
Tudo o que Robert Crumb faz aborda o sexo de alguma forma. Boa parte dos seus trabalhos não falam sobre transar em si, mas em algum grau sobre sexualidade e gêneros. Isso me faz achar sua versão da Bíblia algo, no mínimo, interessante, mas é claro que nem todos pensam assim...
Mike Judge, do Instituto Cristão, influente organização religiosa, viu a intenção de Crumb com preocupação. Ele teme que o artista transforme o livro sagrado em "excitação", no sentido sexual da palavra:
Se você está vai publicar sua própria versão da Bíblia, deve fazer isso com muita de sensibilidade. A Bíblia é um texto muito importante para muitas pessoas e deve ser tratada com o respeito que merece... A fé é uma parte importante da vida das pessoas, e deve ser tratada com muito cuidado.
Basicamente, Judge acusa Crumb de ter usado as cenas de sexo - sim, existe fornicação na bíblia, implícita ou não - de forma que ele considera gratuita. Aparentemente, em sua entrevista para jornal britânico Telegraph, a preocupação dele com morte, destruição e derramamento de sangue não ocorreu.

Não vou ficar em cima do muro: acho que Crumb tem o direito de lançar o livro, mas entendo que alguns cristãos se sintam ofendidos. É como aquela história da sua mãe: você sabe o que ela fazia com seu pai, mas não vai curtir que alguém fale a respeito ou, pior, desenhe, certo?
Aliás, para apimentar a discussão: Crumb não acredita que a bíblia seja realmente a palavra de Deus. E aí? Ele tem o direito de brincar com algo que não acredita?
Sim, tem.
Não vivemos mais em uma sociedade que vive sob dogmas religiosos, ao menos não oficialmente. Boa parte dos países - inclusive os que criticam Crumb - é formada por estados laicos. Na democracia, poder dizer o que você pensa, ainda que incomode (ou principalmente por isso), é essencial.
A blasfêmia de Crumb pode ofender cristãos, grupo do qual faço parte, mas não justifica que ele não possa se expressar. Aliás, como cristão, não vejo ofensa em uma obra de ficção que é uma simples visão de um artista. Pessoalmente, a visão de Joel Schumacher em Batman & Robin me soa muito mais ofensiva.
Outra organização cristã, a Sociedade da Bíblia, não viu problemas. Pelo contrário, a porta-voz chega a elogiar o engajamento de Crumb em fazer a adaptação e lembra: "pode surpreender as pessoas, mas a Bíblia contém nudez, sexo e violência. Isso acontece porque são histórias de pessoas reais". A ficção de Crumb pode tornar a Bíblia mais próxima de um público que dificilmente a leria. Nenhum pastor conseguiria o mesmo.
Fonte: Melhores do Mundo
Bugman já trabalhou na Arquidiocese