user f.k.a. Cabeção escreveu:
Abmael,
foi bom voce ter escrito essa mensagem para que eu me desse conta da necessidade de explicar o sentido com que uso o termo burocrata, que nao deve ser confundido com a conotacao usual com a qual ele e empregado.
- Ok.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Burocrata e qualquer individuo ou grupo investido com poderes arbitrarios no intuito de "administrar" servicos e bens publicos, ou "regular" servicos e bens privados.
- Burocratas devem, por definição, agir dentro de conformidade legal, respeitando hierarquia com documentação do processo seguindo princípios de probidade, impessoalidade e publicidade, segundo Max Weber:
"Um oficial deve exercitar seu julgamento e suas habilidades, mas seu dever deve ser colocar estes no serviço de uma autoridade mais elevada. Em última palavra, é responsável somente para a execução imparcial de tarefas atribuídas e deve sacrificar seu julgamento pessoal se funcionar contra a seus deveres oficiais.", logo a burocracia só "regula" se a lei assim o determinar, segundo suas atribuições dentro de limites bem determinados, segundo os ditames legais, então ele não regula propriamente, ele aplica normas não determinadas por ele, é apenas um agente descerebrado.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Politicos e juizes sao tipos especificos de burocrata, quando empossados. Contudo existem "politicos" que agem fora das engranagens burocraticas, como militantes de causas. Embora nao sejam tecnicamente burocratas, podem prestar servicos ou desservicos para burocratas, e portanto sao de real interesse para a compreensao da burocracia.
- Não sei se entendi, dá prá exemplificar?
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Assim, o presidente de um banco central e um burocrata nos dois sentidos: cabe a ele administrar o "servico publico" de criacao de moeda e regular parte dos servicos privados das instituicoes financeiras.
Mas na pratica a distincao e muito mais sutil. Dependendo do comportamento dos bancos centrais, instituicoes financeiras "privadas" nao passam de meras sucursais do Estado e devem submeter-se a qualquer politica inflacionista.
Isso apenas no setor financeiro. Durante os anos do socialismo alemao, a burocracia emasculou basicamente todas as empresas privadas do pais. Embora ainda existisse nominalmente a propriedade privada, e tecnicamente os capitalistas, eram os burocratas quem davam a ultima palavra sobre o que seria produzido, como, quando, por quem, em que quantidade e a que preco.
- Essa crítica não é datada? - Já foram criados mecanismos que evitam esse tipo de efeito, o próprio Bundesbank atualmente tem filosofia regulatória que limita sua atuação a apenas a garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, o Conselho Monetário Nacional (que controla o BC brasileiro) tem representantes das empresas e dos trabalhadores em todas suas comissões, como você faria esta crítica ao BC Inglês, o próprio BC alemão ou ao BC japonês atualmente, todos são estatais e olhe que o japonês nem independente é.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Como corolario da sua funcao e de seus poderes arbitrarios que impedem a decisao individual e a concorrencia, o burocrata e um elemento de substituicao do mercado. Nao existe coexistencia entre mercado e burocracia, ou qualquer relacao hierarquica que os vincule. Burocracia e a antitese do mercado.
- Sei que vai discordar mas há duas situações em que concordo com burocratas no mercado, uma é aplicar alguma estratégia de política desenvolvimentista para algum setor ou para a economia como um todo, outro e atuar temporariamente em algum setor onde a iniciativa privada ainda não tem condições de assumir.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Na burocracia, dependemos do bom-senso de quem estiver no poder. Mas se fosse apenas isso, nao seria assim tao mal. O problema principal e que os burocratas nao dispoe sequer da informacao necessaria para por em pratica o que quer que possa ser entendido por bom senso, ou mesmo das ferramentas adequadas para comparar as medidas que tomam e verificar sua eficiencia de um modo minimamente satisfatorio. Isso nao e uma limitacao dos individuos que normalmente se tornam burocratas, isso e uma realidade inerente a propria condicao da burocracia, que consiste em arbitrar sobre arbitragens arbitrarias de outros burocratas. Quanto mais a burocracia e o planejamento central se alastra, menos as pessoas conseguem calcular e planejar por elas mesmas, e menos evidente parecem os erros de calculo dos burocratas (que so podem ser identificados comparando-os com outras regioes onde a burocracia nao se alastrou tanto).
- Essa parte também me pareceu datada, os estados modernos tem as melhores e mais completas bases de dados a seu dispor, tipo o censo, o fisco, a movimentação financeira e mais um monte de outras, existem institutos, repartições e fundações dentro dos gorvernos especializados em processar essas informações e gerar todo quanto é tipo de índices e indicadores, burocratas mais modernos trabalham com modernas técnicas de administração por resultados baseados em indicadores de desempenho, as mesmas utilizadas pelas maiores corporações do planeta.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
A democracia, compreendida como ritual eleitoral, nao passa disso, um simbolico gesto. Nas suas entranhas, a gestao e burocratica, a diferenca e que os burocratas se organizam de outras formas para alcancar o poder.
Algumas pessoas podem ate falar de democracia num sentido mais estrito, o do imperio das leis, e eu inclusive constumava pensar assim. Pensar na situacao onde uma estrutura bem definida de leis limitaria a acao arbitraria do Estado e concederia aos individuos as condicoes necessarias para que ele possa planejar sua acao e antecipar a acao dos demais, sabendo de antemao as condicoes nas quais um ato sera punido ou aceitado, e como sera realizado o julgamento nesses casos. Mas isso nada tem a ver com sufragio ou rituais de poder. Se as pessoas nao estiverem cientes da necessidade de um imperio das leis vigorando, pouco importa se temos um presidente eleito ou um rei despotico, o resultado sera o mesmo. E a reciproca e verdadeira: a Inglaterra ja era um imperio das leis, e nesse sentido, uma nacao de homens livres, muito antes do desenvolvimento dos mecanismos complexos de sufragio universal.
Um dos fatos mais lamentaveis do recente (mas nem tanto) debate politico filosofico foi a enfase excessiva com que a democracia foi defendida no primeiro sentido, o do mero sufragio, como se ele em si fosse um fim, ou que conduzisse necessariamente aos principios de liberdade individual que moldam um imperio da lei. E ainda mais lamentavel tem sido a insistencia das pessoas em bater nessa mesma tecla, mesmo quando ja se esta mais do que claro que isso e falso.
- Não sei se você lembra, mas num debate anterior eu escrevi mais ou menos a mesma coisa, só que eu acredito que as pessoas só chegam nesse nível de conscientização com a educação e a experiência de alternância de poder que a que a democracia permite, acredito que congelamento de preços, como os que estão ocorrendo na Argentina e na Venezuela neste momento, nunca mais ocorrerão no Brasil, assim como os famigerados "pacotes econômicos", isso porque aprendemos e evoluímos, essa é a melhor garantia contra retrocessos.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
...
Eu nao sei ate que ponto o debate sobre o aquecimento global (entre outras histerias atuais e passadas) e uma deliberada invencao de burocratas ou apenas uma situacao bastante conveniente da qual eles se aproveitam.
- Se por "burocratas", você entende "políticos" eu concordo sem entrar no mérito se o aquecimento existe ou não.
Abraços,