Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

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Aranha
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Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Aranha »

Veja desta Semana
O liberalismo é o caminho
10 de abril de 2009


O cientista político americano Francis Fukuyama ficou famoso com o livro O Fim da História e o Último Homem (1992) ao defender a ideia de que os sistemas políticos encontram na democracia liberal sua expressão evolutiva final, provocando a ira dos acadêmicos esquerdistas.

Pela ousadia de pensar contra a corrente, Fukuyama não foi mais deixado em paz, dividindo-se seus leitores entre desafetos e seguidores. Em entrevista à VEJA, ele disse que os Estados Unidos precisam repensar o estado mínimo para vencer a crise atual - mas sem abrir mão dos valores liberais.


O que o capitalismo e a democracia liberal precisam fazer para sobreviver à atual crise?

Precisamos, urgentemente, de maior controle sobre o sistema financeiro, que está completamente desregulamentado. Acredito, também, que o estado mínimo não funcionou. A partir de agora veremos uma presença bem maior do estado na economia. Ou seja: será uma economia mais de estado e menos de mercado.

Quais são os danos até agora para os EUA?

Se a economia real entrar em uma longa recessão, o que me parece bastante possível neste momento, os EUA não terão os recursos econômicos suficientes para sustentar uma série de atividades que mantêm ao redor do mundo, como a ajuda a outros governos ou operações no Oriente Médio. Mas as implicações não ficarão restritas à política. No campo das ideias, haverá uma série de danos à imagem do país como produtor de um modelo de democracia e capitalismo.

...



- Que coisa heín !?!?!?

- Abaixo posts de anarquistas esperneando...


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Fernando Silva
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Fernando Silva »

Claro que é preciso haver ressalvas. Anarquia nunca funcionou.
Se o governo não fizer nada, os próprios liberalistas vão criar algum tipo de lei para se auto-regular e se juntarão em instituições tipo guildas ou coisa assim.
Por que você acha que até uma pelada na várzea entre "camisas" e "sem camisas" precisa ter um juiz?

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Herf
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Herf »

Bom... se o Fukuyama falou, então está falado. Só me resta concordar. Até o grande Alan Greenspan já reconheceu as limitações do laissez-faire neoliberal.

Admito que estava errado: o Estado deve ser forte e ativo em horas de crise como essa. Não é justo que pessoas por todo o mundo paguem pelo erro de especuladores que agiram desenfreadamente no mercado financeiro, ávidos por lucros bilionários, comprando e vendendo meros pedaços de papel por milhões de dólares. Não me tornei socialista, é só uma questão de reconhecer que o mercado precisa de freios, senão ocorre isso que estamos presenciando agora.

Antes era "livre mercado" pra cá, "livre mercado" pra lá, etc. Quando a crise bateu, o que fizeram os grandes empresários que antes pregavam a liberdade econômica absoluta? Continuaram pregando a "lei da selva econômica" neoliberal? Nada disso. Foram todos pedir socorro ao estado. Isso só prova que o estado é necessário sempre.

Obrigado, Aranha, pelo tópico altamente informativo que ampliou meus horizontes.

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Aranha
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Aranha »

Herf escreveu:Bom... se o Fukuyama falou, então está falado. Só me resta concordar. Até o grande Alan Greenspan já reconheceu as limitações do laissez-faire neoliberal.

Admito que estava errado: o Estado deve ser forte e ativo em horas de crise como essa. Não é justo que pessoas por todo o mundo paguem pelo erro de especuladores que agiram desenfreadamente no mercado financeiro, ávidos por lucros bilionários, comprando e vendendo meros pedaços de papel por milhões de dólares. Não me tornei socialista, é só uma questão de reconhecer que o mercado precisa de freios, senão ocorre isso que estamos presenciando agora.

Antes era "livre mercado" pra cá, "livre mercado" pra lá, etc. Quando a crise bateu, o que fizeram os grandes empresários que antes pregavam a liberdade econômica absoluta? Continuaram pregando a "lei da selva econômica" neoliberal? Nada disso. Foram todos pedir socorro ao estado. Isso só prova que o estado é necessário sempre.

Obrigado, Aranha, pelo tópico altamente informativo que ampliou meus horizontes.


- Isso deve ser ironia, mas soa tão sincero que aceito seus agradecimentos... :emoticon10: :emoticon10:

Abraços,
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Aranha
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Aranha »

Fernando Silva escreveu:Claro que é preciso haver ressalvas. Anarquia nunca funcionou.
Se o governo não fizer nada, os próprios liberalistas vão criar algum tipo de lei para se auto-regular e se juntarão em instituições tipo guildas ou coisa assim.
Por que você acha que até uma pelada na várzea entre "camisas" e "sem camisas" precisa ter um juiz?


- Perguntando prá mim !?!?!?

- Quem tem que responder isto é o anarquista-mor do fórum. Aposto que ele faz isto em menos de 200 linhas.

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Fedidovisk
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Fedidovisk »

Aranha escreveu:
Herf escreveu:Bom... se o Fukuyama falou, então está falado. Só me resta concordar. Até o grande Alan Greenspan já reconheceu as limitações do laissez-faire neoliberal.

Admito que estava errado: o Estado deve ser forte e ativo em horas de crise como essa. Não é justo que pessoas por todo o mundo paguem pelo erro de especuladores que agiram desenfreadamente no mercado financeiro, ávidos por lucros bilionários, comprando e vendendo meros pedaços de papel por milhões de dólares. Não me tornei socialista, é só uma questão de reconhecer que o mercado precisa de freios, senão ocorre isso que estamos presenciando agora.

Antes era "livre mercado" pra cá, "livre mercado" pra lá, etc. Quando a crise bateu, o que fizeram os grandes empresários que antes pregavam a liberdade econômica absoluta? Continuaram pregando a "lei da selva econômica" neoliberal? Nada disso. Foram todos pedir socorro ao estado. Isso só prova que o estado é necessário sempre.

Obrigado, Aranha, pelo tópico altamente informativo que ampliou meus horizontes.


- Isso deve ser ironia, mas soa tão sincero que aceito seus agradecimentos... :emoticon10: :emoticon10:

Abraços,


:emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12: :emoticon12:


Se o estado realmente fosse desregulado a situação não teria chegado ao ponto que chegou, e se chegou onde está, não vai ser com paliativos ou cometendo os mesmos erros do passado que vamos resolver o problema.

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carlo
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por carlo »

Belo Post Spider, o Francis Fukuyama foi devidamente enquadrado pela lógica e pela razão. Boa as considerações do Fernando Silva também, ocorre que o que ele diz e que é o correto, os tais defensores do "livre mercado" tinham horror a tais pensamentos.
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Fedidovisk »

Os banqueiros agradecem... hehehehehe

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carlo
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por carlo »

Fedidovisk escreveu:Os banqueiros agradecem... hehehehehe



Com certeza! Já tem gebte pregando: Mudar tudo, prá ficar tudo igual era!
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Darkside
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Darkside »

Aranha escreveu:
Fernando Silva escreveu:Por que você acha que até uma pelada na várzea entre "camisas" e "sem camisas" precisa ter um juiz?


- Perguntando prá mim !?!?!?

- Quem tem que responder isto é o anarquista-mor do fórum. Aposto que ele faz isto em menos de 200 linhas.

Abraços,


As pessoas nao precisam de juizes ou burocratas para manterem a ordem quando jogam pelada, isso e um erro comum em que muita gente acredita.

Esse discurso e uma mascara bem delineada para a realidade basica de que a suposta necessidade de juizes em jogos de futebol nada mais e que uma desculpa para manter as pessoas sob o dominio burocratico de autoridades instituidas por imposicao, mesmo em atividades visando apenas o lazer em seus finais de semana.

E possivel jogar uma pelada com tranquilidade devido ao esforco mutuo entre os individuos interessados em participar dessa atividade. Juizes e burocratas nao sao uma necessidade natural, mas parasitas que infestam um sistema social, que mesmo nao possuindo utilidade sao vistos como necessarios, devido a anos de politicas socialistas interferindo na vida das pessoas e condicionando suas ideias.

A uma certa tendencia a acreditar que num jogo sem juizes as pessoas atacariam insanamente umas as outras e embarcariam em espirais de imoralidade e luxuria, simplesmente porque nao haveria imposicao de lei oficial mediante a forca de uma autoridade burocratica, mas e muito improvavel que voce seja sodomizado em um jogo de futebol apenas pela ausencia de um juiz.
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Herf »

O diferencial de uma pelada libertária não é que nela necessariamente não há juiz, mas sim que qualquer um que não goste do juiz e de suas regras não precisa participar do jogo.

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Aranha
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Aranha »

Darkside escreveu:
Aranha escreveu:
Fernando Silva escreveu:Por que você acha que até uma pelada na várzea entre "camisas" e "sem camisas" precisa ter um juiz?


- Perguntando prá mim !?!?!?

- Quem tem que responder isto é o anarquista-mor do fórum. Aposto que ele faz isto em menos de 200 linhas.

Abraços,


As pessoas nao precisam de juizes ou burocratas para manterem a ordem quando jogam pelada, isso e um erro comum em que muita gente acredita.

Esse discurso e uma mascara bem delineada para a realidade basica de que a suposta necessidade de juizes em jogos de futebol nada mais e que uma desculpa para manter as pessoas sob o dominio burocratico de autoridades instituidas por imposicao, mesmo em atividades visando apenas o lazer em seus finais de semana.

E possivel jogar uma pelada com tranquilidade devido ao esforco mutuo entre os individuos interessados em participar dessa atividade. Juizes e burocratas nao sao uma necessidade natural, mas parasitas que infestam um sistema social, que mesmo nao possuindo utilidade sao vistos como necessarios, devido a anos de politicas socialistas interferindo na vida das pessoas e condicionando suas ideias.

A uma certa tendencia a acreditar que num jogo sem juizes as pessoas atacariam insanamente umas as outras e embarcariam em espirais de imoralidade e luxuria, simplesmente porque nao haveria imposicao de lei oficial mediante a forca de uma autoridade burocratica, mas e muito improvavel que voce seja sodomizado em um jogo de futebol apenas pela ausencia de um juiz.




:emoticon266: :emoticon266: :emoticon266: :emoticon266: :emoticon266: :emoticon266:
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carlo
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por carlo »

carlo escreveu:Belo Post Spider, o Francis Fukuyama foi devidamente enquadrado pela lógica e pela razão. Boa as considerações do Fernando Silva também, ocorre que o que ele diz e que é o correto, os tais defensores do "livre mercado" tinham horror a tais pensamentos.


Taí o post do cabeça, prá dizer ou afirmar, que eu tenho razão, ou não?
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Johnny
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Johnny »

Fernando Silva escreveu:Claro que é preciso haver ressalvas. Anarquia nunca funcionou.
Se o governo não fizer nada, os próprios liberalistas vão criar algum tipo de lei para se auto-regular e se juntarão em instituições tipo guildas ou coisa assim.
Por que você acha que até uma pelada na várzea entre "camisas" e "sem camisas" precisa ter um juiz?

Conheçoium cara que fazia gol com as mãoes em frente aos juízes, midia internacional...


...e melhr de tudo isso: Os gols valiam...E MUITO.
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Fernando Silva
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Fernando Silva »

Darkside escreveu:As pessoas nao precisam de juizes ou burocratas para manterem a ordem quando jogam pelada, isso e um erro comum em que muita gente acredita.

A função do juiz de futebol não é apenas a de policiar e sim a de servir de árbitro: na dúvida, aceita-se a opinião de uma pessoa supostamente isenta.
Em vez de se passar meia hora discutindo se foi pênalti, aceita-se o que o juiz decidir.
A arbitragem é um recurso muito usado quando duas partes não conseguem se entender.

E as leis - e pessoas que fazem valer as leis - existem justamente porque as pessoas reconhecem que nem todo mundo respeita os direitos dos outros. Nem elas mesmas, às vezes.
Além disto, nem sempre fica claro onde terminam os direitos de um e começam os dos outros. Novamente, é preciso se ter leis que definam os limites, mesmo que arbitrários porque baseados na média.

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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Fernando Silva »

Trecho de texto de Paul Krugman, publicado em "O Globo" (11/04/09).

Recentemente, os economistas Thomas Philippon e Ariell Reshef divulgaram um estudo que podia se chamar “Ascensão e queda dos bancos chatos” (mas chama-se “Salários e capital humano na indústria financeira dos EUA, 1909-2006”).

Eles contam que, antes de 1930, o setor bancário era excitante, com figuras lendárias, que construíram imensos impérios financeiros (alguns dos quais, descobriu-se, eram uma fraude). E o endividamento no país quase dobrou entre a Primeira Guerra Mundial e 1929.

Nessa primeira era das altas finanças, os banqueiros ganhavam muito mais que seus colegas de outras indústrias. Mas o setor perdeu o glamour ao quebrar na Grande Depressão.

A indústria bancária que emergiu desse colapso era altamente regulamentada, bem menos interessante e bem menos lucrativa. O setor bancário ficou chato, em parte porque os banqueiros eram muito conservadores sobre a quem emprestar. O endividamento nacional caiu drasticamente durante a Depressão e a Segunda Guerra Mundial.

Estranhamente, essa era de chatice bancária também foi uma era de espetacular progresso econômico.

Depois de 1980, porém, muitas das regras sobre os bancos foram suspensas, e o setor voltou a ser excitante. O endividamento cresceu, logo atingindo quase o mesmo nível em relação ao PIB que em 1929. E a indústria financeira explodiu em tamanho. Em meados desta década, respondia por um terço dos lucros corporativos. As finanças voltaram a ser uma carreira que paga muito bem.

Poucos alertaram que esse sistema financeiro inchado poderia acabar mal. Talvez a Cassandra mais conhecida seja Raghuram Rajan, ex-economista-chefe do FMI, que em 2005 afirmou que o rápido crescimento do setor financeiro aumentava o risco de uma “quebra catastrófica”. Muitos, incluindo Lawrence Summers, hoje o principal assessor econômico da Casa Branca, ridicularizaram esse temor.

E a quebra aconteceu. Isso levou a pressões por mais regulação no setor financeiro.

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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Johnny »

Fernando Silva escreveu:A arbitragem é um recurso muito usado quando duas partes não conseguem se entender.

A arbitragem é um recurso muito usado quando se quer decidir quem vai levar a bolada do campeonato.

Futebol = Circo para a massa.
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »


Nao e a primeira vez que fazem uma parodia minha por aqui, mas e a primeira que me deixou ligeiramente satisfeito. E engracada sem ser exageradamente caricata ou distorsiva. Eu acho ate que o Darkside estava convencido de alguns dos argumentos que ele sarcasticamente coloriu de azul.

Ele tem razao em dizer que uma pelada de varzea nao necessita de juizes, e normalmente esse e o caso. O arbitro e um luxo dispensavel para a maioria das ocasioes onde existem pessoas dispostas a disputar uma partida de um jogo onde todos conhecem as regras. A inexistencia de arbitros na maioria das peladas anarquicas que eu disputei nunca produziu qualquer tipo de situacao caotica onde todos os jogadores se agrediam mutuamente ou seguravam a bola com as maos. Quando alguma infracao ou situacao duvidosa ocorria, em geral as proprias pessoas envolvidas na partida permitiam-se uma jurisprudencia espontanea, que de um modo geral era suficiente para permitir o andamento do jogo.

Esse exemplo e particularmente interessante pois ilustra o quao falso e o raciocinio de que para que regras sejam seguidas e necessaria alguma instancia de poder maior impondo-as.

O mesmo e valido para a linguagem. Apesar de atualmente existir um policiamento com relacao ao bom emprego da lingua, incluindo decretos oficiais e reformas gramaticais, nao e por causa dele que as pessoas conseguem se comunicar numa linguagem comum. Muito antes de existirem academias literarias e comites nacionais responsaveis pela conservacao do idioma, as pessoas empregavam linguagem e se comprendiam umas as outras. Nao sem erros ou invencoes particulares contextuais, que acabavam sendo incorporadas as linguas e contribuindo para a diferenciacao delas. Mas nunca houve na historia uma data onde pode se dizer que o portugues, ou o alemao, ou o turcomeno foram inventados e as pessoas passaram a seguir suas regras gramaticais por decreto estatal.

A ideia de que para fenomenos complexos e necessario um legislador supremo e uma ideia animista e fatalmente erronea. A falacia de que a racionalidade precisa ser desenhada e manipulada por um ser racional, que nao pode emergir espontaneamente por processos naturais simples, e a base dos erros logicos crassos do socialismo (e do criacionismo e de outros tantos animismos modernos).

Nao que a ideia de um legislador ou de um arbitro seja em si um contra-senso, e que tais categorias nao existam. O problema e a ideia falsa de que a ordem precisa emergir de um arbitro ou legislador supremo e racional. Isso e de um misticismo antropomorfico impar, e o climax da arrogancia do racionalismo construtivista a la francaise.

Contudo, um papel bem mais modesto cabe a arbitros e legisladores. Ao inves de fabricarem e interpretarem leis da sua propria consciencia universal, eles sao os responsaveis por formalizar e uniformizar leis que emergem naturalmente, quando essa formalizacao e uniformizacao se faz necessaria.

Uma partida de futebol entre desconhecidos, na qual algum cobicado premio e disputado, pode ser mediada por um arbitro que as duas partes consideram isento, e que recebera uma remuneracao por seu servico de arbitragem. Naquela circunstancia, ambas as partes acordaram em se submeter as deliberacoes do arbitro a respeito de execucao das regras mutuamente conhecidas.

Um estatista duro na queda comentaria sobre a "necessidade" da existencia de supremos tribunais de Justica desportiva. Esses tribunais sao na verdade uma das diversas instancias atraves das quais os integrantes do Estado procuram estender seus poderes. Qualquer pessoa sensata sabe que foi a criacao desses tribunais que impediu o esporte de virar uma baderna generalizada. O esporte existe desde tempos imemorais, tribunais desportivos sao criativas invencoes dos burocratas de nossa epoca. De qualquer forma, seu poder e ainda assim restrito a esferas mais amplas do esporte profissional, no microcosmo dos campeonatos locais e atividades esportativas mais gerais, quando alguma arbitragem e designada, isso se da por um mecanismo de livre mercado.

A arbitragem e jurisprudencia privada e bastante notoria no futebol, mas seria ela possivel no mercado financeiro?

Para que qualquer mecanismo de arbitragem se instale o unico requisito a ser satisfeito e que as partes a serem arbitradas prefiram que a regulamentacao seja conduzida por uma terceira parte tida por isenta, do que seja decidia "on the fly" pelos participantes interessados. E os contratos no mercado financeiro sao exemplos claros desse tipo de circunstancia, pois em geral as pessoas fazem negocios entre desconhecidos e desconhecem suas respectivas reputacoes. Clausulas complexas e ambiguas ou mesmo contraditorias podem ser criadas e a confusao poderia ser amenizada se uma terceira parte se encarregasse de mediar o processo, ou de certificar contratos e players de maneira que a identificacao fosse mais facil.

O fato e que na medida que a ordem se estende, e que interacoes entre participantes distantes e desconhecidos se intensifica, mediadores conhecidos podem ser responsaveis por uniformizar, formalizar e deliberar sobre conflitos. Se esse servico mostrar-se util aumentando a eficiencia das transacoes de mercado, ele sera oferecido espontaneamente por empresas concorrentes e precos de mercado(que e o caso).

A burocracia estatal apenas ocupa esse espaco de maneira ineficiente, em geral criando excessivas regulamentacoes em determinadas areas, e deixando de observar outras, criando assim distorcoes graves. Ela faz isso porque e ineficiente na sua propria natureza ja que ela nao e escolhida por um processo seletivo eficiente de mercado.
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Fernando Silva escreveu:Trecho de texto de Paul Krugman, publicado em "O Globo" (11/04/09).



Um fato lamentavel da atualidade e que os economistas entendem pouco ou nada de financas, e os especialistas em financas entendem pouco ou nada de economia. Nao que os assuntos sejam desconexos (muito pelo contrario ate), mas a verdade e que a especializacao intensiva (e talvez outras questoes que nao interessan agora) nas duas areas acabou criando uma escassez de profissionais habilitados a comentar sobre os dois assuntos com propriedade.

Como a crise atual mistura as duas areas, muitos economistas sao chamados a dar palpites sobre financas, e financistas a dar palpites sobre economia, e o que se ve e muita besteira sendo dita.

Esse comentario de Paul Krugman (que sem duvida domina consideravel conhecimento sobre economia, embora eu discorde de todas as suas opinioes de um modo geral) e francamente amador. E uma falacia tipica do tipo "post hoc ergo propter hoc" (banqueiros excitados implica quebra da bolsa, logo, mantenha banqueiros tristes) que sequer mereceria ser comentada.

Os financistas estavam "excitados", ou seja, aumentavam suas operacoes e endividamento, porque havia uma manipulacao da principal informacao que eles obtem para tomar suas decisoes: as taxas reais de juros. Varios governos praticando criativas politicas de dinheiro facil (formuladas por economistas da estirpe de Krugmann) permitiram que durante um certo tempo parecesse interessante se endividar mais, e de fato era interessante desde que voce conseguisse repassar sua divida vendendo derivativos superfaturados (cujos precos errados se deviam justamente a distorcao induzida da taxa de juros).

O problema e que financistas costumam observar a taxa de juros como um "dado exogeno", um parametro dado para o seu modelo de precificacao de derivativos funcionar. E economistas estatistas costumam achar que a taxa de juros (seja ela a basica definida de tempos em tempos, seja ela a artificial produzida por corta caminhos crediticios dos banco centrais) sao os pedais acelerador e freio da economia nacional que eles acreditam estar pilotando (tao bem que agora eles conseguiram bater ela no poste).

Talvez ainda leve um certo tempo ate as financistas e economistas perceberem que juro nada mais e que um preco de mercado, e que assim como todos os outros precos, nao e um dado exogeno nem uma variavel controlada. Tanto quanto o litro do leite e da gasolina, o ajuste dos juros por burocratas produz seus efeitos indigestos.
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Fernando Silva »

user f.k.a. Cabeção escreveu:Esse comentario de Paul Krugman (que sem duvida domina consideravel conhecimento sobre economia, embora eu discorde de todas as suas opinioes de um modo geral) e francamente amador. E uma falacia tipica do tipo "post hoc ergo propter hoc" (banqueiros excitados implica quebra da bolsa, logo, mantenha banqueiros tristes) que sequer mereceria ser comentada.

Eu entendi de outra forma:
Um mercado onde as regras são aplicadas é um mercado chato, onde o dinheiro tem que ser ganho centavo a centavo e ninguém fica rico do dia para a noite.
Mas é um mercado sem crises.

Já um mercado desregulado é emocionante, com grandes oportunidades para os mais ousados. E grande risco de crise.

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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por Darkside »

:emoticon12: :emoticon12:

Não leve essa brincadeira a mal Cabeção, considero você um dos melhores foristas deste espaço.
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Fernando Silva escreveu:
user f.k.a. Cabeção escreveu:Esse comentario de Paul Krugman (que sem duvida domina consideravel conhecimento sobre economia, embora eu discorde de todas as suas opinioes de um modo geral) e francamente amador. E uma falacia tipica do tipo "post hoc ergo propter hoc" (banqueiros excitados implica quebra da bolsa, logo, mantenha banqueiros tristes) que sequer mereceria ser comentada.

Eu entendi de outra forma:
Um mercado onde as regras são aplicadas é um mercado chato, onde o dinheiro tem que ser ganho centavo a centavo e ninguém fica rico do dia para a noite.
Mas é um mercado sem crises.

Já um mercado desregulado é emocionante, com grandes oportunidades para os mais ousados. E grande risco de crise.



Exatamente. O tipo de linguajar usado por Krugman leva a esse tipo de interpretacao popular equivocada.

Regulado e desregulado costumam ser usados em sentidos convenientemente escolhidos. Um mercado sem regulamentacoes criadas por burocratas ainda pode ser regulado na medida que os participantes estabelecam eles mesmos regras dentro das quais se operam as transacoes. E por incrivel que pareca, isso ocorre o tempo todo desde a origem dos mercados mais primitivos.

E verdade que um "mercado desregulado" num sentido amplo e algo ineficiente, e por essa razao os proprios participantes se ocupam de criar regras.

A regulamentacao criada por uma burocracia nao elimina a possibilidade de fraude ou de engano, ela serve apenas como instrumento atraves do qual politicos podem exercer seu poder discricionario. E ela costuma produzir ineficiencia na medida que nao e esse o objetivo da sua implantacao, pois quem a introduz nao tem incentivos para gerar eficiencia no longo prazo. Nao que toda a regulamentacao estatal seja frictiva, alguma parte dela com certeza nao e, mas nada sugere que essa parte precise ser mantida por mecanismos burocraticos (sendo alias muito comum a pratica dos burocratas copiarem alguma regulacao privada funcional e a generalizarem para todos os casos que quiserem).

O que esse tipo de discurso procura e dar uma falsa sensacao de logica na medida que empregam uma semantica bastante duvidosa. Brincam com o sentido amplo de termos como "regulacao" apenas para fingir produzirem silogismos. Quando chamados a mostrar que a regulacao financeira burocratizada realmente produz resultados optimais, em quais sentidos e em que amplitude, essa gente costuma recorrer a evasivas retoricas.

Nao e desse tipo de regulacao ("de ganhar dinheiro aos poucos") que se fala. Isso e regulacao no sentido de ir numa festa e "regular"-se nos salgadinhos ou no alcool para nao engordar ou bater o carro. As vezes esse tipo de falsa analogia e implicitamente evocado criando graves mal-entendidos. A regulacao estatal nao impede que imensas fortunas se facam da noite para o dia. Muito dinheiro se perde e se ganha da noite para o dia sempre que ha muito dinheiro em jogo. A regulacao estatal apenas favorece quem tem alguma influencia sobre ela.

Que um jornalista de quinta fale bobagens assim va la, ele e apenas um palpiteiro destreinado. Mas acho que um pouco mais de solenidade e respeito e nocao talvez caisse bem a alguem que ganhou um premio em memoria de Alfred Nobel em economia.

Como eu disse antes, e um fato a se lamentar que na atual crise nos estejamos cercados de especialistas restritos a campos como macroeconomia ou financas que sao chamados a comentar (ou ainda mais tragicamente, a regular e legislar) sobre o que nao sabem.
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user f.k.a. Cabeção
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Re: Vejam só, até os papas do liberalismo tem suas ressalvas

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Darkside escreveu::emoticon12: :emoticon12:

Não leve essa brincadeira a mal Cabeção, considero você um dos melhores foristas deste espaço.


Fico feliz pelo elogio. Sua participacao tambem tem acrescentado bastante, eu por vezes acho que voce e um forista das antigas.

Sobre a brincadeira, eu nunca levo a mal esse tipo de coisa. Dois (bons) ex-foristas cujos nomes agora me escapam (nao porque eu nao lembre deles, mas eram nomes complicados e constantemente alterados, um deles durante um tempo se chamou "o anatema") desse espaco costumavam recorrer a esse expediente sobretudo em debates sobre aborto (os dois eram militantes abortistas), mas em geral apelavam para distorcoes bastante grosseiras daquilo que eu argumentava. Eu nunca os repreendi por isso, ate porque eram bons foristas.

A sua parodia, intencional ou nao, colocou alguns pontos interessantes que eu poderia mesmo ter dito.

O paragrafo final alias resume muito bem o que eu penso, sem deixar de ser engracado assim mesmo. Eu joguei muitas peladas sem juizes na minha vida e posso dizer por experiencia propria que presenciei pouquissimos atos graves de violencia irregulamentar e nenhum ato de sodomia (irregulamentar ou nao, o que nao parece estar especificado) durante a partida.
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Trancado