Geografia da fome, 2008
Geografia da fome, 2008
"Na realidade, a fome coletiva é um fenômeno social bem mais generalizado. É um fenômeno geograficamente universal, não havendo nenhum continente que escape à sua ação nefasta. Toda a terra dos homens tem sido também até hoje terra da fome." Josué de Castro, Geografia da Fome, 1946.
Do último ano pra cá, o preço dos alimentos básicos e o número dos/as extremamente pobres cresceu enormemente não só no Brasil, como no mundo todo. Por causa desta fome, rebeliões de famintos/as tem surgido em mais de 30 países. O trigo, o arroz, o feijão, o milho já aumentaram mais de 80% nos últimos meses. A diminuição da área de cultivo destes produtos dando lugar para o plantio de cana (produção de biocombustível), soja e a expansão dos pastos para gado; a especulação na bolsa de valores das ações das empresas de alimentos (também fruto da crise no mercado imobiliário norte-americano); a concentração de terras em mãos de poucos latifundiários na maior parte dos países da América Latina, África e Ásia; a maior importação de alimentos pela China, devido a uma crise na colheita do país de mais de 1 bilhão de habitantes; estes são alguns motivos deste aumento de preços gigantesco dos alimentos.
No Brasil, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com o incentivo para a produção de bio-combustível, a construção de hidrelétricas fazendo com que dezenas de comunidades sejam deslocadas e percam suas terras. Além disso, os demais investimentos em projetos de integração de infra-estrutura, que fazem parte do projeto Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IRSA) e que visam facilitar o escoamento da produção para a exportação e o deslocamento da força de trabalho interno têm favorecido muito o aumento do preço da alimentação, levando à fome ainda mais uma parcela gigantesca da população, já que o abastecimento interno fica em segundo plano. Vale a pena se perguntar: como o país que ano a ano vem batendo recordes na produção de grãos vê os artigos básicos da alimentação como arroz e feijão aumentarem tão rapidamente de preços? E ainda escuta o governo dizer que o aumento nos preços é por que a oferta é menor que a procura.
Em pouco tempo, em todo o mundo, pelo menos mais 100 milhões de pessoas vão estar passando fome, juntando-se aos já pelo menos 840 milhões de famintos que vivem nas favelas das cidades ou nas beiras de estradas esperando algum serviço semi-escravo numa plantação de cana ou fazenda de gado ou mina de diamante. Enquanto o número de famintos aumenta, o lucro assombroso de empresas de alimentação cresce exponencialmente, astronomicamente. De 2006 para cá, só a Cargill, empresa de grãos canadense, elevou seus lucros em mais de 2000%. O controle do mercado por um punhado de empresas com sede em países como EUA, Canadá, Japão, podendo especular com o preço da alimentação básica da população mundial visando apenas o lucro, causa fome a milhões de seres humanos que se alimentam do lixo, ou passam dias sem comer, muitas vezes sem moradia, doentes, na sua maior parte da África, América Latina e Ásia, e em número significativo de negros/as.
No Haiti, faz poucos anos que, de uma produção auto-suficiente de arroz, passou a importar todo o arroz que consume depois do ataque especulativo e de mercado das grandes empresas de alimento do mundo que acabou com a produção local - onde se plantava o alimento, agora se produz na sua maior parte cana para produção de biocombustível. O salário dos trabalhadores/as das cidades muitas vezes não chega a 1,80 dólares por dia, obrigados a trabalhar muitas horas diárias, inclusive crianças. Ao mesmo tempo tropas da ONU chefiadas pelo exército brasileiro mantém a população dentro das favelas, para não ameaçarem os negócios altamente lucrativos. No último mês a população se levantou para protestar contra o governo e saquear os supermercados para conseguir os alimentos que necessitava e as tropas reprimiram brutalmente. Além disso, a MINUSTAH aterroriza a população, tornando a vida insuportável, fazendo com que aceite qualquer condição de vida. Situações como essa acontecem em todo o mundo e só estão aumentando em número e intensidade. A própria FAO, organismo da Organização das Nações Unidas para alimentos, reconheceu que a a subida dos preços de alimentos - e, portanto, o aumento no número de famintos - vai continuar até pelo menos 2009.
A situação não parece escandalosa, ela é. A resposta dos pobres é imediata: desde saques a supermercados para poder se alimentar a intensificação das lutas dos movimentos sociais que lutam por reforma agrária, trabalho digno (cada vez mais sentido como autogestão e propriedade coletiva e não-estatal), controle pelas comunidades dos recursos naturais. A resposta dos podederosos também é rápida e muito forte: ainda maior aparelho repressivo militar e bélico, a própria privação material vivida por estes famintos, e um sistema midiático-ideológico quase onipresente. Ou acabamos com o capitalismo ou o capitalismo acaba conosco.
Fonte: http://midiaindependente.org/pt/blue/20 ... 2208.shtml
Do último ano pra cá, o preço dos alimentos básicos e o número dos/as extremamente pobres cresceu enormemente não só no Brasil, como no mundo todo. Por causa desta fome, rebeliões de famintos/as tem surgido em mais de 30 países. O trigo, o arroz, o feijão, o milho já aumentaram mais de 80% nos últimos meses. A diminuição da área de cultivo destes produtos dando lugar para o plantio de cana (produção de biocombustível), soja e a expansão dos pastos para gado; a especulação na bolsa de valores das ações das empresas de alimentos (também fruto da crise no mercado imobiliário norte-americano); a concentração de terras em mãos de poucos latifundiários na maior parte dos países da América Latina, África e Ásia; a maior importação de alimentos pela China, devido a uma crise na colheita do país de mais de 1 bilhão de habitantes; estes são alguns motivos deste aumento de preços gigantesco dos alimentos.
No Brasil, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com o incentivo para a produção de bio-combustível, a construção de hidrelétricas fazendo com que dezenas de comunidades sejam deslocadas e percam suas terras. Além disso, os demais investimentos em projetos de integração de infra-estrutura, que fazem parte do projeto Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IRSA) e que visam facilitar o escoamento da produção para a exportação e o deslocamento da força de trabalho interno têm favorecido muito o aumento do preço da alimentação, levando à fome ainda mais uma parcela gigantesca da população, já que o abastecimento interno fica em segundo plano. Vale a pena se perguntar: como o país que ano a ano vem batendo recordes na produção de grãos vê os artigos básicos da alimentação como arroz e feijão aumentarem tão rapidamente de preços? E ainda escuta o governo dizer que o aumento nos preços é por que a oferta é menor que a procura.
Em pouco tempo, em todo o mundo, pelo menos mais 100 milhões de pessoas vão estar passando fome, juntando-se aos já pelo menos 840 milhões de famintos que vivem nas favelas das cidades ou nas beiras de estradas esperando algum serviço semi-escravo numa plantação de cana ou fazenda de gado ou mina de diamante. Enquanto o número de famintos aumenta, o lucro assombroso de empresas de alimentação cresce exponencialmente, astronomicamente. De 2006 para cá, só a Cargill, empresa de grãos canadense, elevou seus lucros em mais de 2000%. O controle do mercado por um punhado de empresas com sede em países como EUA, Canadá, Japão, podendo especular com o preço da alimentação básica da população mundial visando apenas o lucro, causa fome a milhões de seres humanos que se alimentam do lixo, ou passam dias sem comer, muitas vezes sem moradia, doentes, na sua maior parte da África, América Latina e Ásia, e em número significativo de negros/as.
No Haiti, faz poucos anos que, de uma produção auto-suficiente de arroz, passou a importar todo o arroz que consume depois do ataque especulativo e de mercado das grandes empresas de alimento do mundo que acabou com a produção local - onde se plantava o alimento, agora se produz na sua maior parte cana para produção de biocombustível. O salário dos trabalhadores/as das cidades muitas vezes não chega a 1,80 dólares por dia, obrigados a trabalhar muitas horas diárias, inclusive crianças. Ao mesmo tempo tropas da ONU chefiadas pelo exército brasileiro mantém a população dentro das favelas, para não ameaçarem os negócios altamente lucrativos. No último mês a população se levantou para protestar contra o governo e saquear os supermercados para conseguir os alimentos que necessitava e as tropas reprimiram brutalmente. Além disso, a MINUSTAH aterroriza a população, tornando a vida insuportável, fazendo com que aceite qualquer condição de vida. Situações como essa acontecem em todo o mundo e só estão aumentando em número e intensidade. A própria FAO, organismo da Organização das Nações Unidas para alimentos, reconheceu que a a subida dos preços de alimentos - e, portanto, o aumento no número de famintos - vai continuar até pelo menos 2009.
A situação não parece escandalosa, ela é. A resposta dos pobres é imediata: desde saques a supermercados para poder se alimentar a intensificação das lutas dos movimentos sociais que lutam por reforma agrária, trabalho digno (cada vez mais sentido como autogestão e propriedade coletiva e não-estatal), controle pelas comunidades dos recursos naturais. A resposta dos podederosos também é rápida e muito forte: ainda maior aparelho repressivo militar e bélico, a própria privação material vivida por estes famintos, e um sistema midiático-ideológico quase onipresente. Ou acabamos com o capitalismo ou o capitalismo acaba conosco.
Fonte: http://midiaindependente.org/pt/blue/20 ... 2208.shtml
Re: Geografia da fome, 2008
Achei o comentário do autor um tanto acusador e sem sentido sobre o capitalismo.
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Re: Geografia da fome, 2008
ONDEEEEE? NUNCA ANTES O POVO ESTEVE TÃO FELIZ, DE BARRIGA TÃO CHEIA, MORANDO TÃO BEM, ESTUDANDO TANTO, COM TANTA QUALIDADE E NEM TENDO TANTA ASSISTÊNCIA MÉDICA E DE SANEAMENTO! NUNCA HOUVE TANTA PAZ SOCIAL!
Só podia ser asneira do Mídia Independente!
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Re: Geografia da fome, 2008
Joe escreveu:Achei o comentário do autor um tanto acusador e sem sentido sobre o capitalismo.
Engraçado que há uma substituição sobre o que é culpa de ações relacionadas à má administração da economia ( principalmente em épocas de crise interna ou externa) e capitalismo. Na verdade, estes programas como o do Etanol brasileiro - tão elogiados pelos socialistas brasileiros de plantão - mostra sua verdadeira cara ( conforme pode-se ver na reportagem que postei no outro tópico a respeito do assunto).
E tá na hora do Brasil sair da fase agrícola, não está?

Re: Geografia da fome, 2008
Joe escreveu:A situação não parece escandalosa, ela é. A resposta dos pobres é imediata: desde saques a supermercados para poder se alimentar a intensificação das lutas dos movimentos sociais que lutam por reforma agrária, trabalho digno (cada vez mais sentido como autogestão e propriedade coletiva e não-estatal), controle pelas comunidades dos recursos naturais. A resposta dos podederosos também é rápida e muito forte: ainda maior aparelho repressivo militar e bélico, a própria privação material vivida por estes famintos, e um sistema midiático-ideológico quase onipresente. Ou acabamos com o capitalismo ou o capitalismo acaba conosco.
Fonte: http://midiaindependente.org/pt/blue/20 ... 2208.shtml
Como é que os partidários daqueles que ordenaram a grande fome da Ucrânia e a grande fome do Grande Salto para Frente, que vitimaram dezenas de milhões de pessoas, só para citar duas em uma lista longa, ainda tem coragem de aparecer em público como defensores dos famintos?
E notem bem, ORDENARAM a fome, que não foi causada como efeito colateral de outros objetivos.
A fome geral ERA o objetivo.
Gente tão monstruosa deveria ser varrida da História que tanto veneram.
Nós, Índios.
Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!
Acauan Guajajara
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Re: Geografia da fome, 2008
Minha intenção era discutir as causas da fome e não o texto em si, pois aquele lixo era só pra causar alvoroço .
Re: Geografia da fome, 2008
E Malthus tinha razão
A população aumenta, a comida não...

A população aumenta, a comida não...
"Deus empurra para a morte tudo o que lhe resiste. Em primeiro lugar a razão, depois a inteligência e o espírito crítico" (Onfray)
"Your God is dead and no one cares" (Sartre)
"Your God is dead and no one cares" (Sartre)
Re: Geografia da fome, 2008
Suyndara escreveu:E Malthus tinha razão![]()
A população aumenta, a comida não...
Malthus errou feio.
Com o avanço da tecnologia e produtividade agrícola, o problema da fome no mundo passou a ser de distribuição, não de produção.
Nós, Índios.
Acauan Guajajara
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Re: Geografia da fome, 2008
Acauan escreveu:Suyndara escreveu:E Malthus tinha razão![]()
A população aumenta, a comida não...
Malthus errou feio.
Com o avanço da tecnologia e produtividade agrícola, o problema da fome no mundo passou a ser de distribuição, não de produção.
Não muito, em termos matemáticos o modelo malthusiano ainda é aceito (com pequenas correções).
Mas o grande trunfo dos trabalhos dele não é necessariamente calcular a taxa de crescimento da população e sim demonstrar que o controle de natalidade, especialmente em populações pobres, onde a distribuição de recursos é precária ou nula, é emergencial e uma das únicas formas de se diminuir a fome do mundo

Até pq a distribuição de recursos obedece a lei de potência, ou seja, historicamente sempre haverá poucos com muita abundância e muitos (muitos mesmo) com praticamente nada

[]s
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