Johnny escreveu:Eu devo ter contado aqui que "quem me ensinou a fumar" foi um coleguinha de ginásio. Como morávamos próximos, nos encontráva-mos no caminho e, perto da escola tinha uma praça com duas árvores, aquelas com caules espeços e baixos em que se sobre facilmente. A gente sobia lá para revisar alguma matéria antes da prova e ele sempre acendia um cigarro. Um dia ele me ofereceu e eu disse que não sabia fumar. Daí ele explicou que tinha que engolir e no começo se tossia muito. Como tinha uma certa percepção do que ocorria, não achei intuitivo engolir a fumaça e sim levar vagarosamente a fumaça aos pulmões pela respiração, auxiliada pela língua. Foi batata, fumei um cigarro pela primeira vez sem dar uma tossida. A partir daí a gente só fumava junto, comprava cigarro junto e no fim de semana ou fora destes dias de aula eu não fumava. Só passei a comprar cigarro quando comecei a sair com meu primo à noite e começei a tomar umas na mesma época. E ainda assim, fumava muito pouco. Depois, quando entrei para a escola técnica (APOOOO...) onde até os professores fumavam no intervalo e era permitido o uso de fumo, é que passei a conviver com mais fumantes e passei a sair mais e fumar e beber mais.
Tem hora que não estou nem aí pro cigarro, como ontem por exemplo, cheguei em casa, tomei um banho e fui ler um pouco. Nem peguei no cigarro.
Interessante essa revisão que fiz. Acho que o cigarro tem mais como viciante o modismo e a chamada cultural/social do que o vicio ou propaganda em si.
A tolerância não apenas condescendente, como serve de exemplo benéfico ( pró) e referência. Referência masculina para o menino e para a menina. Quando o pai, ou tio, ou algum homem influente ou afetivo chama para perto de si e ensina para o filho "como se faz", este "ensinar" soa como aconchego e aceitação, virando cumplicidade entre as parte. Quem não gosta disto? A gente até se esforça para copiar, entender, aprender e por fim, incorporar. Esta é a regra. Meu pai ensinou a gente também, pois tínhamos curiosidade, era um dos poucos momentos em que ele estava tão "íntimo" de nós, na frente da tv, esperando o almoço de domingo, num parque...aquelas coisas que ficam na lembrança.
Amigos sempre são influência ( não que todo amigo influencia em tudo, todos temos capacidade para ver o amigo fazendo coisas que dizemos "não" de cara ). Mas para muitas coisas nos deixamos levar. Se a gente vai continuar, é escolha nossa.
Nem tudo é assimilado para sempre. Eu escolhi não continuar ( não assim com senso crítico, simplesmente não continuei ). Sei tragar porque já fumei em festas na adolescência. Mas não consegui dar prosseguimento, comprar cigarro, estabelecer o vínculo. Talvez a propensão à dependência de certas substâncias químicas seja genética.
Mas a fumaça e a inutilidade do cigarro em si sempre me incomodaram. Parentes chatos fumando que chegavam e exigiam cinzeiro também comecei a achar muita falta de educação. Acho que foi um processo.
Nunca namorei fumante, meus amigos não fumam, atualmente nenhum parente fuma, minha filha tem nojo, nenhuma amiga ou amigo dela fuma. Ninguém. A única ( e última ) pessoa fumante que veio na minha casa, foi minha melhor amiga, que morreu de câncer generalizado ano passado, logo depois de me visitar e deixar umas bitucas no meu vaso de plantas da cobertura ( estão lá até hoje ).
Portanto, para mim, cigarro é algo totalmente alienígena.