Jeitinho brasileiro

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Res Cogitans
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Jeitinho brasileiro

Mensagem por Res Cogitans »

O país do futuro, onde viceja a esperteza

Estudantes de MBA deixam de pagar por bombons em experimento sobre ética

Alfredo Behrens é um especialista no estudo das relações entre cultura e vida corporativa - abordou o tema em Cultura e Administração nas Américas, um dos melhores lançamentos do ano passado no país. Agora Behrens, professor do Ibmec-SP, acaba de concluir um estudo que, a julgar pelos resultados, faz temer pela retidão moral dos futuros líderes brasileiros. Tudo começou há dois anos, quando perguntou a estudantes de MBA, a maioria funcionários de grandes empresas, o que achavam de cinco práticas vistas comumente como negativas. Eles deviam decidir o que era pior: furtar algum objeto numa loja, seduzir a mulher de um colega de trabalho, cometer adultério, furar uma fila ou dedurar um companheiro. Os entrevistados classificaram esses comportamentos exatamente nessa ordem. O furto foi o ato mais abominado, considerado "ultrajante" por nove entre dez entrevistados - o experimento foi realizado um ano antes de o rabino Henry Sobel ter sido flagrado furtando gravatas na Flórida, notícia que não teve, portanto, qualquer influência nos resultados.

No início deste ano, Behrens resolveu verificar se a rejeição ao furto era conversa mole ou era praticada no dia-a-dia. Concebeu um experimento que prima pela simplicidade, realizado num curso de MBA em São Paulo e num instituto de pesquisa em Sorocaba. Em salas de café onde as pessoas descansam durante os intervalos, foram colocadas caixas de bombons e, ao lado, o recado de que os doces estavam à disposição ao preço de R$ 1 a unidade - o dinheiro deveria ser deixado numa caixinha ao lado. Em linhas gerais, é a mesma prática existente em muitas cidades da Europa e dos Estados Unidos, em que o interessado pega o jornal e deixa o dinheiro correspondente ao seu valor, sem que ninguém o fiscalize.

Os resultados colhidos por Behrens ajudam a entender por que esse tipo de comércio não é praticado no Brasil. No curso de MBA, nas quatro vezes em que o experimento foi realizado, o dinheiro nunca correspondeu ao número de bombons. Numa das simulações, apenas 6% dos doces foram pagos e, em outra, a melhor delas, o índice foi de 63%. No instituto de pesquisa, o resultado mais alto foi de 82%.

Behrens afirma que, no Brasil, as situações que facilitam o anonimato tendem a favorecer atitudes negativas. "Em sociedades como a nossa, de forte caráter coletivista, as pessoas capazes desses atos seguem o caminho da retidão apenas quando sabem que podem ser flagradas", diz. Por isso, é importante que as corporações desenvolvam ações que reforcem os laços entre seus colaboradores, o que aumenta o medo daqueles que podem ser pegos na infração. Behrens evita comparar o Brasil com outros países, pelo menos até que fiquem prontos testes semelhantes que seus colegas conduzem em outras partes do mundo.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.

*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.

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Re: Jeitinho brasileiro

Mensagem por Apo »

De fato. Uma vez já postei aqui no RV a experiência que tive em Miami, no aeroporto. Minha filha esqueceu lá uma Barbie Colecionador novinha e na caixa ainda numa loja que passamos antes de embarcar.
Depois de feita a imigração, demos por falta da boneca. Meu marido pediu para voltar, mas quase sem esperança ( na visão brasileira das coisas) de encontrar a boneca quase 1 hora depois. Mas ela estava lá, exatamente onde tinha sido deixada. Se fosse aqui...

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Acauan
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Re: Jeitinho brasileiro

Mensagem por Acauan »

Res Cogitans escreveu:Behrens afirma que, ... Por isso, é importante que as corporações desenvolvam ações que reforcem os laços entre seus colaboradores, o que aumenta o medo daqueles que podem ser pegos na infração.


No ano passado visitei o centro nacional de treinamento de executivos de uma destas corporações multinacionais e no blá-blá-blá Politicamente Correto que a turminha de RH adora do "vejam como somos uma empresa preocupada com o ser humano" , veio a inevitável explanação sobre como os treinamentos das lideranças ressaltavam a importância da Ética.

Como quase todo mundo acha este discurso muito bonitinho, comentei com os outros participantes que me sentiria muito ofendido se uma empresa em que eu trabalhasse tivesse a pretensão de me ensinar a ter vergonha na cara.

Oras bolas, empresa nenhuma ensina seus líderes a ser éticos. É a ética dos líderes que se reflete nas ações da empresa e não o contrário.
O mais bobo nisto tudo é quando tentam dar ares científicos à coisa e justificar estatisticamente a utilidade da ética, com aquelas correlações tipo eixo da ética X eixo dos lucros, que o guru da vez jura de pés juntos que é a expressão da verdade.

Estranhíssimo que aquelas mentes cheias de títulos não percebam que Ética só o é quando você está disposto a mantê-la mesmo quando isto resulta em prejuízo. Falar que Ética da lucro não é Ética, é oportunismo cínico.

Além de correlação estatística espúria.

Nós, Índios.

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Re: Jeitinho brasileiro

Mensagem por Apo »

Acauan escreveu:
Res Cogitans escreveu:Behrens afirma que, ... Por isso, é importante que as corporações desenvolvam ações que reforcem os laços entre seus colaboradores, o que aumenta o medo daqueles que podem ser pegos na infração.


No ano passado visitei o centro nacional de treinamento de executivos de uma destas corporações multinacionais e no blá-blá-blá Politicamente Correto que a turminha de RH adora do "vejam como somos uma empresa preocupada com o ser humano" , veio a inevitável explanação sobre como os treinamentos das lideranças ressaltavam a importância da Ética.

Como quase todo mundo acha este discurso muito bonitinho, comentei com os outros participantes que me sentiria muito ofendido se uma empresa em que eu trabalhasse tivesse a pretensão de me ensinar a ter vergonha na cara.

Oras bolas, empresa nenhuma ensina seus líderes a ser éticos. É a ética dos líderes que se reflete nas ações da empresa e não o contrário.
O mais bobo nisto tudo é quando tentam dar ares científicos à coisa e justificar estatisticamente a utilidade da ética, com aquelas correlações tipo eixo da ética X eixo dos lucros, que o guru da vez jura de pés juntos que é a expressão da verdade.

Estranhíssimo que aquelas mentes cheias de títulos não percebam que Ética só o é quando você está disposto a mantê-la mesmo quando isto resulta em prejuízo. Falar que Ética da lucro não é Ética, é oportunismo cínico.

Além de correlação estatística espúria.



Absurdo mesmo, Acauan. Mas sinceramente, já trabalhei ligada à àreas de RH de empresas e nunca presenciei tal tentativa de "treinamento", muito menos este discurso obtuso e ofensivo entre Ética ( dos funcionários) e Lucro ( da empresa, o que, em tese, quer dizer melhorias na qualidade operacional dos funcionários).
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Acauan
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Re: Jeitinho brasileiro

Mensagem por Acauan »

Apo escreveu:Absurdo mesmo, Acauan. Mas sinceramente, já trabalhei ligada à àreas de RH de empresas e nunca presenciei tal tentativa de "treinamento", muito menos este discurso obtuso e ofensivo entre Ética ( dos funcionários) e Lucro ( da empresa, o que, em tese, quer dizer melhorias na qualidade operacional dos funcionários).


Na verdade o discurso é que "empresas éticas" se dão melhor em seus respectivos mercados no longo prazo por fazer parcerias mais duradouras, conquistar a confiança dos clientes, funcionários e fornecedores, ter melhores relações com o Estado etc.

Isto é bobagem.
Primeiro porque Ética é intransferivelmente pessoal.
Uma empresa pode, no máximo, ter políticas administrativas que imitem a Ética pessoal, o que implica em pagar corretamente seus impostos, dar tratamento justo aos seus empregados, não lesar os clientes etc.

Associar isto a resultados positivos não tem pé nem cabeça.
É o que ensina Weber em "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", em um ambiente ético o capitalismo prospera, o que não implica que um "capitalismo ético" prospere em qualquer ambiente.

Todos estes executivos multinacionais sabem muito bem que empresa nenhuma se instala ou prospera em países como China ou Rússia sem pagar pesadas propinas aos burocratas locais.
No entanto todas estas corporações que falam em ética tem filiais nestes países, que são as meninas do olhos dos investimentos ocidentais nos últimos tempos.

Pois é...


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Re: Jeitinho brasileiro

Mensagem por Fernando Silva »

Eu diria que a atual política de se exigir ética nas empresas pode até ser uma atitude visando o lucro, mas tem seu lado positivo. Ainda que imposta de fora para dentro e de cima para baixo, muitos funcionários são apresentados ao conceito pela primeira vez e podem até passar a pensar duas vezes antes de tomar uma atitude duvidosa.

Minha firma é obrigada a ter um monte de certificados e passar por auditorias periódicas se quiser vender para firmas como Petrobras e Vale. Isto envolve treinamentos frequentes que atingem dos níveis mais altos aos funcionários mais humildes, não apenas os executivos. Podemos até supor que haja cinismo nos altos escalões, mas vejo que os níveis mais baixos tendem a levar a coisa a sério.

E prefiro líderes posando de éticos - e com isto encorajando um comportamento ético entre os liderados - a líderes que declaram que "fiz sim, e daí, vai encarar?", "fiz sim, mas os outros também fazem" ou "fiz sim e não vejo nada de mais".

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Re: Jeitinho brasileiro

Mensagem por Apo »

Acauan escreveu:
Apo escreveu:Absurdo mesmo, Acauan. Mas sinceramente, já trabalhei ligada à àreas de RH de empresas e nunca presenciei tal tentativa de "treinamento", muito menos este discurso obtuso e ofensivo entre Ética ( dos funcionários) e Lucro ( da empresa, o que, em tese, quer dizer melhorias na qualidade operacional dos funcionários).


Na verdade o discurso é que "empresas éticas" se dão melhor em seus respectivos mercados no longo prazo por fazer parcerias mais duradouras, conquistar a confiança dos clientes, funcionários e fornecedores, ter melhores relações com o Estado etc.

Isto é bobagem.
Primeiro porque Ética é intransferivelmente pessoal.
Uma empresa pode, no máximo, ter políticas administrativas que imitem a Ética pessoal, o que implica em pagar corretamente seus impostos, dar tratamento justo aos seus empregados, não lesar os clientes etc.

Associar isto a resultados positivos não tem pé nem cabeça.
É o que ensina Weber em "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", em um ambiente ético o capitalismo prospera, o que não implica que um "capitalismo ético" prospere em qualquer ambiente.

Todos estes executivos multinacionais sabem muito bem que empresa nenhuma se instala ou prospera em países como China ou Rússia sem pagar pesadas propinas aos burocratas locais.
No entanto todas estas corporações que falam em ética tem filiais nestes países, que são as meninas do olhos dos investimentos ocidentais nos últimos tempos.

Pois é...




Sim, mas eu estava entendendo a abordagem como se fosse um meio de "chantagem" emocional, usando o lado da dependência econômica entre uma ponta mais frágil ( os funcionários) e seus atos internos, que iriam contaminando ( tanto negativa como positivamente ) de baixo para cima até que a empresa ( por conta de comportamentos ou decisões não adequados, perdesse espaço no mercado.

Mas então, esta noção mínima permeia o mercado de forma geral. Não como não ser assim. Pode ser balela, mas é tão necessário, que é tácito. Por isto, acho que as empresas só fazem menção explpicita quando algo estranho e fora do politicamente correto ocorre na initimidade da empresa ( tornam mais público quanto mais baixo é status do funcionário, para servir de exemplo) ou no mercado ( notadamente se for na concorrência).

Trabalhei numa agência de propaganda nacional e conceituada, cujo lema ( visível no logotipo) era: Eficiência e Sinceridade. Sempre achei aquilo meio "doce" demais.

Mas de fato, há ambientes que a ética é relativa ao mercado. Ou você está fora.
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Trancado