Quotas em empresas...

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Discernimento
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por Discernimento »

Essa cotização do acesso ao conhecimento e ao trabalho soa exatamente como o lema: Dividir para consquistar.
Não deve haver teste que negue totalmente acesso ao conhecimento.
Não deve haver critério, além da capacidade técnica, que negue acesso ao trabalho.
O contrário é fantasia repetida até se tornar verdade.

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Aranha
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por Aranha »

user f.k.a. Cabeção escreveu:
Ha certos sujeitos que adoram falar a respeito de medidas contra a propriedade privada alheia como se fossem coisa pouca, mera violacao do direito de alguns poucos otarios, nao tendo nada de estrategico ou de nocivo por tras. Que essas violacoes com certeza param por ai, no comecinho, e sao so um agrado para algum grupinho de pressao barulhento, que rapidinho cala-boca, sendo portanto obra da genialidade politica de governantes mais que espertos, que inclusive fazem o mesmo com a propriedade brasileira saqueada no exterior. Dizem nao haver chance do procedimento aumentar e se espalhar, transformando a lei em instrumento de saque.

Sao sujeitos tao seguros de si, que apostam ate caixas de cerveja nisso.


- Foi prá mim.

- Uma correção, não foi nisso que apostei a caixa de cerveja, aliás, o único aqui que apoiou o saque de propriedades brasileiras no exterior foi o dono do fórum.

- E só prá constar, já que é o assunto do tôpico, sempre fui contra cotas raciais.

Abraços,
"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker

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André
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por André »

Insane_Boy escreveu:Mesmo com vestibular surgem alguns quadrúpedes nessas universidades. Imagine se o acesso fosse livre.
Nota:
1) Sou Negro.
2) Fui pobre, estudei a vida toda em colégio público. Passei no vestibular sem ir pra merda de cursinho. Me formei, estou fazendo pós. E agora qualquer asshole só por causa da cor de pele vai entrar esforço em empresas e universidades? Isso é sacanagem. Isso é sacanagem comigo.

Imagina as piadinhas com outros negros como eu? "Ah, entrou pelo esquema de cotas".
Leis racistas, trazem racismo. Eu exijo igualdade. Isso não é igualdade. Eu tive acesso a educação pública como qualquer outro. Não me sinto excluído, e nunca fui excluído pela minha cor-de-pele. ESSA É A COISA MAIS IDIOTA DO MUNDO.



No caso de Universidades concordo com vc. Se existirem cotas deveriam ser sociais, e não por cor da pele, e para pegar os melhores do ensino público.

Agora imagine uma empresa, contrata funcionários, para serviços que exige-se baixa qualificação, em uma cidade que 40 por cento da população é "afro-descendente" ou negra, parda...

Vamos supor que nas entrevistas para o emprego, um percentual próximo, ao populacional, de negros, se candidatou. E a empresa contratou 100 por cento de não negros. Ou 99 por cento, colocou um ou dois para fazer média. Na investigação diversas pessoas de cor tão qualificadas e mais qualificadas foram descartadas. Tudo indica que temos crime de racismo, o contratador escolheu e usou como critério a cor (quem tinha o poder de contratar era racista, algo possível, lamentavelmente). Nesse caso, um mínimo, conectado com dados do IBGE, deve ser exigido. E apenas em caso de denuncia de algo similar, deve-se ter uma investigação, e a lei aplicada. Ou seja, apenas quando se configura racismo na contratação, que é crime por sinal, ai sim, deve-se aplicar.

Lembrando que se o contratador fosse negro, e contratasse apenas negros, em condições similares a que sugeri, o crime de racismo seria o mesmo. Assim como para qualquer discriminação desse tipo.

Exceto isso, "raça" cor, não deve ser critério, especialmente no Estado, que deveria ser cego para a cor das pessoas. No caso, o Estado estaria fazendo a empresa ser cega, pois o caso exemplifica uma situação de discriminação com base na cor. Estou criando um caso hipotético que a investigação conclui como existente o crime de racismo, logo supor como inexistente não faz parte da minha elucubração, e convenhamos, não é tão impossível acontecer, e quando fica configurado e claro, a denuncia cabe. Como em qualquer caso de racismo, em relação a qualquer cor de pele. Já que aqui no Brasil o racismo aparece na relação com o fenótipo.

Em casos extremos como esse sim, fora isso não deve haver interferência do Estado em contratações. Quando se caracteriza um crime,como o caso que imaginei, obviamente que sim.
Editado pela última vez por André em 24 Nov 2008, 21:04, em um total de 2 vezes.
Visite a pagina do meu primeiro livro "A Nova Máquina do Tempo." http://www.andreteixeirajacobina.com.br/

Ou na Saraiva. Disponivel para todo Brasil.

http://www.livrariasaraiva.com.br/produ ... 0C1C301196


O herói é um cientista cético, um pensador político. O livro debate filosofia, política, questões ambientais, sociais, bioética, cosmologia, e muito mais, no contexto de uma aventura de ficção científica.

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user f.k.a. Cabeção
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


O problema das cotas e na verdade outro: temos um recurso publico escasso e nao temos como decidir o seu uso.

Se as universidades fossem privadas era facil: se o dono quiser, 100% de cotas para negros-gays-paraliticos-que-estudaram-durante-todo-o-ensino-medio-em-ciep. Isso e problema dele.

Mas quando falamos de universidades publicas, entramos no submundo da politica e da retorica. As coisas nao estao bem definidas, e ganha quem conseguir mobilizar mais interesses especiais.

Se houvesse na constituicao uma definicao clara da missao da universidade publica, por exemplo, formar os mais bem preparados estudantes com objetivo de atingir a excelencia na formacao de profissionais e academicos nacionais, nao haveria margem para duvida: nao interessa se o aluno veio de escola publica ou privada, os mais bem preparados serao admitidos.

Um exemplo claro desse tipo de conduta se passa com as duas escolas de engenharia administradas pelos militares: o IME, do exercito, e o ITA, da aeronautica. Nas duas, a quase totalidade os alunos e oriunda de colegios e cursos preparatorios de elite, ainda que alguns alunos mais carentes ganhassem bolsas de estudo para estudar la. Nao ha espaco para debates socialoides idiotas, pois nao e o ponto do Exercito nem da Aeronautica distribuir diploma para os "desprivilegiados". Eles querem formar quadros de engenheiros militares e civis de alta qualificacao, e sabem que este trabalho so sera possivel selecionando entre os melhores candidatos.

Pouco importa se foi um colegio privado ou um colegio publico que formou o aluno que entra nesses institutos, o que importa e que eles fizeram um bom servico e que o aluno soube aproveita-lo.

Se alguem tem alguma duvida da diferenca entre as duas condutas, que pegue um formando entre os 10 ultimos do ITA e um aleatorio da UnB em engenharia eletrica e compare.
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por Apo »

cabeção escreveu:Pouco importa se foi um colegio privado ou um colegio publico que formou o aluno que entra nesses institutos, o que importa e que eles fizeram um bom servico e que o aluno soube aproveita-lo.



Mas esta é uma forma de se safar das responsabilidades administrativas da máquina pública! Aí eu concordo que este tipo de burrocracia inerte e incapacitante é mesmo um crime.

Os caras não conseguem manter o ensino público em condições ( nem seu corpo docente, nem infra-estrutura, nem salários, nada!) e depois, quando se dá a desgraça do gargalo, arranjam esta de cotas para tudo! Assim todo aquele que perdeu, inclusive os que perderam por falta de interesse mesmo, se sentem recompensados, sendo embutidos no mundo dos que deveriam estar por crédito e merecimento.

Muito conveniente para ambos.


E a culpa é de quem? Das elites ( não da elite política, óbvio...eles são os salvadores )!
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user f.k.a. Cabeção
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Voce pode ver o fato do IME e do ITA selecionarem os melhores preparados como "uma forma de se safar".

Eu vejo como uma forma de cumprir com os objetivos dos dois institutos.

O IME e o ITA nao sao instrumentos de politicas sociais. Eles nao estao ali para dar diploma para pobres arranjarem emprego. A missao deles nao e corrigir as falhas da educacao basica.

Eles tem uma missao clara: formar jovens engenheiros talentosos para os quadros civis e militares do pais.

Mas eles fazem apenas uma parte desse servico, a final. Eles pegam os alunos mais destacados por seus conhecimentos dos conteudos do Ensino fundamental e medio e dai os transformam em engenheiros.

Eles nao poderiam fazer o servico inteiro, seja pegando alunos desde a idade primaria, seja admitindo jovens adultos com conhecimentos primarios. Por nao poderem fazer esse servico, o que e um simples fato logico, eles precisam selecionar os melhor qualificados.

O verdadeiro problema e sempre o mesmo: quando a coisa e publica, nao se sabe direito o que se fazer com ela, e acaba fazendo-se tudo errado.

Mas tambem prescrever solucoes anti-estatais de curto prazo num pais com uma mentalidade geral como a do Brasil e criar expectativas irreais.

A propriedade publica funciona bem menos mal (ou ao menos funciona de alguma forma) quando ela esta submetida a principios claros de uso que nao sejam contraditorios nem tentem agradar a Deus e ao mundo. O IME e o ITA sao dois bons exemplos, existem alguns outros poucos.

A Universidade publica e os burocratas poderiam aprender alguma coisa com isso. Que ela nao pode ser ao mesmo tempo obra social e centro de excelencia. Que ela nao pode corrigir os males da educacao deficiente de alguns enquanto ensina outros a explorar os limites do conhecimento atual.

Se separassem todas essas universidades em unidades encarregadas ou da prestacao do servico social profissionalizante, visando exclusivamente a qualificacao da mao-de-obra carente e mediante um programa de estagios com empresas, ou da formacao dos profissionais de nivel superior selecionados entre os melhor preparados de cada geracao, ja seria um passo enorme.

Ninguem escolhe seu medico pelo fato dele ter nascido na favela ou em uma maternidade de classe alta. Pelo fato dele ter estudado no CIEP ou na suica. Escolhem seus medicos pela competencia e confianca que eles inspiram, e tambem pelos precos que eles cobram por seus servicos.

Acredito que para os pagadores de impostos e para a populacao em geral, e muito mais produtivo formar medicos de qualidade entre os alunos capazes de receberem essa educacao do que tentar driblar a ignorancia e carencia de certos alunos para formar medicos menos qualificados no final.
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Acauan
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por Acauan »

Apáte escreveu: Acauan, uma vez você disse que pertence à primeira geração da sua família a se urbanizar, sendo que não encontrou muita dificuldade para isso.


De fato, a urbanização de minha família foi um processo muito interessante, pois de certa forma nos urbanizamos junto com o Brasil.

Apáte escreveu: Presumo que seja índio de pai e mãe.


Correto, os dois pertenciam ao mesmo clã que preservou nossa identidade étnica após a aculturação.

Apáte escreveu: Mas fiquei curioso sobre sua posição quanto aos EUA. Talvez esteja se referindo a alguns estados, porque duvido muito que o pessoal moderninho da Califórnia, Nova York ou Miami cultiva esse segregacionismo.


A coisa mudou muito por lá, mesmo nos estados mais conservadores do Sul onde a tensão racial era violenta.
Os Estados Unidos são uma sociedade extremamente dinâmica e aprenderam muito com o movimento dos direitos civis do dr. Luther King.

Apesar disto, a herança segregacionista é visível mesmo no rincão mais pós-moderno da America. New York, com toda sua aura, é uma miscelânea de tribos separadas pela origem – wasp's (que lá são minoria), judeus seculares, judeus tradicionais, irlandeses, italianos, poloneses, latino-americanos e a população negra, que também é muito heterogênea.


Apáte escreveu: Partindo que ele esteja presente em alguns lugares, e que seja mais fácil identificar um negro lá do que aqui, quais medidas sugere tomar? Uma lei como esta postada, além de um absurdo numérico, é impossível de ser posta em prática.


Como sempre a solução mais simples e óbvia é a certa, que no caso significa melhorar – e muito – o ensino público, prioritariamente os de nível fundamental e médio.
A experiência histórica não deixa dúvida que o único processo realmente eficaz de progresso social é a educação de qualidade em massa.
Isto vale lá e cá, tanto que a grande preocupação da prefeitura de New York, após ter vencido a violência criminal, é melhorar as escolas dos bairros pobres, particularmente o Bronx.


Apáte escreveu: Como já disse, alguns setores exigem mão-de-obra bastante qualificada, e se negros estão a margem do ensino, não vai ser uma lei forçada como esta que vai resolver.


Esta lei é completamente idiota e vai apenas criar tensões raciais que não existiam.
O fundamento ideológico da patacoada é a tal de "dívida histórica" que o Brasil teria com os negros. O problema é que toda dívida só existe de fato se há um devedor a ser cobrado. No caso desta tal dívida histórica, por que cargas d'água pessoas brancas e pobres, que descendem de outros brancos pobres, ou imigrantes europeus que vieram para o Brasil após o fim da escravidão e, portanto, em nada usufruíram dela, deveriam se considerar devedores de uma conta que não é deles?

Dizer que o devedor é o Estado Brasileiro não muda em nada a coisa, pois o Estado nada mais é que a representação organizada de todas as pessoas de uma população, inclusive das citadas acima, que perderão oportunidades em privilégio de outras.

O motor destas bobagens não é nenhum interesse humanitário por parcelas injustiçadas da sociedade, mas a má e velha crença na engenharia social revolucionária, a vontade de poder que figurinhas carimbadas exercem transformando gente em experimentos de laboratório. Por mais que dêem com os burros n'água, acham que basta jogar o conteúdo daquele tubo de ensaio fora, numerar um novo e recomeçar. Quem foi descartado nestes processos – pela contagem até hoje, dezenas de milhões de pessoas – é classificado como custo do progresso, mesmo que este tal progresso nunca venha.


Apáte escreveu: Nem contesto a inconstitucionalidade, que aparentemente nossos legisladores não ligam mais.


Para esta turma dos experimentos revolucionários, qualquer constituição representa apenas um momento estático do grande processo histórico do qual eles, claro, são os arautos e portanto autorizados pelo tal processo a decidir o que é progressista e o que não é nas Cartas Magnas, pretendendo, a partir deste pensamentinho fuleiro, terem por missão destruir os entraves do progresso e trazer para mais próximo o futuro dourado que pregam, mas do qual nunca se viu sequer sombra.
Nós, Índios.

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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por Apo »

user f.k.a. Cabeção escreveu:Voce pode ver o fato do IME e do ITA selecionarem os melhores preparados como "uma forma de se safar".

Eu vejo como uma forma de cumprir com os objetivos dos dois institutos.

O IME e o ITA nao sao instrumentos de politicas sociais. Eles nao estao ali para dar diploma para pobres arranjarem emprego. A missao deles nao e corrigir as falhas da educacao basica.

Eles tem uma missao clara: formar jovens engenheiros talentosos para os quadros civis e militares do pais.

Mas eles fazem apenas uma parte desse servico, a final. Eles pegam os alunos mais destacados por seus conhecimentos dos conteudos do Ensino fundamental e medio e dai os transformam em engenheiros.
...


Desculpa, cabeção. Eu retirei a parte destacada do contexto, que era referente ao ITA e ao IME. Estava me referindo a outras instituições e progamas de inclusão. Como normalmente é isto que criticamos, eu me deixei levar pelo ímpeto da leitura "dinâmica".

O verdadeiro problema e sempre o mesmo: quando a coisa e publica, nao se sabe direito o que se fazer com ela, e acaba fazendo-se tudo errado.

Mas tambem prescrever solucoes anti-estatais de curto prazo num pais com uma mentalidade geral como a do Brasil e criar expectativas irreais.

A propriedade publica funciona bem menos mal (ou ao menos funciona de alguma forma) quando ela esta submetida a principios claros de uso que nao sejam contraditorios nem tentem agradar a Deus e ao mundo. O IME e o ITA sao dois bons exemplos, existem alguns outros poucos.


Bem, não vejo por que criaria expectativas mais irreais dos que as mentiras, balelas e desvirtuações do que costumam fazer. Este é o país do faz-de-conta. Além da raiva por me sentir com nariz de palhaço o tempo todo ( um nariz que não me pertence, mas pertence a 80% da nossa ignorante população e muitos que se dizem intelectuais por aqui ), vejo o ranço vermelho por trás de tudo. E pior: é um ranço estranho que, por vezes parece o de direita militar, por vezes parece de esquerda, ambos aniquiladores da liberdade de pensamento já na base, quando se aprende a questionar através do exercício do "pense maior", " pense diferente". O negócio aqui é pense igual, repita clichês e acredite que está abafando.

Odeio isto!

A Universidade publica e os burocratas poderiam aprender alguma coisa com isso. Que ela nao pode ser ao mesmo tempo obra social e centro de excelencia. Que ela nao pode corrigir os males da educacao deficiente de alguns enquanto ensina outros a explorar os limites do conhecimento atual.

Se separassem todas essas universidades em unidades encarregadas ou da prestacao do servico social profissionalizante, visando exclusivamente a qualificacao da mao-de-obra carente e mediante um programa de estagios com empresas, ou da formacao dos profissionais de nivel superior selecionados entre os melhor preparados de cada geracao, ja seria um passo enorme.


Estes programas em empresas existem. Mas mesmo a maioria das empresas ou faz por obrigação política, por querer aparecer bem na foto...mas fazem de forma rala.

Não conte com excelência por aqui. A maior parte é feita para cumprir script.


Ninguem escolhe seu medico pelo fato dele ter nascido na favela ou em uma maternidade de classe alta. Pelo fato dele ter estudado no CIEP ou na suica. Escolhem seus medicos pela competencia e confianca que eles inspiram, e tambem pelos precos que eles cobram por seus servicos.


Ninguém, vírgula. Eu acho que escolhe sim. Não por onde nasceu, porque é difícil saber. Mas onde estudou é um ponto importante. Competência a gente vê depois que já perdeu tempo ou não com o profissional. Antes se tenta ter algum dado de currículo dele. Dentre os melhores, analisa-se custo-benefício. Mesmo assim, há heterogeneidade, até quando foi uma indicação. Indicações são também de cunho pessoal.

Acredito que para os pagadores de impostos e para a populacao em geral, e muito mais produtivo formar medicos de qualidade entre os alunos capazes de receberem essa educacao do que tentar driblar a ignorancia e carencia de certos alunos para formar medicos menos qualificados no final.


Certamente. "Pode ser que dê certo" é um risco que só os politicamente corretos ( e burros ) conseguem aceitar.
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por Apáte »

Acauan, concordo integralmente com seu poste, exceto esta parte:

Acauan escreveu:Como sempre a solução mais simples e óbvia é a certa, que no caso significa melhorar – e muito – o ensino público, prioritariamente os de nível fundamental e médio.
A experiência histórica não deixa dúvida que o único processo realmente eficaz de progresso social é a educação de qualidade em massa.
Isto vale lá e cá, tanto que a grande preocupação da prefeitura de New York, após ter vencido a violência criminal, é melhorar as escolas dos bairros pobres, particularmente o Bronx.


Ainda não estou completamente convencido que a educação pública, mantida pelo Estado, e compulsória (pelo menos no nível médio) é a melhor opção.

off topic: já viu:
Imagem?
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por Acauan »

Apáte escreveu:Ainda não estou completamente convencido que a educação pública, mantida pelo Estado, e compulsória (pelo menos no nível médio) é a melhor opção.


A escola pública é a melhor opção em um primeiro momento, desde que levado a cabo um punhado de reformas que deram bons resultados em outros países.
No tópico Meritocracia nas escolas públicas de São Paulo foram discutidas estas reformas, inclusive com a publicação de uma série de reportagens sobre os estudos do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, que traçou uma análise comparativa entre o ensino público de New York, cuja gestão adotou padrões da iniciativa privada, e as escolas públicas de São Paulo.

Estancada a sangria desatada da produção de analfabetos funcionais em massa que é o ensino brasileiro atual, cabe uma análise crítica do papel do Estado neste setor.


Apáte escreveu:off topic: já viu:
Imagem?


A série é bem legal e dá uma visão bem mais otimista sobre a comunidade negra americana que os filmes de Spike Lee, por exemplo.
Chris Rock, quando fala sério, tem um discurso político surpreendentemente lúcido para alguém da profissão dele, onde reina a rastaquera politicamente correta.
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por Apáte »

Depois releio o tópico, muito bom. Também tem este, com um texto de abertura muito interessante do Lucas Mendes (infelizmente, apenas o texto de abertura).

Quanto a Chris Rock, além de conhecer os problemas das comunidades negras de perto (aparentemente só que morou décadas numa destas comunidades tem gabarito para dar qualquer palpite), ele é negro, não sofrendo as mesmas censuras que um branco sofreria caso resolvesse fazer o mesmo tipo de piada. A esquerda conseguiu acabar até mesmo com o humor.

"A diferença dum bairro de brancos para um bairro de pretos é que no bairro dos brancos os malandros te roubam, no bairro dos pretos, eles te roubam e te batem."

"No meu quarteirão, há apenas 4 pais de família que trabalham. Eles trabalham pro quarteirão inteiro."

"Agora só porque um idiota não sabe usar seu caminhão com segurança, o sindicato me impõe uma greve."

Genial!
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Apate escreveu:Ainda não estou completamente convencido que a educação pública, mantida pelo Estado, e compulsória (pelo menos no nível médio) é a melhor opção.



Uma pergunta importante a se fazer antes de comecar uma consideracao desse tipo e a seguinte: "qual melhor opcao?".

Em teoria nada precisaria ser feito por um corpo de burocratas, o mercado daria conta espontaneamente de todas as situacoes. Nao e um desafio enorme construir modelos teoricos hipoteticos para ruas completamente privadas, escolas e universidades completamente privadas ou direitos de poluir completamente privados. E ate uma tentacao como passatempo intelectual, pela qual eu me confesso.

Ainda que isso seja bastante interessante e acrescente musculatura as ideias politicas libertarias para que futuramente elas possam ganhar terreno, e necessario saber separar isso do debate politico pratico atual. Porque por mais convincente que eu fosse no meu modelo de "ruas privadas", o que eu receberia como resposta para uma proposta politica dessas seria um dar de ombros ou na melhor das hipoteses me tornaria motivo de galhofa.

Algumas ideias precisam de tempo para serem bem assimiladas, e durante esse tempo existem transformacoes que podem ser introduzidas sem colidir frontalmente com a ideologia dominante e acabarem sendo descartadas precipitadamente.

Um exemplo para a educacao publica e o sistema de "vouchers escolares". Nao se trata de uma solucao de livre mercado, pois o governo subsidia a educacao, mas ainda assim permite que a competicao volte a se reestabelecer no setor, e que este volte a se orientar pela qualidade e custo, tornando-se menos ideologico e corporativo.

A ideia e que cada familia pobre inscrita no programa receberia um credito inversamente proporcional a renda familiar e proporcional ao numero de criancas, pago pelos contribuintes, para ser gasto com educacao, servindo para pagar uma parte ou o total das mensalidades em escolas publicas ou privadas. Escolas registradas poderiam resgatar esses creditos junto ao governo.

Como a renda das escolas deixaria de ser fixada por burocratas e dependeria do numero de criancas que escolheriam estudar nela, haveria menos espaco para politicagens e corporativismos: os professores teriam que agradar os pais dos alunos oferecendo boa educacao para seus filhos, caso contrario ele seriam levados para uma outra escola.

Isso eliminaria num primeiro momento o poder que os sindicatos de professores possuem para manter o status quo. Estimularia a competicao, produziria incentivos para bons professores e etc.

O problema maior seria definir o que qualifica como uma escola para que essa entidade pudesse resgatar o credito. Ou seja, algum burocrata precisaria dizer o que e ou nao uma escola, para que o acougueiro nao se registrasse como tutor particular para poder trocar carne por voucher e voucher por dinheiro. Mas isso ja seria uma limitacao no poder dos burocratas e dos sindicatos ao meu ver.

O mais interessante e que esse sistema nao teria a desvantagem de parecer sacrificar os mais pobres, pelo contrario, aumentaria o poder de escolha deles e deslocaria os incentivos para mais proximos de onde eles deveriam estar.

Que nao e o ideal, isso e obvio. O ideal sao as pessoas pagando pelo que consomem e recebendo pelo que produzem. Ate porque, no final das contas, nao tem como ser de outro jeito, ja que o Estado nao produz nada do ar. Mas tendo em vista que esse principio num primeiro momento seria descartado por ser "demasiado radical", e preciso considerar com mais cuidado formas de aproxima-lo.
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Re: Quotas em empresas...

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Cabeção, não discordo do que escreveu. Também não fiz nenhuma objeção ao Acauan, se reparou bem, apenas disse que não estava completamente convencido da idéia.

O tópico que citei é o Vouchers e o Estado: Friedman x Rothbard. Eu concordo que a idéia de vouchers é muito melhor do que o sistema atual, assim como seria mais aceita do que a de Rothbard. Eu apóio a aplicação da mesma. Não é por isso que vou deixar de citar problemas inerentes aos vouchers:

1) Famílias pobres receberem um cartão de maior validade fere o princípio de tratamento isonômico pelo Estado. Não seria catastrófico se parasse nos vouchers escolares, mas pode abrir margem pra muito discussão.
2) Como bem apontado pelo Professor Rothbard, se por um lado as pessoas podem trocar o voucher no lugar de carne alegando que o açougueiro é um tutor particular, se deixarmos (como você alegou), se deixarmos que o Estado regularize a situações, ele pode considerar uma escola liberal como um açougue.
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Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Rothbard esta correto em todas as criticas que faz ao sistema de vouchers, que no final das contas, e um sistema de subsidios por impostos.

Mas o problema da organizacao da educacao infelizmente nao e um mero problema de alocacao optimal de recursos, mas e uma questao onde existe uma forte contaminacao cultural em favor de solucoes coletivistas. E finalmente sao essas contaminacoes que impedem que qualquer ideia de privatizacao completa do ensino seja assimilada instantaneamente.

O exemplo que Rothbard costuma dar, da producao de sapatos, e pertinente, e por varias vezes eu me sirvo dele para explicar como se forma uma crenca na "necessidade dos burocratas". Se o governo distribuisse sapatos, por mais precarios que eles fossem, em alguma medida esgotariam a demanda e impediriam o suprimento total por parte de um livre mercado, e se essa situacao durasse tempo suficiente todas as pessoas se acostumariam com a ideia de que sapatos sao uma externalidade que "deve" ser produzida pelo governo.

Eu tenho esse argumento como plenamente verdadeiro, mas os ensinamentos que se podem tirar deles nao sao sempre os mesmos. Se, por acaso, vivessemos no mundo das precarias sapatarias coletivista, e da cultura do sapato socialista, por mais que estivessemos corretos na nossa posicao de que os sapatos devessem ser produzidos pelo mercado, nao seria atraves do radicalismo intransigente que burocratas e cidadaos seriam convencidos a restaurar a competicao e o mercado de sapatos. Todos diriam que se tivessem que comprar sapatos teriam que comer menos, o que seria muito injusto, e toda aquela ladainha falaciosa porem convincente que nos sempre escutamos acerca das propostas de privatizar a educacao, seja diretamente da boca de demagogos, seja da boca daqueles que compram seus discursos.

E para lidar com essa cultura de dependencia, e preciso fazer um certo numero de concessoes de primeiro momento. Se estamos de acordo com o fato de que o sistema coletivista de educacao e precario, podemos procurar restaurar alguma competitividade, realocando incentivos de forma mais racional pela via de mercado, ainda que subsidiado a principio. O grande ponto seria colocar o poder de escolha nas maos do consumidor.

Restaurada a competicao, o proximo passo seria reduzir e suprimir os subsidios, deixando o mercado funcionar plenamente.

Vale lembrar que as privatizacoes que foram bem sucedidas se passaram em areas onde ja havia competitividade nacional e internacional, seja no setor bancario, de telecomunicacoes ou no de producao de materias primas e insumos industriais de base. As pessoas nao tiveram que se confrontar com a ideia de pagar por um telefone ou por um emprestimo ou por materiais siderurgicos, elas ja pagavam por isso, e caro. As empresas publicas em muitos casos tinham que competir com empresas privadas e publicas internacionais, ou pelo menos tinham como seguir os padroes dessas empresas de alguma forma. Nao foi necessario um enorme trabalho de restauracao da crenca na competitividade, foi apenas necessario tirar do Estado a funcao de competidor. Ja em outras areas a transicao e muito mais complicada, pois as pessoas nao estao pre-dispostas a pagar diretamente pelo que consomem, mesmo que isso signifique um substancial desconto de impostos. Alem disso, nao existe padrao de competitivdade e os setores se encontram dominados por conselhos profissionais e sindicatos de trabalhadores ferozes e barulhentos, alem de terem do seu lado boa parte da midia e da "intelectualidade".

Rothbard e os anarquistas tem razao de pensar que se o governo nao estivesse provendo algum tipo de educacao, as pessoas se encarregariam de fazer isso sozinhas, e fariam isso bem melhor. Alias, foi assim no comeco, a nocao de educacao coletivista e um constructo ideologico relativamente recente, mas que hoje se encontra profundamente impregnado na cultura do Ocidente. O Estado nao vai simplesmente parar de fornecer educacao, qualquer governo ou candidato que ameace faze-lo sera trucidado politicamente pelos adversarios e sera abandonado pelos aliados. Hoje, educacao coletivista e um elemento da cultura politica que nao pode ser simplesmente ignorado. Para derrota-lo, e preciso buscar caminhos menos obvios para a restauracao da competicao, e o sistema de vouchers parece ser bem eficaz, e reduzir substancialmente o poder de burocratas e sindicatos de professores.

Se o governo ainda conservara algum poder ao definir quais sao escolas aptas a resgatar subsidios, podendo assim definir de forma indireta quais os conteudos a serem estudados, nao estaremos diferentes da situacao atual nesse quesito. Mas ao menos nos livraremos da precaria administracao coletivista dos estabelecimentos e concederemos as pessoas alguma liberdade de escolha como consumidoras. Em particular, permitira a familias pobres que queiram investir em seus filhos que complementem os subsidios e consigam assim bancar os custos de escolas privadas mais caras e de melhor qualidade.

E preciso saber que por mais clara que a resposta esteja na cabeca, existe um caminho para se chegar a ela. No caso, o mercado livre e a resposta, mas nao se chegara ate ele sem pensar que no caminho teremos que parar em entrepostos como o sistema de vouchers. Conforme explicava Milton Friedman, existe uma tirania do status quo que impede que solucoes corretas sejam implementadas de supetao, sem que algumas concessoes sob certos aspectos irracionais frente a solucao correta sejam feitas por questoes meramente politicas. Acho que Milton Friedman era um homem mais devotado a desenhar estrategias para vencer a tirania do status quo, enquanto Rothbard ocupava-se em delinear qual seria e como funcionaria a resposta do mercado e porque ela seria a correta em todos os casos. Nao e a toa que eles tivessem suas diferencas de opinao.

Mas por mais que Friedman tenha feito concessoes a ideias socialistas, nao deve ser por isso que devemos incrimina-lo ou ignorar seus ensinamentos. Esse tipo de concessao e necessaria quando voce quer sair da ideologia para a pratica dentro de um sistema politico democratico. Ou isso, ou procurar reunir revolucionarios para dar um "golpe anarco-capitalista", procedimento que eu duvido muito que encontre voluntarios suficientes para que seja bem sucedido.
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Apáte
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Re: Quotas em empresas...

Mensagem por Apáte »

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