Encontrando um novo caminho.

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Avatar do usuário
Flavio Costa
Mensagens: 4307
Registrado em: 25 Out 2005, 07:32
Localização: Brasilia, DF
Contato:

Mensagem por Flavio Costa »

aknatom escreveu:Reencarnação: pressupõe uma essência, uma alma, um atman, que armazena a personalidade da pessoa e que esta essência pode existir separadamente do corpo físico. Quando o corpo morre, essa essência aguarda para se unir novamente no corpo num futuro.

Renascimento: não existe uma alma que permanece depois que morremos, com uma personalidade própria, existe sim uma série de relações que cada pessoa estabelece com o mundo a sua volta (karma) que é temporariamente interrompido com a morte e obtem continuidade num renascimento.

Em outras palavras, na reencarnação existe a preservação da identidade através de sucessivos corpos.

No renascimento na "próxima vida" não há preservação de identidade, apenas do processo causal. Além disso, o conceito é meio abstrato, dormir e acordar no dia seguinte pode ser entendido como um renascimento, por exemplo.
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006

Avatar do usuário
aknatom
Mensagens: 3071
Registrado em: 25 Out 2005, 13:10
Gênero: Masculino

Mensagem por aknatom »

Flavio Costa escreveu:
aknatom escreveu:Reencarnação: pressupõe uma essência, uma alma, um atman, que armazena a personalidade da pessoa e que esta essência pode existir separadamente do corpo físico. Quando o corpo morre, essa essência aguarda para se unir novamente no corpo num futuro.

Renascimento: não existe uma alma que permanece depois que morremos, com uma personalidade própria, existe sim uma série de relações que cada pessoa estabelece com o mundo a sua volta (karma) que é temporariamente interrompido com a morte e obtem continuidade num renascimento.

Em outras palavras, na reencarnação existe a preservação da identidade através de sucessivos corpos.

No renascimento na "próxima vida" não há preservação de identidade, apenas do processo causal. Além disso, o conceito é meio abstrato, dormir e acordar no dia seguinte pode ser entendido como um renascimento, por exemplo.


Eu sempre uso o dormir e o acordar mas percebi que desta forma as pessoas não percebem a diferença da reencarnação, afinal quando vc dorme e acorda, a personalidade é a mesma, a identidade é a mesma.
A verdadeira questão que diferencia é: o que constitui minha individualidade?
Na doutrina espírita de reencarnação a individualidade da pessoa é sua personalidade, que está atrelada a seu espírito, que permaneceapós o falecimento.
Na teoria budista do renascimento, a individualidade é o conjunto de causas e efeitos, ou relações, que precisam de uma entidade viva para estarem manifestas porém não deixam de existir com a morte deste organismo, mas passam para um estado de "potencialidade" quando este corpo falece, voltando a um estado de "manifestação" quando nasce novamente.
The Pensêitor admitindo que estava enganado: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=53315#53315
Eu concordando plenamente em algo com o VM: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=239579#239575

Imagem

Avatar do usuário
salgueiro
Mensagens: 10306
Registrado em: 17 Out 2005, 12:01
Gênero: Feminino
Localização: rio de janeiro

Mensagem por salgueiro »

Hummm... desculpe aknaton, mas a diferença aparente seria o tempo entre duas vidas. Não consegui ainda captar a diferença

Bjs


Avatar do usuário
Flavio Costa
Mensagens: 4307
Registrado em: 25 Out 2005, 07:32
Localização: Brasilia, DF
Contato:

Mensagem por Flavio Costa »

aknatom escreveu:Eu sempre uso o dormir e o acordar mas percebi que desta forma as pessoas não percebem a diferença da reencarnação, afinal quando vc dorme e acorda, a personalidade é a mesma, a identidade é a mesma.
A verdadeira questão que diferencia é: o que constitui minha individualidade?

Mas aqui já temos material suficiente. A questão é justamente que, quando dormimos e acordamos, a personalidade é semelhante, mas não é exatamente a mesma. Estamos em constante mutação.

A pessoa pode pensar que, ainda que mude, "eu continuo sendo eu em essência", porém, onde está essa essência se nenhuma parte do nosso corpo ou da nossa mente é imutável?

A solução para isso é postular uma individualidade metafísica, conhecida como alma ou espírito. Entretanto, os budistas não aceitam a existência dessa individualidade metafísica, logo não podem concordar com a teoria reencarnacionista segundo a qual "nós somos um princípio imaterial que retorna em sucessivos corpos".

Enquanto os espíritas dividem os humanos em corpo, perispírito e espírito (este último preserva a identidade), os budistas consideram os seres como os cinco agregados, forma, consciência sensorial, percepções, sensações, formações mentais.
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006

Avatar do usuário
salgueiro
Mensagens: 10306
Registrado em: 17 Out 2005, 12:01
Gênero: Feminino
Localização: rio de janeiro

Mensagem por salgueiro »

O que acontece com esses 5 agregados depois da morte ?

Bjs


Avatar do usuário
Flavio Costa
Mensagens: 4307
Registrado em: 25 Out 2005, 07:32
Localização: Brasilia, DF
Contato:

Mensagem por Flavio Costa »

salgueiro escreveu:O que acontece com esses 5 agregados depois da morte ?

Se desagregam. :emoticon16:

O que sobra são as nossas ações e seus resultados. Veja que é uma continuidade impessoal. Como você sabe, "ação" em sânscrito é "karma".
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006

Avatar do usuário
salgueiro
Mensagens: 10306
Registrado em: 17 Out 2005, 12:01
Gênero: Feminino
Localização: rio de janeiro

Mensagem por salgueiro »

Flavio Costa escreveu:
salgueiro escreveu:O que acontece com esses 5 agregados depois da morte ?

Se desagregam. :emoticon16:

O que sobra são as nossas ações e seus resultados. Veja que é uma continuidade impessoal. Como você sabe, "ação" em sânscrito é "karma".


Algo como permanecermos nas lembranças de quem nos conheceu e o que construímos por aqui

Bjs


Avatar do usuário
aknatom
Mensagens: 3071
Registrado em: 25 Out 2005, 13:10
Gênero: Masculino

Mensagem por aknatom »

salgueiro escreveu:O que acontece com esses 5 agregados depois da morte ?

Bjs



Estes 5 agregados somente existem enquanto existe vida... depois da morte, eles param de existir. O que permanece é as causas que a pessoa fez, aguardando para se tornarem efeitos. Porém, causas somente se tornam efeitos a partir de uma existência manifesta, que irá acontecer quando a pessoa renascer. Por isso o intervalo entre uma vida e outra é chamado, entre outras palavras de "latência" e "potencialidade".
The Pensêitor admitindo que estava enganado: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=53315#53315
Eu concordando plenamente em algo com o VM: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=239579#239575

Imagem

Avatar do usuário
salgueiro
Mensagens: 10306
Registrado em: 17 Out 2005, 12:01
Gênero: Feminino
Localização: rio de janeiro

Mensagem por salgueiro »

aknatom escreveu:
salgueiro escreveu:O que acontece com esses 5 agregados depois da morte ?

Bjs



Estes 5 agregados somente existem enquanto existe vida... depois da morte, eles param de existir. O que permanece é as causas que a pessoa fez, aguardando para se tornarem efeitos. Porém, causas somente se tornam efeitos a partir de uma existência manifesta, que irá acontecer quando a pessoa renascer. Por isso o intervalo entre uma vida e outra é chamado, entre outras palavras de "latência" e "potencialidade".


Quando acho que estou começando a captar, pronto .... :emoticon1: Quem renasce ? Vc nasce " em branco " num mundo construído por outros que já se " desagregaram " ?

Bjs


Avatar do usuário
aknatom
Mensagens: 3071
Registrado em: 25 Out 2005, 13:10
Gênero: Masculino

Mensagem por aknatom »

salgueiro escreveu:
aknatom escreveu:
salgueiro escreveu:O que acontece com esses 5 agregados depois da morte ?

Bjs



Estes 5 agregados somente existem enquanto existe vida... depois da morte, eles param de existir. O que permanece é as causas que a pessoa fez, aguardando para se tornarem efeitos. Porém, causas somente se tornam efeitos a partir de uma existência manifesta, que irá acontecer quando a pessoa renascer. Por isso o intervalo entre uma vida e outra é chamado, entre outras palavras de "latência" e "potencialidade".


Quando acho que estou começando a captar, pronto .... :emoticon1: Quem renasce ? Vc nasce " em branco " num mundo construído por outros que já se " desagregaram " ?

Bjs



Vc renasce, não em branco, mas sim como uma continuidade das ações que vc fez em outra existência.
A questão é justamente "quem" renasce... se é uma alma que novamente adquire um corpo e reencarna ou se é uma vida que tem a individualidade definida pelo conjunto de ações que já fez e efeitos que essas ações devem produzir, e que estava latente (ou dormindo) até então.
The Pensêitor admitindo que estava enganado: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=53315#53315
Eu concordando plenamente em algo com o VM: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=239579#239575

Imagem

Avatar do usuário
salgueiro
Mensagens: 10306
Registrado em: 17 Out 2005, 12:01
Gênero: Feminino
Localização: rio de janeiro

Mensagem por salgueiro »

Posso estar errada mas tenho a sensação que o seu budismo é diferente do Flavio e do Luis, só não peguei ainda onde

A descrição que vc faz seria o reencarnar sendo que, entre vidas " ficaria em compasso de espera ". A continuidade existiria,,,,, ou não ? :emoticon1:

Bjs

Avatar do usuário
aknatom
Mensagens: 3071
Registrado em: 25 Out 2005, 13:10
Gênero: Masculino

Mensagem por aknatom »

salgueiro escreveu:Posso estar errada mas tenho a sensação que o seu budismo é diferente do Flavio e do Luis, só não peguei ainda onde

A descrição que vc faz seria o reencarnar sendo que, entre vidas " ficaria em compasso de espera ". A continuidade existiria,,,,, ou não ? :emoticon1:

Bjs


O que vc chama de continuidade? Me parece que tanto eu, como o Flavio como o Luis estamos falando de continuidade, mas não de uma continuidade da personalidade, ou continuidade da alma.

Se a dúvida for com relação a frase "O que sobra são as nossas ações e seus resultados. Veja que é uma continuidade impessoal. Como você sabe, "ação" em sânscrito é "karma".", e sua interpretação de "ficar na lembrança" estiver correta, também acabei ficando em dúvida, se o Flavio puder explicar.
The Pensêitor admitindo que estava enganado: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=53315#53315
Eu concordando plenamente em algo com o VM: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=239579#239575

Imagem

Avatar do usuário
Cris
Mensagens: 1557
Registrado em: 24 Out 2005, 14:21
Localização: Brasília -DF
Contato:

Mensagem por Cris »

salgueiro escreveu:
Flavio Costa escreveu:
salgueiro escreveu:O que acontece com esses 5 agregados depois da morte ?

Se desagregam. :emoticon16:

O que sobra são as nossas ações e seus resultados. Veja que é uma continuidade impessoal. Como você sabe, "ação" em sânscrito é "karma".


Algo como permanecermos nas lembranças de quem nos conheceu e o que construímos por aqui




Bjs




Se eu estou aprendendo bem, é bem assim mesmo Sal...rs . Beijos!
Cris*
"Um homem não é outra coisa senão o que faz de si mesmo.” Jean-Paul Sartre

Avatar do usuário
salgueiro
Mensagens: 10306
Registrado em: 17 Out 2005, 12:01
Gênero: Feminino
Localização: rio de janeiro

Mensagem por salgueiro »

Está me parecendo uma sutileza, aknaton, porque a continuidade de nossas ações, somos nós. Só eu sou capaz de fazer o que faço, não existem dois iguais

Nós renasceríamos com o que ?

Bjs


Avatar do usuário
Cris
Mensagens: 1557
Registrado em: 24 Out 2005, 14:21
Localização: Brasília -DF
Contato:

Mensagem por Cris »

aknatom escreveu:
salgueiro escreveu:Posso estar errada mas tenho a sensação que o seu budismo é diferente do Flavio e do Luis, só não peguei ainda onde

A descrição que vc faz seria o reencarnar sendo que, entre vidas " ficaria em compasso de espera ". A continuidade existiria,,,,, ou não ? :emoticon1:

Bjs


O que vc chama de continuidade? Me parece que tanto eu, como o Flavio como o Luis estamos falando de continuidade, mas não de uma continuidade da personalidade, ou continuidade da alma.

Se a dúvida for com relação a frase "O que sobra são as nossas ações e seus resultados. Veja que é uma continuidade impessoal. Como você sabe, "ação" em sânscrito é "karma".", e sua interpretação de "ficar na lembrança" estiver correta, também acabei ficando em dúvida, se o Flavio puder explicar.



Também gostaria de aprender e ter certeza... esperemos então a explicação, certamente é bem interessante.
Cris*
"Um homem não é outra coisa senão o que faz de si mesmo.” Jean-Paul Sartre

Avatar do usuário
APODman
Mensagens: 4237
Registrado em: 24 Out 2005, 16:31

Mensagem por APODman »

[center]Imagem
"Memories of our lives, of our works and our deeds will continue in others."

Rosa Parks (1913 - 2005)[/center]


[ ]´s

Avatar do usuário
aknatom
Mensagens: 3071
Registrado em: 25 Out 2005, 13:10
Gênero: Masculino

Re.: Encontrando um novo caminho.

Mensagem por aknatom »

Vou explicar o que eu aprendí, certo:
- Hoje, eu, Raphael, tenho uma vida de respeito aos meus semelhantes, com uma relação familiar tumultuada, excessivamente apegado aos prazeres físicos, tranquila com o dinheiro, socialmente engajado, mas com a tendência a ver meu próprio bem ao invés do bem da maioria em questões críticas. Isso tudo é resultado da interação entre a minha realidade subjetiva (5 agregados) e o meu ambiente social e natural.
- Amanhã eu faleço. Os 5 agregados desaparecem.
- Apesar de desaparecer, eu não termino minha existência. Ela apenas não pode mais se relacionar com a realidade objetiva pois não possui mais realidade subjetiva. Desaparecer é diferente de dizer que não tem como especificar onde está. Apesar de desaparecer, a potencialidade de desenvolver relacionamentos neste padrão com a realidade não desaparece, está "potencialmente" real, mas não se manifesta.
- Daquia um tempo nasce um carinha lá na Africa do Sul, com os mesmos padrões de relacionamento familiar, com seu corpo, com o dinheiro, com a sociedade, com o seu egoismo que eu. Este sou eu.

É assim que eu entendo, se consegui me explicar.
The Pensêitor admitindo que estava enganado: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=53315#53315
Eu concordando plenamente em algo com o VM: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=239579#239575

Imagem

Avatar do usuário
Samael
Mensagens: 13718
Registrado em: 19 Out 2005, 13:31
Gênero: Masculino
Contato:

Re: Re.: Encontrando um novo caminho.

Mensagem por Samael »

Luis Dantas escreveu:
Euzébio escreveu:
aknatom escreveu:- O budismo que eu pratico explica tudo isso, sem usar reencarnação. Usa um conceito diferente, que chamamos de renascimento, muito mais parecido co o conceito hinduista.


Não tenho contato algum com o budismo, só o conceito de que o budismo apesar de ter como tônica a Sabedoria, tende a eliminar as emoções humanas, não creio que este seja o caminho ideal.



Terceira vez, sem puxar pela memória, que você vem com essa... :emoticon18:

aknatom escreveu:- O acaso explica muito bem. Em algumas situações não satisfaz, mas explica.


Não acredito no acaso, Aknatom. O acaso fere a minha inteligência.


Em toda e qualquer situação? Inclusive, por exemplo, lançamentos de moedas?


No fundo do coração, eu tenho alguma concordância com o Euzébio nessa questão. Por mais que eu tenha absoluta simpatia pelo budismo (e já o defendi no fórum mesmo quando desconhecia quase quecompletamente seus princípios) e por suas respostas pautadas na realidade e, na maioria das vezes, na razão, eu ainda vejo com muitas ressalvas algumas questões no budismo. O ideal do "não desejar" ou ainda "o caminho do meio" são utopias para lá de estoicas, em minha opinião.

Masssssss...o tópico não é sobre isso.

Abraços!

Avatar do usuário
salgueiro
Mensagens: 10306
Registrado em: 17 Out 2005, 12:01
Gênero: Feminino
Localização: rio de janeiro

Mensagem por salgueiro »

Poético, APODman :emoticon105:

Avatar do usuário
Samael
Mensagens: 13718
Registrado em: 19 Out 2005, 13:31
Gênero: Masculino
Contato:

Re: Re.: Encontrando um novo caminho.

Mensagem por Samael »

Euzébio escreveu:
Cris escreveu:E apesar do Euzébio ter dito não acreditar no acaso. Eu acredito que todas as coisas acontecem no momento certo, na hora certa que elas têm que acontecer.


E é exatamente isto o contrário do Acaso, que é totalmente aleatório.


Não, Euzébio. Acaso e aleatoriedade são coisas bem diferentes. Podemos observar tudo segundo conceitos de causa e conseqüência. Nada existe sem uma causa. E nada existe sem que haja uma conseqüência. Por sua vez, conseqüencias são causas de outras consequencias e assim sucessivamente.

Algo totalmente aleatório (como seria o livre-arbítrio, por exemplo), romperia com essa rede causal. O acaso não. Ele funciona dentro desta cadeia, mas sem dar previsibilidade aos fenômenos. Sem haver intelecto objetivo por trás de tais redes.

É simples.

Abraços!

Avatar do usuário
Samael
Mensagens: 13718
Registrado em: 19 Out 2005, 13:31
Gênero: Masculino
Contato:

Mensagem por Samael »

aknatom escreveu:
Cavaleiro do Ébano escreveu:
Luis Dantas escreveu:
salgueiro escreveu:Acho que isso se deve a meu total desconhecimento sobre o budismo, que o Dantas não me leia mas pareciam falar das mesmas coisas :emoticon1:


Tarde demais... :emoticon4:

Você não é a primeira a me dizer isso, Sal. O Miguel, por exemplo, parece não se convencer de que eu não sou reencarnacionista. Nunca te indiquei este meu texto?

http://www.dantas.com/budismo/reencarnacao.htm


Olá Luis!!!

Legal saber destes seus textos... Confesso que sempre tive dificuldades em compreender a não aceitação da reencarnação por parte dos budistas...

Vc poderia por favor explicar em poucas palavras a diferença entre o Renascimento e a reencarnação??

No budismo vcs acreditam num princípio, ou espécie de imortalidade??? Tal qual o espírito? Se não como se dá o tal renascimento?

Grato.

Abraços.


Reencarnação: pressupõe uma essência, uma alma, um atman, que armazena a personalidade da pessoa e que esta essência pode existir separadamente do corpo físico. Quando o corpo morre, essa essência aguarda para se unir novamente no corpo num futuro.

Renascimento: não existe uma alma que permanece depois que morremos, com uma personalidade própria, existe sim uma série de relações que cada pessoa estabelece com o mundo a sua volta (karma) que é temporariamente interrompido com a morte e obtem continuidade num renascimento.

É que é meio complicado de expressar em poucas palavras, mas podem atirar pedras :emoticon19: , isto é, fazer :emoticon19: perguntas...


Já falou do Atman, se mencionar Bhraman, neguinho infarta por aqui. :emoticon16:

Avatar do usuário
aknatom
Mensagens: 3071
Registrado em: 25 Out 2005, 13:10
Gênero: Masculino

Re: Re.: Encontrando um novo caminho.

Mensagem por aknatom »

Samael escreveu:No fundo do coração, eu tenho alguma concordância com o Euzébio nessa questão. Por mais que eu tenha absoluta simpatia pelo budismo (e já o defendi no fórum mesmo quando desconhecia quase quecompletamente seus princípios) e por suas respostas pautadas na realidade e, na maioria das vezes, na razão, eu ainda vejo com muitas ressalvas algumas questões no budismo. O ideal do "não desejar" ou ainda "o caminho do meio" são utopias para lá de estoicas, em minha opinião.

Masssssss...o tópico não é sobre isso.

Abraços!


Não desejar pode ser interpretado como "desenvolver o autodomínio a ponto de não ser dominado pelo desejar". Muito útil em situações onde a racionalidade precisa dominar o instintivo.
"Caminho do meio" pode ser interpretado como "não ser radicalmente preso a conceitos científicos esquecendo da moralidade e nem ser totalmente preso ao fundamentalismo acientífico". Algo como um cientista com moralidade, ou um religioso que não vê problema algum com a ciencia. É mais uma denuncia ao extremismo.
Não vejo fuga da realidade nestes conceitos, vejo a capacidade de desenvolvê-los em todas as pessoas.
The Pensêitor admitindo que estava enganado: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=53315#53315
Eu concordando plenamente em algo com o VM: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=239579#239575

Imagem

Avatar do usuário
salgueiro
Mensagens: 10306
Registrado em: 17 Out 2005, 12:01
Gênero: Feminino
Localização: rio de janeiro

Re: Re.: Encontrando um novo caminho.

Mensagem por salgueiro »

aknatom escreveu:Vou explicar o que eu aprendí, certo:
- Hoje, eu, Raphael, tenho uma vida de respeito aos meus semelhantes, com uma relação familiar tumultuada, excessivamente apegado aos prazeres físicos, tranquila com o dinheiro, socialmente engajado, mas com a tendência a ver meu próprio bem ao invés do bem da maioria em questões críticas. Isso tudo é resultado da interação entre a minha realidade subjetiva (5 agregados) e o meu ambiente social e natural.
- Amanhã eu faleço. Os 5 agregados desaparecem.
- Apesar de desaparecer, eu não termino minha existência. Ela apenas não pode mais se relacionar com a realidade objetiva pois não possui mais realidade subjetiva. Desaparecer é diferente de dizer que não tem como especificar onde está. Apesar de desaparecer, a potencialidade de desenvolver relacionamentos neste padrão com a realidade não desaparece, está "potencialmente" real, mas não se manifesta.
- Daquia um tempo nasce um carinha lá na Africa do Sul, com os mesmos padrões de relacionamento familiar, com seu corpo, com o dinheiro, com a sociedade, com o seu egoismo que eu. Este sou eu.

É assim que eu entendo, se consegui me explicar.


Complicado ..... :emoticon1:

Se os 5 agregados desaparecem, perde então a realidade subjetiva e com ela a potencialidade real de voltar a interagir com a realidade objetiva

Se o carinha da África tiver os 5 agregados iguais aos seus, é vc, não ......

Bjs


Avatar do usuário
Flavio Costa
Mensagens: 4307
Registrado em: 25 Out 2005, 07:32
Localização: Brasilia, DF
Contato:

Mensagem por Flavio Costa »

salgueiro escreveu:Posso estar errada mas tenho a sensação que o seu budismo é diferente do Flavio e do Luis, só não peguei ainda onde

Sim, o aknatom pratica uma vertente que em geral é considerada um tanto exótica, mas imagino que não haja grande diferença no tema sendo discutido.

Não existe nenhuma indicação de que o renascimento seja apenas "ficar na lembrança". Temos que considerar que o Budismo surgiu num ambiente hindu e usou a linguagem da época. A noção de atman (alma) hinduísta era incompatível com os princípios budistas, e o Buda também não quis defender uma teoria aniquilacionista (que a morte é o fim de tudo), pois essa visão não leva à sabedoria (por exemplo, sob essa perspectiva, o suicídio parece ser uma boa solução, sendo que em geral é uma solução ignorante).

Então ele propôs o renascimento, que é compatível com os princípios budistas e útil para motivar uma prática moral correta. A dúvida é: qual é a mecânica pela qual o renascimento ocorre, ou melhor, como o renascimento deve ser interpretado? Naquela época, possivelmente, ele era interpretado de maneira bastante literal. Assim como o mítico "monte Meru", que teoricamente fica "no centro do universo", mas ninguém nunca viu.

Qual seria o entendimento mais apropriado para os dias de hoje? Isso não está claro. Eu não descarto a possibilidade do renascimento ter de fato alguma implicação material, de que as ações volitivas de um ser que morre moldem as características psicológicas de um ser que nasce na forma de tendências inatas. Existe essa abertura na medida que nem todos os mistérios da mente estão resolvidos.

Outros, mais moldados por um paradigma materialista/reducionista, preferem acreditar que o renascimento é apenas um recurso pedagógico para explicar o funcionamento da mente humana e motivar a prática de uma maneira simbólica. É uma alternativa possível, defendida por muitos, e que pouca gente diria ser uma "heresia".

Na verdade, do ponto de vista budista, a interpretação pouco importa, o que é mais importante é entender os conceitos e usá-los como uma ferramenta útil. Isso é bastante diferente do que vemos no Espiritismo, onde a reencarnação chega a ser vista como desejável, por trazer consolo e esperança diante da morte. Para um budista, desejar a continuidade de sua individualidade é tido como uma postura ignorante. O ideal é justamente o contrário, viver plenamente o momento presente sem se apegar a esperanças de continuidade.

Então a melhor resposta para "O que continua?" é "Apenas suas ações e consequências delas". Mas o que realmente interessa para os budistas é o que NÃO continua, e o que não continua é a individualidade e os cinco agregados. Ao querer entrar em maiores detalhes deixa-se de lado as questões que são realmente importantes para entrar na metafísica. E o Budismo rejeita a metafísica, pois ela é lixo intelectual que, enquanto não sai do campo da especulação, serve apenas como distração. As coisas que realmente importam são as que se apresentam para nós, tais como se apresentam.
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006

Avatar do usuário
aknatom
Mensagens: 3071
Registrado em: 25 Out 2005, 13:10
Gênero: Masculino

Re: Re.: Encontrando um novo caminho.

Mensagem por aknatom »

salgueiro escreveu:
aknatom escreveu:Vou explicar o que eu aprendí, certo:
- Hoje, eu, Raphael, tenho uma vida de respeito aos meus semelhantes, com uma relação familiar tumultuada, excessivamente apegado aos prazeres físicos, tranquila com o dinheiro, socialmente engajado, mas com a tendência a ver meu próprio bem ao invés do bem da maioria em questões críticas. Isso tudo é resultado da interação entre a minha realidade subjetiva (5 agregados) e o meu ambiente social e natural.
- Amanhã eu faleço. Os 5 agregados desaparecem.
- Apesar de desaparecer, eu não termino minha existência. Ela apenas não pode mais se relacionar com a realidade objetiva pois não possui mais realidade subjetiva. Desaparecer é diferente de dizer que não tem como especificar onde está. Apesar de desaparecer, a potencialidade de desenvolver relacionamentos neste padrão com a realidade não desaparece, está "potencialmente" real, mas não se manifesta.
- Daquia um tempo nasce um carinha lá na Africa do Sul, com os mesmos padrões de relacionamento familiar, com seu corpo, com o dinheiro, com a sociedade, com o seu egoismo que eu. Este sou eu.

É assim que eu entendo, se consegui me explicar.


Complicado ..... :emoticon1:

Se os 5 agregados desaparecem, perde então a realidade subjetiva e com ela a potencialidade real de voltar a interagir com a realidade objetiva

Se o carinha da África tiver os 5 agregados iguais aos seus, é vc, não ......

Bjs



Estes agregados (forma, consciência sensorial, percepções, sensações, formações mentais) são comuns a todos os seres vivos. A forma como eles são usados é que é influenciado pelo karma, que é o que pode ser chamado de individualidade. Este karma não desaparece, ele somente perde a capacidade de interação, que é possível através dos 5 agregados. O budismo entende a vida como um ciclo de "manifestação-latência".

Fazendo um paralelo que programadores de computador vão entender.. :emoticon16:
Tenho meu objeto, que possui propriedades. Os valores de cada propriedade é a individualidade do objeto.
Quando este objeto para de ser utilizado, ele é armazanado no banco de dados e sai da memória, ele passa pra "latência". Mas ele não desaparece, ele apenas não está na memória, ou "realidade objetiva".
Quando existem condições adeuqadas este objeto é resgatado do banco e volta a ocupar um espaço de memória, volta a existir, renasce.
Sei que é meio tosco, estou usando de teste essa comparação, podem xingar a vontade.... :emoticon16:
The Pensêitor admitindo que estava enganado: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=53315#53315
Eu concordando plenamente em algo com o VM: http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?p=239579#239575

Imagem

Trancado