Aos cem anos, umbanda ainda sofre preconceito

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DIG
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Aos cem anos, umbanda ainda sofre preconceito

Mensagem por DIG »

Censo de 2000 do IBGE contou 432 mil brasileiros que se declaram umbandistas, 20% menos que em 1991

Emilio Sant’Anna e Ricardo Muniz

O problema já foi a perseguição da extinta Delegacia de Costumes, no século passado. Atualmente, aos cem anos de sua fundação, comemorada ontem, as acusações de charlatanismo e curandeirismo fazem parte do passado da umbanda. Uma história de obstáculos e desconfianças para se consolidar como a primeira religião criada no Brasil. Porém, se a polícia já não incomoda mais, a intolerância de outras crenças continua presente na vida de pais, mães e filhos-de-santo no Brasil.

Nem mesmo a proteção das entidades e orixás parece ter sido capaz de conter os ataques a centros de umbanda e candomblé. Os casos se acumularam nos últimos anos na mesma velocidade com que a demonização das religiões de matrizes africanas avançou nos veículos de comunicação controlados por evangélicos radicais.

Há quem acredite que a repetição dos casos de intolerância afasta os fiéis e impede a afirmação da crença. De acordo com o censo de 2000 do IBGE, 432 mil brasileiros se declaram umbandistas. Em 1991, eram 542 mil. “Hoje, existem pessoas se escondendo de sua fé por causa da intolerância religiosa”, lamenta pai Guimarães de Ogum, presidente da Associação Brasileira dos Templos de Umbanda e Candomblé (Abratu) e coordenador-geral do Movimento Chega! - organização contra a perseguição religiosa dos terreiros de umbanda.

Segundo o sociólogo Flávio Pierucci, livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), o discurso agressivo contra a umbanda e o candomblé surte efeito. “O número de adeptos de religiões afro-brasileiras está caindo vertiginosamente, o que significa que a contrapropaganda está funcionando. Essa demonização dos orixás funciona, porque as pessoas têm medo. Com pastores sistematicamente na televisão ou no rádio dizendo que aquilo é o demônio, realmente as pessoas começam a achar que existem religiões demoníacas no Brasil”, afirma.

A outra face da intolerância se revela na vergonha dos perseguidos. “Não temos dados consolidados do número de ataques nos últimos anos porque muitas pessoas acabam se escondendo com medo de novas retaliações”, diz pai Guimarães. “Existem casos de templos que são invadidos por evangélicos e quando ele (o umbandista) vai à delegacia, acaba sendo alvo de gozações.”

Alguns ataques, porém, acabaram na Justiça. Uma decisão do Tribunal Regional Federal de São Paulo concedeu ao Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo (Souesp) o direito de resposta por ofensa e difamação de um programa (Sessão de Descarrego) da Rede Record de Televisão. O direito de resposta foi proposto em Ação Civil Pública interposta pelo Ministério Público Federal em novembro de 2004. A resposta deveria ser veiculada pela emissora durante uma semana, por uma hora, em horário nobre. “Não temos problemas com os evangélicos. Nosso problema se chama Edir Macedo (bispo e fundador da Igreja Universal)”, reclama Antônio Basílio Filho, diretor jurídico e ex-presidente do Souesp.

Em sua sentença, a juíza federal Marisa Cláudia Gonçalves Cucio, da 5ª Vara Federal Cível de São Paulo, escreve: “entendo que é possível a identificação dos ataques à religião com o intuito de menosprezar quem as pratica, referidos como bruxos, feiticeiros, pais de encosto.”

A emissora recorreu e o caso aguarda uma definição do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Procurada pela reportagem, a Rede Record não se manifestou. “Eles induzem a sociedade a se voltar contra, ou pelo menos ter medo, das casas de caridade de umbanda”, diz Basílio.

Para Pierucci, há um limite jurídico para essas iniciativas. “Esse movimento todo que teve até a participação do Ministério Público de responsabilizar a Rede Record por estar veiculando que os orixás são demônios pecou por querer que o Estado resolvesse questões teológicas. Os juristas brasileiros têm aquele raciocínio lógico-formal, pensam: ‘não é da nossa competência dizer ao Edir Macedo que ele está ofendendo um orixá chamando-o de demônio, isso é um discurso religioso, e o que o Estado tem a dizer sobre um discurso religioso?’”

HISTÓRIA

Para os seguidores da religião, a primeira manifestação da umbanda sem vínculos com o kardecismo ou com o candomblé ocorreu em São Gonçalo, no Rio, em 15 de novembro de 1908. Nesse dia, na Tenda Nossa Senhora da Piedade, o médium Zélio Fernandino de Moraes, então com 17 anos, recebeu o Caboclo Sete Encruzilhadas. Estava fundada a religião e o primeiro terreiro de umbanda, oficialmente reconhecidos dali em diante.

Hoje, terreiros se espalham por todo o País, além de Portugal, Argentina e Inglaterra. Em São Paulo, são dezenas de templos, congregados pela Souesp.

SEM REAÇÃO

Na avaliação de Pierucci, as religiões afro-brasileiras não estão sabendo reagir aos ataques, especialmente por carecer de foros de discussão. “O que estamos vendo é que essas religiões são muito frágeis, não têm organização nem muita unidade. De repente eles recebem um bombardeio de uma igreja que é gigantesca, que é a Igreja Universal.” Em um contexto de acirrada concorrência por clientela, diz o sociólogo, a diversidade religiosa não tem crescido com a liberdade religiosa. “Essa liberdade religiosa deu origem a uma concorrência livre no sentido de que o Estado não regula mais o campo religioso, ele deixa as feras lutarem entre si. Ele se isenta, se ausenta.”




Fonte: http://txt.estado.com.br/editorias/2008 ... 16.6.1.xml

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user f.k.a. Cabeção
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Re: Aos cem anos, umbanda ainda sofre preconceito

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

“Essa liberdade religiosa deu origem a uma concorrência livre no sentido de que o Estado não regula mais o campo religioso, ele deixa as feras lutarem entre si. Ele se isenta, se ausenta.”



E impressao minha ou esse sociologo esta sugerindo que o Estado fiscalize a concorrencia espiritual e subsidie crencas religiosas pouco competitivas? Nao que o filho da puta nao tenha la sua coerencia com o dogma esquerdista mais em voga hoje em dia, o da necessidade de regulamentacao burocratica em tudo. Ora, se bancos precisam, igrejas tambem, nao e verdade?

Mas ai fica a duvida: quem vai fiscalizar a religiao esquerdista desse e de muitos outros babacas tagarelas, cujo Deus e a burocracia governamental? Quem vai me salvar da concorrencia desleal que eles praticam, ao monopolizar a educacao, a midia, as artes e todas as demais atividades subsidiadas pelo proprio Deus deles?

Sera que nesse caso, segundo o nobre sociologo imbecil, eu terei que me conformar e me converter?

"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

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Acauan
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Re: Aos cem anos, umbanda ainda sofre preconceito

Mensagem por Acauan »

Intelectuais brasileiros falam da Umbanda cheios de dedos, querendo proteger o que consideram um patrimônio cultural do Brasil – a tal primeira religião criada nestas terras (como se os Índios tivessem sido todos ateus).

Não há dúvida que os pentelhos radicais evangélicos que atacam violentamente locais de ritos-afro devem ser reprimidos nos termos da lei, mas o buraco é mais embaixo.

A principal incentivadora desta oposição violenta à Umbanda e Candomblé é a Organização Universal, de Edir Macedo, ele próprio oriundo em seus primórdios destes ritos.
Não se trata da radicalização do discurso cristão contra cultos que consideram demoníacos e sim o confronto de dois sincretismos, o da Umbanda, com sua síntese artificial entre o kardecismo e ritos tribais, e o da Organização Universal, que absorveu descaradamente elementos da Umbanda para conquistar este segmento expressivo do mercado religioso, ao mesmo tempo que demoniza o concorrente com o qual se assemelha em tantos pontos.

Quem vê os ditos pastores vestidos de branco, receitando sal grosso prá tudo, falando o tempo todo de encostos e operando descarrêgos a torto e a direito não precisa pensar muito para concluir se a inspiração vem do Evangelho ou do terreiro próximo.

Mas por mais pentelhos que os neo-pentecostais sincréticos sejam, o fato é que a Umbanda não é esta maravilha romântica que pintam.
Primeiro porque sofrem do mesmo problema crônico de seus desafetos, pois não havendo uma instituição reconhecida por todos e com autoridade para estabelecer requisitos mínimos para alguém ser considerado pai ou mãe-de-santo, no fim acontece o mesmo que ocorre com estes pastores que andam por aí, qualquer um que diga que é e convença alguns disto, passa a ser.

Desnecessário lembrar que desta balbúrdia é tão fácil surgir donos de terreiros vigaristas quanto pastores do mesmo naipe.

Depois, sem questionar sua liberdade de religião, muitos umbandistas são uns porcalhões, que enchem a cidade de suas oferendas e velas, inclusive cemitérios católicos romanos, que dentro do princípio do respeito mútuo deveriam ser poupados como campo santo.

E a semelhança negativa não para aí.
Tanto quanto os neo-pentecostais esticam suas interpretações bíblicas ao bel-prazer e conveniência, criando miríades de vertentes nas quais é difícil identificar convergências, o que se chama de Umbanda também é um termo genérico para uma profusão de ritos semelhantes na forma, mas distante longe léguas entre si no conteúdo, isto quando tem algum.

Mas alguns batuques são até legaizinhos, pelo menos nos dez primeiros minutos. Depois enche o saco.

Nós, Índios.

Acauan Guajajara
ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
Lutar com bravura, morrer com honra.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

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Apáte
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Re: Aos cem anos, umbanda ainda sofre preconceito

Mensagem por Apáte »

Bah, aos 2mil anos catolicismo ainda sofre preconceito.
Há muito mais tempo, judaísmo.
"Da sempre conduco una attività ininterrotta di lavoro, se qualche volta mi succede di guardare in faccia qualche bella ragazza... meglio essere appassionati di belle ragazze che gay" by: Silvio Berlusconi

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Apo
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Re: Aos cem anos, umbanda ainda sofre preconceito

Mensagem por Apo »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
“Essa liberdade religiosa deu origem a uma concorrência livre no sentido de que o Estado não regula mais o campo religioso, ele deixa as feras lutarem entre si. Ele se isenta, se ausenta.”



E impressao minha ou esse sociologo esta sugerindo que o Estado fiscalize a concorrencia espiritual e subsidie crencas religiosas pouco competitivas? Nao que o filho da puta nao tenha la sua coerencia com o dogma esquerdista mais em voga hoje em dia, o da necessidade de regulamentacao burocratica em tudo. Ora, se bancos precisam, igrejas tambem, nao e verdade?


É verdade, tanto que imposto - que é "bom", pagam é nada.
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