Freddie + Fannie = Fascismo
Por Lew Rockwell e Michael Rozeff
Ludwig von Mises tinha uma teoria sobre o intervencionismo:
Ele nunca atinge seus fins declarados. Ao invés disso, ele apenas distorce todo o mercado. Essa distorção implora por correções. As correções podem consistir em duas medidas opostas: recuar o estado e liberar o mercado, ou dar passos ainda mais resolutos em direção à intervenção total. O estado quase sempre escolhe a última opção, a menos quando forçado a escolher a primeira. O resultado é ainda mais distorção, o que eventualmente leva a mais nacionalizações, que, por sua vez, levam ao destino final: estagnação e falências.
Quando você pensar sobre a atual crise das empresas Fannie Mae e Freddie Mac, você tem de se lembrar sobre a teoria de Mises sobre o intervencionismo. Os jornalistas não irão, mas você terá de, considerando-se que você de fato queira entender o que se passa.
Para tal, é necessário entender um pouco da história dessas duas empresas. A Fannie Mae (Federal National Mortgage Association) foi criada em 1938 por Franklin Delano Roosevelt, durante o New Deal. Sua função era fornecer liquidez ao mercado hipotecário. Durante os 30 anos seguintes, ela desfrutou do monopólio do mercado secundário de hipotecas nos EUA. Tornou-se uma corporação privada em 1968, para conter o déficit orçamentário do governo. A Freddie Mac (Federal Home Loan Mortgage Company) foi criada em 1970, no governo Nixon, para expandir o mercado secundário de hipotecas e, assim como a Fannie Mae, tem a função de fazer empréstimos e dar garantias a empréstimos. Tanto a Freddie Mac como a Fannie Mae, junto com outras empresas, compram (dos bancos) hipotecas no mercado secundário e as revendem para investidores no mercado aberto como títulos lastreados em hipotecas. Ambas são empresas de capital aberto.
A Fannie Mae e a Freddie Mac são conhecidas como "empresas apadrinhadas pelo governo", o que significa que elas são empresas privadas, mas com propósitos públicos. Esse tipo de empresa tem o apoio implícito do governo americano, conquanto não tenha obrigações diretas para com ele. Por causa desse apadrinhamento que elas recebem do governo, essas duas empresas conseguem financiamentos a taxas vantajosas - os credores imaginam que, em caso de insolvência, o governo ajudará essas empresas. E, devido a esses financiamentos facilitados, elas acabaram por sobre-estimular o mercado imobiliário, inflando-o a alturas inimagináveis, ao comprar hipotecas que foram securitizadas por bancos de todo o país.
Essas duas empresas não deveriam existir. Nenhuma empresa privada deveria desfrutar de linhas de crédito que levam diretamente ao Tesouro dos EUA, isto é, ao dinheiro do contribuinte. Nenhuma empresa privada deveria receber mandatos do governo obrigando-as a facilitar, através da compra desmesurada de hipotecas, o acesso da população a imóveis. Nenhuma empresa privada deveria emitir títulos que os investidores acreditam ter uma garantia implícita dada pelo dinheiro do contribuinte.
Sem o governo na jogada, não haveria como a Fannie Mae e a Freddie Mac terem crescido tanto. Os ativos e passivos dessas duas empresas totalizam $1,6 trilhão. Seu passivo fora do balanço totaliza mais de $3,5 trilhões. A dívida total, portanto, é de $5 trilhões (trilhões, com "t")! Qual é a grandeza de $5 trilhões? Ora, a dívida nacional é de $9,5 trilhões!
É quase inacreditável que essas duas empresas possam ter acumulado dívidas que chegam a mais da metade da dívida nacional. Mas isso é algo inerente a essa promiscuidade entre governo e setor imobiliário, o que gerou garantias estatais a dívidas imobiliárias do mercado privado. O mercado imobiliário é gigante, principalmente se considerarmos que ao longo do tempo o estoque de casas só aumenta. Ao dar à Fannie Mae e à Freddie Mac vantagens na emissão de dívidas, essas empresas acabaram por dominar o setor de finanças do mercado imobiliário. E não há momento melhor do que este para acabar com esse absurdo.
O presidente Bush, por sua vez, está planejando uma solução fatídica para um problema de 60 anos: a nacionalização dessas empresas. Ele quer dar garantias a essa dívida de $5 trilhões. Uma outra opção considerada é colocar essas monstruosidades sob "tutela", o que significa que o contribuinte terá de pagar diretamente pelos prejuízos.
Não importa qual seja a decisão, o fato é que não há mágica capaz de dar para todo cidadão americano, independentemente de seus meios financeiros ou de seu histórico de crédito, casas de 280 metros quadrados. Alguém, em algum lugar, vai ter de pagar por isso. E não importa qual seja o plano de resgate que o governo venha a remendar, esse alguém será você.
O diabo é que qualquer opção seria devastadora para o já calamitoso mercado imobiliário. A razão por que esse setor foi tão desenfreadamente inflado é que os bancos sabiam que Fannie e Freddie seriam capazes de comprar qualquer dívida hipotecária criada pela indústria bancária. Se essas empresas forem nacionalizadas elas não mais farão isso seguindo critérios de mercado. Isso significa que os bancos repentinamente teriam de agir com responsabilidade.
Agora, você pode pensar, se isso é verdade, então a culpa toda é dos banqueiros que vinham fazendo empréstimos irresponsáveis, acreditando que essas empresas apadrinhadas pelo governo iriam absorvê-los. Mas isso não procede. Coloque-se no lugar de um banqueiro pelos últimos vinte anos. Você tem concorrentes. Você tem de apresentar resultados. Se você não ampliar seus empréstimos, ficará para trás e passará por bobo. A concorrência vai jantá-lo. Ficar à frente das tendências de mercado significa que você tem de jogar o jogo, mesmo sabendo que ele está manipulado.
Culpe não apenas os bancos, mas também as instituições que estão jogando para outros todos os seus passivos adquiridos irresponsavelmente. E essas instituições são a Fannie Mae e a Freddie Mac. Aqui está um artigo sobre a criação da Freddie Mac. E aqui está outro sobre a criação da Fannie Mae.
Ambas foram criadas para financiar hipotecas seguradas pela Federal Home Administration (algo semelhante ao nosso Sistema Financeiro de Habitação). Ambas foram usadas por todos os presidentes como um meio para realizar esse misterioso princípio americano de que cada pessoa existente deve ser dona de um imóvel, não importa o quê. Assim, a elas foi dada a permissão para comprar hipotecas e torná-las parte de seu portfolio. Depois, nas administrações Johnson e Nixon, elas se tornaram empresas de capital aberto e passaram a vender ações. As pessoas chamaram isso de privatização, mas não foi bem isso que ocorreu. Ambas tinham acesso a uma linha de crédito direta do Tesouro americano. Ambas tinham acesso a empréstimos mais baratos do que qualquer equivalente no setor privado.
Empresas apadrinhadas pelo governo não estão sujeitas às disciplinas do mercado, como as empresas do setor privado. Seus títulos são listados como títulos do governo, o que faz com que seus prêmios de risco não sejam ditados pelo livre mercado. Elas podem se alavancar em 50-, 75-, 100-1, fazendo pirâmides de dívida sobre uma minúscula base patrimonial. Os mercados financeiros acreditavam desde há muito que essas empresas seriam salvas pelo governo em caso de insolvência. E isso as coloca em uma posição completamente diferente da de uma empresa como a Enron, a qual os mercados vigiavam de perto. O que está causando o atual pânico é o fato de os mercados terem acordado e começado a avaliar essas instituições usando padrões realmente de mercado. Freddie e Fannie estão com seus preços de mercado em queda vertiginosa, e seus títulos estão carregando prêmios de risco cada vez maiores. A Fannie Mae, que chegou a ter ações precificadas a $90, hoje tem ações valendo $10. As ações da Freddie Mac, por sua vez, caíram de $70 para $7. Novamente: essas ações despencaram drasticamente por causa dos maus investimentos que essas empresas fizeram em hipotecas, investimentos encorajados e subsidiados por políticas antigas do governo federal.
Agora que essas instituições que carregam a marca da legítima manipulação governamental entraram em colapso, a ineficiência de qualquer intervenção governamental se torna ainda mais evidente. A tentativa de restaurar essas empresas apadrinhadas pelo governo não será capaz de esconder o fracasso que elas são, sob qualquer perspectiva. O fracasso já está registrado nos mercados financeiros.
Em outras palavras, não estamos vivenciando uma falha de mercado. Por gentileza, suba no telhado da sua casa ou na cobertura do seu prédio e grite isso a plenos pulmões, pois a imprensa e o governo farão o possível para culpar os financiadores e os mutuários privados por essa calamidade. A origem de ambas essas organizações está na legislação federal. Elas não são entidades de mercado. Elas há muito são garantidas pelo contribuinte. Não, elas também não são entidades socialistas, pois são gerenciadas privadamente. Portanto, elas ocupam um terceiro status, para o qual há um nome: fascismo. Como Mussolini definiu, "o fascismo deveria ser chamado de corporativismo, pois trata-se da fusão entre o estado e o poder corporativo". Realmente, é disso que estamos falando: o conluio entre estado e grandes corporações leva ao fascismo financeiro que, por sua vez, tem a inexorável tendência de se transformar em socialismo financeiro de larga escala - por conseguinte, em falências.
Ademais, o desejo governamental de que cada cidadão seja dono de um imóvel, independente dos meios utilizados para se atingir esse objetivo, só pode ser financiado através de um socialismo financeiro ou do roubo em massa. Não há nada de livre mercado na idéia de que cada um tem o direito de ter um imóvel. Livre mercado significa apenas que o seu direito como proprietário não pode ser infringido por criminosos públicos ou privados.
Para tornar esse fascismo financeiro ainda mais evidente, no domingo, 13 de julho de 2008, o Fed (o Banco Central) e o Tesouro anunciaram medidas para manter de pé as duas gigantes. Essas medidas incluem acesso a empréstimos feitos pelo Fed a uma taxa preferencial de 2,25%, aumento do acesso ao crédito junto ao Tesouro e a compra de ações dessas empresas pelo Tesouro. Ou seja: a nacionalização (socialismo financeiro) dessas empresas é praticamente inevitável.
Não obstante, essa seria uma oportunidade de ouro para liquidar essas duas empresas de uma vez por todas. E fazer isso é incrivelmente simples! Qualquer banco de investimento em Wall Street pode produzir um plano para re-estruturar essas empresas e cobrar os devidos (e caros) honorários para executar esse plano. As possíveis maneiras de re-estruturar incluem a venda dos ativos, a criação de subsidiárias e sua conseguinte venda, o spin-off de subsidiárias, e/ou a fragmentação da empresa em várias outras empresas.
Os investidores dessas empresas, tanto acionistas como aqueles que possuem títulos de dívida, não devem ser salvos pelo contribuinte. Essas duas empresas fizeram investimentos ruins comprando hipotecas ruins. Essas duas empresas também emitiram muitas dívidas para financiar esses investimentos, o que lhes gerou uma combalida estrutura financeira. O valor de seus ativos é menor do que o valor de suas obrigações, o que as torna insolventes. Elas ainda não estão falidas. Elas ainda têm o dinheiro para pagar o serviço de suas dívidas. Essas dívidas de maneira alguma são desprezíveis. Aproximadamente 11,6 por cento do dinheiro dos fundos mútuos está investido nessas empresas. Ao preço atual dessas dívidas, ainda não surgiram notícias sobre problemas com fundos mútuos. Se esses preços caírem 10 por cento, as perdas dos fundos mútuos seriam de modestos 1 por cento.
Há milhões de americanos que podem temer pela dissolução dessas empresas. Eles vão se perguntar onde e como eles conseguirão financiar suas hipotecas. Também há centenas de colunistas na imprensa que compartilham desse medo. Alguns vão tapar o nariz e defender o resgate governamental. Outros vão querer manter a interferência do governo no mercado imobiliário e até mesmo expandi-lo como questão de política pública.
Mas não há nada a temer. A quantidade de dinheiro disponível nos mercados paralelos para o financiamento de hipotecas é enorme. Ele pode ser seduzido e direcionado para as hipotecas se os juros pagos forem altos o bastante. Um livre mercado em hipotecas irá facilmente fornecer capital para mutuários com capacidade creditícia. Mas esse é também o obstáculo. O governo quer manter os juros hipotecários baixos para poder manter a indústria imobiliária funcionando e satisfazer os eleitores que estão hipotecados. O governo não quer um livre mercado em hipotecas, e isso porque nem os eleitores e nem a indústria imobiliária querem um livre mercado para o setor imobiliário. Enquanto houver um governo com poderes para interferir, a pressão para interferir irá superar o livre mercado.
Quanto ao futuro, a teoria de Mises de que o governo sempre irá favorecer mais governo parece totalmente sólida.
Veja, por exemplo, John McCain:
"Essas instituições, Fannie e Freddie, foram responsáveis por tornar milhões de americanos aptos a possuir uma casa própria, e elas não irão quebrar, não iremos permitir que elas quebrem ... faremos o que for necessário para garantir que elas continuem operando com essa função."
Nem um único Democrata discorda.
Assim como ocorreu com as S&L (caixas de poupança) na década de 1980, a atual situação - em que a um colapso imobiliário se seguiram trilhões de dólares em dinheiro do contribuinte para saldar o passivo dos devedores - será citada como um exemplo de "capitalismo calamitoso", no qual as elites conseguem fantásticas fábulas de dinheiro às custas do pequenininho. A crítica será em grande parte procedente, exceto no ponto mais importante: esse tipo de fiasco não teria ocorrido em um livre mercado. Ele ocorreu porque o governo, através de sua criação de crédito e de suas garantias implícitas, tornou-o possível.
Como Hans-Hermann Hoppe já demonstrou, a democracia não funciona. Cedo ou tarde - nesse caso 70 anos mais tarde, 70 anos após Fannie Mae ter sido criada - o sistema começa a ruir. Chame-o do que quiser, socialismo democrático ou fascismo democrático ou ambos, a democracia não funciona. Ela não funciona na agricultura, nas forças armadas, no programa espacial, no sistema bancário, ou em qualquer outra parte da economia. A democracia estimula mentiras, encoraja os mentirosos, gera propinas e covardia frente aos eleitores. A democracia simplesmente não funciona, meus amigos. Cedo ou tarde, dependendo de várias coisas em particular, implosões ocorrem.
A democracia assume como premissa um público informado e educado. Mas a mídia já foi cooptada pelo sistema político. Consequentemente, ela não está vigilante e não está reportando o que deveria - e isso resulta em desastres. O que precisamos é de um grupo de colunistas que não apenas saiba discernir esses problemas óbvios, mas que também diga em linguagem clara ao público de onde eles vêm: ou seja, de um governo com poderes enormemente excessivos para tributar e legislar. E, mais ainda, que a solução jaz em uma nova fronteira, que é aquela do livre mercado.
A intervenção governamental é como um frasco de veneno mutante derramado na rede fornecedora de água. Podemos beber essa água por um bom tempo sem que ninguém realmente pareça pior. Até que um dia acordamos e todos estão desesperadoramente doentes - e culpando não o veneno, mas a água. O mesmo ocorre com a atual crise imobiliária. Os financiadores estão sendo culpados por todo o fiasco, e o capitalismo será submetido às surras de praxe, já que Freddie e Fannie são empresas de capital aberto. Mas a verdade é imutável: a razão por que tudo durou tanto tempo e ficou tão ruim é uma só: foi aquele frasco de veneno do governo.
A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Em tempos onde os defensores do intervencionismo anunciam o fim do liberalismo econômico devido à crise imobiliária americana e a estatização das gigantes imobiliárias pelo governo dos EUA, vem bem um texto esclarecedor como o que segue.
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Este texto é de extrema importância para todos que não conseguem enxergar como socialismo e capitalismo estão perigosamente ligados.
O cabeção vai amar.
Socialismo financeiro é alguma coisa entre pleonasmo e redundância, mas está mais para quando as coisas estão tão ligadas como gêmeos bivitelinos. Podem se antogonizar, mas são ligados umbilicalmente à mesma mãe.
O cabeção vai amar.
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- Fernando Silva
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
O que é mais importante:
Manter o liberalismo puro ou evitar que o país vá para o buraco?
Ideologias são idiotas. É por isto que o capitalismo sempre vence: ele procura resultados em vez de tentar impor ideologias. Se funciona, seja lá o que for, então é bom.
As ideologias, pelo contrário, acham mais importante ser fiel aos dogmas que obter resultados. Não importa que não funcione, desde que o método certo seja seguido.
E não esquecendo: nada é perfeito.
Manter o liberalismo puro ou evitar que o país vá para o buraco?
Ideologias são idiotas. É por isto que o capitalismo sempre vence: ele procura resultados em vez de tentar impor ideologias. Se funciona, seja lá o que for, então é bom.
As ideologias, pelo contrário, acham mais importante ser fiel aos dogmas que obter resultados. Não importa que não funcione, desde que o método certo seja seguido.
E não esquecendo: nada é perfeito.
Editado pela última vez por Fernando Silva em 11 Set 2008, 07:34, em um total de 1 vez.
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
A Morte do Neoliberalismo
Rodrigo Constantino

“Não olhe para onde você caiu, mas sim onde você escorregou.” (Provérbio Africano)
Com o anúncio de que o governo americano irá salvar, através da injeção de capital, as duas gigantes do setor imobiliário, várias viúvas do intervencionismo aproveitaram para decretar a morte do “neoliberalismo”, demonstrando grande regozijo com a desgraça alheia. No entanto, há muita ignorância – ou então má fé – por parte dessa gente, uma vez que boa parte dos problemas com a Fannie Mae e a Freddie Mac vem justamente do intervencionismo estatal. A tentativa de culpar o livre mercado por uma crise séria não é algo novo, e os riscos desse julgamento inadequado são enormes, como vimos depois da crise de 1929, com um aumento assustador dos poderes do governo*. Por isso é tão importante tentar desfazer essa desinformação acerca do tema.
Em primeiro lugar, devemos lembrar que os Estados Unidos não são o ideal liberal. Em uma resenha antiga que escrevi sobre o livro A Obsessão Antiamericana, de Jean François-Revel, expliquei logo no começo esse ponto, fazendo o seguinte alerta: “Lá, o Leviatã é um monstrengo também, que extorque quase 30% da riqueza privada em nome do bem-estar social. Mas atualmente, é o que temos mais próximo do liberalismo, justamente a causa de seu sucesso relativo”. Logo, a tentativa de encarar o modelo americano como o ícone perfeito do capitalismo liberal não faz sentido. Os liberais têm muitas críticas ao excesso de intervenção estatal na economia americana. Quem tem dúvida disso, basta navegar pelos sites do Cato Institute ou do Mises Institute para ter uma boa idéia dos duros ataques que o governo americano sofre por parte dos liberais. Um alvo desses ataques sempre foi justamente a existência dessas Government Sponsored Enterprises (GSE), empresas criadas e garantidas pelo governo para atuar no mercado de hipotecas.
Como exemplo, temos um artigo escrito pelo presidente do Mises Institute, Lew Rockwell, onde ele explica as origens dessas duas empresas em crise:
“A Fannie Mae (Federal National Mortgage Association) foi criada em 1938 por Franklin Delano Roosevelt, durante o New Deal. Sua função era fornecer liquidez ao mercado hipotecário. Durante os 30 anos seguintes, ela desfrutou do monopólio do mercado secundário de hipotecas nos EUA. Tornou-se uma corporação privada em 1968, para conter o déficit orçamentário do governo. A Freddie Mac (Federal Home Loan Mortgage Company) foi criada em 1970, no governo Nixon, para expandir o mercado secundário de hipotecas e, assim como a Fannie Mae, tem a função de fazer empréstimos e dar garantias a empréstimos. Tanto a Freddie Mac como a Fannie Mae, junto com outras empresas, compram (dos bancos) hipotecas no mercado secundário e as revendem para investidores no mercado aberto como títulos lastreados em hipotecas. Ambas são empresas de capital aberto.
A Fannie Mae e a Freddie Mac são conhecidas como ‘empresas apadrinhadas pelo governo’, o que significa que elas são empresas privadas, mas com propósitos públicos. Esse tipo de empresa tem o apoio implícito do governo americano, conquanto não tenha obrigações diretas para com ele. Por causa desse apadrinhamento que elas recebem do governo, essas duas empresas conseguem financiamentos a taxas vantajosas – os credores imaginam que, em caso de insolvência, o governo ajudará essas empresas. E, devido a esses financiamentos facilitados, elas acabaram por sobre-estimular o mercado imobiliário, inflando-o a alturas inimagináveis, ao comprar hipotecas que foram securitizadas por bancos de todo o país.”
A conclusão do autor é inequívoca: “Essas duas empresas não deveriam existir”. A Fannie Mae foi criada pelo governo mais intervencionista que os Estados Unidos já tiveram, criador do New Deal, um programa que plantou as sementes da estagflação que destroçou a economia americana em décadas posteriores. A “herança maldita” de Keynes não poderia ter um exemplo prático melhor do que essa política expansionista dos gastos públicos e dos seus tentáculos burocráticos. Muita gente, por falta de conhecimento ou viés ideológico, atribui o oposto ao New Deal: um prêmio por salvar a economia americana. Nada mais falso. Ora, crescer artificialmente por algum período até um país socialista consegue. O problema vem depois, quando a conta precisa ser paga. Uma analogia boa é alguém ficar eufórico por conta de bebida alcoólica, ignorando que depois terá que enfrentar uma ressaca. Se esta for postergada com mais bebida ainda, tudo que ele irá conseguir é uma cirrose. Os keynesianos acreditam que o rabo é que balança o cachorro, acham que o consumo é que gera crescimento, e não a poupança e o investimento. Eles acreditam que é possível alguém se suspender puxando os próprios suspensórios! A realidade cobra a fatura do sonho depois, com juros e correção monetária. “No longo prazo estaremos todos mortos”, afirmou o pai da criatura, ignorando que com suas idéias o longo prazo chega antes.
Voltando à crise das gigantes imobiliárias, elas jamais teriam acumulado tanto passivo se não fosse a garantia do governo. Essas empresas possuem dívidas totais superiores a US$ 5 trilhões! Isso representa mais da metade da dívida nacional americana. Lew Rockwell comenta: “Empresas apadrinhadas pelo governo não estão sujeitas às disciplinas do mercado, como as empresas do setor privado. Seus títulos são listados como títulos do governo, o que faz com que seus prêmios de risco não sejam ditados pelo livre mercado”. O grau de alavancagem dessas empresas foi ampliado exponencialmente pela garantia estatal. Rockwell lembra qual regime possui essa mistura entre governo e gestão privada: “A origem de ambas essas organizações está na legislação federal. Elas não são entidades de mercado. Elas há muito são garantidas pelo contribuinte. Não, elas também não são entidades socialistas, pois são gerenciadas privadamente. Portanto, elas ocupam um terceiro status, para o qual há um nome: fascismo”.
Como fica claro, aqueles que logo aproveitaram para atacar o livre mercado foram muito precipitados. Deveriam pesquisar antes os fatos. Acabaram errando feio o alvo, talvez de forma deliberada. Parasitas precisam sempre defender mais intervenção estatal, pois vivem disso. Talvez esse seja um dos motivos por trás da acusação infundada de muitos. Outro fator é o ideológico. Por questões patológicas, o triste fato é que muita gente ainda condena o capitalismo liberal pelos males do mundo, não obstante tanta evidência contrária. O importante disso tudo é não deixar essa poluição – deliberada ou não – ofuscar a verdade. Uma vez mais tentam jogar nas costas do liberalismo a culpa de algo que foi causado pelo próprio governo. Se fosse apenas uma questão de justiça com os fatos, poderíamos ignorar o uníssono das viúvas de Fidel, pois a honestidade nunca foi o forte dessa turma. O problema mais grave é que idéias têm conseqüências, e muitas vezes nefastas. Se o diagnóstico da doença for errado, o remédio poderá ser fatal. Em outras palavras, se o livre mercado sair como grande vilão dessa crise, e se a intervenção estatal for vista como solução, pode-se preparar o atestado de óbito. O longo prazo de Keynes estará logo ali...
* Quem tiver interesse no tema da crise de 1929, recomendo o livro America’s Great Depression, de Murray Rothbard, onde os fatos são resgatados, mostrando que a hiperatividade do governo foi a principal causa da depressão que assolou a América.
Rodrigo Constantino

“Não olhe para onde você caiu, mas sim onde você escorregou.” (Provérbio Africano)
Com o anúncio de que o governo americano irá salvar, através da injeção de capital, as duas gigantes do setor imobiliário, várias viúvas do intervencionismo aproveitaram para decretar a morte do “neoliberalismo”, demonstrando grande regozijo com a desgraça alheia. No entanto, há muita ignorância – ou então má fé – por parte dessa gente, uma vez que boa parte dos problemas com a Fannie Mae e a Freddie Mac vem justamente do intervencionismo estatal. A tentativa de culpar o livre mercado por uma crise séria não é algo novo, e os riscos desse julgamento inadequado são enormes, como vimos depois da crise de 1929, com um aumento assustador dos poderes do governo*. Por isso é tão importante tentar desfazer essa desinformação acerca do tema.
Em primeiro lugar, devemos lembrar que os Estados Unidos não são o ideal liberal. Em uma resenha antiga que escrevi sobre o livro A Obsessão Antiamericana, de Jean François-Revel, expliquei logo no começo esse ponto, fazendo o seguinte alerta: “Lá, o Leviatã é um monstrengo também, que extorque quase 30% da riqueza privada em nome do bem-estar social. Mas atualmente, é o que temos mais próximo do liberalismo, justamente a causa de seu sucesso relativo”. Logo, a tentativa de encarar o modelo americano como o ícone perfeito do capitalismo liberal não faz sentido. Os liberais têm muitas críticas ao excesso de intervenção estatal na economia americana. Quem tem dúvida disso, basta navegar pelos sites do Cato Institute ou do Mises Institute para ter uma boa idéia dos duros ataques que o governo americano sofre por parte dos liberais. Um alvo desses ataques sempre foi justamente a existência dessas Government Sponsored Enterprises (GSE), empresas criadas e garantidas pelo governo para atuar no mercado de hipotecas.
Como exemplo, temos um artigo escrito pelo presidente do Mises Institute, Lew Rockwell, onde ele explica as origens dessas duas empresas em crise:
“A Fannie Mae (Federal National Mortgage Association) foi criada em 1938 por Franklin Delano Roosevelt, durante o New Deal. Sua função era fornecer liquidez ao mercado hipotecário. Durante os 30 anos seguintes, ela desfrutou do monopólio do mercado secundário de hipotecas nos EUA. Tornou-se uma corporação privada em 1968, para conter o déficit orçamentário do governo. A Freddie Mac (Federal Home Loan Mortgage Company) foi criada em 1970, no governo Nixon, para expandir o mercado secundário de hipotecas e, assim como a Fannie Mae, tem a função de fazer empréstimos e dar garantias a empréstimos. Tanto a Freddie Mac como a Fannie Mae, junto com outras empresas, compram (dos bancos) hipotecas no mercado secundário e as revendem para investidores no mercado aberto como títulos lastreados em hipotecas. Ambas são empresas de capital aberto.
A Fannie Mae e a Freddie Mac são conhecidas como ‘empresas apadrinhadas pelo governo’, o que significa que elas são empresas privadas, mas com propósitos públicos. Esse tipo de empresa tem o apoio implícito do governo americano, conquanto não tenha obrigações diretas para com ele. Por causa desse apadrinhamento que elas recebem do governo, essas duas empresas conseguem financiamentos a taxas vantajosas – os credores imaginam que, em caso de insolvência, o governo ajudará essas empresas. E, devido a esses financiamentos facilitados, elas acabaram por sobre-estimular o mercado imobiliário, inflando-o a alturas inimagináveis, ao comprar hipotecas que foram securitizadas por bancos de todo o país.”
A conclusão do autor é inequívoca: “Essas duas empresas não deveriam existir”. A Fannie Mae foi criada pelo governo mais intervencionista que os Estados Unidos já tiveram, criador do New Deal, um programa que plantou as sementes da estagflação que destroçou a economia americana em décadas posteriores. A “herança maldita” de Keynes não poderia ter um exemplo prático melhor do que essa política expansionista dos gastos públicos e dos seus tentáculos burocráticos. Muita gente, por falta de conhecimento ou viés ideológico, atribui o oposto ao New Deal: um prêmio por salvar a economia americana. Nada mais falso. Ora, crescer artificialmente por algum período até um país socialista consegue. O problema vem depois, quando a conta precisa ser paga. Uma analogia boa é alguém ficar eufórico por conta de bebida alcoólica, ignorando que depois terá que enfrentar uma ressaca. Se esta for postergada com mais bebida ainda, tudo que ele irá conseguir é uma cirrose. Os keynesianos acreditam que o rabo é que balança o cachorro, acham que o consumo é que gera crescimento, e não a poupança e o investimento. Eles acreditam que é possível alguém se suspender puxando os próprios suspensórios! A realidade cobra a fatura do sonho depois, com juros e correção monetária. “No longo prazo estaremos todos mortos”, afirmou o pai da criatura, ignorando que com suas idéias o longo prazo chega antes.
Voltando à crise das gigantes imobiliárias, elas jamais teriam acumulado tanto passivo se não fosse a garantia do governo. Essas empresas possuem dívidas totais superiores a US$ 5 trilhões! Isso representa mais da metade da dívida nacional americana. Lew Rockwell comenta: “Empresas apadrinhadas pelo governo não estão sujeitas às disciplinas do mercado, como as empresas do setor privado. Seus títulos são listados como títulos do governo, o que faz com que seus prêmios de risco não sejam ditados pelo livre mercado”. O grau de alavancagem dessas empresas foi ampliado exponencialmente pela garantia estatal. Rockwell lembra qual regime possui essa mistura entre governo e gestão privada: “A origem de ambas essas organizações está na legislação federal. Elas não são entidades de mercado. Elas há muito são garantidas pelo contribuinte. Não, elas também não são entidades socialistas, pois são gerenciadas privadamente. Portanto, elas ocupam um terceiro status, para o qual há um nome: fascismo”.
Como fica claro, aqueles que logo aproveitaram para atacar o livre mercado foram muito precipitados. Deveriam pesquisar antes os fatos. Acabaram errando feio o alvo, talvez de forma deliberada. Parasitas precisam sempre defender mais intervenção estatal, pois vivem disso. Talvez esse seja um dos motivos por trás da acusação infundada de muitos. Outro fator é o ideológico. Por questões patológicas, o triste fato é que muita gente ainda condena o capitalismo liberal pelos males do mundo, não obstante tanta evidência contrária. O importante disso tudo é não deixar essa poluição – deliberada ou não – ofuscar a verdade. Uma vez mais tentam jogar nas costas do liberalismo a culpa de algo que foi causado pelo próprio governo. Se fosse apenas uma questão de justiça com os fatos, poderíamos ignorar o uníssono das viúvas de Fidel, pois a honestidade nunca foi o forte dessa turma. O problema mais grave é que idéias têm conseqüências, e muitas vezes nefastas. Se o diagnóstico da doença for errado, o remédio poderá ser fatal. Em outras palavras, se o livre mercado sair como grande vilão dessa crise, e se a intervenção estatal for vista como solução, pode-se preparar o atestado de óbito. O longo prazo de Keynes estará logo ali...
* Quem tiver interesse no tema da crise de 1929, recomendo o livro America’s Great Depression, de Murray Rothbard, onde os fatos são resgatados, mostrando que a hiperatividade do governo foi a principal causa da depressão que assolou a América.
"Da sempre conduco una attività ininterrotta di lavoro, se qualche volta mi succede di guardare in faccia qualche bella ragazza... meglio essere appassionati di belle ragazze che gay" by: Silvio Berlusconi
Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Fernando Silva escreveu:O que é mais importante:
Manter o liberalismo puro ou evitar que o país vá para o buraco?
O texto procura mostrar que a raiz da crise foi justamente o excesso de intervenção. Para começar, estas empresas eram estatais, e foram privatizadas em seguida. Mas mesmo privatizadas elas continuaram a ter acesso a privilégios de crédito com juros muito baixos diretamente com o Fed. Em condições normais (= mercado livre) ninguém jamais concederia tal crédito a essas empresas.
Enfim, se o governo tivesse adotado políticas liberais desde o início, tais empresas jamais teriam inflado da maneira que inflaram e tamanho estouro não teria ocorrido. (Na verdade elas nem mesmo teriam sido criadas).
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Fernando Silva escreveu:O que é mais importante:
Manter o liberalismo puro ou evitar que o país vá para o buraco?
Ideologias são idiotas. É por isto que o capitalismo sempre vence: ele procura resultados em vez de tentar impor ideologias. Se funciona, seja lá o que for, então é bom.
As ideologias, pelo contrário, acham mais importante ser fiel aos dogmas que obter resultados. Não importa que não funcione, desde que o método certo seja seguido.
E não esquecendo: nada é perfeito.
O seu argumento esta errado por varias razoes, citarei apenas algumas.
Nao e possivel "manter" o liberalismo puro, pois este nao tem sido praticado e as crises ocorridas sao justamente resultado direto das intervencoes produzidas no funcionamento do mercado. Nao que isso demonstre empiricamente que o mercado sem intervencoes funcionaria sem crises, mas com certeza nao serve de argumento contra o "liberalismo puro".
Quanto a "salvar o pais" indo contra o liberalismo, essa afirmacao pode ser interpretada de duas formas, uma delas completamente errada e outra condicionalmente correta. O intervencionismo nunca produz os efeitos que eram pretentidos pelos responsaveis. Isso decorre da incapacidade do Estado de realizar calculo economico. Esse so e possivel num sistema de precos reais produzidos pelo livre mercado, so os precos de livre mercado e capaz de transmitir corretamente as informacoes sobre oferta e demanda.
E verdade que o livre mercado nao transmite informacao perfeita ou instantaneamente, mas ninguem aqui esta falando de idealizacoes. Voce esta correto ao dizer que nao existem coisas perfeitas, e o mesmo e valido para o livre mercado. O sofisma esta em acreditar que a imperfeicao do livre mercado poderia ser corrigida por alguma intervencao cirurgica do governo. Nao. O governo distorce e destroi a informacao que o mercado transmitiria imperfeitamente. Ele faz algo muito pior portanto. O mercado tem seus proprios mecanismos de auto-correcao, que no longo prazo produzem algo mais racional e organizado, e consequentemente mais adequado as expectativas de todos os participantes. A unica coisa que o governo consegue fazer e atrapalhar esse processo de ajustamento com alguma medida que alegrara alguns grupos de poder e enganara o resto com um discurso demagogico e pernicioso.
Agora see voce acha que a salvacao consiste numa salvacao economica, na intervencao estatal contra os vicios do livre mercado, voce esta enganado do comeco ate o final.
Se a salvacao que voce visiona e uma salvacao politica, dependendo da interpretacao voce estaria correto. No atual estado das instituicoes vigentes definindo a democracia americana (e de todos os outros paises democraticos), muitas delas hostis ao livre mercado, simplesmente nao existe possibilidade politica para uma solucao de livre mercado. Ainda existem muitos grupos de interesse com poder suficiente para boicotar qualquer proposta liberalizante, assim como muita desinformacao anti-capitalista produzida pela inteligentsia e pela midia que e absorvida pelo publico.
Em situacoes desse tipo, dar passos rumo a uma liberalizacao, embora significasse um ajuste economico melhor no medio e longo prazo, seria um suicidio politico no curto prazo. Assim, mesmo para aqueles que compreendem economia e sabem da falsidade dos argumentos intervencionistas, contemporizar momentaneamente com eles pode ser parte de uma pratica racional de "realpolitiks". Nessas circunstancias, tanto ideologia quanto certeza cientifica podem ser menos uteis do que um pouco de pragmatismo e maleabilidade.
Logo, a saida para "salvar o pais" pode realmente ser atraves desses passos falsos rumo ao dirigismo. Em situacoes de crise, as pessoas querendo "atitudes" dos governantes, se tais "atitudes" forem tomadas acompanhadas de solucoes retoricas os animos podem se acalmar. Ainda que tais atitudes possam ser realmente ruins no longo prazo, os efeitos politicos da nao tomada dessas atitudes poderiam produzir um eco ainda mais perigoso. Por exemplo, um socialista poderia se eleger alegando ter as solucoes para a crise, se ele empregar bem sua retorica demagogica. E, mesmo prolongando a crise, ele poderia se reeleger, sempre culpando o seu antecessor pela situacao progressivamente pior. Franklin Roosevelt e o melhor exemplo disto.
A crise atual, assim como a crise de 29, e um produto do intervencionismo inconsequente. E ela pode durar tanto quanto aquela, e transformar-se numa depressao seria, se Barack Obama for eleito e fizer ao menos uma parte daquilo que esta propondo fazer. E os efeitos dessa crise a serem apliados poderiam ter um impacto positivo na popularidade de Obama, assim como tiveram na de FDR e o fizeram se reeleger tres vezes. Se as pessoas pensarem que o partido republicano nao esta fazendo nada por elas, esse e um dos prognosticos mais provaveis.
Por outro lado, esse tipo de estrategia no longo prazo e um tiro no proprio pe, pois endossa as teorias adversarias e as dignifica ao status de "verdades fundamentais". Se os adversarios forem habeis na retorica, nao terao dificuldades em administrar essa situacao favoravel as suas ideias para ganhar capital politico e tomarem o poder. E levando em consideracao as atitudes recorrentes do partido republicano pos-Reagan, parece que eles estao vivendo esse longo prazo.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem
Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Míriam Leitão - Babá do mercado
As empresas salvas da falência neste fim de semana pelo Tesouro americano têm um tamanho igual a 40% do PIB dos EUA. A chantagem de "grande demais para quebrar" cabe perfeitamente nelas. A operação é uma enorme transferência de renda para os mais ricos, para os credores das dívidas imobiliárias. A operação se enquadra no que o economista americano Dean Baker define como "o Estado babá".
Ninguém tem dúvidas de que Fannie Mae e Freddie Mac são os dois pilares do sistema financeiro americano, mas elas só chegaram à situação de terem que ser resgatadas com um cheque de US$200 bilhões porque o mercado, o Tesouro e o Fed falharam.
Os bancos burlaram regras prudenciais, aceitando que seus avatares nos mercados de mais riscos assumissem posições inceitáveis. Os fundos fraudaram a confiança dos investidores maquiando ativos podres com um pouco de papéis bons. As agências de classificação de risco falharam por má-fé ou incompetência quando deram boas classificações a estes papéis híbridos. Fannie Mae e Freddie Mac falharam quando aumentaram sua exposição a todos esses riscos. O Fed e o Tesouro falharam porque não viram a bolha, os riscos e as fraudes. Bom, agora só resta a eles todos saber o que fazer com o discurso conservador (ou liberal, como se diz no Brasil) de que o mercado tem correções para seus próprios erros.
O principal comentarista de economia do Financial Times, Martin Wolf, disse, num vídeo gravado para a edição online do jornal, que essa crise nos EUA é comparável à crise japonesa que durou uma década. Com uma vantagem e uma desvantagem para os Estados Unidos.
A vantagem é que ambas foram detonadas pela queda de valor de ativos, no caso os imóveis, mas no Japão houve uma queda de 70% e nos EUA ainda não se chegou a esse ponto. O estado agiu antes de uma desvalorização maior, ainda que isso não signifique que os preços dos imóveis vão parar de cair. A desvantagem é que o Japão, quando entrou em crise, era um credor líquido, e os EUA são devedores líquidos. "Os Estados Unidos precisam da confiança do mundo para continuar se financiando", disse Wolf.
Ele acredita que a crise será longa e que haverá percalços no caminho. Sobre a operação deste fim de semana, Wolf disse que era inevitável e que puniu os acionistas das duas empresas. Admite que a operação poupará todos os credores do sistema. Esses credores estão sendo resgatados junto com Fannie Mae e Freddie Mac.
Exatamente este é o ponto: quem emprestou irresponsavelmente, quem foi imprudente, quem se alavancou mais do que devia, quem vendeu papéis podres como se fossem bons, quem avaliou esses papéis podres como bons, errou. Mas não pagará. A conta, de novo, foi para o contribuinte.
O economista Dean Baker, crítico da imprensa de economia nos Estados Unidos, é autor do livro "The Conservative Nanny State. How the wealthy use the government to stay rich and get richer" (O Estado babá conservador. Como os ricos usam o governo para permanecer ricos e ficar mais ricos). O caso deste fim de semana é um flagrante disso. A tese dele é que, numa economia de mercado, os empreendedores sabem que nem sempre as coisas acontecem como se previu. "Ninguém espera que o governo vá garantir a demanda por um produto ruim, mas, quando são tomadas decisões erradas na concessão de crédito, os conservadores, sim, esperam que o governo vá resgatá-los." Ou seja, no pequeno negócio, no nível pessoal, se alguém conceder um empréstimo irresponsável terá que ficar com o mico; no grande negócio financeiro, o erro é coberto com o dinheiro dos contribuintes.
Isso desnuda o discurso republicano na corrida à Casa Branca, mas certamente pouca gente vai perceber a contradição. Na convenção, semana passada, a idéia mais repetida foi a de que os republicanos querem um estado menor e menos impostos. Na prática, o governo republicano está estatizando duas enormes empresas do mercado financeiro e aumentando o gasto com o dinheiro do contribuinte, apesar de estar com as contas públicas em total desordem.
Um dos oradores a sustentar a tese ultraliberal de que o Estado só atrapalha foi o candidato derrotado nas primárias Mike Huckabee. Ele chegou a dizer o seguinte:
- Eu sou republicano não porque cresci rico, mas porque não queria ficar o resto da minha vida pobre, esperando que o governo viesse me resgatar.
Pelo que se viu neste domingo, fica confirmado que os muito ricos é que acabam resgatados pelo governo quando se metem em gigantescas encrencas, como a dessa crise no mercado financeiro.
Uma prova de subdesenvolvimento é pacote econômico de fim de semana. Lembra quando era assim no Brasil? Nesta crise, já não é a primeira vez que as autoridades americanas ficam reunidas no fim de semana fazendo pacote.
Este socorro, mesmo enorme, não é o fim da crise. Ela continuará, apesar da comemoração dos mercados ontem. Até o caso das duas garantidoras do mercado imobiliário, Fannie Mae e Freddie Mac, não está encerrado. O problema terá que ser resolvido pelo próximo governo.
http://arquivoetc.blogspot.com/2008/09/ ... rcado.html
As empresas salvas da falência neste fim de semana pelo Tesouro americano têm um tamanho igual a 40% do PIB dos EUA. A chantagem de "grande demais para quebrar" cabe perfeitamente nelas. A operação é uma enorme transferência de renda para os mais ricos, para os credores das dívidas imobiliárias. A operação se enquadra no que o economista americano Dean Baker define como "o Estado babá".
Ninguém tem dúvidas de que Fannie Mae e Freddie Mac são os dois pilares do sistema financeiro americano, mas elas só chegaram à situação de terem que ser resgatadas com um cheque de US$200 bilhões porque o mercado, o Tesouro e o Fed falharam.
Os bancos burlaram regras prudenciais, aceitando que seus avatares nos mercados de mais riscos assumissem posições inceitáveis. Os fundos fraudaram a confiança dos investidores maquiando ativos podres com um pouco de papéis bons. As agências de classificação de risco falharam por má-fé ou incompetência quando deram boas classificações a estes papéis híbridos. Fannie Mae e Freddie Mac falharam quando aumentaram sua exposição a todos esses riscos. O Fed e o Tesouro falharam porque não viram a bolha, os riscos e as fraudes. Bom, agora só resta a eles todos saber o que fazer com o discurso conservador (ou liberal, como se diz no Brasil) de que o mercado tem correções para seus próprios erros.
O principal comentarista de economia do Financial Times, Martin Wolf, disse, num vídeo gravado para a edição online do jornal, que essa crise nos EUA é comparável à crise japonesa que durou uma década. Com uma vantagem e uma desvantagem para os Estados Unidos.
A vantagem é que ambas foram detonadas pela queda de valor de ativos, no caso os imóveis, mas no Japão houve uma queda de 70% e nos EUA ainda não se chegou a esse ponto. O estado agiu antes de uma desvalorização maior, ainda que isso não signifique que os preços dos imóveis vão parar de cair. A desvantagem é que o Japão, quando entrou em crise, era um credor líquido, e os EUA são devedores líquidos. "Os Estados Unidos precisam da confiança do mundo para continuar se financiando", disse Wolf.
Ele acredita que a crise será longa e que haverá percalços no caminho. Sobre a operação deste fim de semana, Wolf disse que era inevitável e que puniu os acionistas das duas empresas. Admite que a operação poupará todos os credores do sistema. Esses credores estão sendo resgatados junto com Fannie Mae e Freddie Mac.
Exatamente este é o ponto: quem emprestou irresponsavelmente, quem foi imprudente, quem se alavancou mais do que devia, quem vendeu papéis podres como se fossem bons, quem avaliou esses papéis podres como bons, errou. Mas não pagará. A conta, de novo, foi para o contribuinte.
O economista Dean Baker, crítico da imprensa de economia nos Estados Unidos, é autor do livro "The Conservative Nanny State. How the wealthy use the government to stay rich and get richer" (O Estado babá conservador. Como os ricos usam o governo para permanecer ricos e ficar mais ricos). O caso deste fim de semana é um flagrante disso. A tese dele é que, numa economia de mercado, os empreendedores sabem que nem sempre as coisas acontecem como se previu. "Ninguém espera que o governo vá garantir a demanda por um produto ruim, mas, quando são tomadas decisões erradas na concessão de crédito, os conservadores, sim, esperam que o governo vá resgatá-los." Ou seja, no pequeno negócio, no nível pessoal, se alguém conceder um empréstimo irresponsável terá que ficar com o mico; no grande negócio financeiro, o erro é coberto com o dinheiro dos contribuintes.
Isso desnuda o discurso republicano na corrida à Casa Branca, mas certamente pouca gente vai perceber a contradição. Na convenção, semana passada, a idéia mais repetida foi a de que os republicanos querem um estado menor e menos impostos. Na prática, o governo republicano está estatizando duas enormes empresas do mercado financeiro e aumentando o gasto com o dinheiro do contribuinte, apesar de estar com as contas públicas em total desordem.
Um dos oradores a sustentar a tese ultraliberal de que o Estado só atrapalha foi o candidato derrotado nas primárias Mike Huckabee. Ele chegou a dizer o seguinte:
- Eu sou republicano não porque cresci rico, mas porque não queria ficar o resto da minha vida pobre, esperando que o governo viesse me resgatar.
Pelo que se viu neste domingo, fica confirmado que os muito ricos é que acabam resgatados pelo governo quando se metem em gigantescas encrencas, como a dessa crise no mercado financeiro.
Uma prova de subdesenvolvimento é pacote econômico de fim de semana. Lembra quando era assim no Brasil? Nesta crise, já não é a primeira vez que as autoridades americanas ficam reunidas no fim de semana fazendo pacote.
Este socorro, mesmo enorme, não é o fim da crise. Ela continuará, apesar da comemoração dos mercados ontem. Até o caso das duas garantidoras do mercado imobiliário, Fannie Mae e Freddie Mac, não está encerrado. O problema terá que ser resolvido pelo próximo governo.
http://arquivoetc.blogspot.com/2008/09/ ... rcado.html
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Bush estatiza
Intervenção brutal na economia pode até estancar a crise, mas deixará um saldo inevitável de injustiça
PALAVRAS importam, e o governo dos EUA evita admitir que estatizou as maiores empresas de crédito imobiliário do país. Mas foi exatamente isso o que fez a administração George W. Bush ao ordenar a aquisição das companhias Fannie Mae e Freddie Mac. Como resultado, metade do mercado hipotecário residencial do país, de US$ 12 trilhões, passou a ser garantida diretamente pelo Tesouro, ou seja, pelos contribuintes americanos.
A Casa Branca fez uso da prerrogativa concedida pelo Congresso, em 30 de julho passado, para injetar somas ilimitadas nas duas agências hipotecárias. Elas eram privadas, com ações negociadas em Bolsa, mas tinham um status legal peculiar: alocadas na categoria de Government Sponsored Enterprises (empresas patrocinadas pelo governo), sua missão era apoiar o sistema de empréstimo imobiliário.
A expectativa, ora consumada, de que o governo americano jamais deixaria essas empresas quebrarem permitiu-lhes atuação ambivalente ao longo desta crise. Enquanto outras companhias similares se retiraram do mercado hipotecário, Fannie Mae e Freddie Mac continuaram a fazer negócios. Nos últimos 12 meses, absorveram 70% dos novos contratos do setor.
Essa marcha contra a corrente ajudou a mitigar e a postergar os efeitos, potencialmente devastadores para o conjunto da economia, de uma paralisia generalizada no mercado habitacional. Por outro lado, as companhias acabaram adotando um perigoso ímpeto aventureiro. Criadas para apoiar negócios hipotecários de baixo risco, as duas empresas começaram a relaxar os seus controles em 2006, a fim de beneficiar-se da chuva de dinheiro que caía sobre o segmento.
Numa crise de agentes endividados e interligados, como a que se abate sobre os EUA, há um momento em que as pessoas e as empresas começam a se desfazer de patrimônio para honrar compromissos. Como todos agem ao mesmo tempo, o resultado é que o patrimônio -imóveis, automóveis, ações e os demais títulos privados- se desvaloriza, e os recursos obtidos com a sua venda não conseguem fazer frente ao débito. Segue-se então mais uma rodada de liquidação de ativos, e o círculo vicioso se alimenta.
O ciclone bateu à porta de Fannie Mae e Freddie Mac. Suas ações se desvalorizaram 90% nos últimos 12 meses, período em que acumularam prejuízo de US$ 14 bilhões. Estavam insolventes, e sua bancarrota abalaria não só o mercado hipotecário dos EUA, mas o coração do sistema de crédito americano e, a partir daí, os pilares da arquitetura financeira no mundo desenvolvido. Sem opções, a gestão Bush absorveu os prejuízos -e os repassou aos contribuintes- da farra financeira que não soube moderar ao longo de oito anos.
É provável que a brutal intervenção do governo americano na economia dissolva o risco de depressão no curto prazo. Não será capaz de evitar, contudo, que um descrédito profundo recaia sobre as regras de um jogo que prometia não socializar os prejuízos da especulação irrefreada.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opinia ... 200801.htm
Intervenção brutal na economia pode até estancar a crise, mas deixará um saldo inevitável de injustiça
PALAVRAS importam, e o governo dos EUA evita admitir que estatizou as maiores empresas de crédito imobiliário do país. Mas foi exatamente isso o que fez a administração George W. Bush ao ordenar a aquisição das companhias Fannie Mae e Freddie Mac. Como resultado, metade do mercado hipotecário residencial do país, de US$ 12 trilhões, passou a ser garantida diretamente pelo Tesouro, ou seja, pelos contribuintes americanos.
A Casa Branca fez uso da prerrogativa concedida pelo Congresso, em 30 de julho passado, para injetar somas ilimitadas nas duas agências hipotecárias. Elas eram privadas, com ações negociadas em Bolsa, mas tinham um status legal peculiar: alocadas na categoria de Government Sponsored Enterprises (empresas patrocinadas pelo governo), sua missão era apoiar o sistema de empréstimo imobiliário.
A expectativa, ora consumada, de que o governo americano jamais deixaria essas empresas quebrarem permitiu-lhes atuação ambivalente ao longo desta crise. Enquanto outras companhias similares se retiraram do mercado hipotecário, Fannie Mae e Freddie Mac continuaram a fazer negócios. Nos últimos 12 meses, absorveram 70% dos novos contratos do setor.
Essa marcha contra a corrente ajudou a mitigar e a postergar os efeitos, potencialmente devastadores para o conjunto da economia, de uma paralisia generalizada no mercado habitacional. Por outro lado, as companhias acabaram adotando um perigoso ímpeto aventureiro. Criadas para apoiar negócios hipotecários de baixo risco, as duas empresas começaram a relaxar os seus controles em 2006, a fim de beneficiar-se da chuva de dinheiro que caía sobre o segmento.
Numa crise de agentes endividados e interligados, como a que se abate sobre os EUA, há um momento em que as pessoas e as empresas começam a se desfazer de patrimônio para honrar compromissos. Como todos agem ao mesmo tempo, o resultado é que o patrimônio -imóveis, automóveis, ações e os demais títulos privados- se desvaloriza, e os recursos obtidos com a sua venda não conseguem fazer frente ao débito. Segue-se então mais uma rodada de liquidação de ativos, e o círculo vicioso se alimenta.
O ciclone bateu à porta de Fannie Mae e Freddie Mac. Suas ações se desvalorizaram 90% nos últimos 12 meses, período em que acumularam prejuízo de US$ 14 bilhões. Estavam insolventes, e sua bancarrota abalaria não só o mercado hipotecário dos EUA, mas o coração do sistema de crédito americano e, a partir daí, os pilares da arquitetura financeira no mundo desenvolvido. Sem opções, a gestão Bush absorveu os prejuízos -e os repassou aos contribuintes- da farra financeira que não soube moderar ao longo de oito anos.
É provável que a brutal intervenção do governo americano na economia dissolva o risco de depressão no curto prazo. Não será capaz de evitar, contudo, que um descrédito profundo recaia sobre as regras de um jogo que prometia não socializar os prejuízos da especulação irrefreada.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opinia ... 200801.htm
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
VINICIUS TORRES FREIRE
Conservator Tabajara e estatização
Para o governo Bush, controle estatal de megaempresas é "conservatorship". Para Paul Krugman, é "desprivatização"
"CONSERVATORSHIP" é o nome que o governo Bush deu ao controle estatal das duas maiores empresas de financiamento imobiliário do país.
Um "conservator" é um tutor ou interventor. "Conservator" lembra Organizações Tabajara. Os problemas do mercado podem não ter acabado, mas o "Conservator" limpa de graça a lambança que o mercadismo promoveu, em propaganda e atos.
Paul Krugman chamou a coisa de "desprivatização". O economista de Harvard, da "esquerda" americana, é colunista do "New York Times" (no Brasil, Krugman seria "ortodoxo", mas passemos). Escreveu em seu blog: "Prefiro que as pessoas não digam que Fannie e Freddie foram "nacionalizadas" [estatizadas]. Quer dizer, está basicamente certo, mas passa uma impressão errada".
Krugman lembra que a Fannie Mae era uma agência estatal criada em meio à Grande Depressão, em 1938, e privatizada em 1968. Acha que tais empresas não devem ser privadas. Por isso, diz meio sarcasticamente que elas foram "desprivatizadas". "Não é como o caso do governo britânico, que [no passado] tomou as siderúrgicas. É algo como despedir o pessoal da Blackwater [os mercenários contratados pelo governo dos EUA] e devolver a responsabilidade pela segurança dos diplomatas para os fuzileiros [marines]".
Bradford DeLong é outro economista reputado, professor de Berkeley. Foi subsecretário-assistente do Tesouro no governo Clinton. Em seu blog, DeLong duvida que o negócio de empacotar dívidas imobiliárias deva ser privado. Chama a "conservatorship" de estatização.
Gregory Mankiw também é de Harvard e autor de um popular livro-texto de introdução à macroeconomia. Foi presidente do Conselho de Assessoria Econômica de George Bush, filho. É ultraliberal, mas não se opôs à inevitável "conservatorship", que para ele resultou de um "takeover" (tomada de controle ou aquisição). Mas diz no seu blog que fica "entristecido toda vez que uma empresa que visa o lucro é socorrida, seja a Chrysler, o LTCM, o Bear Stearns ou a Fannie Mae e a Freddy Mac". É o argumento tradicional: socorro para falidos (e para quem tem negócios com eles) é um incentivo ao risco irresponsável.
O governo "conservator" será dono de Fannie Mae e Freddie Mac. Vai emprestar dinheiro às empresas a 10% ano (caro, mas menos que bancos estão pagando na praça). Vai fazer dívida pública a fim de financiar a comprar títulos lastreados em prestações imobiliárias (os ativos dessas empresas) e não vai vender tais papéis no mercado a fim de evitar que percam ainda mais valor, tentando conter assim o aumento do buraco em bancos e fundos.
Difícil imaginar outra saída. Dir-se-á que os donos dos negócios socorridos estão sendo expelidos do controle ou vendo suas ações virarem pó (mas não é o caso do seguro grátis que o Fed dá para os papéis podres dos bancos, que servem de garantia para empréstimos oficiais).
Mas tais negócios já não valiam nada. O dinheiro grosso foi feito durante a festa e ficou com os convidados, que não pagam o seguro implícito, fornecido pelo Estado e que limpa a sujeira. Não é, óbvio, o caso de jogar o mercado fora, mas de dar cabo da gororoba ideológica do mercadismo.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinhei ... 200809.htm
Conservator Tabajara e estatização
Para o governo Bush, controle estatal de megaempresas é "conservatorship". Para Paul Krugman, é "desprivatização"
"CONSERVATORSHIP" é o nome que o governo Bush deu ao controle estatal das duas maiores empresas de financiamento imobiliário do país.
Um "conservator" é um tutor ou interventor. "Conservator" lembra Organizações Tabajara. Os problemas do mercado podem não ter acabado, mas o "Conservator" limpa de graça a lambança que o mercadismo promoveu, em propaganda e atos.
Paul Krugman chamou a coisa de "desprivatização". O economista de Harvard, da "esquerda" americana, é colunista do "New York Times" (no Brasil, Krugman seria "ortodoxo", mas passemos). Escreveu em seu blog: "Prefiro que as pessoas não digam que Fannie e Freddie foram "nacionalizadas" [estatizadas]. Quer dizer, está basicamente certo, mas passa uma impressão errada".
Krugman lembra que a Fannie Mae era uma agência estatal criada em meio à Grande Depressão, em 1938, e privatizada em 1968. Acha que tais empresas não devem ser privadas. Por isso, diz meio sarcasticamente que elas foram "desprivatizadas". "Não é como o caso do governo britânico, que [no passado] tomou as siderúrgicas. É algo como despedir o pessoal da Blackwater [os mercenários contratados pelo governo dos EUA] e devolver a responsabilidade pela segurança dos diplomatas para os fuzileiros [marines]".
Bradford DeLong é outro economista reputado, professor de Berkeley. Foi subsecretário-assistente do Tesouro no governo Clinton. Em seu blog, DeLong duvida que o negócio de empacotar dívidas imobiliárias deva ser privado. Chama a "conservatorship" de estatização.
Gregory Mankiw também é de Harvard e autor de um popular livro-texto de introdução à macroeconomia. Foi presidente do Conselho de Assessoria Econômica de George Bush, filho. É ultraliberal, mas não se opôs à inevitável "conservatorship", que para ele resultou de um "takeover" (tomada de controle ou aquisição). Mas diz no seu blog que fica "entristecido toda vez que uma empresa que visa o lucro é socorrida, seja a Chrysler, o LTCM, o Bear Stearns ou a Fannie Mae e a Freddy Mac". É o argumento tradicional: socorro para falidos (e para quem tem negócios com eles) é um incentivo ao risco irresponsável.
O governo "conservator" será dono de Fannie Mae e Freddie Mac. Vai emprestar dinheiro às empresas a 10% ano (caro, mas menos que bancos estão pagando na praça). Vai fazer dívida pública a fim de financiar a comprar títulos lastreados em prestações imobiliárias (os ativos dessas empresas) e não vai vender tais papéis no mercado a fim de evitar que percam ainda mais valor, tentando conter assim o aumento do buraco em bancos e fundos.
Difícil imaginar outra saída. Dir-se-á que os donos dos negócios socorridos estão sendo expelidos do controle ou vendo suas ações virarem pó (mas não é o caso do seguro grátis que o Fed dá para os papéis podres dos bancos, que servem de garantia para empréstimos oficiais).
Mas tais negócios já não valiam nada. O dinheiro grosso foi feito durante a festa e ficou com os convidados, que não pagam o seguro implícito, fornecido pelo Estado e que limpa a sujeira. Não é, óbvio, o caso de jogar o mercado fora, mas de dar cabo da gororoba ideológica do mercadismo.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinhei ... 200809.htm
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
- Fernando Silva
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
user f.k.a. Cabeção escreveu:
O sofisma esta em acreditar que a imperfeicao do livre mercado poderia ser corrigida por alguma intervencao cirurgica do governo. Nao. O governo distorce e destroi a informacao que o mercado transmitiria imperfeitamente. Ele faz algo muito pior portanto. O mercado tem seus proprios mecanismos de auto-correcao, que no longo prazo produzem algo mais racional e organizado, e consequentemente mais adequado as expectativas de todos os participantes. A unica coisa que o governo consegue fazer e atrapalhar esse processo de ajustamento com alguma medida que alegrara alguns grupos de poder e enganara o resto com um discurso demagogico e pernicioso.
O PROER, no Brasil, evitou uma falência em série dos bancos grandes. Foi necessário para evitar que a economia fosse para o buraco.
Já os bancos pequenos são liquidados a toda hora e a notícia sai na página 38 dos jornais. Danem-se os depositantes.
O que o governo americano tentou fazer foi a mesma coisa. A diferença é que lá o tamanho do problema é muito maior. O sistema inteiro está comprometido. Não é uma crise pontual.
Discordo quanto à afirmação de que intervenções do governo sempre atrapalham. Às vezes, elas podem ser necessárias. Um exemplo é a agricultura: se os agricultores não tiverem dinheiro para plantar, o governo tem que financiá-los. Deixar que quebrem todos e não haja produção de alimentos é inaceitável.
Além disto, do jeito que as coisas funcionam, o sistema econômico não é totalmente independente: o governo interfere e regula as coisas o tempo todo. Aliás, se não o fizer, as empresas o farão - e o fazem, através de entidades de classe e coisas assim, mas, já que o governo regula e cobra impostos - e deve fazê-lo - também se torna responsável por intervir quando o estrago ameaça ser grande demais.
Mal comparando, é como deixar que os aviões caiam e matem os passageiros até que as empresas aéreas aprendam a trabalhar direito.
Algumas coisas simplesmente têm que ser feitas.
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Fernando Silva escreveu:O PROER, no Brasil, evitou uma falência em série dos bancos grandes. Foi necessário para evitar que a economia fosse para o buraco.
A nao ser que a sua definicao de economia seja o lucro dos grandes banqueiros ja estabelecidos, voce esta errado.
O governo nao salvou economia coisissima nenhuma. Se um banco, pequeno ou grande, falir, e verdade que muita gente perde dinheiro. Mas isso tambem e verdade se ele for impedido de falir.
Um banco cheio de dividas tera que usar seu capital para paga-las e provavelmente encerrara suas atividades, com perdas substanciais para os correntistas e com transferencia do ativo circulante para outras instituicoes que se encarregarao de administra-lo, pagando uma parte do seu passivo.
Muitas capas de jornal sairiam dizendo das familias que "teriam sido destruidas" porque o governo nao ajudou o banco a segurar a onda.
Contudo, se essa divida for segurada pelo governo, os acionistas e correntistas do banco em questao nao perdem muito dinheiro, e podem ate ganhar algum. Mas isso nao significa que houve saldo positivo, se nao, tinhamos uma panaceia prontinha: o governo segurava a divida de todo mundo e todo mundo ganhava.
O que o governo fez foi transferir na forma de impostos e inflacao a divida daquele banco para um monte de gente que nao tinha nada a ver com a historia. Nao eram empresarios inescrupulosos, nao eram correntistas desatentos, eram apenas contribuintes que por ventura habitavam o mesmo pais e estavam sujeitos ao mesmo governo dos que estavam com a corda no pescoco. Esses bancaram a cagada feita por outras pessoas.
Agora se sair por ai dizendo que e uma grande ideia economica transferir custos para pessoas que nao tem nada a ver com os lucros; provavelmente mandariam te internar. Mas e essencialmente isso e metade daquilo que o governo faz. A outra metade consiste em transferir as responsabilidades e tomadas de decisao para pessoas que nao vao arcar com os eventuais erros.
Fernando Silva escreveu:Já os bancos pequenos são liquidados a toda hora e a notícia sai na página 38 dos jornais. Danem-se os depositantes.
Foi exatamente isso que eu quis dizer com a questao politica.
A midia vai gritar quando um banco enorme falir e arrastar com ele um monte de correntistas e outros clientes. Todo mundo percebe bem quando um banco quebra e quando as pessoas ligadas a ele perdem dinheiro, qualquer jornalista pangare pode escrever um artigo a respeito.
O que as pessoas nao percebem e que o governo nao inventa riqueza, isso nao funciona. Ele toma de outras pessoas. Se as dividas de alguem sao pagas ou prolongadas com o erario, os contribuintes e que arcaram com os custos. So que os jornalistas pangares nao vao colocar isso na primeira pagina. Normalmente o que os contribuintes pagaram nao foi tanto a ponto de leva-los diretamente a bancarrota, entao se milhoes deles foram ligeiramente esfolados, nao ha muito teor apelativo na noticia.
Grupos bem organizados com interesses bem definidos sao muito mais eficazes do que contribuintes esparsos e pouco informados sobre como estao sendo explorados para financiar aqueles banqueiros que normalmente sao muito mais ricos que eles.
Fernando Silva escreveu:O que o governo americano tentou fazer foi a mesma coisa. A diferença é que lá o tamanho do problema é muito maior. O sistema inteiro está comprometido. Não é uma crise pontual.
O que o governo americano esta fazendo e o que normalmente se faz numa crise do intervencionismo: aumenta-se a dose de intervencionismo.
O problema parecera resolvido, pois ele tera sido transferido para um monte de gente que nao aparece em capas de jornal. Mas o efeito cumulativo e sempre pior, e a licao moral nao e aprendida. Os responsaveis pela crise continuarao a fazer as mesmas coisas que levaram a situacao atual, enquanto puderem transferir os custos para os outros.
Todo o alvoroco que a midia esquerdista esta fazendo e porque nesse episodio eles encontraram uma oportunidade de criticar o mercado: as empresas eram "privadas", houve especulacao da parte de capitalistas, etc, etc.
Alguem destreinado em economia ate pode cair na labia esquerdista, mas nao quem realmente tem uma ideia correta de como as coisas funcionam. As empresas de hipoteca eram patrocinadas pelo Estado e este autorizava-as a praticarem taxas mais baixas que as de mercado, fazendo-as acumular um passivo monstruoso, ate o momento em que a desconfianca na capacidade de financiamento superou a histeria dos precos baixos.
O Estado produziu a crise ao estimular capitalistas a errarem seus calculos economicos e avaliacoes de risco e capacidade de endividamento. Na cabeca doente do socialista, tudo que o capitalista faz se chama livre mercado. Ele nao percebe que o governo pode interferir e tornar interessante (temporariamente) para o capitalista fazer coisas que ele nao faria se tivesse que obedecer ao livre mercado e as leis da concorrencia e da escassez.
O capitalista nao e um agente do livre mercado, ele e alguem procurando formas de investir seu capital e ter lucro. Se o governo cria meios artificiais para que alguns capitalistas tenham lucro, gerando uma serie de distorcoes no longo prazo, eles farao exatamente o que o governo quer.
Fernando Silva escreveu:Discordo quanto à afirmação de que intervenções do governo sempre atrapalham. Às vezes, elas podem ser necessárias. Um exemplo é a agricultura: se os agricultores não tiverem dinheiro para plantar, o governo tem que financiá-los. Deixar que quebrem todos e não haja produção de alimentos é inaceitável.
Se os agricultores nao tiverem dinheiro para plantar, alguem com dinheiro e capacidade administrativa plantara no lugar deles. Acreditar que todos vao quebrar e o tipo de alarmismo que nao tem nenhum fundamento.
O que o governo faz com subsidios a agricultura e exatamente aquilo que eu disse que o governo sempre faz: financia as perdas de agriculturoes incompetentes e de terras submarginais com o dinheiro do contribuinte. Isso nao so o governo brasileiro, mas de praticamente todos os paises.
Hong kong nao precisa plantar um grao para ter comida suficiente para toda a populacao. O mesmo vale para Cingapura.
No resto do mundo, o lobby dos agricultores descobriu que pode-se lucrar muito mais investindo em politica do que investindo em equipamentos, terras e tecnicas de plantio.
E simplesmente um devaneio acreditar que se o governo parar de "investir" na agricultura o mundo morrera de fome. Isso e um insulto a inteligencia de todo mundo que nao e um burocrata nem um burocratofilo. As pessoas produzem as coisas nao porque burocratas mandam, mas porque sabem que precisam ou precisarao delas. A mais importante dessas coisas e comida.
Fernando Silva escreveu:Além disto, do jeito que as coisas funcionam, o sistema econômico não é totalmente independente: o governo interfere e regula as coisas o tempo todo. Aliás, se não o fizer, as empresas o farão - e o fazem, através de entidades de classe e coisas assim, mas, já que o governo regula e cobra impostos - e deve fazê-lo - também se torna responsável por intervir quando o estrago ameaça ser grande demais.
Voce tocou num ponto importante. As coisas que precisam ser reguladas serao, com ou sem governo. A diferenca e que o governo nao tem nenhum incentivo importante para regulara as coisas direito, alocando custos e beneficios para as pessoas envolvidas. Ao contrario, o governo cria regulamentos para que os mais mobilizados politicamente vivam as custas dos menos mobilizados politicamente.
E o socialismo dos ricos.
Fernando Silva escreveu:Mal comparando, é como deixar que os aviões caiam e matem os passageiros até que as empresas aéreas aprendam a trabalhar direito.
A sua analogia e toda errada.
O governo nao pode fazer nada para impedir os avioes de cairem. Alias, ele muitas vezes esta mais para ser o principal responsavel pela queda, como nos recentes casos de acidentes aereos de grandes proporcoes no Brasil.
A tarefa que o governo faz de administracao e manutencao dos aeroportos, fiscalizacao das aeronaves e controle de trafego pode ate ser importante, mas nao tem a mais minima necessidade de ser proporcionada pelo Estado. O Estado apenas monopoliza algo que poderia ser muito melhor realizado pela iniciativa privada.
Quanto ao que voce tenta relacionar, o governo ate pode salvar uma empresa e seus clientes da falencia, mas sera as custas de outras pessoas nao envolvidas em suas dividas, negociatas e privilegios. Seria como salvar um aviao de uma queda matando pessoas que nele nao embarcaram. Nao faz sentido.
Fernando Silva escreveu:Algumas coisas simplesmente têm que ser feitas.
Esse tipo de slogan e muito conveniente para o discurso de demagogos, que querem aparecer diante dos outros como salvadores da patria. Mas resiste muito pouco a um exame mais serio.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem
Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Eis aqui mais dois artigos bastante esclarecedores. Livre mercado, como se pode constatar, é algo que não há e nunca houve no setor imobiliário americano.
Este de http://www.ocapitalista.com/2008/03/capitalismo-em-crise.html
Este do Ordem Livre. Artigo completo: http://www.ordemlivre.org/node/371
Este de http://www.ocapitalista.com/2008/03/capitalismo-em-crise.html
[...]
Um contrato de empréstimo envolve a incerteza de que quem tomou o dinheiro emprestado será capaz de pagar sua dívida. Alguns conseguirão pagar sua dívida, outros não. Quem empresta dinheiro no Capitalismo, portanto, precisa incluir nas taxas que pratica uma margem para cobrir este risco. Este “extra” cobre as perdas com os inadimplentes. Quanto mais incerto o pagamento, maior a taxa praticada.
Assim, em uma economia Capitalista, o custo de tomar dinheiro emprestado é diretamente relacionado com o risco de não conseguir pagar. No caso de financiamento imobiliário o próprio imóvel é usado como garantia de pagamento, este risco é significativamente reduzido. Caso o devedor não consiga pagar, o credor pode tomar o imóvel para cobrir toda ou parte da dívida.
Esta relação entre risco e custo do empréstimo existe, portanto, porque quem empresta o dinheiro está correndo o risco de não recebê-lo de volta. Se o financiador subestimar o nível de inadimplência, terá prejuízo. Em um ambiente Capitalista, cada um corre os riscos que quiser com sua propriedade – e arca sozinho com as conseqüências dos seus erros.
A crise imobiliária
Nos Estados Unidos, no entanto, não é isto que acontece. O governo americano, através de mecanismos de incentivo à habitação, provê empréstimos a milhões de americanos a taxas abaixo do mercado. Menos do que o real custo financeiro do empréstimo somado ao valor adicional que teria de ser cobrado para cobrir o risco de não pagamento da dívida.
O governo só pode fazer isto por ter uma fonte de riqueza que independe de seu sucesso em recuperar o dinheiro que empresta: os impostos. Em outras palavras, o governo americano toma à força dinheiro de cidadãos inocentes e usa para oferecer a outros americanos empréstimos imobiliários a preços que não garantem o retorno do dinheiro investido.
Oferecer empréstimos artificialmente baratos através de programas de incentivo não é a única coisa que o governo americano faz com a riqueza que toma de seus cidadãos. Como os grandes bancos e empresas de financiamento imobiliário são “essenciais para o país”, o governo se coloca como garantidor destas instituições – estando sempre pronto a salvá-las quando se encontram em dificuldade.
Por exemplo, foram colocados à disposição do grupo JP Morgan 30 bilhões de dólares do governo para cobrir eventuais perdas com a recente compra da Bear Sterns, falida por seus negócios no mercado de financiamento imobiliário.
Se o governo oferece empréstimos abaixo de seu real custo mais pessoas buscarão estes empréstimos – assim como quando se abaixa o preço de qualquer outro produto ou serviço. É evidente também que esta demanda adicional por empréstimos é de pessoas que têm maior risco de não pagar suas obrigações. São exatamente aquelas pessoas para quem, sem a intervenção do governo, o empréstimo seria caro demais.
O ciclo vicioso
Esta demanda adicional tem efeitos imediatos e efeitos de longo prazo. O efeito imediato é aumentar a demanda por imóveis. Todo o contingente adicional que passa a ter acesso a financiamento imobiliário pela intervenção do governo vai buscar casas para comprar, o que necessariamente eleva o preço dos imóveis.
Como os próprios imóveis são a garantia dos empréstimos, quem empresta dinheiro enxerga esta valorização como uma redução de risco. Afinal se o devedor não pagar, ele poderá tomar o imóvel valorizado como pagamento.
O aumento do preço dos imóveis, causado pelo dinheiro fácil do governo, faz com que todo o mercado de empréstimo reduza sua percepção de risco. Esta redução diminui ainda mais o custo dos empréstimos, o que aumenta mais a demanda por imóveis e aumenta ainda mais seus preços.
Este é o mecanismo da chamada “bolha imobiliária”. Se o governo não estivesse continuamente injetando no mercado dinheiro roubado, não existiria a demanda artificial que sustenta o ciclo vicioso. Sem a fonte milagrosa de dinheiro fácil que são os impostos, o ciclo nunca teria começado. Como se pode ver, a bolha não resulta do Capitalismo, resulta da falta de respeito ao direito de propriedade. Da falta de Capitalismo.
Mas o problema não pára aí. Como o governo americano, além de tudo, está sempre pronto para salvar os grandes bancos e financeiras “para o bem de todos”, estas empresas têm um enorme incentivo a correr riscos. Enquanto a bolha persiste, elas ganham fortunas, quando a bolha estoura o governo as salva através de empréstimos de “pai para filho” de centenas de bilhões de dólares.
O estouro da bolha
A crise atual se iniciou quando as condições de mercado levaram a uma queda dos valores de imóveis, apesar de toda a interferência governamental no sentido contrário. Os financiadores, que contavam com a valorização dos imóveis em suas estimativas de risco, aumentaram suas taxas. Este aumento de taxas levou a um aumento da inadimplência, e conseqüentemente mais imóveis sendo retomados para saldar as dívidas. Ao serem colocados no mercado, estes imóveis retomados contribuem para baixar mais os preços.
Em resumo, quando o mercado percebeu que a bolha existia, o ciclo passou a operar na outra direção – desvalorização dos imóveis, aumento das taxas, mais devedores inadimplentes levando à execução de dívidas e mais desvalorização dos imóveis.
Este do Ordem Livre. Artigo completo: http://www.ordemlivre.org/node/371
Carta aberta aos meus amigos de esquerda
[...]
Chamar a crise do crédito e da habitação de falha do livre mercado ou produto da cobiça exagerada é ignorar diversas regulamentações governamentais, políticas e discursos políticos que reduziram a “liberdade” desse mercado e que canalizaram o interesse próprio de maneiras que produziram conseqüências desastrosas, intencionalmente ou não. Deixem-me recapitular rapidamente o papel do governo nessa pequena novela.
Em primeiro lugar, Fannie Mae e Freddie Mac foram empreendimentos “patrocinados pelo governo”. Embora fossem, tecnicamente, propriedade privada, possuíam privilégios especiais, garantidos pelo governo, eram supervisionados pelo Congresso e, o que é mais importante, sempre trabalharam com a promessa de que receberiam ajuda financeira caso tivessem problemas. Nada parecido com o “livre mercado”. Todos os participantes do mercado de financiamentos imobiliários sabiam disso desde o início. No começo dos anos 1990, o Congresso afrouxou as exigências para empréstimos de Fannie e Freddie (para um quarto do capital exigido pelos bancos comerciais comuns) a fim de aumentar a sua capacidade de conceder empréstimos em áreas pobres. O Congresso criou também uma agência regulatória para supervisioná-los, mas essa agência também deveria recredenciar-se junto ao Congresso anualmente para obter o seu orçamento (nenhuma outra agência reguladora faz o mesmo), certificando-se que diria ao Congresso exatamente o que ele gostaria de ouvir: “as coisas estão indo bem.” Em 1995, foi concedida a Fannie e Freddie uma permissão para entrar no mercado subprime e os reguladores começaram a agir contra os bancos que não realizavam empréstimos suficientes em áreas com problemas de crédito. Foram feitas inúmeras tentativas de controlar Fannie e Freddie, mas o Congresso não tinha votos suficientes para fazer isso, especialmente com as duas organizações fazendo contribuições significativas a membros de ambos os partidos. Em 1999, até mesmo o New York Times percebeu exatamente o que poderia acontecer graças a esse mercado nem um pouco livre, advertindo sobre a necessidade de ajudar Fannie e Freddie caso o mercado imobiliário entrasse em crise.
O que complicou ainda mais as coisas foi a revisão, realizada em 1994, da Lei de Reinvestimento Comunidário (CRA), de 1971. A CRA exige que bancos concedam uma determinada porcentagem de seus empréstimos às comunidades locais, principalmente aquelas menos favorecidas economicamente. Além disso, o Congresso explicitamente incentivou Fannie e Freddie a expandir seu nível de empréstimos a mutuários com “crédito marginal” como forma de popularizar a casa própria. O resultado da soma de todos esses fatores foi a criação de enormes lucros e incentivos políticos para os bancos e a concessão cada vez maior de empréstimos de alto risco a mutuários de baixa renda por Fannie e Freedie. Apesar de bem intencionada, a tentativa de transformar mais americanos em proprietários de imóveis, obrigando bancos a tomar parte nela e reduzindo artificialmente os custos dessa ação, é parte considerável do embaraço em que nos encontramos agora.
Ao mesmo tempo, os preços dos imóveis subiam, fazendo com que aqueles que tinham conseguido empréstimos altos com pagamentos suaves sentissem que poderiam pagá-los, e inspirando uma grande variedade de “instrumentos de financiamento”. O que é mais interessante é que o aumento nos preços afetou mais decisivamente as cidades com regulamentações mais estritas em relação ao uso da terra, o que também explica o fato de que nem todas as cidades foram afetadas pelo mesmo nível de aumento no preço de imóveis. Essas regulamentações evitaram que alguns tipos de espaço fossem utilizados para a construção de moradias, empurrando a crescente demanda por habitação (turbinadas pelas considerações acima) para uma oferta de terras que respondia lentamente aos estímulos. O resultado foi um rápido aumento nos preços. Naquelas áreas com regulamentações menos exigentes em relação ao uso da terra, o efeito da explosão no preço dos imóveis foi muito menor. Repetindo, foi a regulamentação, não o livre mercado, que guiou a busca pelo lucro e foi um fator importante para o aumento do preço dos imóveis que alimentou a farra dos empréstimos.
Enquanto isso tudo acontecia, o Fed (o Banco Central), nominalmente privado, mas que tem grandes privilégios monopolísticos garantidos pelo governo, inflava o crédito e reduzia seguidamente a taxa de juros. Esse influxo de crédito alimentou ainda mais os empréstimos desenfreados. Com uma abundante disponibilidade de fundos, graças ao monopólio gente-boa do banco central (nada a ver com o livre mercado), os bancos podiam continuar a conceder empréstimos cada vez mais arriscados.
O que acontece no ultimo capítulo dessa história é que em 2004 e 2005, logo após os escândalos contábeis de Freddie, ambas as empresas se penitenciaram por seus erros no Congresso concordando em expandir seu nível de empréstimos a consumidores de baixa renda. Ambas concordaram em adquirir quantidades maiores de subprime e empréstimos Alt-A, dando sinal verde para os bancos concederem-nos. De 2004 a 2006, a porcentagem de empréstimos das categorias de maior risco cresceu de 8% para 20% de todos os empréstimos concedidos nos Estados Unidos. E a qualidade desses empréstimos também caía: o número de quitações antecipadas caía progressivamente e um número cada vez maior de empréstimos possuía uma pequena taxa de juros no início, mas que seriam corrigidas mais tarde. Os bancos aceitavam mutuários de risco, mas sabiam que Fannie e Freddie comprariam, seguramente, esses empréstimos; garantidos – claro – por nós, que pagamos impostos. Sim, os bancos foram gananciosos na busca de novos clientes e da concessão de empréstimos mais arriscados, mas eles estavam respondendo a incentivos criados pelas bem intencionadas, mas equivocadas, intervenções governamentais. No fim das contas, essas intervenções são as responsáveis pelos empréstimos arriscados que foram mal sucedidos e que estão no centro da crise atual – não o “livre mercado.”
Assim, a confusão em que estamos está irremediavelmente ligada à interferência governamental sobre o livre mercado, do fomento do Fed à CRA e às regulamentações sobre o uso do solo, até Fannie e Freddie criando um mercado artificial de financiamentos de risco para satisfazer as demandas do Congresso de aumentar as oportunidades de as famílias de baixa renda adquirirem um imóvel. Graças a essa intervenção, muitas dessas famílias não apenas perderam suas casas, mas também a poupança que poderiam ter guardado por mais alguns anos e que talvez lhe ajudassem a contrair um empréstimo menos arriscado ou encontrar uma casa mais barata. Todas essas intervenções no mercado criaram o incentivo e os meios para os bancos lucrarem com a concessão de empréstimos que nunca teriam existido em um mercado verdadeiramente livre.
Vale a pena notar que essas políticas, regulamentações e intervenções foram, em geral, totalmente apoiadas pelos interesses dos indivíduos envolvidos. Fannie e Freddie ganharam bilhões enquanto o preço das casas subia e seus CEOs recebiam generosos salários. O mesmo aconteceu com vários bancos e outros intermediários no mercado de financiamentos que ajudaram a espalhar o risco que estava em jogo, inclusive aqueles que desenvolveram diversos tipos de instrumentos financeiros novos, criados para lidar com o elevado risco de inadimplência que a intervenção gerou. Estavam participando de um jogo maravilhoso e o mercado financeiro estava feliz em ter Fannie e Freddie como compradores vorazes de seus empréstimos de risco, sabendo que os dólares dos contribuintes americanos estariam sempre lá que precisassem. A história das regulamentações comerciais nos Estados Unidos é a história das empresas utilizando as regulamentações para seus próprios propósitos, independentemente da aura de interesse público que lhes envolve. Foi exatamente isso que aconteceu no mercado imobiliário. E é também por isso que os clamores por mais regulamentações e mais intervenções são tão equivocados: elas não funcionaram antes e não funcionarão novamente porque aqueles que têm os lucros em risco são os mesmo que possuem os recursos e o acesso ao poder necessários para garantir que o jogo seja manipulado a seu favor.
Meus amigos, sei que vocês estão preocupados com o poder das corporações. Eu também estou. Como também estão muitos dos meus colegas, economistas, defensores do livre mercado. Nós simplesmente acreditamos, e acho que a história está do nosso lado, que a melhor arma contra o poder das corporações é o mercado competitivo e o poder dos dólares dos consumidores (limitado, claro, pela proibição legal do uso da força e da fraude). A competição faz as corporações sujas e más competirem umas com as outras para nos servirem. Sim, elas ainda têm poder, mas os seus poderes negativos são reduzidos. É quando as corporações podem utilizar o Estado para manipular as regras a seu favor que os efeitos negativos de seu poder se tornam exagerados, precisamente porque elas têm a força do Estado a lhes dar cobertura. A confusão atual demonstra isso como nunca antes, uma vez compreendido o grande papel que o Estado desempenhou. Se você realmente deseja reduzir o poder das corporações, não lhes conceda acesso ao Estado, expandindo seus poderes regulatórios. É exatamente isso que elas querem, como a batalha pelos 700 bilhões de dólares demonstra claramente.
É por isso que tantos entre nós, defensores do livre mercado, se opõem ao socorro financeiro governamental. Esse é mais um exemplo de uma longa história do setor privado tentando enriquecer através do Estado. Quando isso acontece, não há benefícios para nós, diferentemente do que acontece quando as empresas tentam enriquecer no mercado competitivo. Além disso, essas mesmas empresas se beneficiaram enormemente das intervenções regulatórias que elas apoiaram e que nos causaram tantos danos. O eventual estouro da bolha e suas perdas subseqüentes são, para muitos de nós, um prêmio justo para aqueles que manipularam o jogo e no fim das contas acabaram sendo pegos. Recompensá-los novamente por terem manipulado o jogo não é apenas moralmente injusto, é também uma política econômica muito ruim, já que envia uma mensagem para outros possíveis manipuladores, que eles também serão recompensados por destruírem a economia americana. Haverá problemas em curto prazo se não socorrermos essas empresas, mas essa é a ressaca que teremos depois 15 anos ou mais de empréstimos desenfreados. O socorro proposto não poderá evitar as dores da ressaca; poderá apenas ocultá-las, espalhando as dores entre os contribuintes e uma economia enfraquecida pelos empréstimos, pelos impostos e/ou pela inflação necessárias para de pagar os US$ 700 bilhões. É melhor que enfrentemos logo nossa dor em curto prazo e limpemos assim os erros causados por nossos exageros, e então voltemos às negociações no livre mercado, sem criarmos um poder executivo monstruoso, tentando “salvar” aqueles que mais lucraram com aqueles mesmos exageros, além de causar danos aos pagadores de impostos nesse processo.
O que eu peço a vocês, meus amigos da esquerda, não é apenas continuar a trabalhar junto conosco na oposição a esse ou a qualquer outro bailout, mas que considerem atenciosamente se vocês realmente desejam confiar à mesma entidade, que é a causa predominante dessa crise, o poder de tentar curá-la. Novos poderes regulatórios podem parecer ser a solução, mas foi exatamente isso que as pessoas disseram quando a CRA foi aprovada, ou quando foram dados novos mandatos à Fannie e Freddie. E as próprias empresas que serão reguladas serão as primeiras na fila para determinar como essas regulamentações serão escritas e aplicadas. Vocês podem apostar em como o jogo vai ser manipulado.
Eu sei que vocês tendem a pensar que os problemas com essas regulamentações são culpa dos indivíduos que as formulam. Você pensa que se Obama pudesse vencer, se nós pudéssemos nos livrar dos republicanos corruptos e colocássemos pessoas éticas e bem intencionadas em seu lugar, tudo ficaria bem. Mas pense novamente. Em primeiro lugar, quase toda intervenção governamental que serviu de base para essa crise foi implementada com os democratas na presidência ou no controle do Congresso. Mesmo quando os republicanos controlavam o Congresso, o presidente Clinton conseguiu mudar as regras para permitir que Fannie e Freddie entrassem no mercado de empréstimos de alto risco. O que defendo aqui não é colocar a culpa da crise atual nos democratas. Essa culpa deve ser dividida igualmente. O que estou dizendo é que esperar que se as “pessoas certas” evitarão esses problemas ao assumir o poder é, além de ingenuidade, uma cegueira histórica. Em relação ao interesses corporativos, eles foram ajudados, talvez sem querer, por tentativas bem intencionadas de pessoas boas de fazer o bem. O problema é que havia um grande número de conseqüências indesejáveis, a maioria delas previsíveis e já previstas. Não importa qual partido esteja comandando o navio: as regulamentações trazem consigo conseqüências inesperadas e sempre tenderão a ser capturadas pelos interesses daqueles que têm mais a perder. E a história está cheia de casos em que aqueles que têm propósitos morais ou ideológicos alinham-se politicamente com aqueles cujos interesses materiais estão em risco, mesmo que os dois grupos, em geral, coloquem-se em lados distintos. Esse é o famoso fenômeno dos “contrabandistas e batistas”.
Se vocês chegaram até aqui, já estou satisfeito. Aceitando ou não todos os argumentos que escrevi, peço-lhes uma coisa: a história que contei no começo, sobre o papel da intervenção governamental nessa confusão, é verdadeira, seja quais forem as suas grandes conclusões sobre suas causas e curas. Mesmo que vocês não concordem com meu argumento de que mais regulamentação não seria a cura, a atribuição dessa crise ao “livre mercado” deveria soar para vocês como uma mentira evidente e eu esperaria que vocês parassem de fazer essa afirmação ao falar ou escrever sobre os acontecimentos das últimas duas semanas. Podemos discordar de boa fé sobre o que fazer agora, e podemos discordar de boa fé sobre até que ponto as intervenções governamentais causaram os problemas, mas é injusto culpar um inexistente livre mercado por uma crise que foi de certa forma resultado das sistemáticas intervenções governamentais no mercado. Então, caso não tenha conseguido persuadi-los de nada mais, espero sinceramente que eu tenha-lhes persuadido nesse ponto.
No fim das contas, tudo que lhes peço é que continuem pensando nisso. Utilizar a cobiça para explicar essa crise não levará muito longe, já que a cobiça, como a gravidade, é constante no mundo. A explicação da crise como uma falha do mercado confrontará uma verdade óbvia: que esses mercados estavam longe de estar livres da influência governamental. Considerem que vocês possam estar enganados. Considerem que talvez a intervenção governamental, e não o livre mercado, tenha levado aqueles que buscam o lucro a exercer atividades que causam danos à economia. Considerem que a intervenção governamental pode ter levado bancos e outras organizações a assumir riscos que nunca deveriam ter assumido. Considerem que os bancos centrais governamentais são as únicas organizações capazes de alimentar esse fogo com o excesso de crédito. E considerem que as diversas regulamentações podem ter forçado os bancos a fazerem maus empréstimos e aumentado artificialmente o preço dos imóveis. Por fim, considerem que os atores do setor privado estão felizes, apoiando intervenções e regulamentações como essas, por serem lucrativas.
Nós, que apoiamos o livre mercado, não somos os seus inimigos agora. O problema real aqui é o casamento entre o poder corporativo e o poder estatal. Esse é o corporativismo ao qual nós dois nos opomos. Eu só lhes peço que considerem se esse corporativismo não seria a causa real dessa crise, e que depois vocês reconsiderem se o livre mercado seria a sua causa e se o aumento da regulamentação seria a sua solução.
Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Para quem quiser entender a crise americana e a lógica por trás do pacotão do Paulson, eu sugiro estes 2 artigos do ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, Alexandre Schwartsman:
http://maovisivel.blogspot.com/2008/09/ ... crise.html
http://maovisivel.blogspot.com/2008/10/ ... a-foi.html
Esta crise é um subproduto dos problemas de regulação financeira nos EUA. O governo falhou na regulação e na fiscalização. Do outro lado, em vez de provisionar recursos para eventuais perdas, as instituições financeiras criaram os SIVs, que empacotavam dívidas potencialmente inadimplentes e foram espalhados pelas carteiras dos investidores globais. Tudo isso sem contar nos balanços contábeis destas instituições. Isto é apenas UMA das muitas estruturas fora do alcance dos órgãos reguladores e fiscalizadores. Por isso que muitos apontam que esta crise também teve origem no acordo de Basiléia 2. O acordo gerou incentivos para os bancos esconderem suas falcatruas. E como disse o Alexandre no segundo artigo: "Não por acaso, onde regulação e fiscalização foram mais adequadas, os efeitos da crise têm sido muito menores."
E quem fala que o pacote de Paulson é uma simples troca de ativos podres dos bancos por títulos públicos é um sem-noção que não simplesmente não entende o que está em jogo. O que está em jogo não é um jogo de soma zero com a salvação de bancos às custas de contribuintes que iriam evitar perdas se nada fosse feito. Se deixar os bancos quebrarem, isso aqui vai ocorrer:
"Já o custo de não fazer nada (ainda sob a hipótese de valor zero) seria uma redução adicional de US$ 700 bilhões do capital dos bancos. Bancos, porém, ofertam crédito como um múltiplo de seu patrimônio (a famosa “alavancagem”) e, portanto, a redução de crédito seria um múltiplo de US$ 700 bilhões. Supondo (conservadoramente) uma alavancagem de 10 vezes, falamos de uma contração de US$ 7 trilhões, algo como 50% do PIB. Não é preciso muito para concluir que os EUA podem passar por uma recessão bíblica, mesmo se os bancos sobrevivessem para contar a história."
http://maovisivel.blogspot.com/2008/09/ ... crise.html
http://maovisivel.blogspot.com/2008/10/ ... a-foi.html
Esta crise é um subproduto dos problemas de regulação financeira nos EUA. O governo falhou na regulação e na fiscalização. Do outro lado, em vez de provisionar recursos para eventuais perdas, as instituições financeiras criaram os SIVs, que empacotavam dívidas potencialmente inadimplentes e foram espalhados pelas carteiras dos investidores globais. Tudo isso sem contar nos balanços contábeis destas instituições. Isto é apenas UMA das muitas estruturas fora do alcance dos órgãos reguladores e fiscalizadores. Por isso que muitos apontam que esta crise também teve origem no acordo de Basiléia 2. O acordo gerou incentivos para os bancos esconderem suas falcatruas. E como disse o Alexandre no segundo artigo: "Não por acaso, onde regulação e fiscalização foram mais adequadas, os efeitos da crise têm sido muito menores."
E quem fala que o pacote de Paulson é uma simples troca de ativos podres dos bancos por títulos públicos é um sem-noção que não simplesmente não entende o que está em jogo. O que está em jogo não é um jogo de soma zero com a salvação de bancos às custas de contribuintes que iriam evitar perdas se nada fosse feito. Se deixar os bancos quebrarem, isso aqui vai ocorrer:
"Já o custo de não fazer nada (ainda sob a hipótese de valor zero) seria uma redução adicional de US$ 700 bilhões do capital dos bancos. Bancos, porém, ofertam crédito como um múltiplo de seu patrimônio (a famosa “alavancagem”) e, portanto, a redução de crédito seria um múltiplo de US$ 700 bilhões. Supondo (conservadoramente) uma alavancagem de 10 vezes, falamos de uma contração de US$ 7 trilhões, algo como 50% do PIB. Não é preciso muito para concluir que os EUA podem passar por uma recessão bíblica, mesmo se os bancos sobrevivessem para contar a história."
Editado pela última vez por Huxley em 08 Out 2008, 12:32, em um total de 2 vezes.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes
Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Artigo 1:
Pensamentos esparsos sobre a crise
“Caio disse:
Alex você não acha que existe limites para intervenção estatal na economia?
O tesouro pretende dar um trilhão de USD para os bancos com dinheiro do contribuinte, como os EUA não tem esse dinheiro vão ter que emitir títulos públicos aumentando a divida interna.Os erros foram cometidos pelo FED que colocou juros durante muito tempo baixo.1% ao ano,isso já era de se esperar.Erro de regulação não houve porque a economia americana é muito regulada.
Bernake tem que colocar o juros em 8% para desinflacionar a economia.Depois que a inflação baixa o juros cai e a economia volta a crescer.”
Caio:
Sim, há limites. Fora isto, tudo o mais, ou está errado, ou mostra que você ainda não entendeu o que está em jogo.
Há hoje basicamente duas alternativas: (1) deixar os bancos quebrarem; e (2) comprar os ativos podres dos bancos, ficar com eles e ver quanto valem no final.
No caso da alternativa (2), o Tesouro pede autorização para emitir US$ 700 bilhões (não é um trilhão, mas não está longe). Isto, porém, não é o custo para o contribuinte. O custo para o contribuinte é a diferença entre o quanto o Tesouro pagará pelos ativos e quanto recuperará no final. Se for zero, aí sim o custo será de US$ 700 bilhões, cerca de 5% do PIB americano.
O custo da alternativa (1) é desconhecido. Qual o impacto de uma crise sistêmica que atinja os bancos americanos, com fortes possibilidades de contágio de bancos europeus? Pensando apenas do ponto de vista de contração de crédito, se estes ativos valerem mesmo zero (assim posso comparar com a alternativa (2)), os bancos reduzirão seu capital em US$ 700 bilhões.
Supondo, conservadoramente, que a alavancagem seja 12:1 (nos bancos de investimento é muito maior), isto implicaria uma queda de crédito de US$ 8,4 trilhões, ou seja, 60% do PIB. Crédito nos EUA é algo da ordem de US$ 30 trilhões (pela casa de 200% do PIB); portanto, a redução do crédito ficaria entre 25-30%. Como você acha que a economia americana reagiria a uma contração do crédito desta ordem?
Claro, o impacto pode ser minorado pela recapitalização dos bancos, mas quem, em sã consciência, vai botar dinheiro em bancos nas atuais circunstâncias? Note também que isto não captura outros efeitos, por exemplo, o que a redução do nível de atividade por conta da contração de crédito causaria nos demais ativos (não imobiliários) dos bancos, como cartões de crédito, empréstimos estudantis, crédito ao consumo, etc. Não captura o efeito da queda do valor das ações sobre a demanda e muitos outros. Resumindo, podemos estar falando de uma recessão bíblica, com fogo, enxofre, ira divina, e tudo a que temos direito...
Se a contração do PIB (mais precisamente o valor presente do desvio do produto com relação ao seu potencial ao longo do período todo do impacto) passar de 5%, então a alternativa (2) é superior. Fim de papo.
Ou não. Há duas considerações que valem a pena.
Primeiro a questão do “moral hazard”. Obviamente resgate implica “moral hazard”, mas note que – pelo que foi discutido acima – não há como o governo se comprometer que NÃO fará resgates, porque há circunstâncias (e esta pode ser uma delas) em que a análise de curto prazo entre custos relativos indica que, sim, o governo deve resgatar para evitar o mal maior. Sabendo disso, há incentivos para o comportamento arriscado, o tal do “moral hazard” na crença que, se o problema for suficientemente grave, o governo NÃO terá alternativa. (Para quem gosta destas coisas, estamos diante de um problema de inconsistência temporal).
A solução é, obviamente, criar uma regulação que limite estes incentivos e uma fiscalização que garanta que a regulação é aplicada. Por este motivo, falar que a economia americana é excessivamente regulada é um erro, pelo menos no que tange o setor financeiro. A originação das hipotecas foi abaixo da crítica: falta de documentação, de comprovação de renda, o que quiser...
A existência de estruturas fora do balanço dos bancos (SIVs, SPCs, etc) e, portanto, fora da vigilância dos órgãos reguladores/fiscalizadores, é de doer em qualquer um que tenha trabalhado em órgãos semelhantes mundo afora (e eu não sou exceção).
Se isto falha, como falhou, a discussão de “moral hazard” em termos de salvar ou não salvar bancos vira brincadeira. A discussão real teria que ter ocorrido há muito, para não deixar a situação chegar aonde chegou. Quando chega neste ponto a capacidade de escolha desapareceu há muito, ou você acha que o Bernanke não conhece “moral hazard”?
A outra questão não tem a ver diretamente com a pergunta do Caio, mas com o plano em si. Qual é a relação entre o valor que os bancos receberão, o valor a que os papéis estão marcados e o capital dos bancos?
Caso os bancos recebam pelo valor a que os papéis estão marcados (presumivelmente a mercado, ou algo próximo, esperamos), ainda podem ficar abaixo da linha d’água no que se refere a capital, ou seja, em bom português, quebrados. O problema já deixou de ser liquidez e pode, sim, ser um problema de solvência. Como resolver depois do resgate? Chamam mais capital (sem resolver o problema de solvência)? O Tesouro entra como sócio?
Se receberem um valor acima do valor dos papéis, podem se salvar, mas até que ponto isto é subsídio ao acionista? Ou o governo faz apenas o suficiente para deixá-los na linha d’água e, a partir daí, buscarão novos acionistas (os acionistas originais perderão tudo, ou quase tudo, o que ajuda a limitar o problema de “moral hazard”). Idealmente esta parece ser a melhor alternativa (o custo também), mas precisa que a recapitalização venha logo.
Por fim, quanto à inflação americana, frente à queda de atividade que veremos à frente, em breve deixará de ser problema. Não precisa por o juro em 8% (aliás, de onde você tirou este número?).
Quer dizer, o problema é muito complicado para ser resolvido com frases feitas. Tem que pensar desde o começo.
Artigo 2:
O fim do que nunca foi
“Quando o Governo pede que paguem pelos erros de Wall Street, não parece justo” disse o presidente norte-americano, George Bush, enquanto pedia nada menos do que isto. Se reconhece a injustiça, por que, então, o governo americano, como tantos outros, enfrenta o custo econômico e político de se envolver numa operação complexa, quando poderia anunciar que se trata de problema privado, que caberia ao setor privado resolver?
A resposta é, até certo ponto, simples: o governo americano (mas não, aparentemente, o Congresso) acredita que o custo do resgate é inferior ao da alternativa. O plano envolveria a troca de US$ 700 bilhões de títulos públicos por papéis lastreados em hipotecas pertencentes aos bancos. Caso estes últimos valham zero (hipótese extrema, mas que ajuda a simplificar o raciocínio) o custo do resgate seria exatamente US$ 700 bilhões, ou cerca de 5% do PIB.
Já o custo de não fazer nada (ainda sob a hipótese de valor zero) seria uma redução adicional de US$ 700 bilhões do capital dos bancos. Bancos, porém, ofertam crédito como um múltiplo de seu patrimônio (a famosa “alavancagem”) e, portanto, a redução de crédito seria um múltiplo de US$ 700 bilhões. Supondo (conservadoramente) uma alavancagem de 10 vezes, falamos de uma contração de US$ 7 trilhões, algo como 50% do PIB. Não é preciso muito para concluir que os EUA podem passar por uma recessão bíblica, mesmo se os bancos sobrevivessem para contar a história.
Assim, justa ou injustamente, quando a situação chega aonde chegou, a verdade é que o governo deixa de ter opções: ou resgata o sistema financeiro, ou vive uma crise ainda maior. Obviamente, sabendo disto, bancos têm incentivos para se engajar em operações arriscadas: caso as apostas funcionem, ficam com os ganhos; caso percam, sabem que ao menos parte dos prejuízos será paga pela sociedade.
Estas circunstâncias envolvem temas complexos do ponto de vista teórico. Não apenas o governo não consegue se comprometer com uma promessa de não salvar os bancos como, por este motivo, gera incentivos errados em termos de atitudes com relação à tomada de risco. Por este motivo, a única alternativa que sobra ao poder público é não permitir que a situação chegue a este ponto e os instrumentos para isto são regulação e fiscalização, lição que há muito se sabe, mas que parece ter sido solenemente ignorada no caso em questão.
A crise que observamos hoje, portanto, tem origens mais prosaicas do que certos analistas parecem acreditar. Não resulta das “contradições inerentes ao capitalismo”, nem implica o fim do credo liberal. Resultou, sim, de uma regulação inadequada (que, por exemplo, admitiu que bancos mantivessem estruturas fora do seu balanço, além do alcance dos órgãos reguladores e fiscalizadores), e de fiscalização frouxa, aparente na queda dos padrões de análise de crédito, permitindo que famílias tomassem crédito além de sua capacitação. Não por acaso, onde regulação e fiscalização foram mais adequadas, os efeitos da crise têm sido muito menores.
E não é verdade, por fim, que a inevitável mudança de regulação/fiscalização que iremos testemunhar marque o fim do laissez-faire, pela simples razão que há muito não existe laissez-faire no sistema financeiro. Devido a problemas como os mencionados acima, não há sistema financeiro no mundo que não seja regulado. A questão não é, pois, saber se devemos regular o sistema financeiro, mas sim como desenhar a regulação para equilibrar benefícios da expansão de crédito e os riscos que esta acarreta.
Pensamentos esparsos sobre a crise
“Caio disse:
Alex você não acha que existe limites para intervenção estatal na economia?
O tesouro pretende dar um trilhão de USD para os bancos com dinheiro do contribuinte, como os EUA não tem esse dinheiro vão ter que emitir títulos públicos aumentando a divida interna.Os erros foram cometidos pelo FED que colocou juros durante muito tempo baixo.1% ao ano,isso já era de se esperar.Erro de regulação não houve porque a economia americana é muito regulada.
Bernake tem que colocar o juros em 8% para desinflacionar a economia.Depois que a inflação baixa o juros cai e a economia volta a crescer.”
Caio:
Sim, há limites. Fora isto, tudo o mais, ou está errado, ou mostra que você ainda não entendeu o que está em jogo.
Há hoje basicamente duas alternativas: (1) deixar os bancos quebrarem; e (2) comprar os ativos podres dos bancos, ficar com eles e ver quanto valem no final.
No caso da alternativa (2), o Tesouro pede autorização para emitir US$ 700 bilhões (não é um trilhão, mas não está longe). Isto, porém, não é o custo para o contribuinte. O custo para o contribuinte é a diferença entre o quanto o Tesouro pagará pelos ativos e quanto recuperará no final. Se for zero, aí sim o custo será de US$ 700 bilhões, cerca de 5% do PIB americano.
O custo da alternativa (1) é desconhecido. Qual o impacto de uma crise sistêmica que atinja os bancos americanos, com fortes possibilidades de contágio de bancos europeus? Pensando apenas do ponto de vista de contração de crédito, se estes ativos valerem mesmo zero (assim posso comparar com a alternativa (2)), os bancos reduzirão seu capital em US$ 700 bilhões.
Supondo, conservadoramente, que a alavancagem seja 12:1 (nos bancos de investimento é muito maior), isto implicaria uma queda de crédito de US$ 8,4 trilhões, ou seja, 60% do PIB. Crédito nos EUA é algo da ordem de US$ 30 trilhões (pela casa de 200% do PIB); portanto, a redução do crédito ficaria entre 25-30%. Como você acha que a economia americana reagiria a uma contração do crédito desta ordem?
Claro, o impacto pode ser minorado pela recapitalização dos bancos, mas quem, em sã consciência, vai botar dinheiro em bancos nas atuais circunstâncias? Note também que isto não captura outros efeitos, por exemplo, o que a redução do nível de atividade por conta da contração de crédito causaria nos demais ativos (não imobiliários) dos bancos, como cartões de crédito, empréstimos estudantis, crédito ao consumo, etc. Não captura o efeito da queda do valor das ações sobre a demanda e muitos outros. Resumindo, podemos estar falando de uma recessão bíblica, com fogo, enxofre, ira divina, e tudo a que temos direito...
Se a contração do PIB (mais precisamente o valor presente do desvio do produto com relação ao seu potencial ao longo do período todo do impacto) passar de 5%, então a alternativa (2) é superior. Fim de papo.
Ou não. Há duas considerações que valem a pena.
Primeiro a questão do “moral hazard”. Obviamente resgate implica “moral hazard”, mas note que – pelo que foi discutido acima – não há como o governo se comprometer que NÃO fará resgates, porque há circunstâncias (e esta pode ser uma delas) em que a análise de curto prazo entre custos relativos indica que, sim, o governo deve resgatar para evitar o mal maior. Sabendo disso, há incentivos para o comportamento arriscado, o tal do “moral hazard” na crença que, se o problema for suficientemente grave, o governo NÃO terá alternativa. (Para quem gosta destas coisas, estamos diante de um problema de inconsistência temporal).
A solução é, obviamente, criar uma regulação que limite estes incentivos e uma fiscalização que garanta que a regulação é aplicada. Por este motivo, falar que a economia americana é excessivamente regulada é um erro, pelo menos no que tange o setor financeiro. A originação das hipotecas foi abaixo da crítica: falta de documentação, de comprovação de renda, o que quiser...
A existência de estruturas fora do balanço dos bancos (SIVs, SPCs, etc) e, portanto, fora da vigilância dos órgãos reguladores/fiscalizadores, é de doer em qualquer um que tenha trabalhado em órgãos semelhantes mundo afora (e eu não sou exceção).
Se isto falha, como falhou, a discussão de “moral hazard” em termos de salvar ou não salvar bancos vira brincadeira. A discussão real teria que ter ocorrido há muito, para não deixar a situação chegar aonde chegou. Quando chega neste ponto a capacidade de escolha desapareceu há muito, ou você acha que o Bernanke não conhece “moral hazard”?
A outra questão não tem a ver diretamente com a pergunta do Caio, mas com o plano em si. Qual é a relação entre o valor que os bancos receberão, o valor a que os papéis estão marcados e o capital dos bancos?
Caso os bancos recebam pelo valor a que os papéis estão marcados (presumivelmente a mercado, ou algo próximo, esperamos), ainda podem ficar abaixo da linha d’água no que se refere a capital, ou seja, em bom português, quebrados. O problema já deixou de ser liquidez e pode, sim, ser um problema de solvência. Como resolver depois do resgate? Chamam mais capital (sem resolver o problema de solvência)? O Tesouro entra como sócio?
Se receberem um valor acima do valor dos papéis, podem se salvar, mas até que ponto isto é subsídio ao acionista? Ou o governo faz apenas o suficiente para deixá-los na linha d’água e, a partir daí, buscarão novos acionistas (os acionistas originais perderão tudo, ou quase tudo, o que ajuda a limitar o problema de “moral hazard”). Idealmente esta parece ser a melhor alternativa (o custo também), mas precisa que a recapitalização venha logo.
Por fim, quanto à inflação americana, frente à queda de atividade que veremos à frente, em breve deixará de ser problema. Não precisa por o juro em 8% (aliás, de onde você tirou este número?).
Quer dizer, o problema é muito complicado para ser resolvido com frases feitas. Tem que pensar desde o começo.
Artigo 2:
O fim do que nunca foi
“Quando o Governo pede que paguem pelos erros de Wall Street, não parece justo” disse o presidente norte-americano, George Bush, enquanto pedia nada menos do que isto. Se reconhece a injustiça, por que, então, o governo americano, como tantos outros, enfrenta o custo econômico e político de se envolver numa operação complexa, quando poderia anunciar que se trata de problema privado, que caberia ao setor privado resolver?
A resposta é, até certo ponto, simples: o governo americano (mas não, aparentemente, o Congresso) acredita que o custo do resgate é inferior ao da alternativa. O plano envolveria a troca de US$ 700 bilhões de títulos públicos por papéis lastreados em hipotecas pertencentes aos bancos. Caso estes últimos valham zero (hipótese extrema, mas que ajuda a simplificar o raciocínio) o custo do resgate seria exatamente US$ 700 bilhões, ou cerca de 5% do PIB.
Já o custo de não fazer nada (ainda sob a hipótese de valor zero) seria uma redução adicional de US$ 700 bilhões do capital dos bancos. Bancos, porém, ofertam crédito como um múltiplo de seu patrimônio (a famosa “alavancagem”) e, portanto, a redução de crédito seria um múltiplo de US$ 700 bilhões. Supondo (conservadoramente) uma alavancagem de 10 vezes, falamos de uma contração de US$ 7 trilhões, algo como 50% do PIB. Não é preciso muito para concluir que os EUA podem passar por uma recessão bíblica, mesmo se os bancos sobrevivessem para contar a história.
Assim, justa ou injustamente, quando a situação chega aonde chegou, a verdade é que o governo deixa de ter opções: ou resgata o sistema financeiro, ou vive uma crise ainda maior. Obviamente, sabendo disto, bancos têm incentivos para se engajar em operações arriscadas: caso as apostas funcionem, ficam com os ganhos; caso percam, sabem que ao menos parte dos prejuízos será paga pela sociedade.
Estas circunstâncias envolvem temas complexos do ponto de vista teórico. Não apenas o governo não consegue se comprometer com uma promessa de não salvar os bancos como, por este motivo, gera incentivos errados em termos de atitudes com relação à tomada de risco. Por este motivo, a única alternativa que sobra ao poder público é não permitir que a situação chegue a este ponto e os instrumentos para isto são regulação e fiscalização, lição que há muito se sabe, mas que parece ter sido solenemente ignorada no caso em questão.
A crise que observamos hoje, portanto, tem origens mais prosaicas do que certos analistas parecem acreditar. Não resulta das “contradições inerentes ao capitalismo”, nem implica o fim do credo liberal. Resultou, sim, de uma regulação inadequada (que, por exemplo, admitiu que bancos mantivessem estruturas fora do seu balanço, além do alcance dos órgãos reguladores e fiscalizadores), e de fiscalização frouxa, aparente na queda dos padrões de análise de crédito, permitindo que famílias tomassem crédito além de sua capacitação. Não por acaso, onde regulação e fiscalização foram mais adequadas, os efeitos da crise têm sido muito menores.
E não é verdade, por fim, que a inevitável mudança de regulação/fiscalização que iremos testemunhar marque o fim do laissez-faire, pela simples razão que há muito não existe laissez-faire no sistema financeiro. Devido a problemas como os mencionados acima, não há sistema financeiro no mundo que não seja regulado. A questão não é, pois, saber se devemos regular o sistema financeiro, mas sim como desenhar a regulação para equilibrar benefícios da expansão de crédito e os riscos que esta acarreta.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Em resumo: os órgãos reguladores não regularam quando deviam, antes encorajaram ou deram condições para que a irresponsabilidade e a especulação se alastrassem.
É normal que agora tentem consertar as coisas. É a função e a obrigação deles.
É normal que agora tentem consertar as coisas. É a função e a obrigação deles.
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
user f.k.a. Cabeção escreveu:
O que o governo fez foi transferir na forma de impostos e inflacao a divida daquele banco para um monte de gente que nao tinha nada a ver com a historia. Nao eram empresarios inescrupulosos, nao eram correntistas desatentos, eram apenas contribuintes que por ventura habitavam o mesmo pais e estavam sujeitos ao mesmo governo dos que estavam com a corda no pescoco. Esses bancaram a cagada feita por outras pessoas.
- Uma crise de confiança bancária fode TODOS CONTRIBUINTES não importando se tem ou não porra nenhuma a ver com a cagada, isso é fato.
Abraços,
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Ben Parker
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Abmael escreveu:user f.k.a. Cabeção escreveu:
O que o governo fez foi transferir na forma de impostos e inflacao a divida daquele banco para um monte de gente que nao tinha nada a ver com a historia. Nao eram empresarios inescrupulosos, nao eram correntistas desatentos, eram apenas contribuintes que por ventura habitavam o mesmo pais e estavam sujeitos ao mesmo governo dos que estavam com a corda no pescoco. Esses bancaram a cagada feita por outras pessoas.
- Uma crise de confiança bancária fode TODOS CONTRIBUINTES não importando se tem ou não porra nenhuma a ver com a cagada, isso é fato.
Abraços,
No caso do PROER, o governo brasileiro usou o dinheiro do depósito compulsório e não o dos impostos.
Isto significa que usou um fundo formado pelo dinheiro dos bancos e dos correntistas.
Bem, os correntistas poderiam reclamar, mas, no fundo, era do interesse deles que o sistema bancário permanecesse de pé.
Já quem não era correntista não contribuiu com nada para salvar os bancos.
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Abmael escreveu:- Uma crise de confiança bancária fode TODOS CONTRIBUINTES não importando se tem ou não porra nenhuma a ver com a cagada, isso é fato.
Voce esta coberto de razao.
Acontece que a profilaxia que voce subentende nao e funcional.
A confianca no sistema bancario nao e uma variavel manipulavel arbitrariamente, ela e conseguida atraves de um historico de solvencia e de bons negocios. Ela tem um significado real, portanto.
Uma crise de confianca demonstra que negocios errados foram feitos, que dinheiro foi investido da forma errada, que os projetos nao foram bons. O impacto disso na confianca e negativo, mas isso deve ser interpretada positivamente. Porque nao adianta nada confiar em gente que esta fazendo merda e continuara fazendo.
O que o governo faz ao restaurar a confianca em banqueiros com pacotes inflacionarios e dizer para os acionistas que eles nao perderao dinheiro ao fazer maus investimentos, pois os prejuizos serao repassados pela populacao nao forma de impostos e inflacao.
Isso e que realmente fode a porra toda.
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
user f.k.a. Cabeção escreveu:Abmael escreveu:- Uma crise de confiança bancária fode TODOS CONTRIBUINTES não importando se tem ou não porra nenhuma a ver com a cagada, isso é fato.
Voce esta coberto de razao.
Acontece que a profilaxia que voce subentende nao e funcional.
A confianca no sistema bancario nao e uma variavel manipulavel arbitrariamente, ela e conseguida atraves de um historico de solvencia e de bons negocios. Ela tem um significado real, portanto.
Uma crise de confianca demonstra que negocios errados foram feitos, que dinheiro foi investido da forma errada, que os projetos nao foram bons. O impacto disso na confianca e negativo, mas isso deve ser interpretada positivamente. Porque nao adianta nada confiar em gente que esta fazendo merda e continuara fazendo.
O que o governo faz ao restaurar a confianca em banqueiros com pacotes inflacionarios e dizer para os acionistas que eles nao perderao dinheiro ao fazer maus investimentos, pois os prejuizos serao repassados pela populacao nao forma de impostos e inflacao.
Isso e que realmente fode a porra toda.
- Não é assim que funciona, basta UM cara fazer merda, isto pode gerar um efeito dominó que vai quebrando todo mundo, mesmo se o negócio estiver sólido como uma rocha, porisso os organismos do sistema financeiro tem que estar sempre vigilantes e atentos para agir a tempo nesses casos.
- Depois do efeito manada instalado não adianta publicar balanços, prometer que vai honrar os depósitos e nem doar dinheiro aos correntistas, todo mundo corre prá fazer retirada, mas nenhum banco do mundo tem alavancagem suficiente pra segurar essa onda, aí todos quebram, o crédito morre, todos ativos de todas empresas viram água e então é depressão econômica, ou seja, o pior cenário possível.
- Quanto a restaurar confiança em banqueiros que fizeram cagada, é claro que não, porisso estão optanto em estatizar os bancos socorridos, para arrancar os caras de lá e depois entregar o banco para outro.
- E o que você preferiria? - Encarar mais impostos e infação ou perder tudo? - Tudo mesmo, seu dinheiro, sua casa, seu emprego/negócio.
Abraços,
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
E interessante o quanto a imaginacao das pessoas e fertil.
E principalmente o quanto de fe elas depositam em pedacos de papel.
Abmael, deixa eu explicar para voce o que a riqueza e de fato. A riqueza nao e um pedaco de papel com o retrato de um presidente americano, ou algo que o valha.
Riqueza sao os bens materiais, naturais ou criados pelo homem, e o conhecimento existente para emprega-los.
O sistema financeiro existe como ferramenta de otimizacao de investimentos, como palco onde os precos sao avaliados por especialistas que entao decidem quais sao as coisas que devem ser produzidas em maior quantidade e quais devem ser produzidas em menor quantidade. Eles nao fazem isso deslocando somas de moeda, a moeda e apenas um meio de troca para o que realmente esta sendo movimentado, que sao os recursos reais, tanto materiais quanto humanos.
O papel da moeda e permitir as pessoas fazer calculos. Nao da para saber quanto em pao vale o um computador, ou quanto em fusca vale um helicoptero, ou quanto em pedreiro vale um executivo, sem que essas informacoes estejam disponiveis em valores numericos de um determinado bem comum.
Apesar da moeda ser imensamente util para esse fim, alguns espertos acreditam poder falsifica-la e extrair os lucros. E isso que o governo faz e e isso que produz uma crise. As pessoas percebem precos que nao representam de fato o valor das coisas e fazem investimentos ruins acreditando que terao lucro certo. Para alimentar esse comportamento, mais se falsifica a moeda, ate o ponto em que a irracionalidade assume proporcoes homericas.
Numa crise financeira, causada por uma moeda ruim, e verdade que muitos investimentos e desinvestimentos irracionais sao feitos, muitas pessoas perdem a confianca e tentam proteger seus recursos, paralisando-os em investimentos de risco baixo. Isso e normal e faz parte do processo de ajuste.
O fato e que ninguem (salvo casos excepcionais) vai sair por ai queimando predios e matando profissionais. Uma crise financeira nao e uma guerra, de onde a riqueza material e humana e de fato destruida. Alguns bancos vao quebrar, algumas pessoas irao a falencia, mas e dai?
A unica forma proposta pelos burocratas de se evitar que isso ocorra e realimentando o mesmo processo que criou todo problema no inicio. E incentivar as pessoas a agirem estupidamente falsificando ainda mais a moeda. Isso nao pode ser uma solucao racional, se pensarmos com a cabeca fria. Pode ser que adiemos manchetes incomodas para as proximas gestoes, mas estaremos apenas absorvendo os prejuizos em areas que nao estao tao claramente a vista.
Nao ha ganho com os investimentos ruins que sao feitos enquanto as pessoas nao percebem o que estao fazendo. Os "mercados" podem estar em alta, entendendo por mercados os indices de uma determinada bolsa de valores e o volume de investimentos realizados. Isso quer dizer apenas que mais pessoas estao colocando mais capital naquelas empresas, mas nao esta apresentando nenhuma informacao consistente sobre a qualidade desse investimento.
Os periodos de euforia que antecedem a crise sao na verdade o principal momento de perdas, e nao a crise em si, que e apenas o doloroso reajuste. Embora o entorpecimento monetario anestesia a percepcao dos prejuizos, eles estao sendo realizados durante o "boom", e nao no "crack".
Nao se corrige um "crack" realimentando um "boom". Os burocratas nao tem uma formula magica monetaria para salvar a economia. Eles podem salvar as peles de banqueiros que fizeram maus investimentos, e de todos aqueles que tentaram surfar na onda produzida por eles, e que derrepente se transformou num tremendo caixote. Mas isso nao quer dizer salvar a economia.
E claro que os burocratas, por serem os maiores culpados, nao querem estimular o aprendizado do mercado. Eles precisam garantir que todos os que compram suas ideias inflacionarias nao sejam devidamente punidos no longo prazo, para que estes ultimos nao aprendam e deixem de fazer isso no futuro. Assim, eles empregam seus poderes arbitrarios para transferir esses prejuizos para individuos alheios a situacao, ou seja, os contribuintes.
Apenas reiterando, de modo a deixar suficientemente claro, e completamente ficticia a nocao de que sem intervencao governamental o mercado colapsaria e toda riqueza se esfumacaria. Alguem que se diga economista e que acredite que riqueza se mede em papel deve ter dificuldades para encontrar o proprio nariz. O desaparecimento de bilhoes, ou mesmo trilhoes, em credito e moeda fiat nao equivale ao desaparecimento de bilhoes ou trilhoes em ativos reais (capital). Essa e a principal de todas as falacias. Esse dinheiro foi criado ex-nihilo. E verdade que ele nao desaparecera sem criar efeitos sobretudo na confianca do investidor poupador. Mas junto com eles nao sumirao fabricas, barris de petroleo, avioes a jato, servidores e cabos de fibra otica, professores ou estudantes universitarios nem profissionais do mercado. E o mundo nao deixara de produzir riqueza simplesmente porque algum meio fiduciario colapsou.
Esse chororo e um mero disfarce para o roubo publico em favorecimento de poderes estabelecidos e privilegios adquiridos via conexoes politicas. Nao existe beneficio liquido para o individuo em financiar as aventuras inflacionistas do Estado e dos capitalistas que esperam lucrar com isso. E simplesmente falso, embora a percepcao nesse nivel escape a discussao simplista calcada em numeros sempre falsificados. Falemos de riquezas reais, e ninguem consegue demonstrar no que essa crise nos deixara significativamente mais pobres, exceto aqueles que baseavam suas fortunas em dinheiro virtual criado pelos governos e bancos privados acolitos de suas politicas inflacionistas.
E e importante perceber tambem que mesmo para investimentos ruins, cedo ou tarde surgem segundos compradores, que com mais informacao e melhor gestao do capital conseguem torna-los lucrativos.
As fibras oticas que cruzam os oceanos hoje e permitem uma internet de banda larga sao resultado de primeiros investimentos ruins, durante a bolha da informatica. As empresas reuniram capital para essa enorme tarefa e depois nao tiveram o retorno esperado, e acabaram falindo em massa. Isso nao significa que os cabos foram abandonados. Segundos compradores os adquiriram a precos baixos, e fazendo estimativas mais realistas de lucros, operam hoje essa infraestrutura que permite o intenso fluxo global de informacao, de forma lucrativa.
Os cabos simplesmente estavam la. Pode ser que os sujeitos que os colocaram la tenham se iludido, e iludido outros, ou mesmo tenham sido iludidos pelo governo, e tenham se endividado demais para faze-lo, mas a verdade e que eles fizeram, mesmo tendo ido a falencia. Eles nao podem ser chamados de bons administradores, pois nao souberam fazer estimativas realistas dos custos e dos ganhos de seus investimentos. E verdade que as linhas de credito favorecido e juros baixos que estimularam aquela bolha (assim como a atual bolha dos imoveis) os iludiram, mas nao e por isso que eles devem ser salvos com mais dinheiro dos outros. Ninguem perdeu os servicos de fibra-otica. Apenas os operadores mudaram. E os imoveis tambem nao serao demolidos.
Nesses momentos de panico, as pessoas sao confundidas por um monte de especulacoes sobre piores cenarios, mas poucas delas param para pensar na plausibilidade desses discursos, e nos reais interesses dos burocratas de faze-las acreditarem que estes sao herois que salvarao o dia. Os burocratas sao os viloes, e seus novos pacotes sao apenas mais atos de vilania.
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Caro Cabeção,
- Burocratas tem pouco ou nada a ver com isso, Reagan desregulamentou o mercado financeiro em Wall Street e Tatcher na City Londrina, Freddie e Fannie podem até ter produzido papéis podres, mas isto é apenas uma parte do problema, instituições bancárias montaram carteiras de fundos fraudulentas misturando papéis podres com papéis bons, bancos se alavancaram em níveis muito acima do bom-senso e, porfim, concederam crédito a devedores prá lá de insolventes, os famosos ninja (no Income, no job, no Assets).
- Burocratas não estão nem aí pros banqueiros (parece que você não leu o que escrevi), o problema são os inocentes que serão tragados pelo furacão por conta da crise de confiança, bancos sólidos estão quebrando porque correntistas correm pros bancos para se re-capitalizar ou com medo que os demais bancos quebrem também.
- Quanto a esse papo de riqueza e moeda, só posso dizer que parece que você não entende muito de mercado financeiro, os ativos circulantes e muitos dos rendimentos como aposentadorias, pensões e até salários, recebíveis, etc., estão baseados em títulos e fundos administrados pelos bancos e sem lastro algum, aliás, um banco conservador lastreia no máximo uns 10%.
- Então a maior parte da riqueza é baseada em moeda escritural não-existente, ou seja, várias companhias não passam de papel, mesmo as reais são inúteis sem dinheiro para manutenção das máquinas, para os salários, para os fornecedores, esse dinheiro vem todo de papéis escriturados (tipo transferências dos saldos de cartão de crédito dos clientes) que virarão lixo quando não houver bancos para prover o lastro falso, aí as fábricas quebram e são abandonadas por falta de gente para comprá-las, as máquinas são desmontadas e fundidas para fazer pregos e o prédio vira abrigo de mendigos.
- Uma vez todos os bancos quebrando a economia vira um organismo que perdeu 4/5 do sangue, daí cabos submarinos, prédios, carros e tudo mais vira coisa sem valor, todo mundo passará a pensar apenas em comida e abrigo.
- Isso já aconteceu antes e está acontecendo agora, se não pararem a bola-de-neve agora ela ficará incontrolável e tragará tudo.
Abraços,
- Burocratas tem pouco ou nada a ver com isso, Reagan desregulamentou o mercado financeiro em Wall Street e Tatcher na City Londrina, Freddie e Fannie podem até ter produzido papéis podres, mas isto é apenas uma parte do problema, instituições bancárias montaram carteiras de fundos fraudulentas misturando papéis podres com papéis bons, bancos se alavancaram em níveis muito acima do bom-senso e, porfim, concederam crédito a devedores prá lá de insolventes, os famosos ninja (no Income, no job, no Assets).
- Burocratas não estão nem aí pros banqueiros (parece que você não leu o que escrevi), o problema são os inocentes que serão tragados pelo furacão por conta da crise de confiança, bancos sólidos estão quebrando porque correntistas correm pros bancos para se re-capitalizar ou com medo que os demais bancos quebrem também.
- Quanto a esse papo de riqueza e moeda, só posso dizer que parece que você não entende muito de mercado financeiro, os ativos circulantes e muitos dos rendimentos como aposentadorias, pensões e até salários, recebíveis, etc., estão baseados em títulos e fundos administrados pelos bancos e sem lastro algum, aliás, um banco conservador lastreia no máximo uns 10%.
- Então a maior parte da riqueza é baseada em moeda escritural não-existente, ou seja, várias companhias não passam de papel, mesmo as reais são inúteis sem dinheiro para manutenção das máquinas, para os salários, para os fornecedores, esse dinheiro vem todo de papéis escriturados (tipo transferências dos saldos de cartão de crédito dos clientes) que virarão lixo quando não houver bancos para prover o lastro falso, aí as fábricas quebram e são abandonadas por falta de gente para comprá-las, as máquinas são desmontadas e fundidas para fazer pregos e o prédio vira abrigo de mendigos.
- Uma vez todos os bancos quebrando a economia vira um organismo que perdeu 4/5 do sangue, daí cabos submarinos, prédios, carros e tudo mais vira coisa sem valor, todo mundo passará a pensar apenas em comida e abrigo.
- Isso já aconteceu antes e está acontecendo agora, se não pararem a bola-de-neve agora ela ficará incontrolável e tragará tudo.
Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
É verdade que a operação do pacote de Bush não vai afetar o capital social dos bancos. Entretanto, vai afetar sim o CAPITAL DE GIRO dos mesmos. Estava subentendido no post do Schwartsman que ele se referia ao capital de giro.
Ah, e supondo a simplificação do Alexandre que os ativos podres valham mesmo zero, isso significaria que o pacote afeta não só o resultado financeiro, mas também o resultado ECONÔMICO dos bancos. Conseqüentemente, do ponto de vista dos bancos, haverá impactos relevantes na DRE destas instituições. E é só lembrar que a operação analisada envolve a troca dos ativos podres por TÍTULOS públicos e não MONEY. Título é um ativo que normalmente tem rendimento positivo e a taxa de apreciação de seu valor de mercado pode ser positiva ou negativa. Já o MONEY, tem valor ZERO para ambas as características.
Não se deve esquecer que estamos falando de um mundo onde se lida muito com promessas e previsões sobre o curso futuro dos ativos e de títulos de dívida, o que leva inevitavelmente a insatisfação com posições cautelosas e o ato de recorrer a posturas arriscadas (como os rebaixamentos dos critérios de concessão de crédito). Assim, pode-se dizer que o setor financeiro ENDOGENAMENTE CRIA uma crise financeira. E tentar furar uma bolha de ativos com elevação da taxa de juro pode ser pior. As taxas teriam que subir muito para conter as expectativas altistas e eufóricas. O ideal é aumentar as exigências de capital e liquidez de acordo com a toada dos negócios financeiros (regulamentação financeira mais adequada). Já abortar uma recuperação depois que a crise já se instalou, criando uma contração de crédito de 50% do PIB, fatalmente gerará uma grande depressão.
Ah, e supondo a simplificação do Alexandre que os ativos podres valham mesmo zero, isso significaria que o pacote afeta não só o resultado financeiro, mas também o resultado ECONÔMICO dos bancos. Conseqüentemente, do ponto de vista dos bancos, haverá impactos relevantes na DRE destas instituições. E é só lembrar que a operação analisada envolve a troca dos ativos podres por TÍTULOS públicos e não MONEY. Título é um ativo que normalmente tem rendimento positivo e a taxa de apreciação de seu valor de mercado pode ser positiva ou negativa. Já o MONEY, tem valor ZERO para ambas as características.
Não se deve esquecer que estamos falando de um mundo onde se lida muito com promessas e previsões sobre o curso futuro dos ativos e de títulos de dívida, o que leva inevitavelmente a insatisfação com posições cautelosas e o ato de recorrer a posturas arriscadas (como os rebaixamentos dos critérios de concessão de crédito). Assim, pode-se dizer que o setor financeiro ENDOGENAMENTE CRIA uma crise financeira. E tentar furar uma bolha de ativos com elevação da taxa de juro pode ser pior. As taxas teriam que subir muito para conter as expectativas altistas e eufóricas. O ideal é aumentar as exigências de capital e liquidez de acordo com a toada dos negócios financeiros (regulamentação financeira mais adequada). Já abortar uma recuperação depois que a crise já se instalou, criando uma contração de crédito de 50% do PIB, fatalmente gerará uma grande depressão.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”
Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)
"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."
John Maynard Keynes
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- user f.k.a. Cabeção
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Abmael,
Como estou com um pouco de pressa, vou replicar esparsamente suas falacias.
Comecando com a sua falacia sobre Reagan e Tatcher: o fato deles terem sido politicos e, a fortiori, burocratas, e terem diminuido a regulamentacao dos mercados nao demonstra nada a nao ser a triste realidade do poder na sociedade atual onde dependemos de raros burocratas sensatos para ampliar nossas liberdades, pelo simples fato do poder para isso residir nas maos de burocratas permanentemente.
A bolha imobiliaria americana foi o aspecto mais visivel das politicas expansionistas do governo americano, mediante emissao de credito e moeda pelo FED, de diversas formas diferentes, uma delas sendo o suporte ao enorme passivo das empresas hipotecarias. Mas dinheiro nao tem carimbo, como ja diria alguem. Todos os conhecidos efeitos da inflacao acontecem, independente da forma como ela e praticada: sobreaquecimento de mercado, maus investimentos, erros de calculo e por ai vai.
Um banco de investimentos nao e fraudulento ao realizar operacoes arriscadas que acabam se mostrando ruins, ele simplesmente esta consumindo parte do capital de confianca que lhe era destinado pelos seus clientes. O nome investimento de risco vem do fato de que nem sempre o que ele gerara e lucro, e algumas vezes o prejuizo pode ser grande. A sua reputacao decorre do fato de que ele consegue normalmente traduzir risco em lucro, e nao e uma concessao do Estado.
As pessoas desenvolveram uma crenca nos ultimos tempos de que existe investimento seguro, ou que um correntista e completamente inocente dos erros de seu banco. Isso esta errado. Nao existe esse tipo de garantia. As garantias oferecidas por bancos para seus correntistas e clientes especiais sao totalmente estruturadas na confianca dos mesmos na solvencia daquela instituicao, e o Estado nao deve se preocupar em salvar quem quer que tenha escolhido um banco que se mostrou insolvente. Isso apenas remove os incentivos corretivos existentes no livre mercado, tanto quanto se o Estado protegesse os acionistas de uma empresa de construcao que ergue pontes com o estranho habito de tombar.
Quanto a quantidade de moeda fiduciaria e de certificados de moeda que voce denuncia, ela so atinge esses niveis descontrolados porque e estimulada pelo Estado. Os bancos, no que tange a politica monetaria, sao meras sucursais do Estado e estao vinculados a politica monetaria definida pelo banco central. Num sistema bancario livre, cada banco escolheria livremente a proporcao de lastro a ser mantido no deposito e a proporcao de moeda fiat que ele emitiria garantindo-se na confianca geral sobre a sua solvencia.
Nao existe "riqueza nao existente", por definicao. Empresas, certificados, contratos e etc. ainda que existam de forma meramente escrituraria, tem seu valor real extraido dos direitos sobre bens reais que eles definem. Por essa razao que um contrato de locacao tem um valor, por assegurar direitos para os participantes desse contrato. Isso nao e riqueza nao existente. Ainda que existam empresas que de fato, nao fazem nada nem garantem direito algum e cujo valor e apenas derivado da ma informacao de certas pessoas e da ma indole de outras, elas nao representam riqueza adicional, e sao apenas um dos diversos esquemas de tranferir recursos de A para B, podendo estar dentro ou fora da lei vigente.
Esses prognosticos de falencia global dos bancos sao completamente ridiculos. Mesmo que o credito contraia e as pessoas tomem maiores precaucoes, isso nao significara a morte da economia, mas um efeito de reajuste a realidade. O fato e que crises financeiras nao destroem fabricas: aquelas que produzem lucro continuarao a produzi-lo, e aquelas que pareciam lucrativas mas nao eram serao fechadas. Crises financeiras nao destroem estradas, pontes, usinas eletricas. Nao destroem escolas, nem apagam a memoria das pessoas. Nao matam.
Quem fomenta essa teoria de que o desespero se transformara num caos e fara a civilizacao retornar a idade das trevas sao burocratas interessados em abocanhar mais poder regulatorio. Sao eles que aprontaram a cagada, mas malandramente conseguiram tranferir a culpa para aqueles que so seguiram seu rastro, os capitalistas.
De fato, o que essas crises financeiras mostram e que o capitalismo e a burocracia de fato sao incompativeis. Os burocratas ao interferirem produzem uma serie de distorcoes que levam os capitalistas a agirem de modo inconsistente com a realidade dos mercados, e durante o tempo que perdurarem as intervencoes ninguem percebera muita coisa. Mas esse tempo, o ciclo economico, e finito, e mais curto do que Keynes imaginou quando disse que "no longo prazo estaremos todos mortos". Sobrevivemos ao longo prazo, mas parece que as pessoas aprenderam muito pouco com isso. Esperemos ate a proxima.
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Abmael,
Como estou com um pouco de pressa, vou replicar esparsamente suas falacias.
- Ainda bem, não tenho paciência com posts enormes e discursivos.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Comecando com a sua falacia sobre Reagan e Tatcher: o fato deles terem sido politicos e, a fortiori, burocratas, e terem diminuido a regulamentacao dos mercados nao demonstra nada a nao ser a triste realidade do poder na sociedade atual onde dependemos de raros burocratas sensatos para ampliar nossas liberdades, pelo simples fato do poder para isso residir nas maos de burocratas permanentemente.
- Tegiversação, continua valendo o fato que os burocratas tiveram participação mínima no crack americano e menor ainda no inglês.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
A bolha imobiliaria americana foi o aspecto mais visivel das politicas expansionistas do governo americano, mediante emissao de credito e moeda pelo FED, de diversas formas diferentes, uma delas sendo o suporte ao enorme passivo das empresas hipotecarias. Mas dinheiro nao tem carimbo, como ja diria alguem. Todos os conhecidos efeitos da inflacao acontecem, independente da forma como ela e praticada: sobreaquecimento de mercado, maus investimentos, erros de calculo e por ai vai.
- O FED é privado e independente.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Um banco de investimentos nao e fraudulento ao realizar operacoes arriscadas que acabam se mostrando ruins, ele simplesmente esta consumindo parte do capital de confianca que lhe era destinado pelos seus clientes. O nome investimento de risco vem do fato de que nem sempre o que ele gerara e lucro, e algumas vezes o prejuizo pode ser grande. A sua reputacao decorre do fato de que ele consegue normalmente traduzir risco em lucro, e nao e uma concessao do Estado.
- Como eu já disse antes, você entende pouco de mercado financeiro, o principal capital de um banco é a confiança dos correntistas, existem bancos de investimento arrojados e conservadores, ao gosto do freguês, eles foram separados dos outros bancos por burocratas imbecis (como você sabe) devido a experiências passadas que demonstravam a insensatez de misturar na mesma instituição depósitos em conta corrente e capital de risco, no entanto, mesmo assim houve contágio.
- Você faz um discurso inútil, em nenhum momento critiquei o investimento de risco, o problema é que houve fraude, uma vez que a concessão dos créditos não seguia critérios e as carteiras eram montadas de forma fraudulenta misturando papéis de inadimplentes com adimplentes. Você inteligentemente ignora este aspecto, porque aí residiria a necessidade de fiscalização estatal que você abomina.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
As pessoas desenvolveram uma crenca nos ultimos tempos de que existe investimento seguro, ou que um correntista e completamente inocente dos erros de seu banco. Isso esta errado. Nao existe esse tipo de garantia. As garantias oferecidas por bancos para seus correntistas e clientes especiais sao totalmente estruturadas na confianca dos mesmos na solvencia daquela instituicao, e o Estado nao deve se preocupar em salvar quem quer que tenha escolhido um banco que se mostrou insolvente. Isso apenas remove os incentivos corretivos existentes no livre mercado, tanto quanto se o Estado protegesse os acionistas de uma empresa de construcao que ergue pontes com o estranho habito de tombar.
- Me mostre como os correntistas poderiam prever o que aconteceu, os balanços dos bancos estavam OK.
- O Lehman, o Wachovia, o City tem o estranho hábito de tombar ?!!?!?!
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Quanto a quantidade de moeda fiduciaria e de certificados de moeda que voce denuncia, ela so atinge esses niveis descontrolados porque e estimulada pelo Estado. Os bancos, no que tange a politica monetaria, sao meras sucursais do Estado e estao vinculados a politica monetaria definida pelo banco central. Num sistema bancario livre, cada banco escolheria livremente a proporcao de lastro a ser mantido no deposito e a proporcao de moeda fiat que ele emitiria garantindo-se na confianca geral sobre a sua solvencia.
- Mas isso poderia elevar a base monetária de forma irresponsável e gerar inflação, alem de gerar problemas de distribuição devido à flutuações econômicas, isso já foi tentado antes e deu merda, estude a história do sistema bancário americano antes de escrever isto.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Nao existe "riqueza nao existente", por definicao. Empresas, certificados, contratos e etc. ainda que existam de forma meramente escrituraria, tem seu valor real extraido dos direitos sobre bens reais que eles definem. Por essa razao que um contrato de locacao tem um valor, por assegurar direitos para os participantes desse contrato. Isso nao e riqueza nao existente. Ainda que existam empresas que de fato, nao fazem nada nem garantem direito algum e cujo valor e apenas derivado da ma informacao de certas pessoas e da ma indole de outras, elas nao representam riqueza adicional, e sao apenas um dos diversos esquemas de tranferir recursos de A para B, podendo estar dentro ou fora da lei vigente.
- Claro, interprete os fatos da forma que lhe é mais conveniente, eu entendo...
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Esses prognosticos de falencia global dos bancos sao completamente ridiculos.
- Que argumentação brilhante, então você está correto, depois eu sou o rei das falácias.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Mesmo que o credito contraia e as pessoas tomem maiores precaucoes, isso nao significara a morte da economia, mas um efeito de reajuste a realidade. O fato e que crises financeiras nao destroem fabricas: aquelas que produzem lucro continuarao a produzi-lo, e aquelas que pareciam lucrativas mas nao eram serao fechadas. Crises financeiras nao destroem estradas, pontes, usinas eletricas. Nao destroem escolas, nem apagam a memoria das pessoas. Nao matam.
- Putz, depressão econômica não existe! - Como eu pude me enganar todo esse tempo!?!?!?
user f.k.a. Cabeção escreveu:
Quem fomenta essa teoria de que o desespero se transformara num caos e fara a civilizacao retornar a idade das trevas sao burocratas interessados em abocanhar mais poder regulatorio. Sao eles que aprontaram a cagada, mas malandramente conseguiram tranferir a culpa para aqueles que so seguiram seu rastro, os capitalistas.
- Você assiste televisão? - Lê jornais? - Sugiro que dê uma olhadinha, analistas PRIVADOS de mercado financeiro são entrevistados diariamente, passou uma caixinha em todos ministérios para os burocratas babões pagarem aos analistas para falar isso? - Essas conspirações são escrotas.
user f.k.a. Cabeção escreveu:
De fato, o que essas crises financeiras mostram e que o capitalismo e a burocracia de fato sao incompativeis. Os burocratas ao interferirem produzem uma serie de distorcoes que levam os capitalistas a agirem de modo inconsistente com a realidade dos mercados, e durante o tempo que perdurarem as intervencoes ninguem percebera muita coisa. Mas esse tempo, o ciclo economico, e finito, e mais curto do que Keynes imaginou quando disse que "no longo prazo estaremos todos mortos". Sobrevivemos ao longo prazo, mas parece que as pessoas aprenderam muito pouco com isso. Esperemos ate a proxima.
- Elenque as distorções promovidas depois informe porque a iniciativa privada as detectou e reagiu.
- O mercado financeiro americano é o mais desregulamentado do mundo, este dado parece ser inútil na sua análise.
Abraços,
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Re: A crise imobiliária e o suposto fim do liberalismo
Abmael escreveu:- Ainda bem, não tenho paciência com posts enormes e discursivos.
Infelizmente nao tenho o talento do Tulio, do Tranca-ruas e do ENCOSTO para desmontar um monte de falacias ignorantes com uma frase ou emoticon engracado e pertinente.
A unica coisa que eu consigo e refutar seus disparates com logica chata e enfadonha. Talvez isso explique meu sucesso relativamente escasso nessa tarefa. As vezes, exigir logica e exigir demais.
Abmael escreveu:- Tegiversação, continua valendo o fato que os burocratas tiveram participação mínima no crack americano e menor ainda no inglês.
Ok, vamos ver com que argumentos voce sustenta isso.
Abmael escreveu:- O FED é privado e independente.
Pois e. Qualquer duvida que eu tinha a respeito de voce ser apenas um arrogante ignobil ou um sujeito mal intencionado se desfez.
Para pessoas como voce, a diferenca entre uma empresa privada e um orgao publico e uma simples questao de convencao nominativa. Se alguem diz que o FED e um organismo quasi-publico, sendo portanto um dos varios frankensteins criados pelo leviata americano, entre eles a Fanny Mae e o Freddie Mac, isso basta para voce considera-lo privado, independente e portanto nao participar do controle burocratico da economia.
Para qualquer um mais atento a fatos do que a nomes, e mesmo para alguem atento a nomes que perceba que "quase-publico" esta mais para publico do que para privado, sera evidente que se trata de um organismo criado por uma lei (Federal Reserve Act - 1913), monopolista (o mesmo ato proibe qualquer tipo de competicao feita a atividade desempenhada pelo organismo), cuja presidencia e politicas sao decididas em eleicoes restritas as diversas linhas hierarquicas corporativas da instituicao, cada uma delas vinculada ao governo e ao publico com diferentes intensidades, sendo os bancos privados apenas as ultimas, e que ainda assim dependem da sancao do organismo para operar. Chamar isso de privado ou publico pode ser mais ou menos adequado dentro do paradigma ideologico, alem de proporcionar um subterfugio adequado para os burocratas, mas nenhuma diferenca faz na forma como essas empresas funcionam. Na America onde a palavra "estatal" era mal vista, um "organismo independente com aspectos privados" seria bem mais palatavel, mesmo que em essencia a forma e funcao fossem identicas.
A unica diferenca para outro monopolio estatal e a forma de eleger os executivos, que nao e a indicacao direta do presidente da republica ou da unidade da federacao proprietaria da empresa. Mas tambem nao e atraves de acionistas, como numa empresa privada num ambiente competitivo, e sim numa especie de corporativismo. Completamente cosmetico.
O fato e que a gestao e burocratica e hieararquica. Nao existem bancos livres, eles estao sujeitos as politicas do FED, que e uma agencia monopolista governamental, independente do wishfulthinking do colega Abmael.
Abmael escreveu:- Como eu já disse antes, você entende pouco de mercado financeiro,
Obrigado por me alertar.
Abmael escreveu:o principal capital de um banco é a confiança dos correntistas
Algo que eu disse na mensagem que voce cita. Mas diferente de voce, eu entendo o que isso quer dizer, e nao faco um monte de suposicoes idioticas sobre a confianca ser um sentimento, e por isso ser vazia de significado, e por isso ser manipulavel por pacotes inflacionistas do governo, que portanto aumentariam o capital global, gerando por conseguinte mais riqueza material para todos.
Confianca tem a ver com expectativa de solvencia, no sentido amplo, com a capacidade da instituicao de assumir compromissos que serao honrados. E isso tem a ver apenas e tao somente com a garantia de que apenas projetos produtivos receberao financiamento daquela instituicao.
A expectativa de que o governo produzira um Deus Ex-Machina monetario para evitar a insolvencia dos bancos pode satisfazer credores, mas nao produz solvencia, pois os projetos ruins nao se tornaram magicamente bons, apenas os prejuizos causados por eles foram transferidos para quem nao teve nada a ver com o seu financiamento. E esse prejuizo se da na forma da perda de capital real para essas pessoas, e que por sua vez cria o capital de confianca em instituicoes financeiras ruins, mas garantidas pelo governo.
Assim, ve-se desmontada toda a sua falacia cretina sobre a confianca ser uma especie de capital evanescente, que dependeria da acao de burocratas conscienciosos para nao evaporar e deixar as pessoas instantaneamente pobres. Isso deriva apenas de uma visao muito incompleta do sistema economico, um erro que deveria ser amador mas que e repetido por varios "especialistas", ora por burrice, ora por interesses particulares, mas que ainda assim nao deixa de ser papagaiado por nescios tao ignorantes como arrogantes.
Abmael escreveu:existem bancos de investimento arrojados e conservadores, ao gosto do freguês, eles foram separados dos outros bancos por burocratas imbecis (como você sabe) devido a experiências passadas que demonstravam a insensatez de misturar na mesma instituição depósitos em conta corrente e capital de risco, no entanto, mesmo assim houve contágio.
- Você faz um discurso inútil, em nenhum momento critiquei o investimento de risco, o problema é que houve fraude, uma vez que a concessão dos créditos não seguia critérios e as carteiras eram montadas de forma fraudulenta misturando papéis de inadimplentes com adimplentes. Você inteligentemente ignora este aspecto, porque aí residiria a necessidade de fiscalização estatal que você abomina.
A nocao de capital de risco e em si falaciosa. Qualquer investimento admite alguma especie de risco. O que os burocratas fizeram ao criar leis e regulamentacoes financeiras separando bancos de investimento de bancos normais foi simplesmente criar uma complexidade desnecessaria e arbitraria, que no final das contas so serve aqueles interessados em explorar brechas legais e em desenvolver novas tecnologias de fraude.
No passado, antes das intervencoes burocraticas, sempre que alguem depositava dinheiro num banco, nao imporatando qual produto bancario estivesse comprando, estava ciente de que suas financas dependiam da solvencia daquela instituicao e que por sua vez ela usaria o dinheiro que voce depositou para realizar operacoes de credito e de investimento em alguma medida arriscadas.
A simples nocao de investimento sem risco pareceria para as pessoas normais uma especie de propaganda mal intencionada de algum esquema de arbitragem financeira.
Dizer que ha como evitar o "contagio" e simplesmente aventar uma especie de carimbo para o dinheiro: o credito que um banco oferece nao podera ser empregado em atividades cujo risco sera maior que uma determinada cota estabelecida pelos burocratas de alguma agencia de regulacao governamental.
Isso simplesmente nao funciona, as pessoas empregam o credito como quiserem, e mesmo que sejam forcadas por contrato a emprega-lo em alguma atividade especifica, podem liberar parte do seu capital que seria de outra forma empregado nessa atividade para realizar operacoes cujo risco e maior que o estipulado pelos burocratas.
Durante a crise de 29 ocorreu algo similar. Bilhoes de dolares (algo monstruoso para epoca) foram criados e oferecidos em credito open-market para a agricultura, mas e evidente que esse dinheiro acabou parando no mercado financeiro, criando uma bolha. Todos os burocratas arquitetos desse plano infalivel que faliu rapidamente acusaram os capitalistas de fraude, de misturar papeis, e etc, mas isso deriva de uma compreensao errada do mercado. Simplesmente o dinheiro "novo" que entrava na agricultura libera o dinheiro "velho", que vira capital de risco. Dessa vez, foi no mercado de imoveis, com o passivo gerado chegando a ordem dos trihoes (o que e explicavel pela inflacao acumulada de la ate aqui), mas o funcionamento da bolha e identico.
Isso e obvio e nao se trata de fraude, e simplesmente uma regulacao non-sense.
Abmael escreveu:- Me mostre como os correntistas poderiam prever o que aconteceu, os balanços dos bancos estavam OK.
- O Lehman, o Wachovia, o City tem o estranho hábito de tombar ?!!?!?!
Ai e que esta. A contabilidade se faz atraves de balancos monetarios que simplesmente se encarregam de contabilizar unidades do dinheiro que sairam e entraram, sem levar em consideracao que esse dinheiro pode estar sendo afetado por processos inflacionarios extra-mercado.
Algumas vezes eles levam em consideracao certos indices de inflacao, para tentar corrigir, mas de qualquer forma isso so eleva ligeiramente o grau de complexidade inflacionaria, ja que os indices sao compostos sempre por certos tipos de produtos, que podem ou nao ja ter sido afetados pela inflacao. Isso torna facil para os burocratas estarem sempre um passo na frente deles.
A verdade e que a inflacao se espalha de forma heterogenea, e ate que as empresas beneficiadas no comeco do boom percebam que fizeram investimentos nao-lucrativos, no sentido amplo de geraca real de riquezas, demorara um certo tempo, e pior ainda, esses investimentos serao alavancados enquanto a euforia contabil for conservada pelas vias do processo inflacionario. Enquanto o credito era facil, enquanto a taxa de juros artificial criava uma incorreta percepcao das expectativas futuras dos consumidores, tudo era festa.
E assim que se cria uma maquina de desperdicar dinheiro em grande escala, sem que ninguem perceba. Os prejuizos sao todos feitos durante o boom, e sem que percebam as pessoas consomem seu capital acreditando estarem mais ricas. O crash e a recessao nao as tornam pobres, apenas fazem com que elas se deem conta da realidade e saiam do entorpecimento inflacionario.
O Lehman Brothers e os outros apenas seguiram a mesma sina de crer na abundancia produzida pelo espertismo burocratico que ja assassinou tanto outros banqueiros na America e no resto do mundo desde que os burocratas descobriram como falsificar moeda (e isso nos remonta ao imperio romano).
Abmael escreveu:
- Mas isso poderia elevar a base monetária de forma irresponsável e gerar inflação, alem de gerar problemas de distribuição devido à flutuações econômicas, isso já foi tentado antes e deu merda, estude a história do sistema bancário americano antes de escrever isto.
Pois e, eu estudei. E sei que o dolar unico, o FED, o abandono do padrao-ouro em todas as suas manifestacoes foram apenas mecanismos criados por burocratas para poder fabricar dinheiro e usa-lo.
Um banco privado pode gerar inflacao, mas ele e limitado sempre pela desconfianca dos seus clientes a respeito da sua capacidade de solvencia. Se eles desconfiarem, reconvertem suas contas em especie (ouro, ou outra commodity) e procuram outros bancos mais confiaveis. Quando o governo estabelece moedas de curso legal, proibe ou restringe severamente o comercio de comodities monetarias e seus substitutos, impoe taxas de cambio em relacao a divisas estrangeiras, ele simplesmente nao deixa as pessoas outra opcao a nao ser serem roubadas e aceitarem passivamente isso.
Abmael escreveu:- Claro, interprete os fatos da forma que lhe é mais conveniente, eu entendo...
Ora, entao sou eu que fiz a afirmacao fantastica e que estou interpretando tudo de forma conveniente?
Voce esta tao acostumado com a economia indireta que nao percebe que ela so existe pois esta escorada por bens reais para os quais as pessoas atribuem valor real. A sua "riqueza inexistente" e apenas um nivel alto demais de contratos sobre direitos sobre propriedades reais, e por essa razao sao riqueza existente, embora do seu ponto de vista limitado pareca apenas papel que fala sobre outros papeis.
Em ultima analise, todas as pessoas trocam servicos e mercadorias por servicos e mercadorias, o dinheiro e apenas um meio de troca, ainda que ele admita servicos e mercadorias baseadas nele proprio. Por exemplo, o direito que voce tem de passar um cheque do seu banco para pagar uma conta e um servico prestado que tem algum valor para voce, ainda que seja realizado exclusivamente sobre a transferencia de dinheiro.
As pessoas ao perderem contato direto com as coisas tangiveis e que sao de fato valorizadas acabaram por presumir que elas nao mais existiam, e produziram uma mitologia baseada na riqueza virtual produzida ex-nihilo, que por sua vez precisa ser defendida por burocratas sapientes dos segredos ultimos. Isso nao passa de um misticismo vulgar, e que nao exige muito esforco para se perceber que nao possui sentido algum.
Abmael escreveu:- Putz, depressão econômica não existe! - Como eu pude me enganar todo esse tempo!?!?!?
Existe, e eu expliquei suas causas, e porque o governo nao pode fazer nada a nao ser agrava-las ainda mais. Voce e que nao apresentou um argumento util me refutando.
Abmael escreveu:- Você assiste televisão? - Lê jornais? - Sugiro que dê uma olhadinha, analistas PRIVADOS de mercado financeiro são entrevistados diariamente, passou uma caixinha em todos ministérios para os burocratas babões pagarem aos analistas para falar isso? - Essas conspirações são escrotas.
Existem analistas privados e mesmo politicos que concordam e afirmam o que eu venho dizendo, logo, o que voce apresenta e apenas uma versao e quer que eu concorde com ela apenas porque e ela que ganha mais espaco na midia e nos debates burocratico-academicos?
Sinto muito, mas eu prefiro pensar.
Abmael escreveu:- Elenque as distorções promovidas depois informe porque a iniciativa privada as detectou e reagiu.
Eu nao tenho tempo nem paciencia para explicar uma teoria monetaria inteira para voce, Mises levou mais de 500 paginas no seu "Theory of Money and Credit" para conseguir me explicar.
Contudo, saiba que os precos dos produtos guardam proporcao em relacao aos seus estoques marginais e ao estoque marginal de dinheiro dos consumidores. Se esse estoque e afetado por uma inflacao, nao importando como o dinheiro e alocado entre os consumidores, ele criara distorcoes primeiro ao diminuir o estoque de determinados produtos, e depois dos subsequentes.
Durante o processo de relaxamento dos precos, algumas pessoas poderao acreditar que os produtos demandados primeiro o estao sendo em funcao de uma modificacao das preferencias dos consumidores, e entao podem fazer errados investimentos que ampliem a producao dos mesmos, pois o calculo contabil em moeda falsificada lhes sugeriu isso.
O unico problema e que isso nao e verdade, e so depois do relaxamento e que se percebe isso. Fora o fato de que os lucros gerados durante o processo foram todos oriundos da transferencia de riqueza daqueles que foram afetados apenas nos ultimos estagios da inflacao, e por isso viram todos os precos subirem, exceto os seus. Essas pessoas, por sua vez, produziam algo util, mas cuja a producao foi afetada por planos errados causados pelos mesmos erros de calculo que produziram o aumento na producao de coisas inuteis.
E assim que a inflacao produz distorcoes. As empresas privadas nao percebem a inflacao instantaneamente, e na medida que o governo as proibe de comprar divisas, de trocar suas moedas, de criar moedas concorrentes, elas simplesmente nao tem para onde fugir.
E um sistema de moedas concorrentes, lastreadas ou nao em commodities fisicas, isso simplesmente nao existiria, a menos que todos os bancos privados do mundo combinassem de inflacionar a moeda, o que seria altamente improvavel, alem de nao impedir pessoas de voltarem para o ouro fisico.
Abmael escreveu:- O mercado financeiro americano é o mais desregulamentado do mundo, este dado parece ser inútil na sua análise.
Essas sao afirmacoes espurias, e que mesmo que fossem verdadeiras, e nao sao, nao mudam o fato de a crise de la ter sido produzida por burocratas.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem