Para ambos "engenheiros" do país ( eternamente "do futuro"), era importante que o tal "desenvolvimento" se desse em locais que chamassem atenção do povo pela grandiosidade e pelo patriotismo dos homens que seriam co-autores das empreitadas: bóias-frias e candangos desdentados que foram deslocados, desterrados, escravizados e convencidos de que seriam os heróis destas obras "monumentais".
Nos confins, o meio do nada -onde o Diabo havia perdido as botas e sido picado por insetos do inferno, e Deus amassado o barro primordial- anos e anos de aterramento e desmatamento. Ótimo para servir de promessa e propaganda ufanista e mexer com os corações que assistiam ao início da ditadura, mas que estavam adrenalinados pela Bossa Nova e vários movimentos contra-cultura no resto do mundo.
As imagens da construção de Brasília mostram algo muito familiar na vida do trabalhador braçal brasileiro comum. As imagens são estranhamente familiares. O país do futuro continua acreditando que é melhor acreditar. Especialmente quando o discurso é trabalhista e tem alguém faturando alto com tanto patriotismo e amor à pátria.
Abaixo, recortei trechos do site que registra um pouco da história da construção de Brasília. Tipicamente Brasil!
MEMÓRIA DE BRASÍLIA
"ESTE ATO REPRESENTA O PASSO MAIS VIRIL,
MAIS ENÉRGICO, QUE A NAÇÃO DÁ, APÓS A
SUA INDEPENDENCIA POLÍTICA, PARA A SUA
PLENA AFIRMAÇÃO COMO POVO QUE TOMOU
A SEUS OMBROS UMA DAS MAIS
EXTRAORDINARIAS TAREFAS QUE A HISTÓRIA
CONTEMPORÂNIA VIU ATRIBUIR-SE A UMA
COLETIVIDADE."
- "Frase pronunciada por Juscelino Kubitschek na data em que foi sancionada a lei do Congresso Nacional que fixou a data de 21 de abril de 1960 para a mundança da Capital."


A Cidade Livre
O Núcleo Bandeirante também se chamou "Cidade Livre" devido ao fato de que os comerciantes ali instalados tinham direito de uso do terreno sem custos pelo prazo de 3 anos e durante o mesmo período, também não pagavam nenhum imposto. Esse critério era adotado com a idéia de que, em 1960, o Núcleo Bandeirante seria simplesmente extinto com a inauguração de Brasília.
Era, portanto, o paraíso dos comerciantes, que vindos dos quatro cantos do país aumentavam em grande escala dia após dia. Havia pessoas das mais diversas origens; porém, a febre do ouro estava latente em todos. Alguns sem sabê-lo, já eram milionários em potencial e, muitos desses, hoje, nem precisam mais trabalhar.
O comércio na Avenida Central era de uma atividade febril e só fechava as portas a altas horas da noite.
Entre os comerciantes destacava-se um norte americano chamado George Homer, um dos primeiros a chegar, e o primeiro a instalar uma loja de material de construção, a HOMER & MARTIN. Homem de grande coragem e visão, casado com uma enérgica e ativa mulher de negócios, Janet, foi logo abrindo caminho até figurar na primeira linha de fornecedores para as obras de Brasília.
Este é um exemplo dos que, embora não esquecendo a si proprios, contribuíram de fato com a construção da Nova Capital.

Mas o ponto alto na técnica propagandística era sem dúvida um rapaz chamado Jackson, cujo único capital era uma bicicleta dotada de poderosa buzina. Jackson prestava serviços de propaganda, cujos anúncios eram feitos gritando e gesticulando da bicicleta, e se fazendo notar, chamando a atenção de todos com suas constantes buzinadas.
O Jackson era criativo e também confeccionou várias placas de propaganda das firmas que o contrataram, assumindo o compromisso de tratar da manutenção das mesmas. Certo dia ocorreu uma forte tempestade que derrubou todas as placas colocadas por Jackson, e quando seus clientes foram procurá-lo, ele já havia desaparecido para longe montado na sua bicicleta.

É impressionante ver como o sacrifício comum une os seres humanos, chegando ao ponto de facilitar as coisas uns aos outros de uma maneira que seria impossível em condições normais.
Porém, as ambições arrastam os homens com correntes que os aprisionam. É a ânsia pelo poder, a ânsia pela riqueza que, em maior ou menor grau, existia em cada um deles.
E o que foi feito afinal desses generosos pioneiros? Os que progrediram, salvo algumas exceções, ao tornarem-se independentes, foram se dispersando e ficaram tão irreconhecíveis, que eles próprios já esqueceram do simples começo que deveria ser motivo de orgulho. Os outros, mais equilibrados, lembram no silêncio das recordações.......
Tão romântico ter sido um dos "pioneiros". Parece a marcha para o Oeste...
A foto mais representativa:

Onde se lê:
BRASÍLIA: A NOVA CAPITAL DO BRASIL.
ALGUNS CONTRA - MUITOS A FAVOR.
TODOS BENEFICIADOS!
Demais fotos do memorial aqui:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/especia ... pobrasilia
Em Brasília, construída seja lá por quem tenha sido, o poder se beneficia do que existe, porque é mais fácil assim do que reconstruir tudo de novo. O lugar não vem ao caso, o importante são os mecanismos de "sobrevivência".