Mr.Hammond escreveu:Não me recordo deste..pode me passar?
Abraços
Análise crítica das definições de parapsicologia na obra de Oscar Gonzalez-Quevedo
Resumo.- Expomos as diferentes definições de Parapsicologia achadas nos livros publicados por Oscar González-Quevedo bem como em algumas entrevistas televisivas importantes dadas no Uruguai e em cursos ditados recentemente em Montevidéu e Buenos Aires. Comparamos estas definições com as usualmente aceitas pela comunidade parapsicológica. Concluímos que conquanto a princípio as definições dadas por González Quevedo se assemelhavam às usualmente aceitas, com o tempo sua definição foi modificando-se até converter-se numa muito pessoal, afastada do que -em geral- entendemos por Parapsicologia. O uso de tal definição, diferente à aceita por consenso, por parte do parapsicólogo mais popular do mundo de língua hispana, provoca enorme dano ao causar confusão.
INTRODUÇÃO
Sem medo de equivocar-nos podemos assinalar que quem mais promoveu a Parapsicologia, através de numerosos cursos abertos a todo público bem como usando os meios de comunicação em massa, durante as últimas três décadas, nos países de língua hispana, foi Oscar González Quevedo, sacerdote jesuíta e parapsicólogo, de nacionalidade espanhola, ainda que residente no Brasil já há tempos, onde obteve nova cidadania. De acordo com o assinalado em seus livros, este viajante freqüente, é bacharel em humanidades clássicas (Centro Superior de Estudos Clássicos, de Salamanca, Espanha), Filosofia e Psicologia (Universidade de Comillas); e doutorado em Teologia (Faculdades Teológicas de Comillas e San Leopoldo, Brasil). Desde meados do século preside, em São Paulo (Brasil) o Centro Latino Americano de Parapsicologia (CLAP) à exceção do lapso de l982 a l988 inclusive, em que, por ordem de seus superiores religiosos da ordem da Companhia de Jesus a que pertence, teve que deixar o CLAP e enclausurar-se num mosteiro, obrigado ao silêncio.
Devido ao grau de popularidade conseguida por Oscar González Quevedo (conhecido popularmente como o "Padre Quevedo") e a difusão atingida por suas obras, compreendemos que era necessário efetuar uma análise crítica sobre as definições de Parapsicologia dadas por este autor, o que ajudaria para conhecer melhor se, realmente, o ensinado por González Quevedo é o habitualmente aceito, ou se trata de outra coisa, tido em conta que em mais de uma ocasião declarou utilizar à Parapsicologia como ferramenta para evangelizar; isto é, desenvolver uma atividade religiosa de modo algum aparentada com a ciência que nos ocupa. Também quisemos indagar se, desde suas primeiras obras até as últimas (cursos incluídos) a definição de Parapsicologia foi a mesma, se teve variações e, nesse caso, quais foram e porquê‚ se produziram.
Durante o último curso ditado em Buenos Aires (1994) Quevedo definiu à Parapsicologia como uma ciência, principalmente, dedicada ao estudo dos milagres. O que não é verdadeiro. Só esporadicamente os parapsicólogos nos ocupamos da questão dos milagres. De igual modo ocorre com a Psicologia, a Medicina ou a Psiquiatria dando ajuda aos teólogos para explicar exudaciones místicas, estados de transe ou estigmatizações. Isso, naturalmente, não leva a convalidar que o objeto de estudo da Psicologia ou a Psiquiatria seja a natureza dos milagres. Igual sucede com a Parapsicologia.
Durante esse curso, realizado no salão de atos do Colégio do Salvador (um estabelecimento educativo católico), o autor que analisamos expressou:
"Que é a Parapsicologia? Mais que a definir poderíamos descrevê-la como o conjunto dos diferentes ramos da Ciência que estuda o raro, as exceções; e que -por isso mesmo- pareceria misterioso".
Se aceitarmos isto, teríamos que supor que o estudo de um gato nascido com cinco patas (fenômeno raro) deveria fazê-lo a Parapsicologia. O mesmo sucederia se fosse mister analisar o motivo pelo que uma pessoa nasceu com quatro dedos. Ou a aparição de um acontecimento meteorológico incomum.
Avançando na primeira classe do dito curso, Quevedo afirmou: "A Parapsicologia é o conjunto dos ramos da Ciência que estuda o fundamento, verdadeiro ou falso, de todas as religiões. Isso é a Parapsicologia. Ver se esses fenômenos são humanos ou sobre-humanos, se são naturais ou sobrenaturais ou supranormais". Em nosso juízo, afirmar que a Parapsicologia tem como objeto de estudo "o fundamento, verdadeiro ou falso, das religiões" é, diretamente, redefinir de uma maneira personalísima o alcance do termo, gerando uma clara e desnecessária confusão no corpo discente e um confronto desnecessário com as definições já tradicionalmente aceitas.
Se alguma dúvida ficasse, Quevedo insiste, decorridos alguns minutos mais de sua dissertação, aclarando: "A Parapsicologia surgiu pára... determinar o fundamento de todas as religiões, verdadeiras ou falsas". Entendemos que nosso autor se está valendo da Parapsicologia para convencer às pessoas de que a única religião com fundamento científico é aquela à que ele pertence. A religião católica, apostólica e romana. Para isso, na mesma primeira classe se ocupa em destacar que os fenômenos parapsicológicos só se manifestam esporadicamente porque o corpo humano não está em condições para suportar a descarga energética que implica sua produção cotidiana. Isto só será possível, "quando, posteriormente à ressurreição, todos tenhamos um corpo glorioso". Afirmação precisamente dogmática, de fé, que de jeito nenhum pode sustentar-se de um critério científico.
Iniciamos, então, nossa investigação escrevendo uma carta a González Quevedo datada de 5 de novembro de l994, onde dissemos:
" ...não é possível assumir uma posição como a sua... e sustentar a novidade de que a Parapsicologia é o estudo dos milagres. Bem sabe o Sr. que nenhum parapsicólogo, formado academicamente, sustentaria semelhante desatino. Aos parapsicólogos o milagre nos interessa muito pouco. Quiçá tanto como a quem fazem medicina psicossomática, a efeitos de desentranhar quando um suposto milagre não é outra coisa que certo fenômeno psíquico. Com o mesmo critério que usa o Sr. poderia dizer-se que a Parapsicologia é o estudo do espiritismo ou o umbandismo pois, nesses cultos, têm lugar -às vezes- fatos parapsicológicos".
A resposta chegou em 12 de dezembro de l994 nestes termos:
"Em todo caso, o que eu disse repetidamente nos cursos e nos meios (de difusão em massa) é que: todos os fenômenos estudados pela Parapsicologia, foram -e são- durante séculos considerados por muitas pessoas como milagres. Que alguém como o Sr. não se interesse pelos milagres, ou não queira considerar possível ou real qualquer fato, simplesmente por estar relacionado com a religião, é preconceito seu; não é por isso que deve deixar de estudá-los a Parapsicologia, para depois do estudo afirmá-lo ou negá-lo como milagroso".
Os ditos de González Quevedo só em parte respondem a nossa consulta. Deve ficar claro que na carta que remetemos, em nenhum parágrafo, assinalamos que tivéssemos um desinteresse frente aos fatos pretensamente milagrosos, antes bem escrevemos que aos parapsicólogos o assunto nos interessava muito pouco. Também não vinculamos a questão com a religião -como procura fazê-lo parecer Quevedo- singelamente indicamos que, com idêntico critério ao usado pelo presidente do CLAP, poderia dizer-se que a Parapsicologia é o estudo de tal ou qual crença por ocorrer, de quando em quando nela, acontecimentos provavelmente parapsicológicos.
Por outro lado, sustentar que os fenômenos parapsicológicos foram e são considerados por muitas pessoas como milagres, implica deixar de ter em conta a uma quantidade de gente (quiçá muito maior) que os interpreta, como ações de forças maléficas, espíritos dos mortos ou energias desconhecidas.
De qualquer maneira, a resposta ensaiada por Quevedo em sua carta é, no mínimo, inadequada. Não responde -ademais- às normas que devem prevalecer entre cientistas. Como ficamos insatisfeitos com a carta de Quevedo, e tendo-nos surgido outras questões, voltamos a escrever-lhe. Nunca mais recebemos resposta do presidente do CLAP. Tivemos que recorrer, portanto, para satisfazer nossa necessidade de documentação, aos livros e a videocassetes contendo gravações de entrevistas televisivas e classes de seus cursos dadas por González Quevedo pessoalmente. Desta forma nos asseguramos que estávamos trabalhando com ditos diretos dele, e não com interpretações errôneas que poderiam existir em caso de tomar documentação procedente de seus discípulos ou de outros profissionais que, ao dizer de Quevedo, são -também- integrantes do CLAP.
Encontramos, deste modo, declarações do autor que analisamos neste ensaio, efetuadas em l988, durante a reportagem que concedeu ao jornalista Jorge Travero, para o programa Falemos da televisão de Montevidéu (Uruguai) onde não deixa dúvidas a que quando se refere aos milagres, não o faz em forma metafórica ou figurada, como tenta argumentar na resposta que nos enviou. Tudo o contrário. Ao falar por milagre o faz no sentido cabal do termo.
Textualmente Quevedo disse:
"Podemos descrevê-la (à Parapsicologia) como o que constata e estuda o que é realmente milagre e o que é falso milagre. O que é do aqui e o que é do além. Assim podemos descrever à Parapsicologia... Os milagres existem. Claríssimo. Bem mais claro agora do que antes. Antes não se distinguia bem os milagres da milagrería . Agora se sabe até onde chega o natural e o que é imensamente superior, claramente reflexo do infinito".
Nos parece demonstrado, com esta transcrição, que González Quevedo não utilizou a expressão "milagres" como uma metáfora, senão que o fez literalmente, atendo-se à definição clássica de "rara intervenção de Deus nas coisas dos homens". Uma vez mais, a nosso juízo, conseguia com isto desvirtuar os fins da Parapsicologia como ciência que estuda uma faculdade humana, transformando-a em ferramenta para convencer à gente da validez científica (e, portanto, racional) da crença que ele abraçou. Tal é assim que na mesma reportagem, Quevedo termina dizendo que, "ainda que doa" deve aclarar que "os milagres demonstrados pela Ciência como verdadeiros só se dão em contexto católico". Julguem os comentários.
Para analisar que entende González Quevedo por Parapsicologia nós traçamos dois caminhos. O primeiro, agrupar as definições lembradas pelos parapsicólogos mais célebres e prestigiosos. O segundo, comparar as definições dadas por Quevedo em seus diferentes livros, cursos e entrevistas jornalísticas, a efeitos de determinar: (a) Se coincidem com as dadas pelos célebres e prestigiosos; (b) Se se mantiveram uniformes através do tempo, ou se tiveram modificações e quais foram estas que ocorreram.
DEFINIÇÕES COMUNS DA PARAPSICOLOGIA .
Kreiman (1994) indica que: "A Parapsicologia é a ciência que estuda os fenômenos de percepção extra-sensorial e de psicocinesia. Richet, fisiologista francês e notável pesquisador destes fenômenos em seu Tratado de Metapsíquica, publicado em 1923, define à Metapsíquica (sinônimo histórico da palavra "Parapsicologia") como a "ciência que tem por objeto os fenômenos mecânicos e psíquicos devidos a forças que parecem inteligentes ou a potências desconhecidas latentes na inteligência humana". Gardner Murphy, cientista inglês, define à Parapsicologia como "o ramo da Psicologia que se ocupa do paranormal, isto é, dos fatos psíquicos que parecem escapar ao domínio do que, até o presente, reconhece-se como leis naturais."
Rhine (l953) no Novo Mundo da Mente assinala: "...vulgarmente se as denomina experiências 'psíquicas', e mais cientificamente, fenômenos 'psi'. O ramo da ciência que nasceu do estudo desses fenômenos se conheceu ao princípio como investigação psíquica; hoje se chama Parapsicologia".
Robert Amadou (1956) sustenta que "a Parapsicologia é a posta em evidência e o estudo experimental de funções psíquicas que ainda não estão incorporadas ao sistema da psicologia científica".
Rhine e Pratt (1957) afirmam: "Devesse aclarar-se no princípio mesmo que os fenômenos que considera a Parapsicologia são todos, sem exceção, acontecimentos naturais. Em outras palavras, o âmbito destes problemas pertence inteiramente à ciência natural".
J. Ricardo Musso (l961) no prólogo ao livro de J. B. Rhine, O Alcance da Mente, assinala: "Sem pretender generalizar para todos os aspectos da fenomenologia alegada em Parapsicologia (Rhine é o primeiro em não o tentar), os resultados dessa investigação rigorosamente experimental, pode afirmar-se sobre a base dela que o grupo de fenômenos comprovados (telepatia, clarividência, precognição e psicocinésia) deve atribuir-se a uma surpreendente função psíquica existente no ser humano vivo. É uma estranha função que, operando num nível profundamente inconsciente, permite conhecer a realidade por outras vias que não são os sentidos e o raciocínio, e exercer pelo menos algumas ações sobre a matéria, sem intermediário físico conhecido, ou concebível como tal. À margem de todo sobrenaturalismo, a função psi foi estabelecida como uma 'autêntica capacidade natural' (Rhine), ao que parece unida a outros processos psíquicos de natureza inconsciente..."
Em seu livro Nos Limites da Psicologia, Musso (l954) agrega: "...o prefixo para, que etimologicamente significa ao lado (parapsíquico igual ao lado do psíquico), expressa melhor a característica essencial destes fenômenos... Ao lado dos fenômenos mecânicos e psíquicos normais, que obedecem às leis conhecidas, dão-se os paranormais. São fenômenos que demonstram obedecer a uma intencionalidade, por isso lhes esquadra a denominação de psíquicos. Mas não são os fenômenos psíquicos normais. São fatos mentais (telepatia ou clarividência) ou materiais (movimentos de objetos sem contato visível, raps, etc.) incomuns, unidos de uma maneira ainda totalmente desconhecida com alguma região ou modalidade do psiquismo humano".
Bonin (1976), em seu dicionário, expressa que a Parapsicologia é a "ciência social que se entende como parte da Psicologia". Agrega, seguidamente, que "a palavra Parapsicologia foi proposta por Dessoir em l889" recordando o assinalado por este em Sphinx VII, de junho l889: "Se em analogia com palavras como paragnósis, paragogo,..., paralogismo,..., etc., designa-se com para algo que ultrapassa o normal ou o acompanha, possivelmente se possam denominar parapsíquicas as manifestações que se saiam do curso normal da vida anímica, denominado Parapsicologia. A palavra não é elegante, mas no meu entender tem a vantagem de caracterizar estrito um campo limítrofe, ainda desconhecido, entre o comum e os estados patológicos; ademais, estes neologismos não pretendem senão ter o valor limitado de sua utilidade prática".
Mais tarde Bonin assinala do que conquanto não exista um acordo unânime sobre "a essência e os limites de sua disciplina", ainda que terá maior unanimidade em "o objetivo da Parapsicologia consistente em pesquisar o núcleo racional que possam ter os relatórios, milenares e presentes em todas as culturas, sobre acontecimentos 'sobrenaturais' ". Tenha-se presente que o uso, aqui, do termo 'sobrenaturais' -com as aspas incluídas- se faz aos efeitos de assinalar fenômenos que, hoje aceitos como naturais, em seu momento -por desconhecimento- foram atribuídos a imaginárias forças desconhecidas cuja realidade jamais pôde constatar-se: divinas, demoníacas, espirituais ou de espíritos dos mortos. Isto não quer dizer, claro está, que exista uma Parapsicologia dedicada à análise do milagre com a intenção de determinar se é verdadeiro ou falso. No critério assinalado por Bonin já, de antemão, entende-se que se trata unicamente de acontecimentos naturais.
Bonin, ainda que inicia a definição de Parapsicologia assinalando-a como "ciência social" é confuso já que, de imediato, emoldura-a "como parte da Psicologia". Assinala, posteriormente, a existência de "parapsicológos que entendem que o objeto da Parapsicologia não é, por de repente, classificável segundo eles, a Parapsicologia tem o cometido declara fenômenos, para que depois possam ser adstritos à Psicologia, a Física ou a Química, onde poderão seguir sendo pesquisados. Uma vez que esteja fato este trabalho de adstrição, a Parapsicologia como disciplina científica teria que ser suprimida". Como se verá em seu momento, Quevedo obedeceu em certo momento a este critério.
De 4 ao 6 de setembro de l981 se reuniu, em Buenos Aires, o Primeiro Congresso Argentino de Parapsicologia, que nos tocou presidir. Fruto de suas deliberações, tomando como sólida base as definições e considerações antes expostas, além de outras assinaladas pelos congressistas, aprovou-se -por maioria- o Documento de Buenos Aires no que se lembra que "Parapsicologia é a ciência humanística que tem como objeto de estudo a essa forma de energia por meio da qual nos comunicamos sem intervenção dos cinco sentidos e atuamos no mundo exterior sem intervenção da força muscular. A essa forma de energia se a denomina, indistintamente, estrutura psi ou potencial parapsicológico". Um dos assinantes do Documento de Buenos Aires é Oscar González Quevedo.
PRIMEIRAS DEFINIÇÕES DE GONZALEZ QUEVEDO
Em seu livro A Face Oculta da Mente (1968) com o subintitulado "Nossa Definição" propõe, "a título de orientação": "A Parapsicologia é a ciência que tem por objeto a constatação e análise dos fenômenos a primeira vista inexplicáveis, mas que apresentem possibilidade de ser resultado das faculdades humanas".
Para a data em que a utiliza, esta definição resulta sumamente ambígua, pelo que o autor realiza algumas considerações úteis, agregando, a maneira explicativa, que:
"... usamos a palavra 'ciência' e não o termo 'disciplina' ou outro equivalente. A Parapsicologia é ciência em qualquer sentido em que tomemos esta palavra. Assim, é experimental em muitos aspectos, e nesse sentido se equipara à Física ou à Biologia. É rigorosa em seus argumentos, e neste sentido coincide com a Filosofia..." "Mas alguns afirmam que só seria ciência se em todos os fenômenos estudados fosse experimental, e todas suas experiências pudessem ser repetidas com sucesso igual em iguais circunstâncias. A Parapsicologia só não seria ciência, se tomássemos o conceito de ciência neste sentido tão restrito e inexato..."
Mais adiante diz:
"É missão do parapsicólogo pesquisar exaustivamente, com métodos próprios, tratando de descobrir qualquer dado que o possa pôr na pista de uma explicação parapsicológica. Ao menor indício, se for preciso, pedir a colaboração do especialista em Psiquiatria, Psicologia, Fisiologia, Física, etc., inclusive do ilusionista, segundo o peça o caso. O parapsicólogo ideal seria o especialista em todas essas matérias simultaneamente."
Páginas antes escreveu com tipografia marcante: "Os fenômenos parapsicológicos são próprios do homem, são humanos". Em seu pequeno livro Que é a Parapsicologia? (1969) Quevedo mantém a definição, reiterando praticamente todos os termos utilizados em sua obra maior antes assinalada. Por mais do que o autor efetua uma grande quantidade de sinalizações aclaratórias fica claro que ele não considera psi como a causa exclusiva que provoca a fenomenologia extra-sensorial e psicocinética. Bem antes bem, deixou em aberto uma pergunta. "... não afirmamos que de fato sempre se derivem das faculdades humanas, nem que seja obrigatória a comprovação prévia de que se derivam delas". De maneira tal que, ainda que um pouco veladamente, González Quevedo está deixando -em sua particular definição- um caminho aberto para que a Parapsicologia seja algo mais do que a ciência que estuda um fenômeno de natureza humana. Precisamente se há uma coisa essencial que devemos reconhecer aos pioneiros, a quem fizeram os alicerces desta ciência, como foram os fundadores da Society for Psychical Research (Londres) foi ter assinalado, categoricamente, a fins do século passado, que a origem da fenomenologia que nos ocupa está no ser humano e não em outro lugar.
Na retiración de tapa do Journal of the Society for Psychical Research lemos:
"The Society for Psychical Research was founted in 1882. Its purpose is to examine without prejudice or prepossession and in a scientific spirit those faculties of man, real or supposed, which appear to be inexplicable on any generaly recognized hypothesis". [A S.P.R. foi fundada em l882. Seu propósito é examinar sem preconceitos ou pressuposições e com espírito científico aquelas faculdades humanas, reais ou supostas, que aparecem como inexplicáveis a qualquer hipótese geralmente aceita. Tradução de Bruno Fantoni.]
Linhas mais adiante, Quevedo faz questão de que se trata de "faculdades humanas", o que não muda que com suas aclarações prévias deixou abertas as portas a explicações de diferentes naturezas. Por outro lado Quevedo assinala a existência de uma força à que chama "telergia" que seria a causa que provoca fenômenos parapsicológicos no mundo exterior sem intervenção da força muscular. Entretanto faz questão de que tal manifestação não é sinônimo de "psicocinesia", já que esta foi definida como "não física" e Quevedo concebe à telergia como material.
"A emissão da telergia é um fenômeno extra-normal de libertação e transformação da energia física corporal", aclara nas Forças Físicas da Mente. Agregando na mesma obra: "A telecinesia, como fenômeno físico, está submetida aos limites físicos de espaço e força". Neste livro aceita que a psicocinésia poderia ser a causa de uma pequeníssima quantidade de casos. O resto, isto é a grande maioria, são telérgicos e nenhuma relação têm com uma possível forças não física. (Quevedo utiliza, insistentemente, o termo "espiritual"). Cabe assinalar que este autor nunca precisa que instrumentos de medição utilizou para constatar que se trata de uma forma de energia física que, a seu juízo, cumpre com as regras da Física clássica, como as da degradação da energia. Limita-se, para justificar sua hipótese (que não é outra coisa) a fazer questão de que os fenômenos de psicocinese espontânea recorrente (PKER) nunca ocorrem a mais de 50 metros de distância de uma pessoa. Esse seria o alcance máximo da dita força. Somente queremos assinalar aqui o paradoxo que resulta supor que uma força tão prodigiosa encontra uma expansão tão limitada. Em outro texto (A Face Oculto da Mente), Quevedo também indica limitações para o fenômeno de precognição. Fá-lo com estes ditos: "Tanto da análise de casos espontâneos como por comprovações e estudos de laboratório, a relação entre precognição e tempo só pode ser formulada com uma restrição final:
A precognição prescinde do tempo, mas só dentro do prazo curto ou 'existencial', isto é, pouco mais ou menos dois séculos entre retro e precognição". Perguntamo-nos que outros parapsicólogos estariam dispostos a assinar não só esta afirmação, senão aquela que assegura que isto está constatado por "a análise de casos espontâneos como por comprovações e estudos de laboratório"?. Apesar disso, no tomo um de Os Mortos Interferem no Mundo? há uma linha em que ele mesmo se contradiz. "... a precognição pode conhecer a qualquer distância o passado ou o futuro". De acordo à documentação que pudemos obter, em nenhum outro lugar reitera esta última afirmação, mantendo a das limitações temporárias para este fenômeno extra-sensorial.
DEFINIÇÕES RECENTES DE GONZALEZ QUEVEDO
Em seu livro Antes que os Demônios Voltem (escrito em l981 e autorizado por seus superiores religiosos a publicar em l989) afirma que por Parapsicologia "num conceito amplo, entendem muitos e entendemos... o conjunto de todos os conhecimentos que interessam à análise do maravilhoso". Aqui modificou radicalmente a definição, com o que a origem da fenomenologia se complica e confunde bem mais. A existência ou não de duendes, fadas, elfos, gnomos, anjos e até do monstro do Lago Ness, ou os ovnis, deveriam estar -de acordo com isto- sob a lupa dos parapsicólogos. O que concorda com aparições televisivas que este sacerdote, realizou em Montevidéu (Uruguai, l988) e Buenos Aires (Argentina, l989) onde explicou que a Parapsicologia é como uma bolsa, onde há todo tipo de mistérios, e que -à medida que as diferentes ciências se vão ocupando de tais assuntos- a bolsa perde conteúdo até ficar vazia. Pelo que a Parapsicologia seria um conjunto de algo -que já não poderia chamar-se ciência- destinado ao desaparecimento em breve momento.
Na televisão uruguaia (l988), Quevedo ensaiou definições e realizou aclarações que não deixam dúvidas sobre seu pensamento:
"Mais do que definir à Parapsicologia, prefiro descrevê-la. É a ciência do mistério. Todas os fenômenos misteriosos de todas as épocas e povos relacionados com o homem. Dentro da Parapsicologia está a feitiçaria, a demonologia, a adivinhação, a bruxaria, as casas mal-assombradas, tudo o que seja mistério. A Parapsicologia é uma colaboração de diferentes ramos da ciência. Eu sempre digo que não há parapsicólogos, há Parapsicologia. É o conjunto dos cientistas que analisam esse fenômeno misterioso de todos os ângulos, sem miopias".
Em seu ensaio sobre os demônios Quevedo faz esta tipificação:
"... analisar adivinhações, movimentos de objetos sem contatos, xenoglossias, precognições, levitações e tantos outros prodígios, fatos, que se tomam como 'argumentos' principais -ou únicos- de pretendidas posses ou intervenções demoníacas. O estudo desses fatos é o que se chama Parapsicologia."
Conquanto se aproxima ao aceito pela comunidade científico-parapsicológica, segue sem dar uma definição suficientemente clara. Assinala no mesmo texto que "num conceito um tanto mais estrito, considera-se a Parapsicologia primeiramente com referência ao estudo experimental, no sentido de diretamente aplicado aos fatos observáveis".
Aqui parece conduzir-se pelo caminho habitual dos parapsicólogos. A Parapsicologia é uma ciência e requer de um labor experimental submetida a crítica rigorosa. No entanto, no primeiro tomo dos Mortos Interferem no Mundo? (1993) manifesta sua desconformidade com o fato de que os parapsicólogos tenhamos privilegiado a investigação experimental em detrimento dos casos espontâneos. Rhine (1953) já aclarou a questão escrevendo: "essas experiências espontâneas servem ainda como introdução a este campo de estudos, ainda quando são invocadas como provas por si mesmas". E o mais notável é do que, para justificar-se, González Quevedo utiliza o mesmo argumento dos adivinhos, bruxos, magos e curandeiros que se promovem como infalíveis em seus avisos publicitários. Estes, quando se lhes pede que repitam seus prodígios sob controle de laboratório, dizem: "Não posso porque não estão dadas as condições às que estou acostumado". Quevedo escreve que a investigação de casos espontâneos é a mais importante já que o obtido em laboratório prescinde das condições habituais de vida do sujeito analisado. É verdade. Mas a investigação com variáveis intervinientes controladas é a única que assegura que o fenômeno seja, realmente, parapsicológico e não um engano consciente ou involuntário, dirigido pelo psiquismo profundo. Ademais, cientificamente, conhecemos que a investigação de casos espontâneos sem ter em conta a variável que é a intervenção do pesquisador, resulta impossível. Pelo que, ainda que o acontecimento seja pesquisado no lugar habitual do causador, isto não é suficiente para considerá-lo "caso espontâneo" já que apenas a presença do estudioso, ou com sua equipe, transforma a normalidade. O caso espontâneo propriamente dito só pode pesquisar-se uma que vez que já sucedeu, transformando-se assim numa análise histórica dos fatos, mas de nenhum modo dos fatos mesmos já que estes tiveram lugar anteriormente a que o parapsicólogo tomasse conhecimento dos mesmos.
Retoma o assunto no curso de Buenos Aires (1994) quando assinala que "ainda há universidades com 50, 60 ou 70 anos de atraso, que crêem que há que efetuar repetições a vontade, práticas de laboratório, mensuráveis por estatística matemática e que não há outros métodos de estudo..." Apesar que um ano antes, em Montevidéu (1988), afirmou: "... confirmado não só com a análise de casos espontâneos, senão com experiências quantitativas estatísticas de laboratório. O homem tem uma faculdade extra-sensorial".
Nestes tempos definiu sua hipótese telérgica, imaginando-a como uma força própria do corpo humano, algo bem como uma emanação sujeita às leis da Física clássica, cujos efeitos decrescem notoriamente à medida que se distancia do objeto e finaliza negando a existência da psicocinese. No tomo um dos Mortos Interferem no Mundo? lemos: "Não vou dizer que o reconhecem também os parapsicólogos da chamada escola norte-americana. Eles estão muito absorvidos pela faculdade que chamam PK (inexistente!). E segundo a lógica, se de fato a faculdade fora espiritual, poderia atuar a distância, a grandes distâncias, a milhares de quilômetros"
Mas as experiências de laboratório apresentadas provam inevitavelmente que há telecinésia; não provam de maneira alguma que o movimento de objetos seja por energia espiritual (movimento espiritual: Psico-Kinesis, PK). Em verdade, em suas experiências, há sempre alguém próximo do objeto!".
Em outras páginas do mesmo livro escreveu: "... a posição oficial do CLAP: a energia que realiza os fenômenos parafísicos (não por milagre divino!), é material, a chamada telergia (ou ectoplasma, quando é visível); não está demonstrada uma faculdade espiritual de efeitos físicos, internacionalmente chamada PK..."
"Todos os fenômenos parafísicos estão limitados pela distância: geralmente a poucos metros, não mais de 50, do vivo".
"Telergia, sim; PK, não: isto é, fenômenos de efeitos físicos por energia física, sim; por força espiritual, não".
Quevedo faz questão de chamar "espiritual" a uma força que Rhine descreveu como "não física", o que não são sinônimos. Da mesma forma que o psiquismo é manifestação de uma causa não física.
Quanto ao fato de que sempre tenha alguma pessoa próxima quando tem lugar um fato PK, isto -em si mesmo- não é condição necessária e suficiente para afirmar que se trata de uma ação provocada por forças físicas, e o que é mais ainda: surgidas como emanações do corpo humano. De existir tal coisa, o mais provável é do que já teria sido detectada por biólogos ou neurofisiólogos. Conhecem-se em detalhe as respostas elétricas do cérebro humano, tão imperceptíveis que se requerem delicados instrumentos (electroencefalógrafos) para registrar suas variações, como não teria detectado já a Ciência à telergia, se fosse algo mais do que uma suspeita imaginada por Quevedo!
CONCLUSÕES
Advertimos que, existindo desde os anos cinqüenta definições de Parapsicologia concordantes e usualmente aceitas pelos parapsicólogos, Oscar González Quevedo não as utilizou, preferindo gerar definições próprias que, na maioria das ocasiões, segundo ficou descrito, em lugar de permitir uma clareza sobre o objeto que se estuda, conduzem à confusão e ao equívoco.
Poderíamos assinalar duas etapas. A primeira se inicia nos anos sessenta com definições mais ou menos relacionadas com as usuais entre os parapsicólogos. Entretanto aparecem diferenças marcantes no que faz à causa que provoca a fenomenologia. Quevedo a imagina de ordem física para os fenômenos de ação no mundo exterior e com certo aditamento similar para a PES já que lhe outorga limites temporários à precognição bem como ao controvertido fenômeno conhecido como "retrocognição" cuja comprovação experimental, até o presente, foi impossível de constatar. Este período conclui em l981, com sua assinatura do Documento de Buenos Aires, onde aceitou uma versão atualizada da definição clássica.
A segunda etapa começa quando seus superiores religiosos lhe permitiram voltar a trabalhar em Parapsicologia (l988), reincorporar-se ao CLAP e publicar Antes que os Demônios Voltem, mantendo-se até o presente. Aparecem aqui, definições com um marcado interesse por vincular à Parapsicologia com o estudo dos milagres e fazê-la fundamento para o sustento de crenças religiosas sustentadas pela Igreja Católica, Apostólica e Romana. O melhor exemplo disto é a transcrição de seus ditos à imprensa uruguaia (l988) e reiterados, com iguais conceitos, em seu curso de l994 em Buenos Aires.
"Todo mundo tem alma para os fenômenos paranormais ou extra-normais ou espirituais. Mas o fenômeno é parapsicológico, á margem da Psicologia comum, normal ou anormal. Todos temos as faculdades. E quando tenhamos um corpo glorioso depois da ressurreição, pois nosso corpo poderá acompanhar a estas maravilhosas, fantásticas, faculdades parapsicológicas". Previamente a isto insistiu reiteradamente ante o jornalista que os fenômenos são incomuns devido a que nosso corpo não agüentaria a energia que implica uma produção regular dos mesmos, para asseverar (sem nenhum fundamento): "Desde 1923 a Parapsicologia proíbe fomentar a produção dos fenômenos".
Deduzimos que as definições e interpretações da fenomenologia parapsíquica, em González Quevedo, foram criadas para estar ao serviço da captação de fiéis para sua Igreja, chegando -inclusive- a tergiversar os fatos comprovados pela Ciência. Provavelmente sua posição pode servir para combater o crescimento de outras crenças, como o espiritismo e o umbandismo que tanto proliferam no Brasil, onde reside desde faz uns 40 anos. (Sua obra, em cinco tomos, Os Mortos Interferem no Mundo?, está inteiramente dedicada a mostrar a falta de sustento dos dogmas espiritistas). Tal atitude foi realizada numa forma mais prudente durante o primeiro período analisado para passar a uma conduta totalmente evidente a partir de l988.
Casinha de correio 17, Sucursal l9
(1419) Buenos Aires.
ARGENTINA
REFERENCIAS
AMADOU, Robert. (1956) La Parapsicologia: Historia y crítica. Paidós: Buenos Aires.
BONIN, Werner F. (1976) Lexikon der Parapsychology und ihrer Grenzgebiete. Scherz Verlag: Berna.
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CRITIC ANALYSIS OF THE DEFINITIONS OF PARAPSYCHOLOGY IN THE WORK OF OSCAR GONZALEZ QUEVEDO by Antonio Las Heras
Abstract.- We want to expose the different definitions of Parapsychology found in the books published by Oscar Gonz lez Quevedo as well as some television interviews given in Uruguay and courses dictated recently in Montevideo and Buenos Aires. We compared these definitions with the ones usually acepted by parapsychological community. We conclued that when initially the definitions given by González Quevedo are similar to the ones usually accepted, as time went by his definition was modified until it became a very personal one, far from what we call in general Parapsychology. The use of such definition, different from the one accepted by concensus, by the most popular parapsychologist in the Spanish-speaking word, produces enormous damage as it causes confusion.
Trabalho originalmente apresentado no Primeiro Congresso Buenos Aires de Parapsicologia (1995) organizado pela Associação Argentina de Parapsicologia.
Secretário da Associação Argentina de Parapsicologia. Doutor em Psicologia Social (Ou.A.J.F.K.). Ex Docente na Cátedra de Parapsicologia da Carreira de Psicologia da Universidade Argentina John F. Kennedy.
Artigo disponível em
http://www.alipsi.com.arpublicaciones_a ... ticulo=271
Artigo publicado na R.A.P.P Volume 8 Número 1, Janeiro de 1997