niate escreveu:Tranca-Ruas escreveu:niate escreveu:Naum tenho vergonha de sofrer deboches pelo meu salvador.
Uma coisa é ter fé, outra achar que todos devem se submeter a uma mesma fé e que sem ela a vida perde o sentido.
Nesse caso, a vida perde o sentido apenas para quem for apegado àquela fé.
Quem não tem pode não sentir falta e quem a perdeu (ou abandonou) pode vir a viver muito bem sem ela.
Naum penso assim eu acho que ser ateu é ser infeliz, no final tudo não tem mais sentido algum se a morte é um fim definitivo.
Saudações, niate!
Percebo que você está com uma visão bastante curta acerca da realidade. Ser ateu não é (necessariamente) ser infeliz. Você erra ao supor que as suas metas e perspectivas são universais. Você considera que uma vida finita "não faz sentido" (sinceramente, o que não faz sentido é tal expressão colocada dentro deste contexto, prefiro utilizar, neste caso, a expressão "não tem valor") e conclui que um ateu é infeliz por viver uma vida "sem valor". Isso é um equívoco (quando se coloca que tal ponto é necessário), uma vez que uma vida finita pode ter valor para um ateu (e também para teístas). De fato, isso ocorre. Eu, por exemplo, acredito que a minha existência (enquanto entidade consciente alcunhada aqui pelo termo "Operador Número") venha a ter um termo definitivo com a morte do meu cérebro (muito embora isso não implique que as partes que me compõem venham a ter também um fim, ao menos não antes de vários bilhões de anos) e mesmo assim considero que ela tem valor suficiente para fazer com que eu continue vivendo. Para dizer a verdade, o fato de eu ser um ente mortal não entra em momento algum como parâmetro no juízo de valor que faço acerca da minha própria existência. É fato também que não considero que eu deva subsistir naturalmente a qualquer custo. Por exemplo, se no futuro eu tiver um câncer INCURÁVEL e estiver sentido muita dor, tendo à minha disposição o mecanismo da eutanásia, certamente que optarei por fazer uso do mesmo.
A suposição de que, necessariamente, os estados mentais de terceiros, dentro de determinadas condições, são similares aos nossos, é um erro bastante comum, com o qual já me deparei inúmeras vezes, principalmente na época em que eu era católico ultra-conservador e intencionava ser padre. Nesta época eu passava oras a fio rezando (no meu quarto) ou lendo artigos protestantes e obras espíritas, com o intuito de refutá-las desde uma perspectiva católica (o que, inusitadamente, me afastou do catolicismo e acabou, com o tempo, por me conduzir ao ateísmo, devido à minha tentativa frustrada de elaborar uma refutação para "O Céu e o Inferno", de Allan Kardec). Isso não era, de modo algum, um tormento para mim. Muito pelo contrário, eu me sentia realmente bem fazendo aquilo. Contudo, pessoas próximas a mim expressavam repetidamente uma preocupação com relação ao modo como eu estava conduzindo a minha vida e julgavam que eu era infeliz, devido ao fato dos meus procedimentos naquele momento serem bem diferentes dos procedimentos que normalmente são vistos como sendo pertinentes a uma pessoa feliz (por exemplo: praticar esportes, ouvir música, ir ao cinema, etc). Essa visão que terceiros tinham acerca dos meus estados mentais estava, contudo, radicalmente equivocada. Não deixa de ser interessante notar a mesma postura vindo de você, sendo que agora estou em uma posição diametralmente oposta à que eu estava em épocas pregressas.
Quanto à finitude da vida, devo dizer que era algo que me incomodava bastante quando me tornei ateu. Com o tempo, me acostumei com tal ponto e hoje em dia não vejo isso com nenhum assombro ou mesmo preocupação (muito embora, se eu pudesse escolher a forma como o universo se comporta, optaria por algo similar ao que descrevi no tópico
DIGAMOS QUE VOCÊ FOSSE DEUS POR UM DIA...). Quando eu morrer, nada mais sentirei, então, exclusivamente para mim, tal evento não significará absolutamente nada, pois simplesmente não estarei mais consciente para discernir entre estados mentais agradáveis e desagradáveis. Para os amigos que ficam, no caso de pensarem da mesma forma que eu, a certeza de que nada sinto enquanto morto me parece anular qualquer sentimento racional de pena e, portanto, não há motivos para que lamentem ou sofram pela minha condição de morto. Para os inimigos, fica a satisfação de não mais contar com a minha presença no mundo (

). Enfim, a morte não me parece ser um bicho de sete cabeças. Penso que grande parte do choro das pessoas diante desta realidade se deva muito mais a um motivo egóico (a pessoa que fica não mais verá a que partiu e chora porque aquilo que lhe dava prazer - no caso, a pessoa querida que morreu - não lhe é mais acessível, sendo este um choro por si próprio e não pelo outro) do que a uma real preocupação com o pós-morte do falecido (inexistência
Vs. reencarnação
Vs. céu cristão
Vs. inferno cristão
Vs. paraíso islâmico com não sei quantas virgens
Vs. etc...). Se as pessoas fossem educadas desde a infância a encarar a morte de uma forma mais descontraída e racional, sem todos os tabus e solenidades que tradicionalmente envolvem o tema, penso que haveria menos sofrimento quando estas fossem confrontadas com a morte de uma pessoa querida...