user f.k.a. Cabeção escreveu:zumbi filosófico escreveu:O problema é que com exatamente as mesmas premissas, poderiam suportar a conclusão diametralmente oposta de aborto irrestrito em qualquer momento da gestação.
E mesmo? Como?
Lembrando a voce, as premissas foram:
1. Pedras, livros, galinhas e ovulos (nao fecundados) nao sao humanos.
2. Bebes, criancas e japoneses sao humanos.
3. Todo ser humano porta dignidade e nenhuma lei deve ser estabelecida violando esta dignidade.
As tres afirmativas acima nao estao em julgamento. Elas sao os parametros eticos da nossa discussao, e sao dados irredutiveis conhecidos a priori.
A indisponibilidade de meios tecnicos e eticos capazes de definir a "transicao de fase" entre nao humano e humano, no caso de um embriao em formacao, e o meu argumento para impedir o seu exterminio.
Igualmente poderia se argumentar que só se tem certeza de que é um humano mesmo no momento do nascimento, se o processo de desenvolvimento é tido como totalmente obscuro e misterioso.
Isso em nada entra em conflito com as premissas.
A conclusão só se dá porque você já suspeita/acredita que a partir do momento da fecundação já possa estar ou está lá algo que deva ser moralmente considerado como um bebê/pessoa.
Com o mesmo grau de ceticismo/obscurantismo, alguém poderia sugerir que só se sabe que tem havia lá um bebê mesmo no momento do parto. "Não se tem meios técnicos e éticos de se decidir nada; como o que entrou lá era uma porcaria de uma ejaculação, e tudo que tinha lá talvez fosse uma porcaria de um óvulo, não há motivos para se crer que tenha algo diferente disso, até que depois de 9 meses saia de lá um bebê - esse sim, está defendido nas premisssas, não o que quer que se passe desde o óvulo/espermatozóide até o bebê, que é completamente misterioso e insondável, mas não é um bebê".
zumbi filosófico escreveu:Isso não ocorre porque implicitamente na argumentação há a idéia de que, apesar do óvulo ser algo irrelevante, imediatamente após a fecundação, o óvulo se torna algo muito mais importante. Você não explicita isso, em vez disso joga todo o desenvolvimento embrionário por trás de uma nuvem de mistério insondável, onde praticamente assume que mesmo milhonésimos de segundo após a fecundação, talvez já haja lá um bebê.
Nao disse nada disso. Tudo o que eu disse esta explicito no paragrafo acima.
Mas levemos o seu argumento mais adiante.
Sem entrar no merito da dignidade de um cadaver humano, um ser humano pode possuir dignidade e no instante seguinte a sua morte nao.
Analogamente, um ovulo poderia portar zero dignidade, e no instante seguinte apos a fecundacao sim
Sem entrar no mérito de como uma célula pode ser digna como um ser humano, a dignidade humana poderia ser intrínseca à vida humana, inclusive antes da fecundação.
que por sinal e a unica transicao de fase bem definida no problema.
A ovulação também é bem definida, e é argumentável que diversos outros estágios também sejam, desde antes da ovulação, até depois da fecundação.
O parto é inclusive bem mais claro que a fecundação, e assim alguém que defendesse semelhante obscurantismo poderia defender o direito à vida apenas no parto. Qualquer coisa removida do útero antes, não era um bebê; era alguma formação similar a um câncer organizado com genes mutantes, talvez em alguns casos mais adiantados, fosse um teratoma fetiforme/homúnculo.
De qualquer forma nao e isso que eu estou sustentando. Disse que a indisponibilidade de meios eticos e tecnicos para determinar essa transicao de fase ja e por si so suficiente para cancelar as aspiracoes ao "direito de matar".
O que claro, é um argumento suspenso arbitrariamente para ao óvulo, sem a necessidade de qualquer argumentação do porque o espermatozóide confere essa dignidade toda a óvulo.
O mesmo também poderia ser feito, em qualquer outro estágio mais adiantado , desde que alguém arbitrariamente desse como verdade auto-evidente que é depois dele e não antes que se tem o "risco" de se ter vida humana.
É certo que, em diversos estágios, há marcadores biológicos tão claros quanto o ADN diplóide após o crossover. Diversas proteínas vão sendo codificadas só em determinados estágios, a química das células vai tendo diferenças.
Aí, poderíamos dizer que apenas quando a ectoderme produz a primeira molécula de qualquer compenente químico que escolhemos arbitrariamente, é que não temos mais meios técnicos e éticos para arbitrar sobre o direito de matar.
Quais são os aspectos químicos da diploidia, ou de qualquer coisa que haja de claramente diferente entre o ovócito II e o zigoto, que são tão mais importante que qualquer diferença que haja no embrião ou feto, digamos, antes de produzir as impressões digitais, ou talvez a queratina? E por que?
Se tivermos um meio de saber com certeza que até um momento X não ocorreu a produção de queratina, então você consideraria um ponto de referência tão válido quanto é a fecundação? Se não, por que? Qual é a importância crucial que tem a fecundação, e não a produção da queratina?
Também poderia perguntar, e quanto ao óvulo e a ovlução, Também há marcadores, moléculas diversas e locais diversos onde a célula está. Da mesma forma que o zigoto é humano se estiver no útero mas não numa lâmina, o óvulo poderia ser considerado humano se ovulado, mas não se ainda está muito próximo ao ovário - de forma similar a que as gestações ectópicas geralmente são abortadas sem qualquer consideração pelo feto ou embrião.
Claro, você pode também continuar se esquivando de dizer o que é que há na química da fecundação que dá a dignidade humana, dizer que o óvulo vivo e humano obviamente não a tem e ponto final, que isso é verdade auto-evidente ou o que quer que seja...
O principio por tras disso e que da ignorancia nao se pode tirar justificacao de uma acao contra a vida humana.
Menos para o óvulo antes da milagrosa fecundação.
zumbi filosófico escreveu:No mundo real, sabemos que não é nada disso, e então de duas, uma:
Se mantém a posição pró-vida quanto ao zigoto e todos estados posteriores, e passa a ser bastante razoável questionar a assunção de que o óvulo não fecudado é tão insignificante assim se comparado ao seu estágio imediatamente posterior, onde simplesmente foi acrescida uma fração milhonesimal de algo que também normalmente se teria como "verdade auto evidente" ser algo insignificante;
Pelo visto voce nao sabe nada de mundo real. Como eu disse acima, em fracoes de milhonesimos de segundo, uma pessoa pode deixar de estar viva, e por isso o seu argumento nao pode sustentar absolutamente nada com relacao aos milionesimos em que ela se torna viva.
Problemas de demarcacao existem em varias ocasioes, e por vezes decisoes arbitrarias podem ser tomadas desde que as consequencias sejam consideradas.
Assim uma propriedade pode ser divida em duas sempre que houver dois donos reivindicando honestamente sua posse.
Mas o mesmo nao pode ser aplicado a vida humana e ao direito de matar. Nao se pode dizer "com 4 meses e meio o aborto deixa de ser uma opcao". Isso e uma decisao arbitraria sobre algo que deve ser absoluto, que a dignidade humana. Essa afirmacao equivale a "com 8 (12 ou 24 ou 300) meses, o 'aborto' deixa de ser uma opcao".
Mas o mesmo nao pode ser aplicado a vida humana e ao direito de matar. Nao se pode dizer "apos a ovulação isso deixa de ser uma opcao". Isso e uma decisao arbitraria sobre algo que deve ser absoluto, que a dignidade humana. Essa afirmacao equivale a "com 8 (12 ou 24 ou 300) meses, o 'aborto' deixa de ser uma opcao".A unica decisao absoluta e consistente com a dignidade humana e o aborto jamais ser uma opcao.
Mas claro que se estamos falando de um óvulo fecundado, estamos falando de algo completamente diferente de um óvulo não fecundado.
Ou de zigotos e mórulas, idênticos aos criados por coito, mas criados sem ser por coito.
Ou partenotos, não produzidos por coito, mas idênticos ao zigoto, exceto por um nível de homozigose maior que o comum e problemas de metilação - claro que se um zigoto provenienete de fecundação tiver esses problemas, é outra coisa completamente diferente.
Ou embriões ou fetos normalíssimos, mas produzidos por estupro.