Duas coisas:
Andam falando da mesmice dos ateus embasado neste fórum. Pois, embasado neste fórum, também irei concluir pela estupidez do pensamento crentóide. E, a julgar pelo que escreve o Fernando, isto não é justo. Minhas próprias falhas como ateu militante podem depor contra meus ideais, mas não contra minha vontade de superá-los, tanto quanto possível. É por isso que, enquanto já chamei todo crente de imbecil, hoje eu continuo fazendo o mesmo (

), mas agora com a diferença de que estou ciente de minha generalização e, consequentemente, de minha impropriedade retórica (mas não estatisticamente incorreta - os crentes questionadores e versados em ciência e filosofia são raríssimos - meus parabéns, Fernando - sinceros!).
O método da ciência, o Fernando está certo (na maioria dos pontos), não pode decidir pela fidedignidade absoluta do real.
"Nunca devemos permitir que um programa de pesquisa se converta [...] numa espécie de rigor científico, arvorando-se em árbitro entre a explicação e a não-explicação, como o rigor matemático se arvora em árbitro entre a prova e a não-prova" (Lakatos, 1979, pg. 190).
Mas o senso parcimonioso do espírito científico (parafraseando Bachelard) não pode se dar ao luxo de aceitar que estamos vivendo uma ilusão pelo "simples fato" de não podermos atestá-lo inequivocamente. Afinal, sonho que se sonha junto é realidade, seja o que diabos ela seja ou não seja. Pois o contrário, a caverna de Platão, pode ser heuristicamente válido. Mas é inócuo. Meu deus, como é inócuo. Assim, o conhecimento forjado coletivamente, ainda que seja uma subjetividade coletiva, é validado com um ônus baixo demais a se pagar (o risco de estarmos errados) pelo progresso conseguido. Se tem uma coisa que a evolução dos conceitos da física pode nos mostrar, é que nosso método, cheio de falhas, ainda assim produz um resultado efetivo inigualável por qualquer outro método conhecido. Pois então, e com uma pura
ad hominem, fico com todos os sinceros percrutadores que levaram nosso conhecimento aonde ele se encontra agora. E este conhecimento não enxerga deus, em parte alguma a não ser a) na subjetividade arbitrária e b) nas lacunas do atual estado da arte. A propósito, alguns (muito bem) escritos do Fernando continuam lhe pregando uma peça: do mesmo modo que não lembrou de como a religião julgou (e julga) cretinamente alguns pensadores da mais alta alçada, também esqueceu que os (muitos) religiosos que fizeram a ciência progredir foram aqueles que, embora aceitassem deus, foram extremamente iconoclastas para levar a diante suas impropriedades heréticas (e, que mais cedo ou mais tarde, a religião DEVE aceitar para subsistir).
Mais uma coisinha (três, portanto): estão linguisticamente confundindo o susposto caminho em conjunto entre ciência e religião, e a idéia de "estarem juntas" sem incomensurabilidade. Pensem um pouco a respeito. Fernando, uma provocação: ciência e religião não andam juntas, mesmo quando andam.
Que tal? O que poderias dizer sobre isto?
LAKATOS, I. O Falseamento e a Metodologia dos Programas de Pesquisa Científica. In: I. Lakatos; A Musgrave (Org.). A Crítica e o Desenvolvimento do Conhecimento. São Paulo: Cultrix, EDUSP, p. 109-243. 1979.