Lordakner escreveu:Posso ser romãntico mas não sou iludido.
Romantismos, utopias e ilusões costumam provir da mesma fonte.
Acredito em um contrato social.
Eu não. Nem advindos do Estado ( que também é sociedade, embora esquerdistas e capitalistas o coloquem em departamentos tendenciosos) , nem de excessos de liberdade como nas anarquias.
Acreditar até pode. O difícil é demonstrar na prática.
Se o Estado o romper, ignorando uma parcela(grande) de seus cidadãos, estes cidadãos não tem compromisso com o estado, nem com quem este estado beneficia.
Isto nas democracias. O que é impossível em regimes de esquerda, a menos que se consiga uma social democracia mais para capitalista do que para comunista. Não tem jeito. Meteu a mão no dinheiro proveniente do privado ( ou até do público) e se adonou da individualidade ( inerente ao ser humano!), está posto o totalitarismo. Pode ser disfarçado, mas é.
E pior: nunca é só com relação aos meios de produção e distribuição de renda. Se alastra pela vida privativa, pelas escolhas, pelos desejos, pelas ambições culturais e pelo planejamento a curto, médio e longo prazo.
De fato não há rompimento do Estado, visto que alguns governos usam de discursos como os de Fidel e Chavez para se perpetuar no poder e ainda dizer que o pacto foi entre as partes, democrático. Logo, o Estado recebeu aval legítimo para que tais contratos sempre sejam mantidos.
Se é que é isto que você quis dizer...
Explico assim a violência e a "falta de compromentimento" com a coisa pública.
São excluídos da sociedade.
Párias não devem se comportar dentro da expectativa do ESTADO QUE OS COLOCOU À MARGEM.
Cobrá-los, seria dupla injustiça.
Que sejam inseridos novamente.
Primeiro que isto demanda uma competência e excelência do Estado, raramente observadas no mundo.
Falta de compromentimento com a coisa pública é noção básica que se ensina desde o berço. Dizer que é falta de informação desta gente é vitimizá-los mais uma vez e apoiar seus impulsos de alimentar a própria marginalização.
Explico.
Eu não uso telefones públicos, pois não preciso deles. São sujos e estão sempre estragados. Nem fui eu que usei, nem destruí e nem sujei. Mas ajudo a mantê-los funcionando, mesmo que o que eu faça seja inútil.
Agora experimente dar aula de "inserção" para os manés que sujam e destróem o que eu ajudo a manter, não uso e que seria para o bem estar deles.
Eles não lhe darão o menor crédito! Eles não estão interessados naquilo: eles querem o meu celular! Acham um desaforo que eu me preocupe com o telefone público deles a ponto de lhes dar "aula" de respeito para com o que é público! Eles querem é mais que a gente se ferre, paguemos ainda mais imposto, para arrumarem o telefônico público o quanto antes, para que eles tenham adrenalina amanhã, destruindo de novo! Vai negar que é assim que funciona?
Outro exemplo: tinha aqui perto uma maloca ponto de venda drogas e casa de macumba.
Eles costumavam por fogo em tudo no pátio. Era uma fumaceira que obrigava todo mundo a se trancar em casa, pois o cheiro e a fuligem intoxicavam.
Uma vez mandamos uma pessoa da associação do bairro lá conversar educadamente com a mulher.
Ela tem TV em casa, tem informação suficiente sobre poluição do ar, sobre os problemas de queimar coisas. Todos sabem disto.
Mas mesmo assim, ela enfureceu! Disse que ia continuar colocando fogo no que quisesse, que a casa era dela, que fosse todo mundo práquela parte e passou a incinerar mais ainda! Na frente da casa, pendurou uma placa: NESTA CASA QUEM MANDA SOU EU!
E eu pergunto: adianta alguma "reinserção" e informação para esta turma?
Aposto que ela fazia isto porque eu tinha ar-condicionado em casa e ela não.
A culpa é minha? Queimar não aumenta mais ainda a temperatura das coisas na casa dela? Aumenta.
Mas ela preferiu se manter ignorante e à margem de um processo que favoreceria a todos.
Provas de que favorece: com pena dos seguranças da guarita do nosso condomínio, eu dei mei ventilador para eles conseguirem respirar. Eu dei, não ela ( que é pobre como eles).
E agora? Quem está preocupado com a coletividade? O Estado ( que nada faz ), ela ( que é pobre, macumbeira, traficante e mal educada) ou eu ( representante da elite capitalista e pagadora de impostos)?
Lord, querido. Meu tempo de socialismos, reinserções e inclusões, assim como de Nerudas, Ches e outros do gênero foi ali por...1979. Depois disto, todas as ilusões pueris que eu nutria foram caindo, uma a uma.