muitas pessoas. Pensamos que não somos quem somos e sim que somos o que o remédio nos faz ser.

A questão é: a saúde ( bem estar ) em primeiro lugar.


Pois é, tem um cara, Robert Sapolsky (primatologista), que apesar de bem interessado/envolvido nessas coisas de neuroplasticidade, diz que não se pode ver depressão como uma bobagenzinha, que é meio como isso que disse, não se pode falar "ah, pare com essa coisa toda, se anime, você não precisa desses remédios" para uma pessoa com depressão "de verdade" da mesma forma que não se pode falar para um diabético "ah, que bobagem, largue disso de insulina".

Acho bem possível que hajam os dois tipos de casos, e temo um pouco que a maior propagação da idéia dos problemas mais "físicos" e "fixos" possa até acabar causando uma maior incidência desses casos não tratáveis por terapias. Meio parecido com um tópico recentemente postado pelo Cogitans, sobre como [não] elogiar as crianças; que é melhor dizer coisas como "olha só, quanto esforço, quanta dedicação! Está progredindo hein! Parabéns!" do que coisas como "olha só, como é inteligente! Tem um dom! Faz tudo com tanta facilidade!", porque a última passa a idéia de algo fixo e determinado, o que ironicamente acaba realmente ajudando a determinar de certa forma, minando o potencial de desenvolvimento em outras áreas, criando limites que são "imaginários", mas reais, funcionais, ao mesmo tempo.

Inclusive essa dicotomia de "físico" e "mental" é meio falsa... a neuroplasticidade parece estar envolvida até nas alterações mais ou menos normais, triviais... partes do cérebro como hipotálamo e amígdala aumentam e diminuem, uma coisa bem espantosa... não relacionado com isso de humor, mas fizeram experimentos deixando pessoas vendadas por apenas cerca de uma semana, e só isso já foi suficiente para que a área visual do cérebro começasse a ser recrutada para outros sentidos, não lembro se para outras funções (porque em cegos permanentes parece que ela acaba sendo usada para memorizar palavras; cegos inclusive parecem consistentemente ter um vocabulário maior)




É um grande tabu encarar distúrbios mentais ( como os transtornos de humor por exemplo, causados por disfunção neuroquímica) com culpa do doente.
A hemofilia já não causa tanta culpa, mas causava. O hipo e o hipertireoidismo eram mal encarados, assim como o diabetes insulino dependente. Mas se estas disfunções podem demandar tratamento por um longo período ou por toda a vida, porque depressões não podem?
Diábeticos também são dependentes de medicação. A negação disto não leva a cura. O diabético só é o que é ( em seu metabolismo porque a insulina assim o propicia).


Eu acho uma questão meio delicada; em muitos casos, historicamente, já se imputou culpa em coisas que simplesmente não estão sob o controle, como câncer até... como se desse para controlar as mutações... e fosse falta de caráter não fazer...

Mas se tratando de algumas dessas coisas psiquiátricas ou psicológicas, a coisa fica um pouco mais nebulosa. Pode se ter todo um debate meio complexo sobre livre arbítrio e etc, mas deixando isso de lado, cada vez mais se sabe sobre esse tipo de poder de influência da própria pessoa, que não são completamente impotentes diante da situação; mas de maneira alguma significa que seja "culpa" das pessoas ou que se tenha que falar algo como "ah, tome vergonha na cara, deixe de ser chorão/ona e pare com esses remédios"... vejo mais no sentido de possibilidade, poder, esperança, não de culpa. Meio complicado falar desse assunto.... e eu acho difícil evitar, acho que devo ter hiper-responsabilite compulsiva aguda, também conhecida como síndrome de Peter Parker. De um lado acho importante dar esses contra-pontos, mas fico sempre meio temeroso (ou, "desperta o sentido de aranha", no vernáculo da síndrome de PP) quanto à más interpretações ou que, sei lá, alguém com algum problema mais grave se empolgue, como um bipolar num surto de animação, jogue os remédios fora e mais tarde se mate. (Também acho que tenho transtorno obsessivo-compulsivo negro-humorístico, o que acho que até agrava a síndrome de PP).
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zumbi filosófico
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Re: Bipolaridade

Mensagem por zumbi filosófico »

Esse podcast também é interessante e o Novella levanta alguns pontos que acho válidos sobre a psiquiatria e etc, e também acho que o outro cara exagerou um pouco:

DH: Is the field of Psychiatry scientific?

Fred A. Baughman Jr., MD has been an adult & child neurologist, in private practice, for 35 years. He is the author of "The ADHD Fraud: How Psychiatry Makes 'Patients' Out of Normal Children". Baughman argues against the idea that mental disorders are diseases. Fred believes that the field of psychiatry is mostly quack science.

Dr. Novella is an academic neurologist on full-time faculty at Yale University School of Medicine. He is the Author of Weird Science ,a monthly column featured in the New Haven Advocate. He is the co-founder and President of the New England Skeptical Society, Associate Editor of the Scientific Review of Alternative Medicine, host of The Skeptic's Guide to The Universe and a contributing editor of Quackwatch, a consumer advocacy website dealing with all types of health fraud. Steven, will be arguing for the efficacy of the field of psychiatry and it's results.

P.S. Word on the street is that Baughman received an award from Scientology. :|

http://infidelguy.libsyn.com/index.php?post_id=206165




Nota interessante.: no fim do século 19, nos primórdios da psiquiatria, era descrita uma doença psiquiátrica que acometia muitos negros: drapetomania - a compulsão dos escravos em fugir!
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Apo
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

zumbi filosófico escreveu:
Apo escreveu:No meu caso, SE o diganóstico de depressão foi acertado ( e não havendo mais coisa em desequilíbrio), a terapia não surtiu efeito algum, muito pelo contrário, comprometeu ainda mais o quadro.


Qual foi o tipo de terapia? Eu tenho a impressão que devem haver terapias meio woo-woos demais também. E acho que deve possivelmente haver um problema bem grande de várias coisas diferentes poderem ser dadas como terapia sob um mesmo rótulo; nesse aspecto os medicamentos químicos são mais constantes...


Psicoterapia Freudiana e Junguiana, além de ter me afundado completamente na homeopatia.

O tipo de terapia que ouvi algumas vezes que acaba sendo superior em superação definitiva do problema:

http://en.wikipedia.org/wiki/Cognitive_ ... al_therapy

Ao mesmo tempo, há coisas que me parecem totalmente balela, como "energy psychology", me cheira a umas coisas meio do tipo "o segredo", misturando Lair Ribeiro com Walter Mercado... e o principal problema, acho que algumas vezes é possível que se tenha uma coisa promivida sob o rótulo da outra e etc


Não boto minha cabeça a prêmio nunca mais com estas e nem outras coisas que não sejam muito sérias. Brincadeiras com a mente é para quem brinca de estar doente. Tá cheio de gente inventando que tem depressão para chamar a atenção e tá cheio de esperto querendo faturar com elas.



A questão da dependência causa angústia em muitas pessoas. Pensamos que não somos quem somos e sim que somos o que o remédio nos faz ser.

A questão é: a saúde ( bem estar ) em primeiro lugar.


Pois é, tem um cara, Robert Sapolsky (primatologista), que apesar de bem interessado/envolvido nessas coisas de neuroplasticidade, diz que não se pode ver depressão como uma bobagenzinha, que é meio como isso que disse, não se pode falar "ah, pare com essa coisa toda, se anime, você não precisa desses remédios" para uma pessoa com depressão "de verdade" da mesma forma que não se pode falar para um diabético "ah, que bobagem, largue disso de insulina".


Nem dou ouvidos para este tipo de comentário da tal " frescura" ou bobagenzinha". Depressão, bipolaridade e até distimia são coisas muito sérias para serem negligenciadas.

Acho bem possível que hajam os dois tipos de casos, e temo um pouco que a maior propagação da idéia dos problemas mais "físicos" e "fixos" possa até acabar causando uma maior incidência desses casos não tratáveis por terapias. Meio parecido com um tópico recentemente postado pelo Cogitans, sobre como [não] elogiar as crianças; que é melhor dizer coisas como "olha só, quanto esforço, quanta dedicação! Está progredindo hein! Parabéns!" do que coisas como "olha só, como é inteligente! Tem um dom! Faz tudo com tanta facilidade!", porque a última passa a idéia de algo fixo e determinado, o que ironicamente acaba realmente ajudando a determinar de certa forma, minando o potencial de desenvolvimento em outras áreas, criando limites que são "imaginários", mas reais, funcionais, ao mesmo tempo.


Sim, por incrível que pareça, alguns tipos de elogios não são estímulos, mas agressão, alguns tipos de muletas não apóiam, apenas atrofiam. Há que se tomar muito cuidado.
Tem uma frase de um cara ( caiu em domínio público ) que diz:
"Nunca diga à criança que ela é feia por que fez algo errado, diga que o que ela fez é errado"
E explique por quê. Ser "feio" determina 2 coisas: que ela deve aceitar a feiúra é um erro. Que ela É algo errado.

Inclusive essa dicotomia de "físico" e "mental" é meio falsa... a neuroplasticidade parece estar envolvida até nas alterações mais ou menos normais, triviais... partes do cérebro como hipotálamo e amígdala aumentam e diminuem, uma coisa bem espantosa... não relacionado com isso de humor, mas fizeram experimentos deixando pessoas vendadas por apenas cerca de uma semana, e só isso já foi suficiente para que a área visual do cérebro começasse a ser recrutada para outros sentidos, não lembro se para outras funções (porque em cegos permanentes parece que ela acaba sendo usada para memorizar palavras; cegos inclusive parecem consistentemente ter um vocabulário maior)

Muito se fala em neuroplasticidade. Mas sinceramente, depois de muito ler e assistir programas sobre isto, com experimentos e tal....eu não acredito plenamente nisto para todos os efeitos. Algumas coisas simplesmente cessam de funcionar e acho que um dia ainda a neurociência saberá por quê. Por mais que eu me esforce, minha serotonina não consegue ser metabolizada de forma consistente em outro local que não aquele que a metabolizava antes ( de forma bem simples aqui falando).
Eu tenho muito receio em acreditar nestas capacidades todas tidas como maravilhosas do cérebro humano. Várias enfermermidades mentais mostram que isto não acontece sozinho, ou de forma satisfatória. Sem contar as funções glandulares envolvidas.




É um grande tabu encarar distúrbios mentais ( como os transtornos de humor por exemplo, causados por disfunção neuroquímica) com culpa do doente.
A hemofilia já não causa tanta culpa, mas causava. O hipo e o hipertireoidismo eram mal encarados, assim como o diabetes insulino dependente. Mas se estas disfunções podem demandar tratamento por um longo período ou por toda a vida, porque depressões não podem?
Diábeticos também são dependentes de medicação. A negação disto não leva a cura. O diabético só é o que é ( em seu metabolismo porque a insulina assim o propicia).


Eu acho uma questão meio delicada; em muitos casos, historicamente, já se imputou culpa em coisas que simplesmente não estão sob o controle, como câncer até... como se desse para controlar as mutações... e fosse falta de caráter não fazer...


Sim, o câncer é uma das doenças mais cruéis e mais tidas como de responsabilidade do doente. O máximo que se pode fazer em relação à mutagênese seria evitar causadores de risco, como o fumo, o sol em excesso, a vida sendentária...Mas o que mais se pode fazer? Há cânceres que são causados através do uso de algo e ao mesmo tempo do seu não-uso. E há quem diga, por exemplo, que amamentar é risco e ao mesmo tempo proteção. Vai saber...

Mas se tratando de algumas dessas coisas psiquiátricas ou psicológicas, a coisa fica um pouco mais nebulosa. Pode se ter todo um debate meio complexo sobre livre arbítrio e etc, mas deixando isso de lado, cada vez mais se sabe sobre esse tipo de poder de influência da própria pessoa, que não são completamente impotentes diante da situação; mas de maneira alguma significa que seja "culpa" das pessoas ou que se tenha que falar algo como "ah, tome vergonha na cara, deixe de ser chorão/ona e pare com esses remédios"... vejo mais no sentido de possibilidade, poder, esperança, não de culpa. Meio complicado falar desse assunto.... e eu acho difícil evitar, acho que devo ter hiper-responsabilite compulsiva aguda, também conhecida como síndrome de Peter Parker. De um lado acho importante dar esses contra-pontos, mas fico sempre meio temeroso (ou, "desperta o sentido de aranha", no vernáculo da síndrome de PP) quanto à más interpretações ou que, sei lá, alguém com algum problema mais grave se empolgue, como um bipolar num surto de animação, jogue os remédios fora e mais tarde se mate. (Também acho que tenho transtorno obsessivo-compulsivo negro-humorístico, o que acho que até agrava a síndrome de PP).


:emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:

Não se envergonhe. Somos todos malucos.
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

Nota interessante.: no fim do século 19, nos primórdios da psiquiatria, era descrita uma doença psiquiátrica que acometia muitos negros: drapetomania - a compulsão dos escravos em fugir!


:emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:

Mas que coisa, não?

Se bem que até hoje há quem tenha bichinhos presos em gaiolas ou em coleiras e ache que eles devem ficar bonzinhos, ou têm personalidade forte. :emoticon15:
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Ilovefoxes
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Re: Bipolaridade

Mensagem por Ilovefoxes »

Apenas ressaltando o assunto que eu comentei antes.

O programa da National Geographic abordava a existência desse distúrbio. Como a questão das pessoas estarem mesmo ou não no controle de seus atos não possui teste "científico" apropriado, ficou-se com o argumento dos que acreditam "porque essas pessoas inventariam tais problemas?" o que leva a abordagem de casos e casos.
Para se insistir em distúrbio de personalidade é óbvio que não serão casos comuns abordados, não vão apresentar pessoas que uma hora gostam de doce e outra de salgado. São mudanças de hábitos, lembranças, opiniões, temperamentos e afins bem extremos. E esses casos famosos o programa criticou bastante, principalmente por ou algumas dessas pessoas famosas terem mudado de opinião e terem dito que era por influência de seus psicólogos.

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Re: Bipolaridade

Mensagem por Apo »

Nunca esquecendo que depressão nem sempre é a doença principal, mas a secundária. Disfunções da tireóide pordem causar depressão. Poucos são os médicos psiquiatras ou neurologistas que pedem exames de função tireóide. Deveriam.
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Trancado