"Todo brasileiro é um pouco rubro-negro. A alegria rubro-negra não se parece com nenhuma outra. Não sei se é mais funda ou mais dilacerada, ou mais santa, só sei que é diferente”. Assim dizia o dramaturgo Nelson Rodrigues, que por incrível que pareça era torcedor do Fluminense, mas escreveu crônicas belíssimas falando do Flamengo e da paixão da sua torcida. Torcida essa que ganhou uma grande homenagem: um dia especial.

Nesta quarta-feira, dia 28 de outubro, comemora-se o Dia do Flamenguista, instituído em 2007 pelo prefeito do Rio de Janeiro na época, César Maia. A data faz parte do calendário oficial da cidade e é de autoria do vereador Jorge Mauro.
O dia especial foi sancionado no dia 17 de outubro de 2007, que é na verdade a data oficial da homenagem aos rubro-negros. Mas, como dia 28 é dia do padroeiro do clube, São Judas Tadeu, ficou acordado que a comemoração seria nesta data. Além disso, o prefeito ainda prestou uma outra homenagem aos torcedores do Flamengo tombando a torcida como Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro devido aos espetáculos no “Maior do Mundo”.
E para não deixar passar a data em branco, o Fanáticos por Futebol resolveu conversar com um flamenguista fanático, Jorge Ricardo Souza dos Santos, 34 anos, morador do bairro da Rocinha. Afinal, ninguém melhor do que um flamenguista para explicar o que é torcer pelo clube de maior torcida do Brasil.
Kadinho, como é conhecido pelos amigos, é administrador e explicou que sua paixão pelo Flamengo se deu muito pelo seu pai, que trabalhou com Giulite Coutinho, ex-dirigente do América/RJ e da CBF e que faleceu no início deste ano. Segundo o flamenguista, o pai costumava levá-lo aos jogos com frequência. Além disso, ele estudava em uma escola próxima ao clube e saía do colégio para ir à Gávea assistir o treino.
“Meu pai tinha uma ligação muito grande com o Maracanã. Trabalhou com Giulite Coutinho. E em meados de 80, 81 ele começou a me levar a alguns jogos intermediários. Além disso, eu estudava em um colégio chamado Manoel Cícero que era de lei quando saíamos cedo ir para Gávea ver treino. Então, comecei cedo com todo aquele contato. Ser Flamengo para mim foi uma coisa de exercício. Mas teve muito uma influência do meu pai”, disse o torcedor, que tem o costume de acompanhar o Flamengo em praticamente todos os jogos, inclusive fora do Rio de Janeiro. Kadinho afirmou que já foi ao Pacaembu, Mineirão, Morumbi... Sempre seguindo o rubro-negro!
Ele, que já foi integrante de diversas torcidas organizadas do Flamengo (FlaPonte, FlaMante, Jovem, Urubuzada, FlaManguaça...), afirmou que hoje em dia prefere ir de cadeira ao Maracanã, até porque normalmente leva o filho com ele. Perguntado se é diferente a atmosfera de torcer na organizada ou fora dela, Kadinho citou o tricampeonato carioca de 2001.
“Na torcida organizada é o seguinte: quando tem aquela falta perigosa as pessoas começam a tremer a mão anunciando que pode sair um gol, como aconteceu em 2001 no gol do Pet contra o Vasco. Isso é muito legal, além dos cantos. Mas a atmosfera é a mesma”, disse ele, que enalteceu uma das torcidas organizadas do clube desmistificando a ideia de que torcida organizada sempre é violenta.
“Se fosse para citar um exemplo de torcida organizada, eu citaria a Urubuzada (Criada em 2001). Não tem briga, é uma torcida tranqüila. Eles que começaram essa cultura de pôr nome de jogadores nas bandeiras, eles que fizeram o canto ‘Eu sempre te amarei..”, completou ele.
Normalmente quando perguntamos a um flamenguista qual o título inesquecível, a maioria cita sem pestanejar o tricampeonato carioca de 2001 sobre o Vasco. Com Kadinho não foi diferente. No entanto, ele citou também um outro título recente: o da Copa do Brasil do 2006. Sobre quem? Novamente o rival Vasco! Para ele foi ainda mais especial por ter sido o primeiro título de âmbito nacional sobre os vascaínos.
E por falar em título de âmbito nacional, vale lembrar que o Flamengo não conquista o campeonato mais importante do país há 17 anos. Por isso, Kadinho afirma que gostaria de ver novamente o clube rubro-negro levantando o caneco do Brasileirão. Ou melhor, gostaria que seu filho de 4 anos, tão fanático quanto ele, visse o Flamengo conquistar o título nacional.
“Eu não tenho um título em especial que gostaria de ter visto, mas gostaria muito de ver o Flamengo campeão Brasileiro de novo. Gostaria mesmo que meu filho visse esse título”, disse Kadinho, que, apesar de confiar na equipe rubro-negra não quis apostar um palpite se o Flamengo chega finalmente ao título esse ano, mesmo embalado. Mas, como todo rubro-negro, ele não deixa de frisar a máxima flamenguista de “Não pode deixar o Flamengo chegar...”.
“Eu prefiro pensar jogo a jogo. Acho que as coisas ficarão mais claras faltando umas três rodadas. Mas o Flamengo tem aquela coisa de “deixou chegar”, né!”, afirmou ele, que perguntado qual a melhor palavra para definir o que é ser Flamengo escolheu a palavra sentimento, que para ele é, resumidamente falando, eterno. Como de pai e mãe.
“É um sentimento que não muda. O Flamengo é como se fosse minha família. É o mesmo amor que eu sinto pelo meu pai e minha mãe”, finalizou ele.
Então flamenguista, no dia 28 de outubro, mais do que nunca, faça como o fanático Kadinho e expresse todo o seu amor pelo rubro-negro carioca. Como dizia o saudoso comediante Bussunda, bata no peito e diga com o maior orgulho: “Os outros que me perdoem, mas sou Flamengo e não abro”.