Flavio Costa escreveu:salgueiro escreveu:Posso estar errada mas tenho a sensação que o seu budismo é diferente do Flavio e do Luis, só não peguei ainda onde
Sim, o aknatom pratica uma vertente que em geral é considerada um tanto exótica, mas imagino que não haja grande diferença no tema sendo discutido.
Não existe nenhuma indicação de que o renascimento seja apenas "ficar na lembrança". Temos que considerar que o Budismo surgiu num ambiente hindu e usou a linguagem da época. A noção de atman (alma) hinduísta era incompatível com os princípios budistas, e o Buda também não quis defender uma teoria aniquilacionista (que a morte é o fim de tudo), pois essa visão não leva à sabedoria (por exemplo, sob essa perspectiva, o suicídio parece ser uma boa solução, sendo que em geral é uma solução ignorante).
Então ele propôs o renascimento, que é compatível com os princípios budistas e útil para motivar uma prática moral correta. A dúvida é: qual é a mecânica pela qual o renascimento ocorre, ou melhor, como o renascimento deve ser interpretado? Naquela época, possivelmente, ele era interpretado de maneira bastante literal. Assim como o mítico "monte Meru", que teoricamente fica "no centro do universo", mas ninguém nunca viu.
Qual seria o entendimento mais apropriado para os dias de hoje? Isso não está claro. Eu não descarto a possibilidade do renascimento ter de fato alguma implicação material, de que as ações volitivas de um ser que morre moldem as características psicológicas de um ser que nasce na forma de tendências inatas. Existe essa abertura na medida que nem todos os mistérios da mente estão resolvidos.
Outros, mais moldados por um paradigma materialista/reducionista, preferem acreditar que o renascimento é apenas um recurso pedagógico para explicar o funcionamento da mente humana e motivar a prática de uma maneira simbólica. É uma alternativa possível, defendida por muitos, e que pouca gente diria ser uma "heresia".
Na verdade, do ponto de vista budista, a interpretação pouco importa, o que é mais importante é entender os conceitos e usá-los como uma ferramenta útil. Isso é bastante diferente do que vemos no Espiritismo, onde a reencarnação chega a ser vista como desejável, por trazer consolo e esperança diante da morte. Para um budista, desejar a continuidade de sua individualidade é tido como uma postura ignorante. O ideal é justamente o contrário, viver plenamente o momento presente sem se apegar a esperanças de continuidade.
Então a melhor resposta para "O que continua?" é "Apenas suas ações e consequências delas". Mas o que realmente interessa para os budistas é o que NÃO continua, e o que não continua é a individualidade e os cinco agregados. Ao querer entrar em maiores detalhes deixa-se de lado as questões que são realmente importantes para entrar na metafísica. E o Budismo rejeita a metafísica, pois ela é lixo intelectual que, enquanto não sai do campo da especulação, serve apenas como distração. As coisas que realmente importam são as que se apresentam para nós, tais como se apresentam.
Exato....
O conceito metafísico deixa de ter utilidade quando não pode ser utilizado na prática, e ser utilizado na prática significa solucionar meus problemas atuais, do momento. Não que não seja divertido falar sobre, gosto de usar a abstração, talvez por isso fiz faculdade de informática.
Gostei do exótica, não soa nem agressiva nem preconceituosa...

