
Ministro apresenta a órgão da OEA projeto de criação de conselho destinado a formular ações coordenadas
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, apresentou ontem o projeto de Conselho de Defesa da América Sul na Junta Interamericana de Defesa (JID), órgão ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA). “O conselho terá como função formular ações coordenadas para enfrentar riscos e ameaças aos países da região, estabelecer a política de defesa da região e integrar as indústrias de defesa dos países”, disse Jobim. “Para ter uma voz no mundo, a região precisa ter esse conselho.”
Segundo o ministro, divisão e posições isoladas enfraquecem. “Precisamos ter uma voz única em defesa. Precisamos atuar de forma proativa nas questões internacionais, e não ter nossas posições manipuladas por outros grupos e interesses. Precisamos de arrogância estratégica para enfrentar os problemas da região”, argumentou.
A idéia foi recebida com reservas. “Como se enquadraria esse órgão na região onde há possibilidade de conflitos? O que acontecerá quando houver crises entre os países?”, questionou o brigadeiro Luis Paris, representante da Argentina na JID.
Jobim afirmou que o “incidente” entre Equador e Colômbia já está sendo tratado de forma adequada pela OEA. “E o Conselho de Defesa pode prevenir situações políticas que emergem no continente, como essa.”
Ele teve cuidado de destacar o papel do Itamaraty em negociações como essas, assegurando que o Conselho de Defesa se restringiria à prevenção de tais crises. Algumas alas do Itamaraty não vêem com muita simpatia a criação do conselho de defesa. Jobim também garantiu que o órgão não vai se sobrepor à própria JID. “A junta é um órgão apenas consultivo, ligado à OEA, e nós pretendemos algo que tenha nível ministerial.”
PORTA-VOZ
Jobim também destacou que o Brasil “não se sente legitimado” para ser o porta-voz da região. “Mas se sente legitimado para discutir com os países uma posição comum em política de defesa.”
O ministro veio a Washington com uma comitiva de cinco pessoas, entre elas o brigadeiro Juniti Saito, comandante da aeronáutica. E almoçou com o secretário de Defesa americano, Robert Gates.
A idéia do conselho tem amplo apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Jobim vai se encontrar com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o ministro de Defesa venezuelano em 14 de abril, para discutir o assunto. Depois vai tratar do conselho na Guiana, no Suriname, na Colômbia, no Peru e no Equador; ele já falou com os ministros do Chile e da Argentina. No segundo semestre, segundo Jobim, haverá uma reunião em Brasília para decidir se o conselho será criado ou não.
“Achamos fundamental a criação desse conselho para a integração da América Latina em termos de defesa”, disse Jobim. Ele citou a ação dos soldados brasileiros na Bolívia recentemente, para ajudar a lidar com desastres climáticos, exemplo do tipo de cooperação que se espera. Ele falou também sobre a importância da integração das indústrias de defesa. “Temos um plano estratégico de defesa com desenvolvimento de tecnologia. Não compramos produtos de prateleira, queremos capacitar a nossa indústria.”
Ontem Jobim se encontrou com o general James Mattis, chefe do Comando de Forças Combinadas dos EUA e comandante supremo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) - e também cotado como vice em uma eventual candidatura à Presidência do democrata Barack Obama.
Jobim conversou com Mattis sobre integração das forças e os desafios das chamadas guerras assimétricas. “Disse a ele que não temos nenhuma pretensão expansionista nem disputa de fronteira”, contou. Ele fez uma visita ao submarino nuclear USS Scranton, fabricado há 25 anos, e um dos 51 dessa classe em uso pela Marinha americana.
CAÇA
Na base aérea de Langley, pertinho da CIA, Jobim assistiu a uma apresentação em imagens sobre o F-35 , um jato de última geração , que chamou de “impressionante”. O jato será o principal caça tático dos EUA. O programa está atrasado. As primeiras unidades só serão entregues em 2014. “Mas é um avião não compatível com as tarefas que temos a cumprir. Não precisamos de tanta modernidade.” O F-35 sairá por US$ 60 milhões, segundo o brigadeiro Saito.
“Por esse preço, não estamos interessados”, disse Jobim. Também viram o F-22 Raptor, esse ao vivo. A aeronave é tão avançada que não pode ser exportada por razões de segurança. Só a força aérea americana vai empregá-lo.
Hoje, Jobim se encontra com a Secretária de Estado, Condoleezza Rice. Ele também terá encontro com a secretária de Transportes, Mary Peters, para discutir aviação civil e técnicas de controle de espaço aéreo, cooperação em segurança e controladores. À tarde, ele participa de mesa-redonda com representantes da indústria bélica, na Câmara Americana de Comércio.
http://www.defesanet.com.br/md1/usa_3.htm