user f.k.a. Cabeção escreveu:
O seu exemplo e interessante do ponto de vista historico institucional do dois paises, mas o que exatamente ele vem nos ensinar sobre economia mesmo?
Como eu disse antes, idosos sao sobretaxados pelo simples fato de representarem riscos maiores, e portanto custos medios maiores, para os planos de saude. As seguradoras de saude sao empresas privadas que gerem um negocio que pode ser lucrativo ou dar prejuizo, dependendo de como for administrado e comercializado.
Correto, mas isso não muda em nada o fato que este é o caso em que o sistema de preços oferece o incentivo oposto a direção certa para que o atendimento daqueles que mais necessitam do serviço de saúde tenha prioridade.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Veja bem, se as pessoas estivessem interessadas em pagar para velhinhos terem planos de saude, elas poderiam fazer isso por elas mesmas. Nao precisaria do Estado forca-las para tanto.
Você ignora que esse tipo de caridade inter-familiar é uma exceção, não uma regra. Se fosse uma regra, sua observação estaria corretíssima.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Nao e o Estado que banca a saude dos velhinhos assistidos em Cingapura, sao os outros pagadores de planos de saude (se a lei obrigar a oferecer descontos especiais para velhos) ou os pagadores de impostos (se a lei determinar que o Estado pagara uma parte desses planos).
É o segundo caso.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
No segundo caso, as empresas de saude saem ganhando, pois seu mercado aumenta, ja que seus custos sao distribuidos entre contribuintes e portanto pode-se permitir uma reducao de precos. Contudo, os custos de todas as outras empresas e individuos aumentam, reduzindo o mercado de coisas que nao sao planos de saude.
Colocando na balança os efeitos positivos e os negativos, provavelmente haverá uma melhora líquida em relação a situação inicial. Um estudo de caso sobre os benefícios dos investimentos em saúde pública é visto na análise da expectativa de vida média da população do Reino Unido no período 1901-1960. Ocorreu uma expansão da expectativa de vida durante as duas décadas de guerra (S. Preston, Keyfitz, N., and Schoen, R. (1972). Causes of Death: Life Tables for National. Populations. New York and London : Seminar Press ), onde ocorreu um maior compartilhamento dos meios de sobrevivência, como serviços de saúde e suprimento alimentar. E tudo isso considerando o fato que as décadas de guerra foram o período de mais baixo crescimento do PIB per capita e a análise de possíveis processos causais.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
e preciso saber se nao e isso mesmo que elas querem: liberdade para gerir seus proprios recursos. Pode ser que elas nao estejam tao interessadas em investir nas melhorias do sistema de saude, elas podem querer mais educacao, mais arte, mais diversao ou melhor alimentacao. Dizer que elas estariam sendo mais felizes ao investir mais recursos em saude e menos em todos esses outros mercados (porque e exatamente isso que o Estado faz, ele nao cria nada, ele so tira de um lugar e leva para outro), e simplesmente considerar que as pessoas sao ignorantes demais para procurar usar seus proprios meios para aumentar sua propria felicidade. E negar o postulado basico da economia.
A simples busca de utilidades no mercado e a ausência de coerção não traz automaticamente a eliminação de privações de capacitações que limitam as escolhas e as oportunidades de as pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agentes na sociedade. Os que negam isso simplesmente não levam em conta que as pessoas podem avaliar sua satisfação adaptativamente, dadas as condições em que vivem. Além disso, não se dão conta que a "utilidade" a que se refere na maximização do auto-interesse obtida no mercado é apenas a um tipo de comportamento de escolha de uma pessoa, mas não algo necessariamente relacionado a felicidade, prazer ou satisfação em geral. Isso me lembra uma citação de Jeffrey Sachs no livro "O Fim da Pobreza":
“O problema fundamental para os países mais pobres é que a própria pobreza pode ser uma armadilha. Quando a pobreza é muito extrema, os pobres não têm capacidade- por eles mesmos- de sair da enrascada. Eis o porquê: pensemos no tipo de pobreza causado pela falta de capital por pessoa. As aldeias rurais não têm caminhões, estradas pavimentadas, geradores de energia, canais de irrigação. O capital humano é muito baixo, com moradores famintos, doentes e analfabetos lutando para sobreviver. O capital natural está esgotado: as árvores foram cortadas e os nutrientes do solo exauridos. Nessas condições, há mais necessidade de capital- físico, humano, natural- mais isso exige mais poupança. Quando as pessoas são pobres, mas não totalmente destituídas, talvez consigam economizar. Quando são totalmente destituídas, precisam de toda a renda, ou mais, apenas para sobreviver. Não há margem de renda acima do exigido para a sobrevivência que possa ser investido para o futuro.”
Veja só. Um seguidor do individualismo do tipo mais rasteiro, ao ver a citação, provavelmente vai dizer: "Não devemos permitir qualquer mecanismo extra-mercado (mesmo escolhido democraticamente)para ajudar essas pessoas, porque essa é apenas uma questão de preferência temporal, os membros das classes baixas são caracterizados por sua orientação ao presente e a propensão a não-poupança para financiar suas despesas de capítal físico e humano." Obviamente, isso é uma falácia. Pode-se dizer isso porque essas pessoas citadas por Sachs não escolhem soberanamente o consumo de toda a renda. Ora, a não-acumulação de capital físico e humano para um aldeão do caso citado por Sachs pode ser considerado uma OBRIGAÇÃO, logo, CONTRA a VONTADE DELE, mas é uma NECESSIDADE que se impõe a própria existência do indivíduo. Logo, ele pode NÃO QUERER CONSUMIR TODA A RENDA como trabalhador de subsistência, mas para VIVER, ele é OBRIGADO a isso. Tem pessoas que fingem não ver isso. Mas no fundo dizem para si mesmo: "têm algo errado com o meu raciocínio".
user f.k.a. Cabeção escreveu:
E normal que uma pessoa com essa mentalidade, a revolta contra a razao, considere que seja necessario um ditador que faca as pessoas agirem da forma que ele considera correta. Mas esse ditador deve estar de pleno acordo com o que o tal defensor do socialismo pensa que deva ser feito, caso contrario ele seria apenas mais um tirano sanguinario. Essa pessoa nao percebe que ao projetar todas as suas nocoes e valores no tal ditador perfeito, ela esta simplesmente dizendo que ela propria deveria ser o ditador. Como bem disse Ludwig von Mises, "todo socialista e um ditador disfarcado".
E claro que voce pode dizer que existem muitos cidadaos que clamam por mais socialismo, por mais ajuda estatal para as pessoas. Essas pessoas normalmente fazem isso nao porque refletiram e chegaram a conclusao de que o socialismo atenderia melhor aos seus interesses, mas porque aprenderam atraves das mentiras sistematicamente repetidas que o socialismo e um sistema de distribuicao de riqueza e eliminacao de escassez, onde o Estado garantiria, por meios magicos, o suprimento de felicidade material para todos. O socialismo e uma fabula de Papai-Noel que passou a ser vociferada como panaceia dos males economicos da escassez.
Mais chavões misesianos. Isso me lembrou uma coisa:
"INTERVIEWER: Some of those debates became very, very heated. I think [Ludwig] von Mises once stormed out.
MILTON FRIEDMAN: Oh, yes, he did. Yes, in the middle of a debate on the subject of distribution of income, in which you had people who you would hardly call socialist or egalitarian -- people like Lionel Robbins, like George Stigler, like Frank Knight, like myself -- Mises got up and said, "You're all a bunch of socialists," and walked right out of the room. (laughs) But Mises was a person of very strong views and rather intolerant about any differences of opinion."
http://www.pbs.org/wgbh/commandingheigh ... edman.htmlAté Milton Friedman era socialista? Qualquer semelhança de Ludwig "tudo o que não é o que eu penso é socialismo" von Mises com o Cabeção não é mera coincidência.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Nem vou me aprofundar nos interesses politicos por tras dos estudos realizados por organizacoes desse tipo.
É uma pena, porque só observando os estudos de caso se pode conseguir uma evidência de que o livre-mercado na saúde é a melhor opção. Se eu seguisse seu raciocínio, eu diria que os estudos de economistas liberais não devem ser analisados por também pode haver neles interesses políticos por trás.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Isso e apenas uma forma de agitar os bracos freneticamente e evitar o problema real. Os fatos expressos nessas estatisticas em si nao dizem nada sem teorias corretas para interpreta-los e extrair os conteudos de realidade que eles abrigam. Por exemplo, para voce dizer que as taxas de desemprego voluntarias nao crescem para patamares preocupantes (alias, quais sao e a quem preocupam?) em decorrencia das facilidades criadas pelo Welfare State desses paises, voce teve que reduzir todos os fatores que se relacionariam o desemprego voluntario a oferta de brindes pelo Estado para os pobres.
Qualquer um menos interessado em confirmar teses politicas e sim em examinar a realidade perceberia que registros de desemprego voluntarios sao um dado meramente parcial. Toda pessoa esta parcialmente em desemprego voluntario, ao escolher trabalhar menos do que suas forcas permitiriam, para gozar o resto do seu tempo nos prazeres do ocio. Se o Estado diminui os incentivos para o trabalho e aumento os incentivos para o ocio, pode ser que as pessoas escolham nao o desemprego total, mas sim um aumento do seu tempo de desemprego para mais do que fariam se todos os beneficios que pudessem extrair do ocio fossem gerados pelos frutos de seu trabalho. Quando todos seguem a mesma logica, temos como resultado a diminuicao da producao geral.
Esse resultado poderia facilmente ser expresso na terminologia da teoria dos jogos atraves da atribuicao de pesos positivos e negativos aos incentivos de cada jogador. As pessoas ao extrairem beneficios reduzidos de cargas maiores de trabalho, e ao colherem beneficios das cargas de trabalho alheias, se sentiriam incentivadas a reduzirem suas cargas enquanto as outras mantivessem suas proprias. Quando todas tivessem feito o mesmo, a producao geral reduziria mas ninguem teria incentivo de mudar de postura, ou seja, estariamos num equilibrio de Nash. A localizacao desse equilibrio em termos de producao geral e satisfacao dos individuos dependeria sempre das condicoes institucionais e materiais dos mercados analisados, o que poderia permitir a alguns espertalhoes de dizer que tais efeitos negativos, nos casos que lhes interessam, nao sao "preocupantes", o que quer que queiram dizer com isso.
O que nao se percebe numa primeira vista e que nesse caso o emprego da teoria dos jogos seria uma critica fundamental ao Welfare State, e nao as suas condicoes institucionais particulares, ja que ele proprio e uma condicao institucional de obstrucao do mercado. Mas parece que a teoria dos jogos, na sua opinao e na de muitos teoricos e divulgadores, so serve para criticar o capitalismo, nao e mesmo?
Não há nenhum problema na existência do ócio e na busca por lazer. Essa é uma necessidade humana como qualquer outra. O homem que está buscando o lazer com o ato de trabalhar menos não está se aproveitando do dinheiro de ninguém. Devido a isso, só os níveis elevados de desemprego voluntário é que seriam preocupantes.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
O seu raciocinio deriva de uma incapacidade de distinguir as relacoes de poder economico e politico.
O poder de um empresario sobre um consumidor e limitado, na verdade, ele deve se adequar as expectativas do consumidor para continuar no mercado. Pode-se dizer que na verdade a relacao de poder e no sentido inverso, dos consumidores sobre os empresarios que os servem.
O poder coercitivo de um governante e diferente na sua natureza. Embora esses politicos possam ser escolhidos em pleitos gerais de uma democracia, ao serem investidos nos seus cargos eles passam a ter poderes discricionarios e emprega-los na coercao dos individuos que se opuserem aos seus interesses. Se eles divulgaram os interesses na epoca do pleito, ou se mudaram de discurso depois de se elegerem, pouca diferenca faz. O fato e que eles podem definir e determinar como outras pessoas devem ou nao devem agir, e isso nenhum empresario pode fazer num ambiente de mercado.
Ao selecionar ideologias hegemonicas e impo-las a realidade das populacoes, assim como os dados e interpretacoes as quais elas tem acesso, esses politicos, muitas vezes eleitos por grupos de pressao interessados em privilegios as custas dos outros, estao sim afetando a forma racional que os individuos encaram a realidade dos fatos. Um sovietico teria muito menos consciencia das implicacoes que o regime de seu pais tinha no seu modo de vida e de agir, justamente porque essas implicacoes eram tao enormes que suprimiam inclusive sua liberdade para pensar e refletir acerca delas. Alguns mais atentos se aperceveravam dessa realidade nefasta e tentavam com todas as forcas reagir e fugir, mas eram sumariamente exterminados.
Pode-se dizer que numa democracia a coisa se passa num nivel diferente, e eu concordo. Mas a natureza do poder coercitivo do Estado e identica. Na medida em que as pessoas acreditarem que esse poder coercitivo podera gerar beneficios para elas proprias, elas racionalmente vao defender o seu aumento, mesmo que essa crenca se baseie em falsidades ideologicas criadas pelos interessados em ampliar seus poderes. A crenca do Welfare State e fomentada por esse tipo de consideracao, por essa falsificacao de calculo. As pessoas continuam agentes racionais, mas o poder dos politicos e burocratas, e das legioes de intelectuais que os defendem, de influir na forma como as pessoas capturam e encaram os fatos faz com que a racionalidade dos individuos passe a produzir resultados ruins para eles proprios, pois os dados iniciais eram falsos.
As pessoas que racionalmente procuram sindicatos, votam em partidos trabalhistas, defendem proibicoes no comercio exterior e aumentos dos gastos publicos nao o fazem porque sao burras. Mesmo que essas medidas prejudiquem seus proprios interesses, elas nao se dao conta disso, pois estao imersas numa realidade onde demagogos exploram os fatos ao seu favor e descrevem uma realidade simples que na verdade nao existe.
Nem todas as pessoas estao equipadas com as ferramentas para pensar corretamente em economia. Elas percebem a relacao entre alguns fenomenos e podem entender o basico dos seus principios, mas se perdem nas deducoes que seriam necessarias para perceber a interconexao de todos os complexos fenomenos de mercado que se produzem na realidade. Essa condicao limitante e explorada por pessoas que, ambiciosas por mais poder, farao de tudo para convencer de que podem eliminar os males que afligem a todos, apenas se mais poder as pessoas lhes derem. Sao demagogos, falsos profetas, lideres misticos e messianicos nos quais as pessoas depositam a confianca de que as solucoes para todas as aflicoes reside nos seus discursos e atos de poder arbitrario.
Tudo que você postou ainda não responde isso: “as alternativas não são mais próximas do realismo, porque asseveram que as pessoas erram de maneira reiterada e sistemática. Se isso acontece, elas devem sofrer perdas. Não é natural que tomem providências para evitar esses erros no futuro?”.
Eu já ouvi falar do caso de um pescador que aprendeu sozinho a nadar tão bem quanto um nadador profissional. E ele nada entende de leis da hidrodinâmica. Porque será que ele aprendeu a nadar? Resposta: o aprendizado é possível, onde é possível usar o método de “tentativa e erro” para descobrir como o mundo funciona. É devido a isso que teóricos das expectativas racionais como Robert Lucas fazem hipóteses que assumem que trabalhadores têm expectativas inflacionárias e reagem a política monetária como se entendessem de teorias sobre a inflação, algo extremamente complexo.
Por outro lado, o que você está tentando me convencer é que pessoas RACIONAIS e AUTÔNOMAS elegeram políticos que levaram perdas as mesmas, e mesmo assim, elas insistem obstinadamente em reivindicar mais coisas que levam a mais perdas e mais políticos que implementem tais medidas. Isso é verdade porque a ausência do protótipo de Estado Mínimo é quase tão antigo quanto a existência do sufrágio universal. Pela lógica, o tempo deveria jogar a favor dos acertos, e não dos erros. Se por acaso o aprendizado fosse impossível para as questões de política, então também seria para questões econômicas.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes